Álbum do Mês – Maio 2020
Álbum do Mês – Maio 2020
Estamos de volta e em português – agora de vez! Temos mais 20 álbuns que se destacaram no passado mês e que deixamos aqui para vos acompanhar agora em Maio, mais uma escolha bastante eclética mas cheia de qualidade
20 – Hats Off Gentlemen It’s Adequate – “Nostalgia For Infinity”
Glass Clastle Recordings
Irónico estarmos agora a analisar este álbum dos Hats Off Gentlemen, It’s Adequate, quando estamos a meio desta crise global que nos colocou, em parte, no nosso devido lugar. Em parte, porque infelizmente somos incorrigíveis. “Nostalgia For Infinity” tem como principal tema a fragilidade humana. Física, emocional e até intelectual. Como somos animais de hábitos, incapazes de mudar e fácil de ceder ao desespero de qualquer situação – e como agora nos parecem triviais todos os dramáticos problemas que tivemos um mês atrás de não termos carga no telemóvel ou de nos termos esquecido de algo no super-mercado. Apoiado, em parte, por trabalhos do escritor Alaistair Reynolds, temos uma colecção de tema que é um festim para os ouvintes do fã de rock progressivo. O épico de apertura “Century Rain” é sem dúvida um deles. O tema “Ark” já nos tinha sido apresentado anteriormente no EP com o mesmo nome lançado no passado, e já é uma referência no resto do álbum flui de forma graciosa até ao desfecho com o “The Sixth Extinction”, um climax apropriado com um incremento de peso que é bem vindo. Uma chamada de atenção para o nosso potencial tanto para a salvação como para a perdição. Destaque ainda, invevitável para o trabalho de flauta de Kathryn Thomas, que surge precisamente nos temas mais mais marcantes. Rock progressivo poderá estar longe do impacto comerciald e outrora, mas a música inesquecível continua a ser feita, como a que temos aqui.
9/10
Fernando Ferreira
19 – Gotthard – “#13”
Nuclear Blast Records
Os mestres do hard’n’heavy suiço está de volta com o décimo terceiro álbum, como é fácil antever pelo título. Esta é uma banda verdadeiramente batalhadora. Não só vem de um país que não tem grande tradição no género (embora seja uma mina de bandas emblemáticas da música pesada) como iniciou carreira numa altura particularmente difícil para o estilo que praticam. Perderam o emblemático vocalista Steve Lee em 2010 mas ainda assim encontraram força para continuar, sendo que este é já o seu quarto trabalho de originais desde então. Conjunto de músicas raçudas, melódicas e onde até nem falha os temas mais melosos, mas que são bem conseguidos. Sem nada a provar mas ainda com muito para rockar. Para quem gosta do estilo, um trabalho recomendado. Para quem gosta da banda, obrigatório.
9/10
Fernando Ferreira
18 – Mike Tramp – “Second Time Around”
Mighty Music
O regresso depois de “Stray From The Flock” vem agora “Second Time Around”. A saga continua, pois, ao ouvir estes dois trabalhos mais recentes do dinamarquês Mike Tramp, conhecido pelo seu trabalho nos White Lion e mais tarde em Freak Of Nature, rapidamente nos sentimos contagiados pela paixão de Mike por aquilo que faz na música e com as suas músicas. Não me vou esquecer de “When The Children Cry” e certamente não me vou esquecer tão cedo de “All Of My Life”, “The Road”, “Between Good And Bad”, “Highway”, temas que fazem parte do alinhamento deste brilhante disco e que serve para perceber que quem sabe nunca esquece e acima de tudo Mike Tramp é um músico com uma capacidade criativa inesgotável e que sempre admirei. “Second Time Around” é o mais uma pérola a acrescentar ao seu catálogo solo e a enriquecer o legado de Mike. Só posso dar 10!!!!
10/10
Miguel Correia
17 – Voices Of Ruin – “Path To Immortality”
M-Theory Audio
Terceiro trabalho de originais dos Voices Of Ruin que trazem aquele cheirinho tão agradável de death metal melódico ao qual não conseguimos ficar indiferentes. A fórmula é (ou pelo menos parece) simples mas acertar nos riffs, acertar nos leads e acertar nos solos correctos de forma a tornar o que é (ou parece ser) banal em algo memorável, não é definitiviamente para todos. Sem entrar em exageros e com uma sobriedade que não deixa de ser assinalável. Este será um trabalho referência dentro do seu género para 2020. Profecia que se irá verificar quando fizemos o balanço no final do ano.
