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Vagos Metal Fest – Dia 3 – 13/08/17 @ Quinta do Ega, Vagos

A maratona estava a findar. O cansaço acumulado era o grande obstáculo e isso notou-se logo nas primeiras bandas onde era notório que o número de pessoas entre a assistência era menor. Não foi certamente devido à qualidade das primeiras bandas que tocaram no último dia do Vagos Metal Fest. Os primeiros a iniciar as hostilidades foram os espanhóis Reaktion com o seu thrash metal impiedoso. Apesar da banda ter apenas um álbum editado (o ano passado), a forma como o debitaram foi de forma a que aparentavam andar nisto há duas décadas. Contagiante, foram trazendo ao longo da sua actuação mais público para junto do palco, mesmo que este não se mostrasse tão activo como nos dias anteriores. “Blackmailed Existance”, “Prostituted City” e “Through The Cracks” foram algumas das bombas que nuestros hermanos lançaram.
E da Espanha dos Reaktion para Portugal, uma banda que já merecia vir a Vagos: Attick Demons. Não só pelo facto de ser uma das bandas mais batalhadoras de heavy/power metal (com duas décadas de carreira), mas sobretudo pela qualidade do seu som. Qualidade essa reconhecida, finalmente, internacionalmente, com o contrato firmado com a independente alemã Pure Steel Records para o lançamento do seu segundo álbum (editado no ano anterior), “Let’s Raise Hell”. A vertente mais tradicional do heavy mtal não foi muito explorada entre as escolhas do festival, mas isso não impediu que a banda fosse muito bem recebida pelo público presente.
O já mencionado segundo álbum de originais da banda de Almada foi o grande foco da sua actuação, embora a banda fizesse incursões ocasionais ao seu passado. “The Circle Of Light”, “City Of  Golden Gates”, “Endless Game” e “Atlantis” foram bons exemplos da sua qualidade. A aposta no heavy/power metal foi ganha muito graças à classe da banda lusitana, principalmente Artur Almeida, cuja voz é um dos grandes alicerces do som dos Attick Demons. O público gostou, a banda igualmente e nós também.
Ainda no espectro do som nacional mas num estilo bastante diferente, um outro nome que dispensa atenções para quem anda atento ao que se faz dentro do melhor stoner/rock. Os Miss Lava já são veteranos na arte de bem tratar o rock, com o seu som musculado e contagiante, que tanto se adaptar no cenário in doors como em cima de um palco como o do Vagos Metal Fest. Tal como anteriormente, o público no início da actuação era algo inferior ao que fomos habituados nos dias anteriores mas com um som desta qualidade, essa é uma situação que é passível de mudar em pouco tempo. E assim foi.
Já a meio da actuação, o vocalista Johnny Lee lançou para o ar a pergunta: “Ainda há forças?”. Era uma boa questão já que o ritmo dos últimos dias mostrou-se cada vez mais difícil de manter e durante a actuação dos Miss Lava ainda estavam a entrar pessoas no recinto a um bom ritmo. Por outro lado, a energia que vinha de cima do palco era bem abundante e de grande qualidade, onde até nos foi dada um cheirinho do último lançamento da banda, o recém lançado EP “Dominant Rush”, com o tema “Black Unicorn”. Não faltaram ainda temas como “Ride”, que são representativos da qualidade destes verdadeiros guerreiros do rock nacional. Nota ainda para a mensagem por parte de Johnny Lee que salientou a importência do Vagos Metal Fest e fez o apelo ao público para que não deixassem morrer este evento que se assumiu como a meca do som pesado em Portugal.
Virando das sonoridades mais tradicionais como o thrash, o heavy/power e o stoner para as mais modernas, chegam os norte-americanos Chelsea Grin, em mais uma estreia em solo nacional. A banda de deathcore está neste presente ano a comemorar a primeira década da sua carreira e evidenciou toda a sua experiência numa actuação que conseguiu meter todos a mexer mesmo quando pensávamos que já não havia mais forças para tal.
Apesar de considerarmos que o seu som é algo repetitivo na forma como segue demasiado perto os trejeitos do deathcore, isso não apareceu importar para o público presente que não precisou de muito para fazer com que a poeira começasse a levantar, uma constante, durante toda a sua actuação. A banda saiu apaixonada com o público nacional e é uma primeira vez que não irá certamente esquecer. “Skin Deep” e “Clickbait” foram alguns dos motivos que levaram a que a poeira levantasse rapidamente.
Se a poeira levantou após os Chelsea Grin, o que dizer durante a actuação dos Havok, que não vinha a Portugal há já cinco anos. Demasiado tempo na nossa opinião já que a banda norte-americana é definitivamente uma que, e falamos por todos os presentes na plateia, queremos ver regularmente. Assim que se pôde ouvir “Prepare For Attack”, foi um festim interminável de circle pits e mosh, que demonstrava que esta era uma das bandas mais aguardadas deste terceiro dia. Se o thrash metal da banda assume contornos técnicos em disco, ao vivo tudo parece ser uma desculpa para headbang, principalmente quando é apresentado com a potência que foi. Com a banda bem entrosada e a dar espectáculo – principalmente Reece Scruggs (guitarrista solo) e Nick Schendzielos, baixista endiabrado (e que também toca em bandas como Job For A Cowboy e Cephalic Carnage) que até tocou deitado no chão à la Angus Young.
