Reportagem Silveira Rock Fest V Edição @ Casal Da Silveira, Odivelas – 30 de Setembro de 2017
A quinta edição do Silveira Rock Fest prometia um bom cartaz (exclusivamente nacional), num espaço familiar, isto tudo com entrada gratuita. Mais do que prometer, o Silveira Rock Fest cumpriu. Quando chegámos ao local, pudemos encontrar já um bom ambiente, onde já se fazia ouvir os preparativos para a primeira actuação. Tínhamos bebida e comida disponível assim como bancadas do Metal Market onde se poderia gastar o dinheiro que sobrasse – ou vice-versa.
A sala onde se realizaram os concertos e tinha todo o feeling de uma sala de ensaios com palco e espaço para assistência. Com a vantagem de soar bem melhor, como os Okkultist provaram. A banda é recente (formada em 2015) e já têm um lançamento – o MCD “Eye Of The Beholder. Apesar de ter sido o primeiro contacto que tivemos com o seu som, a impressão não poderia ter sido melhor. O som estava bruto e a fumarada que vinha do palco estabelecia o ambiente de forma perfeita para o death metal dinâmico da banda que conta com Beatriz Mariano. Riffs e pormenores interessantes de guitarra saltam ao ouvido assim como uma performance impecável, tendo faltado apenas alguma comunicação com o público. Que até nem se sentiu assim falta. Boa banda, que esperamos ver mais vezes em cima dos palcos. Destacamos temas como “B.Y.O.C.” e “Sacred Brutality” que demonstraram o calibre do seu death metal old school.
Algo que jogou a favor deste cartaz foi a sua diversividade. Do death metal tradicional dos Okkultist passámos para o stoner rock dos Stone Cold Lips. Grande feeling, grande energia e com um som bem cheio de fuzz que meteu todos os presentes a mexer. Temas como “Great Vengeance”, “Eat Dust”e “Feel The Highway” foram muito bem recebidos pelo público. Difícil seria fazer o contrário, quando o som vinha com um groove irresistível. E foi sintomático neste dia, todas as bandas saíram do palco com a sensação de que poderiam ter ficado muito mais tempo. Resta a consolação de podermos repetir a dose noutros eventos.
Por falar em diversidade, os Blame Zeus são um dos nomes que o público apreciador de metal nacional já acolheu há muito tempo. Com o seu rock musculado, foi com grande energia que a banda iniciou a sua actuação, demonstrando um grande à vontade em cima do palco fruto de uma boa rodagem pelos palcos nacionais. Sandra Oliveira não só tem uma boa voz como é uma excelente frontwoman, algo que só serviu para que temas como “Speachless” (o mais recente single da banda) e “Shoot Them Down” fossem muito bem recebidos. Quando alguém gritava no final da última música para que tocassem “aquela que não está em nenhum álbum” a banda obedeceu e tocou “Undercover”. O horário ficou ligeiramente atrasado mas não houve ninguém que não tivesse saído satisfeito.
Um dos nomes grandes deste cartaz é também uma das maiores bandas de death metal nacional. Uma das históricas que conseguiu os primeiros esforços de internacionalização na era pré-Moonspell: Sacred Sin. A banda voltou com um excelente álbum, “Grotesque Destructo Art”, mas foi o clássico “Darkside” o grande destaque da sua actuação, embora ainda tenha havido oportunidade para passagens por outros trabalhos como o tema título de “Eye M God” (com um inspirado solo de bateria pelo meio) e a “Ghoul Plagued Darkness” e “Seal Of Nine” do muito subvalorizado “Anguish… I Harvest”.
Do “Darkside” ouviu-se a sequência “A Monastery In Darkness” e “The Shades Behind”, “Gravestone Without Name”. “In The Veins Of Rotting Flesh” e “The Chapel Of The Lost Souls” (tocado com Tó Pica). Da novidade “Grotesque Destructo Art”, pôde-se ouvir “Hatred Inside”, uma “Murder” (que José Costa desafiou a cantar como “merda”, em desafio ao actual estado de coisas, sendo o momento de campanha eleitoral fora-da-lei para os inconformados) bem potente, “Euthanize It” e “Morbid”. Para o final, claro que ficaria a inevitável “Darkside”, clássico maior da carreira da banda e do death metal nacional. O tema foi tocado com Tó Pica a quem José Costa se referiu como parte da banda mesmo quando não faz parte da banda. Um final apoteótico para uma actuação que trouxe muitas movimentações, crowdsurfing e circle pit em frente ao palco.
A noite estava a chegar ao final e faltavam ainda uma banda lendária para terminar: Decayed. Fora do local dos concertos estava um frio de rachar, pelo que se ansiava para que se pudesse voltar à sala dos concertos e ser aquecido pelo som infernal do black fucking metal lusitano dos Decayed. O atraso já era algum e o soundcheck ainda foi mais moroso do que o esperado. de tal forma que J.A. voltou-se para o P.A. e diz “caga para a intro e vamos lá começar com esta merda”, acrescentando mais tarde para o público que iria ser mergulhado no black metal à moda dos Decayed.
Foi efectivamente o que aconteceu. A banda tem um repertório enorme e seria impossível mostrar todos os clássicos mas esse foi um factor que não colocou qualquer entrave ao público que ansiava pelo som da banda. “Hellwitch”, “Cravado na Cruz” e “Martelo do Inferno” foram alguns temas que exemplificaram essa diversidade que ainda nos mostraram material novo como a “Ritos de Iniciação”, dedicada a Sintra, e que sairá num split single com os Desaster. A actuação seria finalizada com dois clássicos inevitáveis: “Drums Of Valhlla” (que teve um falso arranque devido a Vulturius, já algo ébrio, ter-se engasgado e vomitado nos primeiros segundos do tema) e “Fuck Your God”. Para o encore ainda houve tempo para “Onslaught Of The Holy Flock” e todos saíram mais que satisfeitos.
O Silveira Rock Fest foi um sucesso absoluto, não tanto por números – que desconhecemos mas que pelo vimos não terão sido nada maus também – mas pelo ambiente descontraído e de confraternização que pudemos encontrar. Uma iniciativa que chega ao seu quinto aniversário mas que esperamos ver muitas mais vezes no futuro, já que é graças a este tipo de eventos que as bandas nacionais podem chegar ainda mais pessoas – e com um evento grátis não há grandes desculpas para que não se compareça. Bom som, boa comida e bons concertos. Não é preciso muito para se ser feliz.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Silveira Rock Fest