WOM Reviews – Acherontas / Necrowretch / Kryptamok / Hate Forest / Sores / Shadowflag / Apochryphal Revelation / Winterblut
WOM Reviews – Acherontas / Necrowretch / Kryptamok / Hate Forest / Sores / Shadowflag / Apochryphal Revelation / Winterblut
Acherontas – “Psychic Death – The Shattering of Perceptions”
2020 – Agonia Records
Quando os Acherontas surgem no horizonte, já sabemos que vem coisa boa. “Psychic Death – The Shattering Of Perceptions” foi recebido com esse estado de espírito e não desiludiu. Um black metal com sentido muito próprio de ambiência, sufocante em igual medida como nos atrai. Não é música, não são faixas que nos são apresentadas ao longo de uma hora. É toda uma obra que nos obriga, que nos exige a atenção assim como a nossa energia. Não é para todos mas para aqueles que tem como alvo, o seu público fiel, que o receberá de braços abertos. Mas não é um álbum que jogue pelo seguro perante uma fórmula pré-estabelecida. Essa fórmula é esticada aos limites, tornando-se cada vez mais ambiciosa. Aqui essa ambição compensou.
8.5/10
Fernando Ferreira
Necrowretch – “The Ones From Hell”
2020 – Season Of Mist
Brutalidade negra, que nos é entregue por aqueles que vêm do inferno, ou seja os Necrowretch que ao quarto álbum já não têm nada a provar. Apesar do rótulo de black/death metal, na minha opinião, a faceta negra prevalece, mas essa até é uma questão inútil. “The Ones From Hell” apresentam uma aura única que remete para os primórdios do metal extremo, onde essa separação parecia ser relativamente menos importante em relação à música em si. O som cru também ajuda a que sejamos transportados para esse período, com uma produção que nem por isso deixa de ser poderosa. Tal como o nevoeiro, esta é uma escuridão para nos envolver aos poucos.
8/10
Fernando Ferreira
Kryptamok – “Verisaarna”
2020 – Purity Through Fire
Finlândia, aquela nação que debita bom Heavy Metal, da mesma forma que os bancos portugueses encaixam dinheiro do Estado! Ah, porra, desculpem. Isto de opinar, seja política ou cozinhados, está-me no sangue! Sigamos para ” Turku uma cidade do sudoeste da Finlândia, com 178 630 habitantes, o que a torna a sexta cidade do país em população”, e o berço de mais um projecto exímio na – blasfémica – arte do Black Metal. Hex Inferi, baixo, voz e guitarras (Musta Messias, Necromonastery, Scorngrain, Torso), editou em 2018 o primeiro trabalho do projecto, a Demo de nome “Profaani”, 4 temas que dariam início à aventura, e que este ano nos apresenta o primeiro longa-duração, “Verisaarna”. São 8 temas de Black Metal frio e carregado de melodia. Aquela melodia que somente os finlandeses sabem inserir no Black Metal, como que uma ramificação do peso e da violência naturais do mesmo. Se há coisa que ficou, em mim, do Black Metal dos 90 foi esta – quase sempre – perfeita união de Melodia & Agressividade. Cantado na sua língua materna, HI carrega às costas a concepção deste trabalho, expondo os anos de experiência em bandas como Horna – para lá das já referidas – inserindo momentos de tons épicos, como que retratando guerreiros Vikings. Não é um decalque perfeito e total dos anos 90, mas não soa a moderno nem evolutivamente apartado das raízes do Black Metal “clássico”. Encontro um pouco de Horna, o que me parece óbvio tendo em conta toda a conjuntura do músico, mas não arrisca perder identidade. Capaz de agradar a todos aqueles que adoram um pouco de melodia aquando de actos violentos…
8/10
Daniel Pinheiro
Hate Forest – “Hour of the Centaur”
2020 – Osmose Productions
Passados 15 anos, temos o regresso de Hate Forest. Banda que vive em polémica desde sempre, arrisco dizer; não de polémica, mas claramente em polémica. Ainda assim, há música para lá de tudo isso. Roman Saenko, o homem por trás de um dos projectos mais soberbos no que ao Black Metal se refere – Drudkh – traz-nos mais uma perspectiva pessoal do género. Este é somente o 5.º trabalho do projecto formado em 1999, e cada passo dado tem sido rico em qualidade. Muito próprio, o som de Hate Forest mostra um músico que regressa, repleto de fúria e galvanizado! Quiçá seja minha impressão, mas este novo trabalho parece-me mais dado a uma “violência” que a uma atmosfera invernal e gélida. Continuamos a ser como que soterrados pela força destruidora dos riffs, dos já referidos ambientes gélidos e tortuosos mas há, ainda assim, uma melodia de Leste, por assim dizer; detalhes particulares e próprios de um músico que, apesar de não ter efectivamente criado uma sonoridade, estabeleceu um som muito particular (Drudkh). Este novo trabalho é um agradável regresso, sem dúvida. As atmosferas surgem com uma vivacidade que não temos em outros projectos do músico, e este álbum, como já referido anteriormente, espelha uma raiva não contida, uma fúria controlada… esperava mais? Pessoalmente, sim; é um mau trabalho? De forma alguma. Agradará à maioria daqueles que seguem o trabalho do músico de uma forma geral; aqueles que seguem Drudkh, não sei se encontrarão, aqui, satisfação, por assim dizer. Projectos diferentes. Este “Hour of the Centaur” apresenta-se com uma declaração de força, e mantém o nome de Hate Forest como uma das forças do Black Metal europeu actual.
