WOM Reviews – 1349 / Sathamel / Ofdrykkja / Inhibitions / Blaze Of Perdition / Wolok / Tyhjä / Reign In Blood
1349 – “The Infernal Pathway”
2019 – Season Of Mist
Sempre tive um especial apreço pelos 1349. Por um lado sempre se expressaram segundo as regres do black metal escandinavo, mas por outro sempre representaram também uma lufada de ar fresco em relação ao mesmo. Para quem tinha dúvida que estes cinco anos de ausência pudessem ter signficado alguma mudança na abordagem, “Infernal Pathway” prova que a banda continua acutilante, mais que nunca até. Grande parte dos temas são uptempo mas isso não impede que não tenhamos muitas canções dinâmicas, muito fruto do trabalho de guitarra e a secção rítmica onde se destaca o trabalho de Frost. Ao sétimo álbum a banda continua a percorrer o seu caminho sem estar muito preocupada com validações externas. Ainda bem, porque a nós dá-nos mais uma boa dose de temas de black metal para ouvir sem parar.
Nota 8.5/10
Review por Fernando Ferreira
Sathamel – “Horror Vacui”
2019 – Edição de Autor
Quando bem executado, não há estilo musical que esteja demasiado saturado, batido, espremido. Da velha Albion, terra fértil em actos de fazer rodopiar os sentidos a muitos de nós, surgem-nos estes Sathamel para nos dar uma verdadeira bordoada de negritude e bom som. Imaginemos uns Hecate Enthroned na sua versão mais recente, onde a ferocidade rítmica do Death Metal se conjuga com a eloquência atmosférica de contornos vitorianos do Black Metal (a introdução cinemática da faixa de abertura e o seu consequente desenvolvimento é bastante evocativo do que aqui referimos). Agora juntemos-lhe uns Behemoth, na sua seriedade visceral, violência introspectiva, ganchos cáusticos e riffs apimentados pela riqueza das melodias orientais (naquele sentido tenebroso que tanto apreciamos), e ataques de tremolo picking ferozes e quasi-dissonantes e desesperantes de uns Marduk, e temos qualquer coisa de aproximado a estes Sathamel. Com uma produção devastadora e densa, o veneno é cuspido de forma implacável e deixa-nos envolvidos por uma massa (ou missa) negra que nos prende e condena a uma audição verdadeiramente arrepiante. Vozes guturais que alternam entre a fúria do gutural grave e o grito black-metalish desesperado; guitarras que vão buscar a devastação do palm muting de afinações graves, acordes infernais e ataques de tremolo picking mais agudos e penetrantes; tempestades de percussão precisas e de arranjos bem ponderados, dinâmicos e deliciosamente irrequietos – este é um álbum que enche as medidas a qualquer apreciador de Metal negro, vil, sério, e que nunca se desnorteia ou se deixa deslumbrar em exageros nas partes que o compõem. Nada aqui está esgotado, tudo é capitalizado e bem aproveitado e, a partir daí, siga para outro riff, outra secção, outro gancho, outra música, outro passeio pelo marasmo de espessa negritude. O aspecto melódico, sempre lá, não é para meninos. Podíamos enumerar aqui imensos pontos altos, mas seria uma injustiça para com o resto, por isso, destacamos a primeira faixa Libera Me – não num destaque propriamente dito, mas como um exemplo simples e preconizante da trovoada contínua e majestosa que é este álbum. Fechando o círculo – quando não há espaço para grandes inovações, resta conseguir igualar ou até superar os porta-estandartes genéricos. Missão cumprida.
Nota 9/10
Review por Matias Melim
Ofdrykkja – “Gryningsvisor”
2019 – Art Of Propaganda
Este é um nome complicado de dizer, quer o nome da banda quer o nome do álbum, mas o seu black metal contemplativo não. Ou melhor, talvez também seja difícil para quem espera black metal puro e duro. Isto porque o que temos é mesmo algo bastante suave onde até a distorção é assim, o que por vezes pode irritar um pouco. Mais próximo até do folk e ambient do que propriamente do black metal este é um álbum que só peca por não trazer uma produção superior que de certeza que fariam muito bem a estes temas.
Nota 7.5/10
Review por Fernando Ferreira
Inhibitions – “With The Fullmoon Above My Head”
2019 – Satanath Records
Inhibitions poderá parecer um nome estranho para uma banda de black metal, ainda que seja black metal melódico, no entanto a banda grega traz-nos aquilo que esperamos exactamente dela, um estilo de som muito próprio ainda que algo próximo da fórmula escandinava. Boas dinâmicas nas estruturas das canções que fazem com que se fuja um bocado ao óbvio e boas soluções fazem com que este seja um trabalho agradável para quem não tem grandes expectativas. Os Inhibitions são um duo que têm demonstrado em pouco tempo boa obra feita. Esperemos por ainda mais no futuro.
