Report

WOM Report – Sangue, Suor & Aço @ RCA Club, Lisboa – 23.06.18

Podemos queixar-nos de muita coisa na vida aqui no nosso cantinho por vezes esquecido no fundo da Europa, mas o estado do nosso querido underground não é um deles. Não é perfeito – nada é – e há muito a fazer mas é graças a propostas como a noite de metal nacional intitulada Sangue, Suor & Aço que sentimos que estamos no caminho correcto. Quatro bandas nacionais e uma brasileira que conta quase como portuguesa já que à excepção do seu frontman, a sua banda de apoio é totalmente lusitana.

Com a casa ainda a meio gás, os Yar subiram ao palco para aquela que foi uma actuação confusa e com muitos pontos a melhorar. A banda com raízes ucranianas já nos tinha sido apresentada ao vivo na segunda edição do Oeste Underground e ficámos com uma boa impressão com o seu death metal meio melódico meio folk. Desta vez, com uma formação renovada (onde temos por exemplo, a guitarrista Susana Gamito a libertar o vocalista Stanislav Savchenko dessa função), as coisas não correram tão bem. A acusar algum nervosismo e inexperiência que causaram alguns dissabores, ocorreram algumas situações desde o vocalista ter desligado sem querer, com o seu headbang frenético, a guitarra de João Elvas  até à forma como o baterista Marcus Reis tocou, aparentando estar em esforço e com dores, o que prejudicou a prestação de alguns temas, principalmente “Molnia,” que teve duas tentativas para ser interpretado mas mesmo assim, sem sucesso. Uma verdadeira pena porque que quando corre bem, corre mesmo bem (como no tema de abertura “Po Kanam”).

Após os momentos mais atribulados com os Yar, seria a vez dos Lvnae Lvmen, que também eles surgem renovados desde a última vez que os vimos, no palco do SMSF. Com Sérgio Páscoa (da organização Xxxapada Na Tromba que dividiu esforços com a Metalhead Events de dos Theriomorphic) na voz e no bandolim a ser a face mais visível dessa mudança, a banda alentejana agora sediada em Lisboa demonstrou grande potencial para esta sua segunda encarnação. A sua componente histórica, focada principalmente em Portugal e fazendo sempre um ponto de comparação com os tempos actuais, são sem dúvida um dos pontos de interesse. Isso e o seu death metal ora mais melódico, ora mais bruto.  Só não correu tão bem foi a forma como os discursos de Sérgio retiraram alguma da fluidez do concerto mas de qualquer forma, ficou-se a conhecer muito mais sobre o foco da banda e como o conceito é fundalmental para a mesma. Seria bom conferir temas como “Forgotten Sunrise” noutras ocasiões, assim como apanhá-los num registo de estúdio.

Apesar da hora tardia – pelo menos para o que é normal nos concertos no RCA Club – o público estava mais que motivado para levar a noite até ao fim. As bandas que faltavam actuar não mereciam menos que isso. Os Annihilation já andam a espalhar fruta de death metal bruto há já catorze anos, mas foi com o seu segundo álbum, “The Undivided Wholeness of All Things” lançado o ano passado, que nos chamaram verdadeiramente a atenção. Com Sofia Silva (ex-Neoplasmah) na voz, a banda parece ter encontrado a fórmula perfeita, provada com uma actuação demolidora. Com um som bem poderoso (dos mais poderosos e perfeitos que ouvimos no RCA Club), a banda alternou temas do primeiro e do segundo álbum, onde a complexidade e o peso são uma constante. Impressionante, para dizer no mínimo e razões mais que suficientes para que queiramos ver mais.

Os Flageladör têm andado a arrasar por Portugal. Depois de grandes passagens pelo SWR Barroselas e pelo Masmorra Fest, o final ficaria reservado para o Sangue, Suor & Aço. Apesar de serem brasileiros, apenas o seu vocalista Armando Exekutor viajou do outro lado do Atlântico até ao nosso país, sendo acompanhado por músicos portugueses (onde temos War Tank e Tiago Steelbringer dos Midnight Priest na bateria e guitarra respectivamente,  e ainda SpeedFaias Axe Crazy no baixo). E que concerto deram. A energia que mistura o feeling mais primitivo do thrash metal (e da sua mistura do heavy metal com o punk, bastante familiar para os fãs de Motörhead) com o aspecto mais clássico e tradicional do heavy metal (onde as harmonias entre as duas guitarras foram um dos pontos mais altos), ainda por cima cantado em português, foi viciante o que nos faz querer que queiramos repetir a experiência muitas mais vezes.

Chegávamos ao final da noite com os Theriomorphic, uma das mais interessantes propostas death metal saídas do nosso underground cujo o único problema é não ser tão activa quanto desejaríamos. Problemas de fãs. Tal só faz com que se aprecie ainda mais cada nova oportunidade para os ver ao vivo. A promover o seu mais recente lançamento, o EP “Of Fire And Light”, a banda de apresentou-se com um grande som, onde malhas já clássicas como “Theriomorphic” e “Burning Freedom” do primeiro álbum ou “Maledict” e “Operators Of Triumph” do segundo foram grandes destaques. E claro, não faltaram também temas do já mencionado EP, sendo que alguns deles já a banda andava a tocar há já algum tempo, como “Absent Light”.

Pelo meio ainda houve tempo para um sorteio sui generis de três bilhetes para o Vagos Metal Fest, com a ajuda de Sérgio Páscoa, que subiu ao palco para o efeito, e muitos agradecimentos para a presença do público numa casa muito bem composta. Os Theriomorphic finalizariam a sua actuação com o já hino “The Beast Brigade”, deixando-nos convencidos que esta besta está mais poderosa que nunca. Caso ainda restassem dúvidas daquilo que disse no início desta reportagem, elas já tinham desaparecido. O underground está de excelente saúde, por termos espaços como o RCA Club, por promotoras como a Xxxapada Na Tromba e Metalhead Events, por bandas como aquelas que subiram ao palco (todas elas) e sobretudo pelo apoio do público, base e fundamento para que noites como esta se repitam muitas mais vezes.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Jó, Metalhead Events e Xxxapada na Tromba


 

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