9/10
Fernando Ferreira
16 – Iiah – “Terra”
Bird’s Robe Records
Que enorme álbum que este é! Ao segundo álbum, os Iiah trazem-nos uma viagem fantástica pelo pós rock e pelo ambient music. Aliás, por muito que se tenha dúvidas dos rótulos que nos são fornecidos pelos comunicados de imprensa, pós rock cinemático é sem dúvida o melhor que se enquadra aqui. Apesar de não ser inteiramente instrumental, mesmo quando a voz surge, parece que faz parte do todo, que é apenas mais um elemento, usado como se fosse um instrumento, mais um, para nos trazer mais uma peça do pequeno grande puzzle que estemos diante de nós. Música para nos perdermos nela.
9/10
Fernando Ferreira
15 – Blended Brew – “Shove It Down”
Mighty Music
Fãs de Deep Purple, Rival Sons e Ac/Dc têm aqui o novo trabalho dos Blended Brew que promete conquistar aqueles que ainda não os conhecem. “Shove It Down” é um disco de puro rock’n’roll, cheio de malhas contagiantes, pujantes e sujas como o próprio estilo requer. Os dinamarqueses esmeraram-se e conseguir atingir aquele é o ponto de ter um trabalho de fácil audição. As suas influências são sentidas, mas não são o padrão, porque esse é o cunho bem audível dado nas suas composições. 9 malhas de muita energia gravadas totalmente ao “vivo” em estúdio e o final é feito com maestria, numa música muito sentida e que desperta emoções como é “Don’t Say No”.
10/10
Miguel Correia
14 – Barishi – “Old Smoke”
Season Of Mist
Inesperadamente, para alguns talvez, os Barishi rebentam com tudo com “Old Smoke”. Literalmente. No entanto, não quer isto dizer que é um trabalho que nos apaixone à primeira audição. Não, longe disso. É exigente e até um bocado caprichoso. Embra nos traga, na maior parte da duração, uma agressão própria de metal extremo, tem ao mesmo tempo alguns pontos em comum com as estruturas mais desafiantes do metal progressivo. Até nas suas faixas mais curtas. E nada vem ao acaso. Quer o alinhamento, quer a diferença abismal entre a duração de algumas faixas. Tudo faz sentido neste contexto. Chamar “Old Smoke” de progressivo não me faz sentido, já que o sludge, na minha opinião está aqui tão presente em lugar medida. Sludge progressivo? Porque não? Seja o que for, é um disco ao qual DEVEM dedicar umas boas audições antes de se decidirem pela sua avaliação. E não se esqueçam, o que custa é sempre a primeira audição.
9/10
Fernando Ferreira
13 – Forming The Void – “Reverie”
Ripple Music
Está aqui uma banda que raramente falha – quanto a mim ainda não falhou. Os norte-americanos Forming The Void estão de volta com “Reverie” o quarto álbum de originais que mais uma vez nos deixa com a sensação que elevaram a fasquia (que estava bem alta com “Rift”). Temos mais sete temas que fundem na perfeição o stoner e o doom com uma aura psicadélica à qual somos bastante fãs – isto porque a sensação de viajar na maionese graças à música é insuperável. Sem cair em exageros e algo mais directos que anteriormente, não podemos dizer que estejam mais acessíveis. Mais directos sim, mas acessíveis… continuam a ter uma atmosfera única e que vale logo pontos. Para quem gosta daquele fumo mágico a sair das colunas, é de mergulhar nele. Atenção, este produto dispensa o uso de psicotrópicos e não está disponível nas farmácias.
9/10
Fernando Ferreira
12 – Trick Or Treat – “The Legend Of The XII Saints”
Scarlet Records
Alguma originalidade neste novo trabalho dos Trick Or Treat. 12 músicas épicas, uma para cada signo do zodíaco!Um álbum conceptual inspirado na anime de “Saint Seya”, cirado em 1985 por MAsami Kurumada, mais precisamente falando da saga intitulada “The Legend Of The 12 Saints Of The Gold”, transformado aqui num conto musical, épico e muito divertido de se ouvir, com orquestrações majestosas, poderosas que num todo resultam bastante bem.Para a banda italiana foi um desafio para nós ouvintes é um desafio ganho com todo o mérito.
