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Reportagem Dying Fetus, Psycroptic, Beyond Creation, Disentomb @ Lisboa Ao Vivo, Lisboa – 12/11/2017

Domingo à noite, com o frio a tomar conta da ocorrência, como seria normal por esta altura do ano, embora de forma ligeira para o que é habitual, um grupo de pessoas aguardava pela abertura das portas daquele que seria o lar para um verdadeiro festival de death metal que incluiu, e bem, Portugal na sua rota de passagem de destruição da “The Wrong Tour to Fuck With Europe 2017”  encabeçada pelos Dying Fetus. Os mais cépticos poderiam dizer que talvez fosse ambicioso demais uma sala como o Lisboa Ao Vivo para quatro exemplos de extremismo dentro do death metal. Os mais cépticos não poderiam estar mais errados, como vamos poder apreciar ao longo desta reportagem.

Com um horário rígido, como deve ser sempre que temos mais que três bandas a tocar na mesma noite, as hostilidades (nunca este termo foi tão bem usado como neste contexto) deram-se início com os australianos Disentomb. A banda, com apenas dois álbuns editados, não lança nada desde 2014 mas isso não impediu de ser muito bem recebida pelo público português principalmente com petardos como “Abominations Created Through Divinity”, “Chtonic Gateways” e “Darkness Descends”. Para a energia que vinha de cima do palco (principalmente pelo impressionante baterista Henri Joseph que deu uma tareia à sua bateria), o público correspondia com circle pits intermináveis. Na recta final houve tempo ainda para um tema novo, “Indecipherable Sermons of Gloom” e a promessa do regresso com um sentimento mútuo entre banda e público de rendição.

Quinze minutos para mudar o palco e para começarem os canadianos Beyond Creation, das quatro propostas talvez a mais acessível em termos de brutalidade mas sem dúvida a mais técnica. É daquelas bandas que quem já pegou num instrumento ou quem aprecia a técnica dos instrumentista não consegue tirar os olhos. Constantes tappings, solos virtuosos e, esta é a parte importante, grandes malhas de death metal técnico e progressivo. A exuberância técnica foi uma constante em termas como “L’Exorde” e “Fundamental Process”.  Tal como com os Disentomb, também os Beyond Creation não editam nada desde 2014 mas isso não se notou nada pela reacção do público. Uma grande lição de death metal técnico que recomendamos vivamente a todos os que se interessam pelo género.

Da Austrália também surgiram os Psycroptic, com o seu death metal moderno e técnico – embora não tão técnico como os Beyond Creation – que encontrou grande entusiasmo entre o público presente. Os circle pits subiram de intensidade e os crowd surfing foram uma constante. O groove contagiante e a brutalidade de temas como “Forward To Submission” e Cold” foram alguns dos pontos altos da sua actuação. E apesar dos senhores da noite serem os Dying Fetus, não houve nenhum momento de aborrecimento ou de se sentir que se estava a encher chouriços. O facto de cada uma das bandas de abertura tocar apenas meia-hora também ajudou a que o impacto fosse bem forte. De salutar a diversão que era evidente na cara de todos – e sim, continuamos a falar de death metal brutal.

A intensidade deixada por cada uma das actuações levantou inevitavelmente a fasquia para os senhores da noite mas não havia receios, afinal estávamos a falar dos Dying Fetus. Foi com uma inesperada introdução a cargo do tema “Hearts On Fire” de John Cafferty retirado da banda sonora do “Rocky IV”, que se anunciou que estava iminente a entrada do poderoso power trio. Não foi descabida a banda sonora do Rocky, afinal estavámos a ser preparadas para um grande ensaio de porrada sónica. Da boa. A banda histórica de death metal norte-americano, com mais de vinte-cinco anos de carreira acabou de editar um excelente álbum, “Wrong One To Fuck With”, e demonstra estar em excelente forma.

A banda espalhou brutalidade pelo Lisboa Ao Vivo de, praticamente, toda a sua carreira (apenas o primeiro trabalho “Purification Through Violence” ficou de fora), sendo que os dois últimos trabalhos (“Reign Supreme” e o já citado “Wrong One To Fuck With”) foram os que tiveram mais atenção com quatro temas cada com especial destaque para a violência que e “In the Trenches” e “In the Trenches”. Foi um concerto unidimensional, de violência sonora como só a banda sabe dar. Três músicos, duas vozes, um público ávido por mais e mais e o tal ambiente de festa que foi uma constante. Mosh slamming, crowd surfing e circle pits foram uma constante (John Gallagher, vocalista/guitarrista até chegou a pedir um circle pit Stevie Wonder style), assim como a intensidade ao longo de quase uma hora de actuação. Para o final ficou reservado o clássico indiscutível, “Kill Your Mother, Rape Your Dog”, a colocar o ponto final para uma grande noite.

Há importantes conclusões a retirar desta noite. Primeiro que a irmandade entre estas bandas distintas (até de nacionalidade) é enorme, cada uma delas a puxar pelos cabeças-de-cartaz e os Dying Fetus a fazer questão de enaltecer o trabalho das bandas de abertura. Segundo e mais importante, numa altura em que a música passa por uma suposta crise, em que nós, portugueses, ainda não estamos recuperados de uma crise económica, ver uma sala como o Lisboa Ao Vivo muito bem composta, a um Domingo à noite, com quatro propostas de death metal é sintomático de que só quem não aposta no metal é porque não quer. Não se trata de ter apenas uma sala cheia. Trata-se de ter uma sala cheia e com o público a sair de lá satisfeito e com vontade voltar. Assim como todas as bandas presentes. Se isso não diz já tudo, então não sabemos como explicar melhor.

Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos  por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Prime Artists

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