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WOM Reviews – Zement / Ringarë / La Merde / Hugo Cão / Alexander / Cloak Of Altering / Inferno

WOM Reviews – Zement / Ringarë / La Merde / Hugo Cão / Alexander / Cloak Of Altering / Inferno

Zement – “Rohstoff”

2021 – Crazy Sane Records

Caros amigos de tudo aquilo que é violência metálica, este será um momento difícil para vocês, afinal estamos perante um projecto/duo que tem muito pouco a ver com aquilo que ditam as vossas expectativas. No entanto se tiverem uma vontade de descansar dessa mesma violência e se predispuserem a alguns momentos de viagem astral, então posso garantir que não vão ficar desiludidos com o mais recente trabalho dos Zement. A component electrónica é minimalista assim como a música em si, mas os padrões de repetição são como padrões que moldam as nossas frequências cerebrais até ao ponto da abstração para mais fácil chegar à iluminação. E para isso também temos a intervenção de algumas linhas de guitarra, que dão o colorido orgânico necessário para que falemos a um nível mais elevado. Enorme surpresa para mim que encontrei aqui a minha base para meditação para os próximos tempos.

9/10
Fernando Ferreira

Ringarë – “Thrall Of Winter’s Majesty”

2021 – Amor Fati

Sabem quando se apanha o barco em andamento e se tem vontade de voltar para trás só para repetir a viagem. Foi exactamente o que aconteceu com este segundo álbum do duo Ringarë dos Estados Unidos. E que álbum. Black metal atmosférico, melódico sim mas a ir muito pela tradição do dungeon synth e a lembrar em muitos propostas como Summoning e Mortiis (do antigamente) mas com a componente metal bem inserida e vincada. Essas duas vertentes são mesmo as principais, por isso é preciso haver um enorme amor pela sonoridade de teclados porque temos mesmo camadas e camadas de sons mas que no final, é memorável. E é curioso notar como o álbum intercala as faixas metal com as de dungeon synth, uma decisão arriscada que poderá afectar a forma como o álbum é recebido. Não conhecendo os anteriores, não sei se é o modus operandi dos Ringarë mas sendo duas facetas que gosto (mesmo tendo reservas e sendo bastante exigente com o dungeon synth), para mim resulta em pleno. E até me divide na questão de considerar este álbum como ambient ou black metal atmosférico. Seja como for é bom.

9/10
Fernando Ferreira

La Merde – “La Vien En Noir”

2021 – Signal Rex

Álbum de estreia deste projecto belga bem interessante de neo folk. As referências a Current 93 são algumas o que é natural já que é um dos nomes incontornáveis neste género onde se inserem. O duo consegue uma eficácia bastante grande na criação de ambientes que tanto vão do (neo)folk mais tradicional que até entra por caminhos mais marciais ainda que tenuamente. É uma estreia que se absorve muito bem e que tem um potencial enorme de agradar a fãs dos já citados Current 93 assim como Death In June. Dinâmico e a explorar diversas facetas, um álbum completo.

8.5/10
Fernando Ferreira

Hugo Cão – “Diffusion”

2021 – Raging Planet

Este não é um disco normal. Nem mesmo dentro do espectro experimental – que é o rótulo que vou acabar por usar, lament. Isto porque há por aqui muita coisa a acontecer, muita coisa estranha, sim, mas também muitos elementos diferentes. Uma espécie de caos de free jazz minimalista interpretado por instrumentos/sons não habituais, assim como uma espécie de mood ambient tribal, muito graças uma percussão que se revela o fio conductor. Isso e as vocalizações estranhas que vão aparecendo. “Diffusion” não é um disco normal, isso fica desde logo claro, no entanto o normal não é sinónimo de mau, nunca foi. É um disco dividido em nove temas que se absorve como se fosse apenas um. Viagem inesperadamente eficaz, mesmo para quem não goste de música experimental.