10/10
Miguel Correia
11 – Solkyri – “Mount Pleasant”
Bird’s Robe Records / Dunk! Records
A capa do novo trabalho dos australianos Solkyri parece ser tão interessante como aquilo que muitos melómanos pensam do pós-rock mas temos que referir que é bem mais interessante. Muito mais mesmo. Somos suspeitos por gostar do género (e por sermos eternos optimistas em relação ao potencial que tem para apresentar música entusiasmante) e mais por gostarmos de música instrumental, mas este é um daqueles exemplos em como mesmo respeitando todos os tópicos do que é supostamente mau, é algo mesmo bom. Não há no entanto, e de forma taxativa, demasiados pontos em comum com as alergias que temos. Pelo contrário, há um interesse que vai crescendo a cada música e a cada audição. Quando assim é, venham lá capaz da Remax, que nós aguentamos.
9/10
Fernando Ferreira
10 – Elephant Tree – “Habits”
Holy Roar Records
Não seria surpresa nenhuma os Elephant Tree apresentarem-nos, ao seu terceiro trabalho, mais doom/stoner de qualidade suspeita. Tanto não é que não foi, mas ver a forma com que nos trazem temas que vão para além do reduto onde se inserem (stoner/doom), com uma abordagem que vai para os campos até do folk e com uma capacidade atmosférica que deixa qualquer um rendido, isso era um bocado inesperado. Variado e dinâmico onde temas como “Bird” (que clássico este), surge ao lado de outros mais pesados mas com a tal ambiência mágica que o torna único – “Wasted” é outro bom exemplo. Este álbum traz-nos tantas coisas diferentes, tantos pontos diferentes que é inevitável, não nos apaixonarmos. Amor para toda a vida, diga-se.
9/10
Fernando Ferreira
9 – Ash Return – “The Sharp Blade Of Integrity”
Swell Creek Records
Pesados consistentes com melodias cativantes, hardcore e metal formam facilmente uma simbiose, solos de guitarra arrebatadores com um punho erguido bem alto, completado com vocais que se estendem de rosnados profundos e gritos hardcore aos timbres mais altos completando a tarefa. E assim se faz um disco onde o hardcore soa a isso mesmo… hardcore! A estreia dos Ash está feita e agora é aguardar por dias melhores e ir para a estrada arrasar em cada palco e deixar a sua marca. Recomendo!
10/10
Miguel Correia
8 – Lady Beast – “The Vulture’s Amulet”
Reaper Metal Productions
Que fantástico álbum! Os Lady Beast são uma daquelas coqueluches do underground cujo sucesso tem toda a razão de ser. Heavy metal tradicional (certo, não é a invenção da roda – nem o pretende ser) com grande poder e feeling que nos remete para a década dourada do género. Estou dividido entre chamar os Lady Beast” de retro, porque há aqui um apelo nítido a outros momentos passados por um lado. Por outro, soa-nos refrescante tal como se fosse o nosso primeiro contacto com estilo. Referências a Maiden nas harmonias das guitarras, a voz de Deborah não se pode comparar a outras vocalistas que temos actualmente, tendo também um feeling mais old school, sendo no entanto sóbria, sem tendência para ir para sítios onde a sua voz não tem pernas para chegar. Seja como for, este é um álbum ao qual não me canso de ouvir e que soa sempre refrescante. Tendo em conta a quantidade de música que ouço, é mesmo dizer muito.
9/10
Fernando Ferreira
7 – Dämmerfarben – “Des Herbstes Trauerhymnen MMXX”
Northern Silence Productions
Valeu a pena esperar oito anos pelo regresso dos Dämmerfarben. O duo regressa com mais cinco longos temas que funcionam como cinco viagens para um mundo de melancolia e peso, uma mistura vencedora tal como a própria mistura entre o black e doom metal melódico. Sabemos que nem sempre existe para coisas mais melódicas (ainda que pesadas) e longas (ainda que verdadeiras obras-primas), mas teremos que ser honestos connoscos próprios a admitir que este é um daqueles álbuns que sempre que nos passar pelos ouvidos, irá sempre soar bem.
9/10
Fernando Ferreira
6 – Firewind – “Firewind”
AFM Records
Firewind! Sim, adoro! Acho Gus G um mestre das seis cordas e por vezes não percebo, se calhar não é mesmo para perceber, porque é que Ozzy não lhe deu outro aproveitamento. Bem, deixando isso para trás o momento é o de “devorar” literalmente esta nova proposta musical da banda grega. “Welcome To The Empire” é o primeiro passo e claro é Firewind com tudo aquilo que já nos habituaram, aquelas linhas musicais os brilhantes solos de Gus e a novidade, ou talvez não, é a de termos uma nova voz na linha da frente. Herbie Langhans é o novo vocalista, com um desempenho muito acima da média, confirmando aqui algo que já vinha demonstrando no seu passado, quanto às suas capacidades. Claro que recomendo!
