Filhos do Metal – O Ponto de Fusão no Metal
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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A evolução e transformação da música é fruto da criatividade e experimentação de músicos aventureiros e audazes em busca da originalidade. Juntamente com a audácia e o talento, a inspiração acrescenta elementos culturalmente relevantes à música, gerando fusões ora geniais ora estranhas. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos no final da década de 40, quando os dedilhados de guitarra do Country se misturaram com os ritmos e batidas do Blues, nascendo assim o Rock’n’Roll. O som das guitarras elétricas e a rebeldia da juventude geraram um som frenético e ritmado, que rapidamente se espalhou por outros continentes. Vinte anos mais tarde nascia o Heavy Metal em Inglaterra (ou será que foi também nos Estados Unidos?). Este é um terreno de areias movediças que ficará para outra oportunidade. Para o caso o que interessa é o facto dos Black Sabbath, oriundos da cidade industrial Birmingham, terem misturado o Rock e o Blues com uma dose suplementar de peso e distorção para expressarem um ambiente lírico sombrio. Em contra corrente com as sonoridades pacifistas da altura, que arrastavam jovens para festas e concertos em comunhão Hippie, a sonoridade pesada e densa ganhou adeptos. Apenas como referência, do outro lado do Atlântico, os Sir Lord Baltimore também destilaram riffs e ritmos de peso, contribuindo de forma indelével para os alicerces do Heavy Metal.
A verdade é que a mistura de géneros e a incorporação de influências estilísticas traz novos caminhos à música, contribuído para o legado cultural de diferentes gerações. Em Portugal sempre me questionei qual seria o resultado de incorporar as nossas tradições musicais e não só, com o Heavy Metal. O Sol, o oceano Atlântico, a beleza do nosso país propicia a criação de músicas alegres e refrescantes. Ao mesmo tempo o trabalho árduo do campo e nas fábricas, assim como uma redoma cinzenta que nos enclausurou durante décadas, bem como a saudade dos que partiram em busca de uma vida melhor, alimentou géneros musicais mais taciturnos. O Fado é Português e a nossa expressão musical mais reconhecida e marcante. Traz consigo o peso da saudade e da tristeza. É a voz de sentimentos sombrios, mas ao mesmo tempo belos. Por tudo isso, parece haver um paralelismo entre o Fado e o Heavy Metal, pelo menos nas suas origens. O negro da indumentária e a raiz pesada do sentimento que envolve ambos os géneros aponta para uma confluência artística. Talvez sejam diametralmente opostos, mas porque não explorar esse terreno criativo. Só músicos e compositores corajosos e aventureiros poderiam experimentar essa possibilidade.
Talvez as conjunturas socias e culturais ainda não tenham proporcionado tal aventura. No entanto, há já algumas dignas experiências, quanto a mim bem-sucedidas. É pena que mais uma vez se fiquem pelo underground, sem uma expressão nacional de relevo, salvo uma ou outra exceção. Então vejamos! Fado versus Heavy Metal! Os projetos com mais expressão tiveram como protagonistas os Moonspell e Fernando Ribeiro, não fossem eles ousados por si só com as suas próprias músicas. O Fernando participou no projeto Amália Hoje com elementos dos The Gift e Paulo Praça. Ele apenas deu voz a alguns temas e esteticamente pouco ou nada havia de Heavy Metal, mas o simples facto de um vocalista de uma banda de Metal estar presente carrega alguma aura de peso para o projeto. Isso aconteceu em 2009. Mais tarde os Moonspell fizeram uma “brincadeira” com a fadista Carminho, interpretando o tema “All Together Now” (The Beatles). Um dueto improvável, que desta vez pouco tem de Fado. Mas há outros trabalhos com menos notoriedade, mas com mais substância. Ricardo Gordo é um guitarrista que gosta de experimentar com a guitarra Portuguesa. Tem já diversos discos editados, entre os quais um EP intitulado “Fado Metal” de 2012 e imensas participações. Este músico de Portalegre é um camaleão e um valor seguro da música Portuguesa. Vale a pena explorar e conhecer a verdadeira fusão do Metal com as raízes portuguesas, pelo menos em algumas das músicas. Ainda na fusão do Fado com o Metal, há que mencionar os progressivos Allamedah, que em 2018 apresentaram um single intitulado “Algema” com a participação de João Luzio na guitarra Portuguesa e Valéria Carvalho na voz de Fado. Mas para além disso têm outras músicas com alma Lusa. Os Destroyers Of All também se aventuraram em 2016 com o tema “Tormento”, do álbum “Bleak Fragments”. Um início com guitarra Portuguesa e um ambiente Luso deprimente. Os Glasya fizeram uma versão de “Canção do Mar” (Dulce Pontes) com contornos épicos.
Mas há outras fusões entre o Heavy Metal e as tradições Portuguesas. Os Sinistro talvez tenham ido ao fundo da questão com uma mistura de peso e densidade Metal e beleza vocal Portuguesa. Os Tarantula incorporaram a história de Portugal em algumas das líricas, assim como diversas bandas ao longo do tempo. Ouçam e leiam músicas dos V12, Omitir, Drakkar, Thragedium (o álbum “Theatrum XIII” é um bom exemplo) e até Serrabulho, numa perspetiva mais abrangente. Acredito que um dia, com os astros todos alinhados, aparecerão mais bandas que façam uma fusão perfeita entre o Heavy Metal e a música de raiz Portuguesa. Que seja assumidamente genuína sem medos, sem colagens, mas com alma.
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