A banda já tem algum material por onde basear as suas actuações (quatro álbuns) mas um concerto de Havok e não ouvir “Covering Fire”, é um concerto que sabe a pouco. Felizmente para nós que os estávamos a assistir em Vagos, esse furacão thrash foi deitado à solta e provocou o caos e confusão entre o público que o recebeu energeticamente. Uma excelente actuação por parte da banda e uma igual recepção por parte do público que esqueceu por uns momentos todo o cansaço acumulado dos dias anteriores. A haver algo a apontar talvez apenas para o facto do som estar um pouco demasiado alto que impedia com que a sua potência fosse plena, principalmente perante todos os imensos detalhes de guitarra que têm. Nada que abalasse o sentimento final de termos assistido a um grande concerto.
Uma das bandas que mais atraiu atenções para este último dia e para o festival como um todo, sem dúvida que eram os Whitechapel. A banda norte-americana conquistou um lugar de destaque dentro do género do deathcore e era uma banda que o público nacional já ansiava ver. E uma das mais aguardadas, arrastando consigo uma verdadeira multidão. Os desejos foram satisfeitos e as expectativas superadas.
Apesar de se inserirem no deathcore, a banda incorpora outras influências que fazem com o que o seu som soe um pouco mais diverso do que o habitual. Com uma muralha de três guitarras, mais esse sentimento se acentuou na performance de temas como “The Saw Is The Law”, o tema-título do último álbum de originais, “Mark Of The Blade” e “Our Endless War”. E claro, que o que não faltou foi movimentação à frente do palco, como já seria expectável. Um bom concerto que deixou a banda com vontade de repetir a experiência em palcos nacionais.
Nos anteriores artigos temos falado da magia de Vagos e este terceiro dia não seria excepção. Com uma passagem do deathcore para o heavy metal tradicional, seria à partida, a receita para o desastre. Não foi o que aconteceu, felizmente. Os Hammerfall foram recebidos em festa e o seu heavy metal foi cantado em uníssono do início ao fim. Com vinte de anos de carreira e com um vasta catálogo por onde escolher temas, a banda foi desfilando com mestria clássico atrás de clássico sem esquecer o seu mais recente trabalho de originais.
“Hector’s Hymn”, “Riders Of The Storm”, “Bring It” e “Blood Bound” foi um início que até aos mais cépticos ficaram rendidos. Com um som poderoso e bem definido e a banda a evidenciar toda a sua experiência (até algum lado teatral próprio da tradição do heavy metal clássic), perante uma plateia mais que receptiva. Foi esse espírito que fez com que Joacim Cans tinha afirmado que este regresso a Portugal já estava mais que devido e que a banda estava verdadeiramente feliz por estar ali.
Um dos momentos altos foi sem dúvida o medley do seu álbum de originais, “Glory To The Brave”, lançado em 1996. Normalmente os medleys sabem a pouco no entanto, neste formato e nesta ocasião foi algo que soou bastante bem, reforçando ainda mais o lado festivo que se estava a viver no momento. Claro que do mesmo álbum e a fechar a actuação antes do encore, não poderia faltar o tema-título do já mencionado álbum de estreia. Cantado em uníssono pelo público, é uma balada que arrepia, ainda para mais sendo o primeiro hino da carreira dos Hammerfall. Ainda houve tempo para “Hammer High”, “Bushido” e a inevitável “Hearts On Fire”. Uma celebração heavy metal que qualquer festival de música pesada que se preze é obrigatório ter.
Apesar do extremo cansaço e de alguma debandada por parte do público, ainda faltavam duas bandas até que se desse as hostilidades por terminadas. Os Gorguts, nome lendário do death metal técnico mundial e influência principal da maior parte das bandas da geração seguinte à sua, subiam ao palco para uma actuação demolidora. Mesmo com um som que não é totalmente acessível (e uma escolha improvável para suceder a Hammerfall), a mestria da banda e o excelente som que usufruíram facilitou em muito a tarefa de conquistar o ainda muito público resistente.
A carreira da banda canadiana é rica e o que se assistiu foi a um desfilar de clássicos onde não poderiam faltar obviamente temas como “From Wisdom To Hate”, “Obscura”, “Nostalgia” e “Stiff And Cold”. Mais contidos e até tranquilos na forma como se dirigiram ao público – pelo menos em comparação com as outras propostas de metal extremo que pudemos ouvir ao longo destes três dias – os Gorguts confirmaram que nem só no som são um caso aparte. Som cristalino e poderoso que deixava transparecer toda a proeficiência técnica da banda, esta foi uma actuação de classe de uma das mais históricas bandas em actividade do death metal técnico. Irrepreensível.
A maratona chegava ao fim com os Cough, uma banda que não será uma escolha imediata para encerrar um festival – ou sequer para tocar num festival de espectro tão alargado como foi o de Vagos Metal Fest – mas mesmo assim conseguiu cativar boa parte da plateia resistente. A sua música, lenta e arrastada, tem muito de ritualismo, estabelecendo quase mantras que exercem um forte poder hipnótico  – ao qual, confessamos, que o estado de cansaço extremo não é de todo alheio.
Os ecrãs gigantes iam passando não imagens do que se passava em palco mas uma série de excertos retirados do que pareciam ser filmes de terror vintage e que se encaixavam perfeitamente perante o que podíamos ouvir, reforçando ainda mais o lado místico estabelecido pela música. O som no geral estava bem equilibrado (exceptuando por algumas secções da guitarra solo em que saíram cá para fora de forma mais agressiva para os ouvidos, soando desequilibradas na mistura. A noite acabou com o coração cheio de música e, principalmente, por um espírito muito próprio, o espírito de Vagos que se mostrou que veio por ficar. Se o ano passado pela perseverança da autarquia e da organização, este ano acrescida pela resposta por parte do público que garantiu que este espírito nunca vai morrer.
Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira

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