WOM Report – Legends Never Die @ RCA Club – 02.11.19
Não é preciso esclarecer quem nos acompanha mas de qualquer forma para quem está a chegar aqui pela primeira vez… não somos consumidores de bandas de tributos. Dado as limitações que temos, optamos por concentrar as nossas energias e tempo (extremamente limitado) nas bandas de originais e apoiar o esforço feito por quem arrisca o caminho sinuoso de fazer músicas suas e luta por fazer chegá-las ao seu público. No entanto é inegável o talento dos músicos envolvidos nas bandas tributo e na paixão que dedicam naquelas músicas que tanto lhes dizem a eles e muitos outros que, tal como nós, foram marcados por elas. Tendo sido convidados para este festival Legends Never Die, atraiu-nos principalmente o facto de ser uma homenagem não só aos músicos mas a bandas que já não existem – os Queen são a excepção mas tenho que confessar que não consigo deixar de ver Adam Lambert como um tremendo erro de casting.
A primeira banda a dar início à festa foram os Soundslave que se propunham a tocar músicas das várias bandas e projectos de Chris Cornell – sendo dois deles Soundgarden e Audioslave, obviamente, tendo até a boa surpresa de Temple Of The Dog (um projecto que Cornell dividiu com Eddie Vedder e muitos outros músicos da cena de Seattle) com “Pushed Forward Back. A recriação dos temas foi perfeita em temas como “Outshined”,“Rusty Cage” ou “Spoonman”. Ainda Tivemos a oportunidade de vermos convidados especiais a subirem ao palco como Pina (dos Abaixo Cu Sistema), Gonçalo dos Strength Beyond Strength na “Set It Off” e Alex Van True (dispensa apresentações, certo?) no hino “Black Hole Sun”. Nota positiva para David Pais, pela forma como consegue encarnar o espírito de Cornell assim como agarrar o público durante todo o concerto.
Negative Creeps, o tributo a Nirvana, manteve as coisas pelo som alternativo de Seattle. Quando se fala da década de noventa, este é um nome incontornável que marcou todos os que cresceram nela. Para muitos foi uma porta de entrada da música pesada, algo que já prevíamos que se reflectisse no alinhamento. Alex Van True surgiu em palco envergando uma bata e tal como o próprio Kurt Cobain, o seu foco esteve por completo na músicam, sem qualquer comunicação com o público. O público, esse, foi ao rubro rápida e facilmente com os hinos de “Nevermind” (não é preciso mesmo referir quais são, pois não?) mas não faltaram passagens pelo “In Utero”, “Incesticide” e até “Bleach”, o álbum de estreia de culto. Não deixa de ser um regresso ao passado engraçado, principalmente pela forma efusiva como o público reagiu aquelas canções.
A pausa para o jantar levou muitos para fora do RCA, o que provocou que os Bastards, tributo a Motörhead, tivesse um número menor de pessoas a assistir. Isso não prejudicou minimamente aquela que foi uma das actuações da noite. Lemmy é Deus e Motörhead é Motörhead. Heavy metal punk chapa cinco mas que funciona pela simplicidade e amor ao rock’n’roll. Com três músicos de topo e com grandes clássicos como “Going To Brazil”, “No Class” e “Damage Case”, a festa foi garantida. A animação no público, essa, nunca desanimava, com mais ou menos pessoas. E para o final uma sequência demolidora na forma de “ Iron Fist”, “Ace Of Spades” e uma apoteótica “Overkill” que terminou a festa em grande, onde o nosso Lemmy português mandou-se para o público para um crowdsurfing. Destaque também para o solo de bateria na “Sacrifice”.
Os Pantera foram uma das bandas mais influentes para aquilo que se pode considerar o som moderno do metal. Não era por isso difícil perceber que os Strength Beyond Strength tenham sido quem mais pessoas concentrou em frente ao palco e que mais animação provocou entre o público. Apesar de não ter uma discografia muito extensa (sem contar com a fase amaldiçoada da década de oitenta), muitos foram os clássicos que se apresentaram vindos principalmente de “Far Beyond Driven” e “Vulgar Display Of Power” especialmente para o palco do RCA assim como os corpos a serem expelidos para fora dele – embora alguns gostassem de permanecer por lá por demasiado tempo. Interpretação no ponto de temas como “5 Minutes Alone” e “Domination” (que incorporou a secção final da “Hollow” e sobretudo na surpreendente “Cemetary Gates”, um tema que tende a ser esquecido pelos entusiastas da fase mais groove dos Pantera.
Passar de Pantera para Mamonas Assassinas é uma passagem corajosa que poucos se lembrariam de encetar, no entanto, neste contexto resultou perfeitamente. Os Silicone Suicida foram o tributo que melhor encarnaram a banda que pretendiam homenagear. No humor, na interpretação dos temas, na comunicação com o público. Tudo esteve perfeito. A junção da música popular brasileira com elementos de rock, punk, metal, funk, sempre foi o atractivo da mítica banda e apesar de terem apenas editado um álbum que mal chega aos quarenta minutos (mais tarde foram editados temas inéditos/inacabados), foi material mais que suficiente para a viagem ao passado que nos levou a um dos maiores sucessos do outro lado do Atlântico (e que viria a ser responsável por uma autêntica praga de bandas “engraçadinhas” que nunca conseguiram chegar aos seus calcanhares. “Cabeça de Bagre”, “Robocop Gay”, “1406” e a pesadona “Débil Metal” fizeram a festa e elevaram o espírito de todos.
E já que estamos a falar de elevar o espírito, que banda tem mais esse poder que os Queen? Os One Vision são uma das grandes bandas tributo da banda a nível europeu e a maior a nível nacional, e em palco não é difícil perceber o porquê. O alcance vocal de Alex Van True, assim como a forma como complementa o som com o piano/teclas enriquecem ainda mais as músicas que fazem parte das nossas memórias e que fizeram parte do nosso crescimento musical. Como se antevia, muitos pontos altos para os fãs da banda sendo que “I Want It All” e “Show Must Go On” foram daqueles que sempre tivemos pena de não ter visto Freddie a cantá-los ao vivo.
A banda é extremamente coesa onde a solidez rítmica de Zé Fusco e Mário Duarte é essencial. Outro ponto importante para essa solidez é o guitarrista Jorge Sousa (que também toca nos Iberia) e que recriou a guitarra de Brian May na perfeição sem deixar de dar o seu próprio toque, ponto fulcral para este tributo que tem o intuito de homenagear e não propriamente imitar o inimitável. No final (apoteótico, com vários músicos das outras bandas a cantar em palco a “We Are The Alex agradeceu tanto ao público como a Slax Eventos mas principalmente aos anjos Chris Cornell, Kurt Cobain, Lemmy Kilmister, Vinnie Paul, Dimebag Darrell, Mamonas Assassinas e Freddie Mercury por toda a música que nos deram e que nos acompanhará sempre. Não poderíamos dizer algo melhor para encerrar esta reportagem de uma grande noite de música inesquecível.
Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Slax Eventos
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