Report

WOM Report – Festival Bardoada e Ajcoi – Dia 1 @ Pinhal Novo, 05.10.18

Sendo a nossa primeira vez no Festival Bardoada e Ajcoi, ainda por cima como um dos media partners, as nossas expectativas estavam bastante altas para esta autêntica maratona de bandas e podemos dizer com segurança que as mesmas não foram goradas, exceptuando, talvez, pelo número de membros do público que pareceu pálido em relação à qualidade quer das bandas, quer do som que se ouviu no recinto – avisamos já que vamos incorrer em repetição no que diz respeito a estes dois pontos.

A maratona iria iniciar-se com os Desalmado, a única banda estrangeira do dia, mas que nós, aqui na World Of Metal, sempre a encarámos como nossa, desde que tomámos contacto com eles através do seu mais recente álbum, “Save Us From Ourselves”, e da entrevista que nos deram meses atrás. E mesmo com um assistência reduzida quando subiram ao palco (às 15h) os nossos irmãos do outro lado do Atlântico deram uma autêntica lição de perseverança e de entrega, tocando como a sua própria vida dependesse disso. Malhões atrás de malhões (onde destacamos o tema título do já mencionado álbum que finalizou a sua actuação), esta é um banda que recomendamos quer ao vivo (a digressão ibérica vai percorrer o nosso país, passando pelo Faro Alternativo e Music Box, sempre em companhia dos nossos Besta) quer em disco – agora reeditado em vinil pela Raging Planet.

Aliviando o peso mas não a qualidade, seguiram-se os Decreto 77, que espalharam boa onda com o seu punk rock cheio de garra. A banda de Almada não poupou na energia e trouxe para os que compareceram à chamada um pouco da sua história, conjugando tanto temas antigos (“Punk Rock Elite”) como alguns novos (“Not Alone”). Boa disposição constante por parte do vocalista João que foi retrato fiel da entrega da banda, mesmo para uma sala ainda pouco preenchida, não deixando de pedir aos presentes para se aproximarem do palco (algo que vamos referir várias vezes ao longo desta reportagem. A banda vai acompanhar a vinda de Marky Ramone e dos seus Blitzkrieg e merece ser conferida viva.

De Odemira, os Since Today, retrato fiel da cena do hardcore com irreverência e energia a rodos que gozou com um som extremamente poderoso – aliás, e como já foi dito, todas as bandas tiveram direito a um som fantástico, do melhor que já ouvimos em festivais e onde o mesmo se adaptou de banda para banda sem haver nenhuma prejudicada. “Resiste & Multiply”, “Destruction”, “Judgement” e “Wake Up” foram exemplo do poder da sua actuação que pedia mais participação do público, ainda algo apático e provavelmente a recuperar do almoço. Nada que desanimasse a sua entrega, pelo contrário. Um exemplo do poder do espírito do hardcore nacional.

Os Nowhere To Be  Found são uma banda relativamente recente (começaram em 2014 com outra designação – “Insch” –  e no final do ano passado decidiram mudar para o presente nome, com uma nova formação que expandiu a sua formação a quarteto com a inclusão de João Quintais nas guitarras e que apresentaram uma nova sonoridade). Rock/metal alternativo com grande entrega emocional e que tem algumas reminiscências de Deftones e Tool. Pela descrição talvez se julgue que tenha sido um baixar de intensidade sonora, mas apesar do registo diferente, não houve por parte do público quem ficasse desagradado com temas como “Kamorebi”, “Home” e “WYCMN” ou até mesmo o solo de baixo e bateria que soou muito bem. Uma banda a acompanhar.

Os The Year também poderão ser uma banda recente (não quanto os Nowhere To Be Found) mas sem dúvida que têm garra de veteranos com o seu hardcore vitaminado.. Com o EP “Beasts”, cortesia da Hell Xis Records, debaixo do braço, fomos fustigados de forma positiva com o seu som energético, energia essa liderada por Johnny Disorder, o incansável vocalista que até chegou a cantar no meio do público. Do novo EP “Red Lights”, “Ghost House” e “Sweaty Palms” que teve direito a videoclip,  foram o grande destaque e até tivemos algum vislumbre do álbum de estreia através de “Sylvester’s Not Alone”. Outro grande valor nacional.

A primeira banda assumidamente mais metal foram os Tales For The Unspoken, que já tem uma experiência considerável, algo que fica sempre evidente a cada actuação que vemos deles. “Possessed” deu início às hostilidades e chamou mais público para a frente do palco e com um som demolidor se mantiveram com malhões como “I, Claudius”, “Burned My Name” e “Crossroads”. Marco Fresco, frontman muito comunicador e incansável, não deixou de agradecer tanto a todas as bandas, ao público, como à organização (agradecimento partilhado aliás por todas as bandas do dia) assim como também uma nota de apreço pelas zines presentes como a Songs For The Deaf e World Of Metal pelo seu trabalho incansável – não sendo propriamente a razão de fazermos o que fazemos, sabe sempre bem ver reconhecido o nosso trabalho e os esforços dispendidos para que o mesmo seja materializado. E um concerto dos Tales For The Unspoken não o seria sem o momento de comunhão que é “N’takuba Wena”, sempre um momento alto.

