Dream Theater @ Coliseu, Porto 30 de Abril de 2017
A peregrinação ao Coliseu do Porto para Dream Theater prometia ser uma das maiores de sempre. A sala, e a cidade, já é quase a sua segunda casa – facto que James LaBrie salientou na sua primeira abordagem a um coliseu praticamente esgotado – e depois da digressão de suporte a “The Astonishing” não ter passado pelo nosso país, a expectativa era mais que muita. Ainda para mais com um motivo tão especial como o marcar e assinalar do vigésimo quinto aniversário de “Images & Words”, um dos momentos mais queridos dos fãs da banda, para muitos deles, o verdadeiro primeiro álbum – foi o primeiro com James LaBrie na voz.
O facto de não haver banda de abertura era um sinal que a noite ia ser longa, indo ao encontro das expectativas altas. Assim foi, começando às nove horas, com uma inesperada abertura do primeiro acto com “The Dark Eternal Night”, um momento de peso intenso que meteu logo a plateia ao rubro. Com um palco mais simples, sem ecrã gigante (sem distracções) e com um excelente jogo de luzes. Este primeiro acto foi uma forma de tentar focar um pouco a carreira da banda, já extensa. Obviamente que a escolha é sempre difícil, dado a riqueza e variedade do seu reportório, mas a banda escolheu por algumas músicas não tão usuais. De qualquer forma temas como “The Bigger Picture” do álbum auto-intitulado e o excelente instrumental “Hell’s Kitchen” do “Falling Into Infinity” foram recebidos de forma apoteótica. Também boa recepção tiveram as duas representações do último trabalho de originais, através dos temas “The Gift Of Music” e “Our New World”.
O primeiro momento introspectivo da noite surgiu com a interpretação solo de “Portrait Of Tracy” por parte de John Myung que homenageou um dos seus heróis, Jaco Pastorius, que faz precisamente em 2017 trinta anos desde que faleceu. O solo de Myung foi uma boa ponte para um dos temas mais queridos pelos fãs de Dream Theater, “As I Am”. Se a excelência de performance já é algo que se espera (e até exige, já que os fãs da banda norte-americana são dos mais exigentes do metal progressivo), a qualidade de som estava à altura dessa mesma excelência, provavelmente o melhor som que a banda já teve em todas as actuações no Porto desde sempre. No final do tema, o público ainda teve direito a um trecho da “Enter Sandman” dos Metallica que encaixou como uma luva naquele contexto. O final do primeiro acto veio com “Breaking All Illusions”, um dos melhores momentos do primeiro álbum com Mike Mangini atrás do kit de bateria, “A Dramatic Turn Of Events”.
Após cerca de quinze minutos de intervalo, deu-se início uma breve revisão do ano de 1992, o ano em que foi editado “Images & Words”. Vários trechos de músicas que fazem parte do imaginário dos presentes passaram, tendo sido, na sua grande maioria entoados por todo um coliseu ávido do momento único que ia presenciar. “Pull Me Under” foi o primeiro sucesso da banda (e como muitas vezes a própria banda já referiu mais que uma vez, o seu único até agora) e foi recebido em apoteose. Já há muito tempo que é um tema incontornável e um dos favoritos de qualquer fã da banda.
LaBrie estava particularmente falador, o que também tornou este concerto como uma ocasião especial, uma verdadeira celebração especial, onde o vocalista foi o guia, mostrando e partilhando diversas memórias daqueles tempos em que, segundo o próprio, o sucesso inesperado de “Pull Me Under” e de “Images & Words” que criou uma plataforma sólida para que a banda chegasse onde chegou. Foi essa a principal mensagem que James LaBrie passou e a razão de toda a celebração: Olhar para o passado, mostrar gratidão aos fãs por esse mesmo passado, pelo presente e pelo futuro e sobretudo pelo apoio dos seus fãs.
Desfilou-se pelo álbum mas não foi uma simples interpretação fiel ao álbum. Aliás, uma das características mais queridas pelos fãs de Dream Theater é a forma como davam uma vida diferente aos temas registados em estúdio. Algo que alguns fãs sentiam que se tinha perdido com a saída de Mike Portnoy. Temas como “Another Day” (que teve uma outro alongada com um solo de Jordan Ruddess), “Take The Time” (que teve no final um trecho do tema “Glasgow Kiss”, um original de John Petrucci a solo), “Metropolis Pt. 1: The Miracle And The Sleeper” (com direito a solo de bateria de Mike Mangini) e “Wait For Sleep” (com uma intro alongada por parte de Jordan Ruddess) mostraram ao público aquela sensação de improvisação que causou sensação nos primeiros anos da banda.
Por falar em Mangini, o baterista mostrou-se cada vez mais confortável na sua pele de baterista e a pressão (sempre enorme) de suceder alguém como Portnoy parece já estar normalizada. Por esse motivo, sentiu-se que talvez fosse desnecessário um solo de bateria (algo que tem sido uma constante nas digressões desde 2011) mas encaixado dentro de um tema é a melhor forma para o efeito. “Learning To Live” marcou o final do segundo acto mas ainda estava reservada mais uma surpresa para o encore. Com um tempo mínimo de intervalo a banda voltaria para a interpretação de “A Change Of Seasons” na íntegra, o tema épico de vinte e cinco minutos.
Quase três horas de concerto, sem contar com o intervalo, e um coliseu inteiro com fãs satisfeitos foi o resultado de uma actuação imaculada daquela que é sem dúvida uma das mais influentes (se não a mais influente) entidades dentro do espectro do metal progressivo. Uma noite memorável e de excelência por parte de uma banda que habituou os seus fãs a entregar isso mesmo.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos à Prime Artists
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