Reportagem Nine O Nine, Dogma, Corvos @ RCA Club, Lisboa – 17/02/2018
Sentimento. Poderá parecer uma forma estranha de começar uma reportagem mas é a palavra que reflecte na perfeição a noite de apresentação do álbum de estreia dos Nine O Nine ao público que compareceu no RCA Club em Lisboa. Da nossa parte tínhamos muita curiosidade por este espectáculo já que não só reunia três nomes bastante diferentes da música portuguesa como também seria a primeira oportunidade que teríamos para ver ao vivo dois desses três nomes.
Apesar da noite ser da nova banda de Tó Pica e Sérgio Duarte, não faltou entusiasmo para receber os Corvos que aterraram na sala de Alvalade com algum atraso em relação à hora prevista. Com um som muito forte, a roçar a perfeição, a banda provou se enquadra bem em qualquer cartaz. Criaram uma atmosfera única e misturaram de forma natural a sonoridade da música clássica com a do rock/metal, onde a “Smells Like Teen Spirit” dos Nirvana puxou para o lado mais rock mas os temas originais como “The Cave Of Plot” puxaram numa direcção mais própria do metal mais negro e pesado mas ambas com muito sentimento e feeling. Uma actuação que serviu definitivamente para demonstrar a versatilidade da banda e o seu grande momento de forma que atravessam. Apesar de curta, teve um impacto bastante considerável e aqueceu o público.
Os Dogma seriam os senhores que seguiriam e quem tínhamos uma grande expectativa para os ver em cima do palco depois do seu álbum de estreia, “Reditum” ter sido uma das revelações de 2017 (considerado como um dos melhores trabalhos no género Doom Metal, como podem verificar aqui). As expectativas foram (mais ou menos) correspondidas mas de falta de sentimento não poderemos acusá-los. O problema talvez até tenha sido o inverso. Começaram com a intro “Jabal Tariq” que foi a apresentação para a “Sangue & Frio”, que foi portadora de uma grande qualidade de som e onde as vozes de Isabel Cristina e Gonçalo Nascimento combinaram bem, embora mais nos momentos de voz limpa do que propriamente naqueles em que o gutural era ensaiado.
Para a sonoridade dos Dogma, esperávamos uma performance mais solene e sóbria, principalmente por parte dos vocalistas e se Isabel esteve irreprensível, sentimos que Gonçalo por vezes saía fora do que a música pedia em termos visuais. Sendo uma questão de opinião pessoal, vale o que vale, mas o que é importante salientar é que a representação dos temas como “Anjo Caído” e “Criação” confirmaram aquilo que “Reditum” já nos tinha provado: que os Dogma são um dos grandes “novos” valores da música extrema nacional e onde o sentimento é abundante. A perfeição virá com mais rodagem e experiência em cima dos palcos, já que a mesma em disco é evidente.
Tanto os Dogma como os Corvos não deixaram de agradecer o convite encetado pelos Nine O Nine, nesta que era a sua noite de apresentação oficial, depois de terem tido alguns avanços ao álbum sob a forma de vídeos. No entanto, a expectativa ainda reinava em relação ao que iríamos ver e em relação a esta nova força da música pesada nacional. A primeira coisa que confirmámos foi algo que o próprio Sérgio Duarte viria a afirmar num dos intervalos entre as canções: o som desta banda é um bocado difícil de catalogar. É pesado, as guitarras estão bem presentes, voz bem melódica mas sem deixar de ser poderosa e uma atmosfera muito própria – que por vezes até nos faz lembrar alguns dos trabalhos de Devin Townsend. Um equilíbrio muito bem conseguido entre o rock e o metal.
Segundo Sérgio, o grande objectivo, o grande móbil deste projecto é fazer o que se quer fazer, sem limitações. Seguir o coração. Não só é uma máxima que poderá ser expandida a vários campos da vida – independentemente de se ser músico ou não. E o sentimento, tal como avisámos no início desta missiva, dominou por completo a actuação e transportou-nos por várias paisagens sonoras que apesar de algo díspares, não deixaram de serem sentidas unidas entre si. Outro ponto de convergência foi a qualidade dos músicos envolvidos, onde todos estiveram imaculados na sua prestação, desde Arlindo Cardoso na bateria, passando por Gonçalo Agostinho na guitarra ritmo até, claro Sérgio Duarte na voz e baixo e Tó Pica na guitarra solo.
Sérgio Duarte brincou com o facto de ser sempre uma situação estranha estar num concerto de apresentação do álbum em que todos têm o álbum mas na sua grande maioria não tiveram oportunidade para ouvi-lo. Foi algo que não prejudicou em nada a envolvência do público e a forma como as músicas foram recebidas. Grandes solos de guitarra (aquela “Big Event” foi qualquer coisa de fantástica), grandes melodias e poder (“The Rush” poderia estar num álbum de thrash metal moderno que não soaria desfasada) e sempre a constatação de que fazer o que sente em busca da felicidade é sempre o melhor lema para qualquer projecto na vida mas sobretudo para a música. É algo que se sente e foi esse o sentimento geral que o público do RCA Club viveu, um sentimento puro.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Raising Legends Records
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