7/10
Daniel Pinheiro
Sores – “Sores”
2020 – Nihilistische Klangkunst
Grécia quer, com créditos mais que confirmados no mundo do Black Metal, continua a “cuspir” projectos, qual Hades enraivecido com os humanos! Desta feita estamos perante um já nosso conhecido: N.D. (Dødsferd, Grab, Herald, Isolert, Leeches, Nihilsect, Sørgelig). Digam lá que não reconhecem ali uma série de nomes, de edições anteriores? Já sabis, de certo modo, o que esperar deste trabalho, certo? Ao invés do que os clássicos fizeram no Passado, estes jovens não seguem a mesma linha dos grandes nomes do Black Metal Helénico, optando por toadas mais ásperas e menos dadas a melodias “fáceis” e quase tradicionais. A descarga de Black Metal que nos é dada, nestes 4 temas, assemelha-se mais ao Punk que ao Black Metal aperfeiçoado nas terras do Mediterrâneo. Sim, já referi N vezes o quanto gosto das (velhas) sonoridades gregas, obrigado! “Drowned” é Punkish as shite, pá! Aquela bateria é straight to the point, sem questões! Mas no fundo o Black Metal tem um quanto de Punk, não é? É. Ainda assim, a ideia de híbridos, a mim, sempre fez confusão. Sejam os “colossos” Behemoth ou o Cristo a 4, a ideia de mix, de forma tão descarada, dois géneros que prefiro ver separados… não. As medidas de BM e de Punk não estão equilibradas ahahah de qualquer forma, para o pessoal do Punk / Crust, que adorou o backflip que os Darkthrone operaram, estes Soles poderão, aqui e ali, ser uma proposta interessante. Não vos quero induzir em erro, dando a ideia que Sores é Punk com Black Metal, mas posso passar a ideia que Soles é Black Metal com apontamentos Punk, sim. Mais claro nesta malha que naquela, e coisa… “Wounds of Absence” será, para mim, a melhor malha das 4, mas o início do último tema deste álbum – “Lost in the Void of my Creation” – denso e arrastado como se pede a um bom tema de Black Metal gélido. Overall, é um bom trabalho de pessoal que não deve trabalhar, se tivermos em conta a quantidade de projectos em que está envolvido!
7/10
Fernando Ferreira
Shadowflag – ” In Asylum Requiem”
2020 – Clobber Records
E seguimos rumo à ilha de Sua Majestade, mais especificamente, Cheltenham, Gloucestershire, terra destes Shadowflag. Formados em 2012, contam até à data com 4 álbuns, 1 Demo e 1 trabalho ao vivo (1 tema, mas ainda assim…). “In Asylum Requiem” é o mais recente e a proposta destes britânicos é deveras agradável. Um pouco à semelhança da generalidade do Black Metal britânico (Legion Blotan, desculpem lá), há uma carga de melodia que guia a música, que não se deixa ofuscar pelo lado mais raw ou “podre”, há uma atenção a esse detalhe, que traz algo de imenso ao som. Há como que uma “constante presença” de épocas Saxónicas, para as quais somos transportados pelo som da banda, pelas estruturas épicas dos temas! Momentos acelerados e momentos mais lentos, que se conjugam para criar uma sonoridade bastante fluida. Recurso a teclas, pontual, dá outra densidade aos temas, dando algu dinamismo aos temas. Destaque para o último tema, “To the Earth, to the Corpse, to the Seas”, onde a banda consegue criar um tema com um potencial bem superior aos demais presentes neste álbum. Em conclusão: ainda que o álbum tenha momentos agradáveis e bem conseguidos, de um modo geral o som apresentado pela banda é genérico, tem detalhes bastante agradáveis, mas a probabilidade é que seja ofuscado pela imensidão de trabalhos que saem, diariamente, dentro do género. O último tema, senhores e senhoras!
7/10
Daniel Pinheiro
Apochryphal Revelation – “Primeval Devilish Wisdom”
2020 – Nuclear War Now! Productions
Não, não é uma reedição. A capa é deliciosamente vintage, apesar do trabalho de ilustração ter detalhes que nos parecem, de perto, bem contemporâneos. Já o som não facilita tanto. Poderão duvidar mas, não, não é uma reedição. Podem confiar. Apesar da sonoridade dos norte-americanos nos parecer qualquer coisa sul-americana lançada há duas décadas atrás, este é mesmo o segundo trabalho dos Apochryphal Revelation, fresquinho. Sem surpresas e sem também conseguir impressionar para além da nostalgia, o uso de teclados dá um toque estpecial mas no geral temos pouco que consiga entusiasmar.
6/10
Fernando Ferreira
Winterblut – “Monotot”
2020 – Nihilistische Klangkunst
Natural da Bavaria, desde 1994 que o único membro – L’Hiver – se mantém activo no underground alemão e internacional. Black Metal arrastado, dissonante, “desenquadrado” e denso, soturno e moribundo. Acaba por ser esta a imagem com que fico do mesmo. “Monotot” é o 10.º álbum do alemão, e não dá mostras de travar a sua criação. Como acima referido, o som aqui disponível arrasta-se, levando-nos com ele. O dinamismo é mínimo, razão pela qual o interesse depressa se esfuma. As vocalizações são angustiantes e plenas em desespero, mas não conseguem agarrar o ouvinte – ou pelo menos a mim. 9 temas compõem este novo trabalho, 9 – demasiado, por vezes – longos temas. Quiçá sou eu, formatado para uma linha pré-estabelecida, incapaz de ver que há uma imensidão de direcções que facilmente nos transportam para outras formas de ver e tocar a Música, neste caso o Black Metal. Avant-garde, distinto, “progressivo”, assim é o Black Metal de L’Hiver… muito próprio.
5/10
Daniel Pinheiro