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WOM Report – Vagos Metal Fest Dia 1 @ Quinta do Ega, Vagos – 09.08.2018

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Crónica Editorial – Vagos Metal Fest 2018

Seria de esperar que o dia de recepção ao campista fosse um dia mais calmo em termos de afluência de público, mas o facto de termos já nove bandas atraiu muitos festivaleiros para o que poderá ser considerado um alinhamento muito forte quer em termos de nomes nacionais, já dispostos em dois palcos foram argumentos suficientes para uma moldura humana que não deixou de ser impressionante para o que estamos habituados cá no nosso burgo. Esta questão do hábito é algo à qual voltaremos mais à frente nesta nossa reportagem.

A acção começou com os Booby Trap, banda (histórica) da casa que encontra-se a viver uma segunda vida cheia de energia crossover que revelou-se desde cedo ideal para dar o mote a este primeiro dia. Foi também a primeira banda a tocar no palco Stairway e a confirmar aquilo que a própria organização já tinha dito: este palco não é um palco secundário ou de refugo, nem pelos nomes, nem pela qualidade sonora e muito menos pelas actuações. Pedro Junqueiro, mestre de cerimónias, esteve muito comunicador na apresentação de temas como “Fuck Off And Die” e “O Bom, O Mau E O Filho Da Puta” e a restante banda esteve bastante sólida, principalmente, Pedro Azevedo, inspiradissimo na guitarra. E nem sequer faltou um tributo a Lemmy Kilmister com a uma cover de Motörhead (“Ace Of Spades”).

Um dos grandes desafios na nossa opinião para esta edição seria de verificar se perante tantas bandas e dois palcos, se aconteceriam alguns atrasos. Desafio superado, já que apenas com algumas diferenças mínimas, todos os horários foram respeitados. A estrear o palco Vagos teríamos os Destroyers Of All, a banda de Coimbra que já é garantia de grandes concertos. João Mateus, sempre o espelho de boa disposição metálica e a puxar pelo público, tarefa facilitada com as incursões pelos dois lançamentos da banda até então (o EP “Into The Fire” e o álbum”Bleak Fragments”), onde se destaca o tema título do EP e “Hate Through Violence” do álbum, tendo ainda oportunidade para ouvir um tema do segundo trabalho que a banda está a preparar, intitulado “Break The Chains” que deixa muitas boas indicações para o futuro.

De volta ao palco Stairway, seria a vez da festa do hardcore de Linda A Velha com os Trinta & Um, uma das bandas mais históricas dessa cena em específico e até a nível nacional. Uma banda que já era obrigatória passar pelos palcos do Vagos e que fez desta maneira uma estreia memorável. À conversa com uma colega jornalista brasileira, ela referiu que Portugal gosta muito desta sonoridade punk/hardcore e isso é inegável, o que não é de estranhar que essa componente seja integrada no Vagos Metal Fest. A festa, a união e as palavras de ordem são universais gritadas por Zé Goblin que estava nitidamente emocionado e feliz por estar ali. Arrisco a dizer que estávamos todos. E um concerto de Trinta & Um não o seria se não tivéssemos “O Cavalo Mata”, tema título do álbum de estreia que faz duas décadas de idade brevemente.

A primeira actuação internacional seria por parte dos InSammer no palco Vagos e podemos dizer que foi o ponto menos conseguido neste primeiro dia. A banda sueca nunca conseguiu agarrar o público, apesar de não ter fraquejado em termos energético. Vika Dola impressionou pela sua presença de palco, em constante movimento e pela sua voz – embora neste aspecto se tenha notado uma ajuda por trás de efeitos associados. Em termos visuais, a banda também parecia algo desconexa, com um guitarrista (Dennis Wise, membro fundador) a fazer lembrar um gigante do gelo, com corpse paint (algo utilizado também por parte do baterista Teodor Alexuta) algo que contrastava com o resto. Em termos musicais, e como foi dito atrás, não houve muitos momentos para grandes empolgações (embora tenhamos que assinalar a qualidade técnica dos seus músicos, principalmente do guitarrista Oleg Izotov) – e a falta disso por parte do público também nos deu ideia que fez com que a banda acabasse a sua actuação mais cedo – onde nem um solo de bateria salvou uma actuação morna, não em termos de empenho mas em termos de impacto.

Por falar em impacto, não serão necessárias introduções para os senhores que se seguiram no palco Stairway. Os Theriomorphic já são uma verdadeira instituição do death metal nacional e os oito anos de silêncio editorial não lhes tiraram nenhuma da sua já lendária acutilância metálica. A banda de (que foi o nosso primeiro convidado na nossa rúbrica “O Espírito de Vagos” que fizemos nos últimos meses), está bem oleada (tal como pudemos constatar aqui) e guiou-nos por escolhas cirúrgicas da sua carreira, passando por todos os lançamentos e de onde destacamos os temas do novo EP “Of Fire And Light”, “Fire” e “Towards The Sun”. Também teremos sempre que referir “Operators Of Triumph” e “Theriomorphic”, este último a fechar uma das actuações mais fortes em termos de som que de certa forma também foi um dos pontos menos positivos, em termos gerais, de todo o festival.