Continuando a incrementar o peso e a brutalidade, era o momento da Besta subir ao palco. Uma Besta temível e com potencial destrutivo para deitar abaixo Pinhal Novo por inteiro. Nunca uma banda fez tanta justiça ao nome de um festival como esta: foi Bardoada de meia-noite, uma coisa épica que em pouco mais de trinta e cinco minutos condensou grande parte do catálogo da banda. Como fãs de “John Carpenter” que somos não podemos deixar de destacar temas como “Cidade Dos Malditos”, “Eles Vivem”, “A Coisa” e “Estrela Negra” mas seria injusto (ou até parvo) estar a destacar um ou dois temas. Foram blocos de micro-descargas grindcore que é sempre algo memorável e com grande impacto em qualquer público e em qualquer cartaz. Não foi excepção no Bardoada. Relembramos que eles estão a acompanhar os Desalmado na digressão Ibérica.

A toda mais metal teria o seu culminar com os Revolution Within que já antecipava que causassem um reboliço em frente ao palco. Previsão fácil e que se verificou. Apesar de quando terem subido ao palco a sala ainda estar algo despida, com muito do público a aproveitar para ir matar a fome. Muitas calorias precisariam para levar com malhões como “Silence” e “Revenge Now” que foram exemplo das primeiras movimentações a sério sempre comandadas pelo maestro Raça. “Pure Hate” e ” Stand Tall” foram os temas da despedida que até nos presentearam com uma mini wall of death e uma homenagem aos irmãos Dimebag Darrell e Vinnie Paul, com a inclusão do trecho final de “Domination” dos Pantera, forma imbatível de acabar qualquer concerto.

Guinada estilística mas com a qualidade a manter-se altíssima, seria a vez dos Dapunksportif, banda de currículo invejável no panorama do rock alternativo nacional e que tem debaixo do braço o excelente “Soundz of Squeeze’o’Phrenia” lançado no início do presente ano, de onde pudemos ouvir “Rollercoaster”. Já era sabido que os Dapunksportif têm o seu núcleo duro em Paulo Franco (frontman e guitarrista) e João Guincho (guitarra e voz)  mas tivemos a surpresa agradável de ver que contavam com Paulinho dos Ramp na bateria – que foi um espectáculo à parte, diga-se de passagem, castigando as peles com potência para deitar abaixo o edifício. Terminaram com uma versão épica e alongada da “Summer Boys” e deixaram todos rendidos.

Do rock para o hard’n’heavy foi um tirinho e apesar da diferença estilística, temos que salientar a forma como o público se mostrou receptivo a todas as bandas. Os Iberia são uma das grandes bandas lusitanas do género mais tradicional e cada actuação é uma celebração memorável. Tentaram aproveitar o máximo de tempo que tinham para conjugar os melhores momentos do excelente “Much Higher Than A Hope” de 2017 (uma das nossas escolhas para o álbum do ano do género em que se insere) com “Sanctuary Of Dreams” e “God’s Euphoria” e os clássicos  incontornáveis “Heroes Of Wasteland” e “Hollywood”. Entrega e execução perfeitas numa actuação de classe de uma banda que habituou-nos a isso mesmo.

Para terminar a noite, em beleza, era a vez de uma das grandes bandas do punk rock, que por acaso até é portuguesa – The Parkinsons. E poderão considerar isso um exagero seja por se ter aquele pensamento pequenino que os portugueses não são bons em nada ou simplesmente por desconhecerem a banda. Asseguramos que depois de verem uma actuação deles ao vivo, que vão ficar da mesma opinião. Alternando entre os novos temas do seu último álbum “The Shape Of Nothing To Come”, como “Sexy Jesus” e “Heavy Metal” aos clássicos da banda, não faltou animação, dança e festa durante quase uma hora, sendo que Afonso Pinto é um frontman de cariz lendário. Provavelmente a banda caótica mais coesa do mundo – e não, não é um exagero nacionalista.

O Bardoada foi assim uma experiência única e a nossa voz junta-se à de todas as bandas que disseram que este tipo de iniciativas sejam apoiadas porque é graças a elas que o underground (rock, punk, hardcore, metal) se mantém vivo. Com o suor e movimentações dos fãs em frente aos palcos, com a presença. É a nossa esperança que tudo isto e muito mais esteja presente no segundo dia. De uma parte – a parte da qualidade musical e do som, da boa recepção e oferta de comes e bebes – sabemos que não vai falhar. Da outra, depende de vocês. Vais mesmo ficar em casa?

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Igor Azougado / Caramelo Produções / Festival Bardoada e Ajcoi


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