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Reportagem Havok, Darkest Hour, Cephalic Carnage, Harlott @ Lisboa Ao Vivo, Lisboa – 18.04.18

O Warm Up do Vagos Metal Fest tem ele próprio ares de festival. Um elenco de luxo para uma edição que também está com um cartaz poderoso e nada como ter os Havok, uma das grandes bandas da edição anterior, em conjunto com os Darkest Hour, Cephalic Carnage e Harlott a proporcionar um aquecimento digno do nome. Verdadeiro aquecimento, até ao ponto que o próprio clima colaborou com uma tarde/noite bem agradável, fazendo esquecer o frio que tem estado nos últimos dias. Ou então estavam mesmo a antecipar como as coisas iriam ficar animadas com quatro bandas e quatro propostas – ou pelo menos três – sonoras bem diferentes.

O thrash metal podia não ser a única linguagem estilística da noite mas era aquela que iria marcar o início e o final. E não poderia começar da melhor maneira. Os Harlott são um bom exemplo em como é possível ter sangue novo que nem renega o que está para trás nem tão pouco copia descaradamente. O thrash metal dos australianos sempre nos soou muito bem e ao vivo esse sentimento foi incrementado de forma bem surpreendente para quem só os conhecia pelos seus trabalhos de estúdio ou não conhecia de todo. Com uma boa disposição contagiante que enchia a sala com o espaço vazio deixado pelo mau hábito português (penso que não exclusivo) de ver as bandas de abertura, malhões gigantes como “Effortless Struggle”, “None”, “Export Life” e “Means To An End” foram injecções de adrenalina directamente no coração.

Não é comum encontrarmos um cartaz tão diverso como este. Um cartaz onde passamos do thrash metal dos Harlott para o grindcore/death metal técnico e alucinado dos Cephalic Carnage. A carreira da banda norte-americana é grande e ilustre assim como irregular em termos de lançamentos – o seu último trabalho é de 2010. Sempre a promover a sagrada erva alteradora e expansionista de consciência e percepção, os Cephalic Carnage são um autêntico caleidoscópio de sonoridades demora um pouco a entrar nos ouvidos mas à qual o nosso corpo reage imediatamente, como foi o caso com generalizado headbang compassado que se viu ao som de temas como “Persistent Cerebral Arousal Disorder” e “Raped By a Orb”, sempre com um groove estranho e onde o baixista Nick Schendzielos (também nos Havok) se evidenciou. Foi aqui que se viu o primeiro circle pit da noite e também foi aqui que se teve o momento mais desconcertante com a “Black Metal Sabbath”, onde a banda mete máscaras de corpse paint e pulseiras de picos a condizer, excepto pelo baixista, que optou por uma másara de cavalo. Para ajudar ainda mais ao ambiente de caos, toda a banda, excepto pelo vocalista, troca de lugar pelos músicos dos Darkest Hour. Definitivamente um momento invulgar mas muito divertido ou não fosse o lema de vida deles cerveja e erva.

Os Darkest Hour são uma das bandas clássicas de Metalcore, ou seja, já existiam antes sequer do rótulo se tornar moda (e consequentemente, para alguns, uma maldição) e fizeram parte do que já se chamou New Wave Of American Melodic Death Metal. E como dissemos no início desta reportagem, este Warm Up era verdadeiramente um mini festival por ter tantos géneros díspares dentro da música extrema mas havia uma certa coerência, um certo sentido em como tudo se encaixou. A própria sonoridade dos Darkest Hour é bastante diversa, algo justificado pelo facto da banda norte-americana ter passeado um pouco pela sua já longa carreira discográfica, tendo dando óbvio destaque ao “Godless Prophets & the Migrant Flora”, o seu último álbum de originais. Enorme destaque para o guitarrista solo Mike Schleibaum, que arrasou nos solos de guitarra e para a cover entoada por todos, clássico do punk/hardcore dos Dead Kennedys e popularizado pelos Napalm Death, “Nazi Punks Fuck Off”.

Finalmente Havok. Sem menosprezar todas as bandas de abertura, que cumpriram a sua função como já deixei claro atrás, os Havok são uma daquelas bandas que se quer ver ao vivo. Não só apresenta o seu thrash metal de forma acutilante, como também nos faz recuar até aos tempos em que estavamos a descobrir o metal, uma nostalgia que assenta mais no feeling transmitido do que qualquer uso de fórmulas retro ou de revivalismos daquilo que já foi feito muitas vezes anteriormente. A antecipação para o seu concerto cresceu ao som dos Queen e do imortal “Bohemian Rhapsody”, tocado como intro e acompanhado quase no totalidade pelo público presente. E depois disso, os Havok entraram a matar, não deixando prisioneiros nem pausando para respirar, ou pelo menos não deixando o público pausar para respirar.

Apenas o primeiro álbum ficou de fora, e “Conformicide, o último trabalho, foi o centro das atenções. Tenho que confessar que o teor mais técnico desse álbum deixou-me na dúvida se algumas das músicas resultariam ao vivo,  mas como já tinha sido parcialmente provado no último Vagos Metal Fest, temas como “Ingsoc” e “Masterplan” não abrandaram o ritmo (são temas com mais de seis minutos) e soaram ainda melhor ao vivo. No entanto, os clássicos não poderiam faltar e aquela “Covering Fire” deveria vir com um aviso de precaução para o pescoço. Os danos causados pelo headbanging compulsivo poderá ser doloroso… no dia seguinte. A banda demonstrou estar bem coesa e acima de tudo feliz por poder demonstrar a sua música ao público português. Irreprensíveis, principalmente Nick Schendzielos, definitivamente o homem da noite, não só pelo o que tocou mas principalmente pela sua presença de palco. E até fora dele, tendo em conta que subiu ao primeiro andar para tocar durante a primeira metade da “From the Cradle to the Grave” e na segunda tocou no meio do circle pit. A magia do thrash metal faz-se de momentos assim.

Uma noite única que definitivamente deixou todos cansados mas satisfeitos. As bandas estiveram perante um público que celebrou a sua música da maneira como esta merece ser celebrada enquanto o público saiu bem quente com que este Warm Up. Até Vagos!

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Amazing Events

 


 

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