Nesse aspecto, um dos principais pontos a assinalar da actuação dos Orphaned Land é mesmo o som que não ajudou a que a festa fosse superior às expectativas que todos tínhamos. A banda de Kobi Farhi (que foi nossa capa em Janeiro) era um dos grandes destaques desta edição e a que mais pessoas concentrou em frente ao palco, mas infelizmente gozou de um som muito indefinido e que prejudicou ouvir com clareza muitos dos temas tocados. Apesar da visita da banda ao nosso país no ano passado no Santa Maria Summer Fest, o álbum editado em Janeiro deu-nos motivos de interesse mais que suficientes para que esta fosse uma actuação obrigatória, algo que se comprovou, apesar das dificuldades de som já mencionadas.

Um alinhamento que favoreceu principalmente o último trabalho, “Unsung Prophets & Dead Messiahs”, logo a abrir com o épico “The Cave”, que apesar da sua longa duração se revelou apropriado para iniciar da melhor forma a sua actuação. Mais temas do último álbum se seguiram, intercalados por clássicos como “Ocean Land”, “The Kiss Of Babylon”, ou “Sapari” – sempre um sucesso entre o nosso público e uma das nossas favoritas, confessamos Kobi esteve sempre muito comunicador fazendo sempre uma introdução para cada tema, onde chegou a elogiar-nos pela nossa revolução de 1974 e fazendo a comparação com os governos fascistas do mundo, principalmente do Médio Oriente, encontrando divisões onde elas não existem. No final foi onde as já referidas dificuldades técnicas tiveram o seu auge, com a falta de luz em cima do palco e o micro de Kobi a falhar constantemente, impedindo que o vocalista israelita fizesse o discurso de apresentação para os últimos temas da noite, “Norra El Norra” e “Ornaments Of Gold” e simplesmente passasse à acção. Apesar de tudo, um grande concerto.

Os Analepsy, no palco Stairway, também não se livraram de algumas dificuldades técnicas mas ainda assim conseguiram ter o som mais forte de todo este primeiro dia. A banda lisboeta, apesar de ser relativamente recente, já conseguiu atingir um estatuto, totalmente merecido, entre os apreciadores das sonoridades mais extremas do death metal e na sua actuação de estreia no Vagos Metal Fest provou que esse estatuto não lhe foi oferecido e sim conquistado e que também não se limita ao que fazem em estúdio, transportando toda a brutalidade e ainda lhe dando mais energia a temas como “Colossal  Human Consumption”, “The Vermin Devourer” e “Engorged Absorption”. Esta é uma banda que é obrigatório conhecer para quem se diz apreciador de música extrema.

Para sermos completamente honestos, tínhamos algum receio que as últimas bandas (aliás, tal como as primeiras) sofressem em termos de público com o avançar da hora. Felizmente foi algo que não se verificou, já que, inteligentemente, os horários dos Dust Bolt e dos Impera (que inauguraram o nosso Garage World aqui) foram feitos de forma que quando acabasse uma banda, começasse logo a seguinte. Foi o que aconteceu com os mestres do thrash alemão, Dust Bolt que já nos tinham sido apresentados ao vivo no ano passado em Casaínhos com uma grande actuação. Não desiludiram por esta segunda incursão por terras lusitanas, embora também tenham gozado de um som nas melhores condições, com a guitarra do vocalista Lenny B. a soar mais alto que tudo o resto. Ainda assim, não faltaram motivos para grandes circle pits (os maiores deste primeiro dia rico na modalidade) com malhões como “Mind The Gap”, “Awake” e as já inevitáveis “Toxic Attack” e “Agent Thrash” a fechar. A banda é um dínamo em cima do palco e os resistentes (em número considerável, repito) retribuíram com muita energia.

A noite aproximava-se do final e cabia aos Impera fechar o certame no palco Stairway com uma curta mas poderosa actuação. Poderemos achar que é uma posição ingrata no cartaz, mas como já foi dito atrás, tanto as bandas de abertura como de encerramento gozaram de um bom número de público que apesar do cansaço não deixaram de viver o som que vinha do palco. No caso concreto dos Impera, um metal moderno e cheio de groove que não deixa de ter um cariz técnico e que justifica plenamente a inclusão das duas guitarras. Por falar em guitarras, o recém chegado David Alves (ex-Adamantine) não acusou os nove pontos que levou no joelho, estando ao seu melhor nível em temas como “Sisyphean Task”, “Weightless” e “Grasp”, o épico de dez minutos que fechou a sua actuação.

O rescaldo final é bem positivo, com todos os pontos menos bons a serem largamente superados pela qualidade das bandas em si e pelo espírito de Vagos, esse já imortal e impossível de recriar noutros sítios que não aqui. Como muitas vezes foi dito ao longo do festival (inclusive por quem estava em cima do palco), Vagos é definitivamente aqui. E será sempre assim, uma certeza que nos traz ano após ano mais alegrias por uma magia que não se fabrica, simplesmente é.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Amazing Events


 

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