Report

WOM Report – Laurus Nobilis Music Fest – Dia 2 – 22.07.22

Ver uma banda de black metal como os Sonneillon a tocar às cinco da tarde é sempre estranho – embora seja morbidamente engraçado ver o corpse paint derreter com o calor – mas a reacção dos fãs (estavam lá vários – não muitos, mas vários) fez-me lembrar aquela publicidade dos gelados Olá, “quem gosta, gosta sempre”. Como The Beast apresentou os temas em black-metalês, só esses mesmos fãs devem ter reconhecido os títulos, mas uma visita ao YouTube (obrigada, Fátima Inácio Gomes!) deu-me pelo menos uma música tocada naquela tarde, “Secrets Of Existence And Chaos”, do mais recente trabalho “Cadere Et Resurgere”, um EP editado já em Janeiro de 2020. Em preparação encontra-se o segundo longa-duração, “Sonneillon The Demon Of Hate” e um teaser do single “Spells In The Bones Of Traitors” roda há já sete meses, pelo talvez tenham tocado essa também. Se não o fizeram, serve a menção para publicitar o tema.

A quem não conhecer Grindead, confirmo que o nome faz jus ao que tocam. Podia falar do histórico dos seus membros no underground nacional, mas esta banda que creio ter saído de uma sala de ensaios há cerca de três anos tem mérito próprio, não necessita da sombra de glórias passadas. Sem dúvida que essa experiência teve o seu peso na composição de “Culture Decline / Machines Arise”, o álbum de estreia que foi editado pela Larvae Records há pouco menos de dois meses, e no traquejo com que em palco interpretam temas como “Turn Black”, “The Great Territory Of Dread” ou “Those Who Condemn”; mas é no presente (e no futuro, vá) que têm de focar as vossas atenções e reconhecer os Grindead como a potência de death/grind que são.

No dia em que o seu segundo álbum é publicado, os Moonshade sobem ao palco do Laurus. Não faria sentido este ser o concerto oficial de apresentação de “As We Set The Skies Ablaze”, mas aproveitaram a oportunidade para estrear alguns temas como “Artemis” e “Valley Of Dying Stars”, estas a encerrar o concerto e a contar com a participação especial de Sandra Oliveira dos Blame Zeus. No início de Junho, “Blood Of The Titans”, “Epitaph” e “Everlasting Horizons” tinham sido já tocadas no Metalpoint, mas para muitos dos presentes foi também uma estreia e a prova de que as excelentes reviews que antecederam a publicação do álbum não foram, de todo, exageradas. Regra geral, death metal melódico resulta sempre bem ao vivo, mas a garra dos Moonshade dá aos seus concertos um toque especial, pelo que é sempre um prazer vê-los. E um palco daquele tamanho deu ainda mais “pista” a Ricardo Pereira para as suas voltinhas, e até o trio das cordas trocou de posição várias vezes, o que não é comum. Espero vê-los em palcos grandes mais vezes.

Os Counteractt são uma banda de deathcore técnico espanhola com um vocalista português, Luís Dias, mas que deve morar em Madrid há tempo suficiente para dirigir-se ao público num portunhol de sotaque engraçado. Se tocar às cinco da tarde é complicado por causa do calor, tocar às oito é ingrato por ser hora de jantar; mas o vigor que emanava saquele palco era tal que chamou pessoas q.b. para assisitr. Além disso, tendo já tocado cá no início do ano e Luís participado num tema de Downfall Of Mankind (“Divine Slaughter”), os Counteractt não são totais desconhecidos do público português. “Universal Sadness” é o mais recente trabalho (o primeiro longa-duração, pelo que consegui apurar) e destacam-se “A Voice Of Confusion” e “The Last Ten Words Of Humanity”. Dentro do género, prometem.

Acho que é de conhecimento geral a confusão que tem sido viajar de avião, pelo que quando foi anunciado que os Decapitated teriam de antecipar o concerto de sábado para sexta devido a alterações nos vôos, ninguém estranhou. Gostar da mudança ou não, isso já dependeu dos planos que cada festivaleiro tinha, mas a quem assistiu ao concerto, bastou a intro instrumental “From The Nothingness With Love” para entrar em delírio e receber os polacos como eles merecem. A tour de festivais europeia está a servir de promoção a “Cancer Culture”, editado em Maio, mas passaram por quase toda a sua discografia, terminando com “Nine Steps”. Pareciam genuinamente felizes por voltar a Portugal e ver aquelas rodas tão activas (não sei se os seguranças acharam tanta piada aos crowdsurfers que tiveram de assistir uns atrás dos outros…). E beber a nossa cerveja, que levou a que o guitarrista Vogg admitisse já nem lembrar bem da última vez que cá tinham tocado. Falou no concerto em que abriram para Meshuggah (2012), mas no norte tocaram ainda no ano seguinte, a abrir para Children Of Bodom. No país inteiro, a última passagem foi em 2019, no Moita Metal Fest. Boa cerveja, de facto, eh eh.

Os Decapitated alteraram o dia da sua actuação, mas os Hate e os At The Gates alteraram o ano… Com estes cancelamentos, os Orphaned Land passaram a cabeças de cartaz e os R.A.M.P. foram chamados para substituir os Hate. Mas pouco antes da hora marcada para o concerto dos R.A.M.P., ouviram-se tambores a aproximar e um desfile deles começou a atravessar o recinto, liderado pelo que me pareceu um jipe dos bombeiros locais e encerrado por dois gigantones. “Parece que nos calhou a fava”, disse Rui Duarte quando, finalmente, pôde dar início à sua actuação. Com menos tempo para tocar do que aquilo a que está habituado, Rui cortou um pouco ao sarcasmo que o caracteriza, mas não dispensando, mesmo assim, duas ou três “dedicatórias”. Já muitos sabem as letras do álbum mais recente “Insidiously”, mas foi com temas como “How”, “Hallellujah” ou “Black Tie” que o público satisfez o pedido de “tornar aquele o palco principal”.

De todas as vezes que vi Orphaned Land (e com esta já faz meia dúzia), Kobi Fahri sempre acompanhou a preceito o ritmo das suas músicas; mas fiquei com a sensação que desta vez dançou mais e com mais desenvoltura. Mesmo sem nada novo para apresentar (isto é, se não contarmos com o EP de quatro faixas editado em 2021, do qual apenas tocaram o tema-título “We Do Not Resist”), é o tipo de banda que dá sempre gosto ver ao vivo e que encaixa em qualquer festival, pelo travo do Médio Oriente que as melodias carregam e ao qual não dá para ficar indiferente. Belly dancers parecia não haver, mas beer belly dancers, conforme Kobi perguntou em “Sapari”, apareceram muitos.

Estando constantemente em guerra no seu país natal Israel, Kobi diz que admira muito a nossa história, pela nossa “revolução silenciosa”, sem derrame de sangue (o 25 de Abril de 1974, para os mais distraídos) e que gosta muito de Zeca Afonso, fado… e Moonspell. Foi fortemente aplaudido – o orgulho nacional de cada um espreita sempre com estas coisas – mas músicas como “The Kiss Of Babylon (Sins)”, “All Is One” ou “Brother” é que tiveram maior ovação. Mais alto ainda terá sido o final, “Norra El Norra (Entering The Ark)”, com toda a gente a balançar os braços no ar e a cantar o refrão, em gande animação.

Um outro tipo de animação, mais pesado e mais nostálgico, fechou a noite no outro palco com os Beyond Strength (é esse o nome da banda de covers de Pantera, não especificado no cartaz).

Texto por Renata Lino
Fotos por Luis Miguel Azevedo


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