Nota 7/10
Review por Fernando Ferreira
Blaze Of Perdition – “Transmutation Of Signs”
2019 – Metal Blade Records
Cheirinho daquilo que aí vem por parte dos Blaze Of Perdition, com um EP de 7” que nos dá um tema novo (precisamente o tema-título) e uma cover dos Fields Of The Nephilim, “Moonchild”. O tema novo mostra-nos o toque típico da banda com um toque bastante atmosférico. Curiosamente a lembrar precisamente os mestres que prestam homenagem no lado B deste EP. As duas componentes interagem perfeitamente e o resultado deixa-nos em antecipação perante aquilo que vamos encontrar.
Nota 8/10
Review por Fernando Ferreira
Wolok – “Fading Mirth & Dry Heaves”
2019 – Death Knell Productions
Tenho que admitir que ouvir este trabalho foi o equivalente a uma tortura. Ou ao que penso ser uma tortura, já que, felizmente, nunca fui torturado. Ou se calhar já fui, tendo em conta isto. Adiante. Andamento lento a lembrar o doom metal, voz torturada (lá está) a lembrar black metal e algumas melodias que não fazem lembrar o diabo. Na realidade, a impressão final não foi assim tão negativa mas foi este o impacto inicial. Talvez seja alucinação devido à tortura mas parece que depois até se encontra sentido nas dissonâncias, nos samples estranhos que se ouvem. Não é definitivamente algo que queira repetir a experiência por mais vezes do que aquelas que foram necessárias para chegar até esta pequena análise mas definitivamente que é um trabalho que para quem procura coisas fora da caixa (ou do planeta mesmo) poderá ser a proposta indicada.
Nota 5/10
Review por Fernando Ferreira
Tyhjä – “Tästä Kuolevasta Maailmasta”
2019 – War Productions / Void Wanderer Productions
É o fim de mundo em Satanás! É essa a ideia que fica bem presente com este álbum de estreia dos finlandeses Tyhjä. Black metal unidimensional, sempre a martelar mas ainda com dinâmica o suficiente para apresentar variações interessantes – apesar da atmosfera sufocante que nos dá ao longo de toda a sua duração. A questão é que a fórmula, que já não é nova, acaba por não ser igualmente eficaz em todas as faixas, provocando um certo cansaço conforme o trabalho se desenrola. No entanto, para quem procura agressão pura e crua (e bota crua nisso) durante um pouco mais de meia hora, tem aqui uma excelente opção para isso.
Nota 8/10
Review por Fernando Ferreira
Reign In Blood – “Missa Pro Defunctis”
2019 – Iron Bonehead Productions
Ao que parece, os Reign in Blood decidiram fazer umas férias sonoras durante uns anos valentes. Após esse hiato, e com baterias recarregadas, arregaçaram as mangas e decidiram lançar aquele que será o melhor trabalho feito por estes alemães até à data. Há qualquer coisa de bastante apelativo quando apanhamos um trabalho sonoro que nos transmite um sentido de genuinidade. Esta é a palavra-noção que domina este “Missa Pro Defunctis” do princípio ao fim. Não é que não tenha os seus problemas e as suas virtudes de âmbitos mais práticos, mas a honestidade com que estes alemães debitam o seu thrashy black metal, que muitas vezes se pode confundir com uma certa prepotência demoníaca, acaba por se impor pela crueza ríspida dos riffs e pelo desespero dinâmico que o vocalista Aldhran aplica em cada alento debitado por uma estrutura torácica nas vias da morte, como se cada linha vocal fosse um derradeiro grito de linha descendente em direcção ao abismo. Cru, directo e visceral, os Reign in Blood fazem aquilo que já ouvimos em muitas bandas, mas fazem-no bem. Com riffs infernais e estruturas bem trabalhadas, fazem lembrar uns Necrophobic temperados nos seus momentos de black metal relativamente mais puro por uns Mayhem na fase inicial de carreira e as abordagens um pouco menos ortodoxas, mas não menos negras, de uns Darkthrone. A produção, tal como a música em si, é ligeiramente primitiva, old school, sem fills ou thrills, de natureza crua e ligeiramente lo-fi, o que se ajusta na perfeição à natureza ríspida e evocativa do black metal escandinavo dos anos 90, não significando, de todo, um desprimor no departamento do tratamento sonoro, mas antes denotando a certeza de rumo que se tomou e da forma como esse rumo devia ser percorrido. Em suma, um trabalho bastante sólido de black metal demoníaco, com contornos thrashados, que poderá levar os apreciadores do género a arreganhar a sobrancelha com a sua audição.
Nota 7.5/10
Review por Jaime Noro
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