Review

WOM Reviews – Svet / Crypts of Wallachia / Heltekvad / Urdôl Ur

Svet – “The Truth”

2022 – Northern Silence Productions

É o exemplo perfeito da expressão “one man’s band”, falo dos Svet, uma banda que em boa verdade é um projecto, todo ele da responsabilidade do Grego Athanasios. ‘The Truth’ é apenas a primeira demostração do que os Svet podem oferecer ao universo do Metal, mais especificamente no domínio do Black Metal. Não é de todo provável uma atracção quase instantânea por um álbum, especialmente quando falamos de Black Metal no entanto ‘The Truth’ vem desmentir por completo essa regra. ‘The Truth’ mostra-nos uns Svet com uma invulgar capacidade de interligar a agressividade desenfreada com um dramatismo angustiante, sôfrego e melancólico, através de uma destreza liberta de qualquer prepotência, cinismo ou insipidez. A dinâmica emocional aliada aos frenéticos surtos de violência calculada assentes numa formidável produção (também ela a cargo Athanasios), fazem de faixas como ‘Everything Is Just A Dream’, ‘Odysseus (Divergent Path)‘ ou a sensacional ‘I Am The Star’ verdadeiros temas de autor de Black Metal no seu âmbito mais tradicional. Num ano que já nos concedeu ‘The Long Defeat’ dos intrépidos Deathspell Omega, ‘The Truth’ é sem dúvida único concorrente à altura até ao momento, no que ao Black Metal diz respeito.

8.5/10
Jorge Pereira


Crypts of Wallachia – “The Witches of Hoia Baciu”

2022 – Medieval Prophecy

Temos vivido anos notáveis para o Black Metal, em vários formatos e formas, numerosos sons e melodias. O Black Metal mostrou, mais uma vez, o quanto é um género extraordinário, certo?! Claro que sim, claro. Crypts of Wallachia é um exemplo muito bom do som perfeito – na minha perspectiva – do Black Metal. Já devem estar cientes da minha relação com Black Metal e teclados/sintetisadores, e os Crypts of Wallachia são um excelente exemplo de como se misturam influências. Faz lembrar o brilho dos anos 90, para ser honesto. Como é que o posso pôr em palavras… parece uma versão romantizada do Black Metal, por vezes? Quando não está a punir agressivamente o seu espírito com cargas maciças de Black Metal, oferece melódicos, e quase calmantes, interlúdios, e detalhes, que lhe mostram como estes tipos são bons. Mais uma vez, a Bélgica e a Medieval Prophecy Records mostram o seu valor. Para aqueles que conhecem a banda, esta Demo não será uma surpresa: o nível ainda é alto, e a diferença distintiva entre eles e muitos outros da cena actual é quase palpável; essa é uma das razões pelas quais não compreendo porque é que o seu nome ainda está tão “escondido”. Juntamente com os afins de Forbidden Temple e Moenen de Xezbeth – todos belgas, e todos da Medieval Prophecy Records… vejo aqui um padrão – eles mantêm vivo o som do Black Metal da Velha Escola. Mencionei os anos 90, e nos anos 90 eles vivem. É assombroso e sombrio; sombrio e inquietante. É notável, não é? No mesmo alguns provavelmente dirão “é apenas Black Metal”, e não estão errados, mas tomam uma melodia como “Valtz of Chort’s Pale Daughters”, e aquele riff inicial, e o ritmo, e o ritmo lento, lento, lento, lento. Drudkh?! Apanha um pouco do sentimento do ucraniano, sim, embora não o leve para a floresta. Um dos aspectos mais belos da música destes belgas é como conseguem criar uma entidade que se submerge num lago de… Já mencionei que me faltavam palavras para descrever o som dos Crypts of Wallachia?! Pois bem, eu sou. Poderia, claro, escrever esta pequena frase: Crypts of Wallachia soa como se os anos 90 nunca tivessem perdido o seu Norte, mas eu não posso. O que queres dizer com os anos 90? Nem todas as bandas dos anos 90 soavam assim. Não, claro que não; a generalização é uma opção perigosa. Ouvi a menção a Cultes des Ghoules a ser usada, para trás e para a frente, ao abordar estes rapazes, e eu colocaria os Cultes des Ghoules dentro desta caixinha muito específica, onde se colocam as bandas que soam de forma diferente. Será que faz algum sentido?! Espero que faça. No geral, temos uma homenagem deslumbrante aos sons do antigamente. Numa cena que está cheia de bandas de raw/black metal primitivo, os Crypts of Wallachia continuam a impor os seus próprios limites, mantendo-se ao mesmo tempo muito fiéis às premissas (reais) do género. Um retrato cativante, e honesto, da vividez do género.

8/10
Daniel Pinheiro


Heltekvad – “Morgenrødens Helvedesherre”

2022 – Eisenwald

Há uma aura mediaval nos Heltekvad. E não só pelo rótulo com que nos surgem associados estes dinarmaq       ueses ou pela própria capa deste que é o álbum de estreia mas também pela aura que emana. Embora musicalmente não tenhamos nada que nos faça essa associação – por isso quem esperava ter alaúdes ou música da corte do rei da Dinamarca, definitivamente vão ficar desiludidos. Black metal agreste, de acordo com os pergaminhos escandinavos e que consegue satisfazer os desejos mais comuns do apreciador deste tipo de black metal. Curto, agreste mas com uma produção que evidencia da melhor maneira a violência sónica sem ir para campos de sobreprodução que poderiam subverter o espírito que se pretende dar. Vemos esta banda a crescer para sítios interessantes.

7.5/10
Fernando Ferreira


Urdôl Ur – “Seven Portals To The Arcane Realms”

2022 – Dungeons Deep / Northern Silence Productions

Urdôl Ur é um dos novos projectos envolvidos numa espécie de ressurreição do Black Metal Norueguês, a banda fez a sua estreia absoluta em 2021 com ‘Seven Portals To The Arcane Realms’. Além da banda ser composta por dois elementos (Qroleûs e Ahaz-Tharkaêl), pouco mais se sabe sobre os Urdôl Ur, uma conjuntura que até pode estar a funcionar de forma favorável aos Urdôl Ur. ‘Seven Portals To The Arcane Realms’ mostra-nos de forma distinta e autêntica a grande paixão dos Urdôl Ur por um Black Metal Ambiental carregado de uma aura mediável e mitológica onde o Folk Nórdico tem a sua presença bem vincada. Devo confessar que ‘Seven Portals To The Arcane Realms’ não é de todo o que espero de um álbum de Black Metal em 2022, esta espécie de revivalismo de uma versão de Black Metal já considerada primitiva para os tempos actuais onde até a produção tem o nível de sujidade típico do Black Metal Norueguês do início dos anos 90 e que pouco ou nada tem de fascinante, torna-se enjoativo, entediante e efémero ao fim de meia dúzia de audições. Se considerarmos a sensacional evolução que o Black Metal tem feito, particularmente desde a intitulada “second wave” este tipo de “regressos ao passado” cada vez fazem menos sentido.

6.5/10
Jorge Pereira


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