10/10
Miguel Correia
5 – Hexvessel – “Kindred”
Svart Records
E algo completamente diferente, saberia bem, não? Claro, principalmente quando falámos de mais um álbum dos Hexvessel, que nos traz uma sensibilidade única e tocante. “Kindred” é aquilo mesmo que o título descreve, um trabalho onde o folk se une a um certo espírito esotérico que nos vai encantando e envolvendo como se fosse um feitiço a ser conjurado lentamente onde não temos outra hipótese senão nos deixarmos ir. E não há problema nenhum com isso porque a viagem é fantástica. Místico de uma forma hipnótica.
9/10
Fernando Ferreira
4 – Symbolik – “Emergence”
The Artisan Era
Por vezes aparecem bandas assim. Com um álbum de estreia que nos deixa logo fãs. Apesar de não ser propriamente novidade o seu som (a mistura entre o death metal meódico e técnico) a forma como a banda consegue conciliar as duas vertentes, ali mesmo no ponto perfeito de equilíbrio em termos algo catchy e técnico sem ser demasiado meloso e aborrecido está atingido. Um ponto que não é de todo fácil de atingir. Apesar disso, admito que há necessidade de um certo estofo para interiorizar tudo o que se está a passar. Quem não for propriamente ávido por notas tocadas à velocidade da luz com um certo toque neo-clássico (presente em quase todos dos muitos solos que se pode ouvir), se calhar terá muitas dificuldades em conseguir absorver mas de certeza que ficará impressionado/a. Por vezes aparecem álbuns assim.
9/10
Fernando Ferreira
3 – Abysmal Dawn – “Phylogenesis”
Season Of Mist
Death metal do bruto mas com grandes pormenores técnicos. É uma forma de definiir “Phylogenesis” mas talvez saiba a pouco para quem anda viciado neste trabalho nos últimos tempos como nós andamos. A vertente técnica não está exposta em demasia mas surge naquele ponto exacto em que nos traz excelentes momentos metálicos, principalmente no que diz respeito aos solos de guitarra, que são um autêntico tratado. A banda norte-americana poderá ter estado seis anos em silêncio mas este é definitivamente é um regresso em grande. Equilíbrio perfeito entre a velha escola e o poder do metal moderno mais poderoso e um álbum que vemos a tornar-se um clássico do estilo.
9/10
Fernando Ferreira
2 – Calligram – “The Eye Is The First Circle”
Prosthetic Records
Depois de dois Eps, um em 2016 e outro em 2018, é chegada da estreia dos Calligram. E que estreia! “The Eye Is The First Circle” é um assalto de black metal bruto e cru, mas também traz muito mais do que pura agressão. Há um factor de novidade, de lufada de ar fresco que nos deixa presos a este álbum tal como a primeira vez que ouvimos Mayhem ou Darkthrone (não que haja alguma relação directa entre essas duas bandas e os Calligram e, sim, temos perfeita noção de que estes nomes aqui poderão gerar controvérsia e soar a blasfémia). Havendo sempre punhados de álbuns que sobrevivem de ano para ano, podemos já dizer que este é um deles.
9.2/10
Fernando Ferreira
1 – Testament – “Titans Of Creation”
Nuclear Blast
São um dos últimos bastiões do chamado Bay Area Thrash Metal e chegam a 2020 com uma longa e sólida carreira de 33 anos. Precisamente na altura em que Chuck Billy e Steve DiGiorgio são também eles afectados pela Covid-19, os Testament lançam o seu 12º álbum de originais ‘Titans of Creation’, e como a resiliência e longevidade não são por si só sinónimo de qualidade os Testament desta vez elevam a fasquia e de que maneira. ‘Titans of Creation’ tem sem dúvida uma qualidade impar, assente numa produção de excelência a penetrante voz de Billy ecoa imponente por entre os céleres e demolidores riffs de Peterson e Skolnick deixando a nu a excepcional destreza e perícia de ambos. Ainda que fiéis às suas origens os Testament conseguem manter uma espécie de modernidade na sua descarga de Thrash como se pode facilmente constatar na dinâmica de faixas como ‘Children Of The Next Level’, ‘Dream Deceiver’, ‘City Of Angels’ e ‘Symptoms’. A superlativa qualidade de ‘Titans of Creation’ coloca o álbum não só, como um dos melhores desde ano que poucas saudades vai deixar, como em simultâneo num dos melhores álbuns desta mítica banda.
9/10
Jorge Pereira