8/10
Fernando Ferreira

Alexander – “I”

2021 – Schneider Collaborations / Plastic Head

Ora aqui está uma proposta perfeita para quem procura algo fora da caixa. Ou então algo drone/doom/ambient. Estamos perante duas faixas apenas, com duração superior a quinze minutos cada uma e que nos coloca num estado de contemplação – se nos deixarmos ir ou se nos permitirmos a deixar ir. A questão é que não é propriamente algo imediato e geral. A experimentação é mesmo um dos pontos mais fortes, onde até a percussão desempenha um ponto muito fonte no geral. E como tal, também não pode ser avaliada como uma forma comum. O que faz com que seja mais difícil somar apreciações/audições onde a viagem foi real e outras onde passou completamente ao lado (isto sendo o mesmo ouvinte a apreciar a mesma obra). “I” vale por essa riqueza e vertente experimental, como tentativa de romper com o convencional. Não é uma obra única nesse espectro, há todo um mundo a apreciar nesta vertente, mas é particularmente inspirada apesar de todos os altos e baixos. Principalmente na componente ambient.

8/10
Fernando Ferreira

Cloak Of Altering – “Sheathed Swords Drip With Poisonous Honey”

2021 – Brucia Records

O som desta banda é tal e qual o título. Parece à primeira vista (ou audição) que não faz sentido nenhum mas depois faz todo o sentido do mundo. Não digo que é coisa para encontrar o significado de estarmos todos cá, mas algo igualmente profundo ao nível musical. Sétimo álbum de black metal avantgarde onde o termo faz mesmo justiça ao seu significado. A palavra industrial também tem forte importância neste contexto, com uma camada que percorre toda a estética de som, quer pelas batidas que de vez em quando surgem, como também pela sujidade que permeia todo este trabalho. Não sendo um trabalho fácil de interiorizar, há por aqui brilhantes momentos que encontramos espelhos em fases de nomes como Sigh, Septicflesh (quando ainda eram Septic Flesh) e Blut Aus Nord. Desconfortável como deve ser o black metal mas desafiante como deve ser toda a música fora da caixa.

7/10 
Fernando Ferreira

Inferno – “Posers”

2021 – Club Inferno Ent.

Como se costuma dizer, um azar nunca vem só e neste caso vem bem acompanhado. Estamos perante uma one-man band dos infernos. Literalmente porque isto só pode vir das entranhas fecais do tinhoso em pessoa (ou entidade). “Posers” foi lançado ao mesmo tempo que o EP “Corona” e a promo até juntou tudo, que é para o sofrimento ser maior, mas vamos separar aqui até porque temos diferenças substanciais em relação aos dois. “Posers” é essencialmente uma gravação de garagem e sabendo que foi tudo tocado e gravado por Vanny Sino podemos prever que foi gravado e tocado por cima. A bateria dá ideia de ter sido inspirada Impaled Northern Moonforest (aquele projecto dos bacanos de Anal Cunt que era uma paródia acústica onde a bateria eram as próprias mãos – não temos esse nível de génio em termos de percussão mas anda lá perto) as guitarras quando surgem são genéricas e a voz também não impressiona em nenhum momento. Parece um ensaio de uma banda clássica… antes dos seus membros aprenderem a tocar. Rock, experimental, industrial? You Suffer! But why…?

3/10
Fernando Ferreira

Inferno – “Corona”

2021 – Club Inferno Ent.

Se “Posers” arrepiou, este “Corona” é de meter medo à noite mais escura. Principalmente por embarcar com música electronica. E por música electronica estou-me a referir a sobras de composições (ou trechos e samples) que não tinham qualidade suficiente para aparecer no jogo do Super Mario Brothers, quando a Nintendo estava a bombar. Temos verdadeira aventura quando Vanny se arrisca a solar tanto nas teclas como na guitarra. Aventura dele e nossa porque é coisa para causar dor de cabeça que vai demorar a passar. E tendo em conta que esta é a sua maior ideia/prohecti musical que alguma vez teve… bem, por uma questão de puro masoquismo gostava de ver a pior. Coisas assim servem para torturar prisioneiros de guerra.

2/10
Fernando Ferreira

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