WOM Report – Laurus Nobilis Music Fest – Dia 3 – 23.07.22
A única banda stoner/doom do cartaz ficou guardada para a abertura do último dia. Os Basalto subiram ao palco com cerca de dez minutos de atraso mas desceram à mesma hora que todas as outras bandas daquele horário; e tendo em conta a média de duração dos seus temas, deverão ter tocado quatro deles. Mas como se costuma dizer, “qualidade acima de quantidade” e, dentro do género, não há muito melhor por cá do que a banda de Viseu. A sua discografia conta com três álbuns e um EP, maioritariamente instrumentais, com a curiosidade de que os títulos dos seus temas são simplesmente números romanos, pela ordem que se apresentam nos referidos trabalhos. O guitarrista António Baptista (e ocasional vocalista) agradeceu ao escasso público a presença àquela hora, sob aquele sol, mas a prestação da banda foi, certamente, compensação suficiente.
As alterações ao cartaz do dia anterior reflectiram-se ainda neste outro, e seguiu-se o metal/rock progressivo dos Blame Zeus. Por causa do calor, Sandra Oliveira apresentou-se de cabelo apanhado, o que cortou um pouco ao efeito do seu headbang – mas também foi a prova de que o que realmente importa é a voz e a postura, não endumentárias ou cabelos ao vento, para cativar o público e dar um bom concerto. Que diga quem esteve presente e cantou o refrão de “Speechless” sempre que Sandra virava o micro para eles e gritava “Vocês!”. Mas acho que vi uma mão-cheia deles a acompanhar outros – e letras inteiras, até – em “The Apprentice”, “Déjà Vu” ou “Burning Fields”.
Com outro cancelamento, desta vez dos belgas Human Vivisection, também os Nihility aterraram no cartaz do Laurus em cima da hora – tão em cima, que um dos guitarristas, Afonso Gomes, já tinha outros planos e não pôde comparecer; “Prophecy Of Denial” ser-lhe-ia dedicada, creio que por ser um dos temas mais potentes da banda e não propriamente pela letra…”Beyond Human Concepts” é o segundo álbum, editado em Janeiro, e fortaleceu a impressão que têm vindo a talhar entre os fãs do death metal nacional desde “Thus Spoke The Antichrist”. A prova foi o número de pessoas que os recebeu efusivamente (mosh incluído, apesar do calor) quando a notícia da sua actuação tinha sido dada apenas horas antes.
A minha mente é muito aberta a misturas de estilos e sonoridades modernas, e gostei da iniciativa do Laurus por apresentar algo “diferente” na forma dos madrilenos Eternal Psycho. Mas os agudos de Beatríz “Beka” Zorita incomodaram-me um bocadinho… O festival foi a única data portuguesa da Psycho Tour 2022, que está a promover o segundo álbum “Trail Of Agony” e que em Setembro seguirá para o Reino Unido. “Crystalized” e “The Living Dead”, ou “See The Light” do álbum de estreia”Your Demons Are Real”, foram alguns dos temas que pareceram fazer furor – se pela música em si, se pela genica com que foram interpretadas (que, ao vivo, conta muito), isso já não sei dizer. Mas o meu palpite vai para um aumento de visualizações no YouTube e não audições no Spotify.
Os Benighted são muito acarinhados pelo público português, e se acham que o termo fica estranho quando associado a uma banda de brutal death/grind, então não sabem que Julien Truchan diz que todas as suas músicas são “love songs”. Numa delas (“Necrobreed”) Julien elevou a fasquia dos moshers ao desafiá-los a mostrarem o que tinham no 1:24 que o tema dura. Escusado será dizer que o recinto assistiu a uma batalha campal, que duraria até à derradeira “Let The Blood Spill Between My Broken Teeth”. Mas antes disso ainda houve mais momentos de ternura, como a dedicatória de “Martyr” ao falecido Trevor Strnad (dos Black Dahlia Murder) e de “Hostile” a André Matos, da organização do Laurus. Voltarão a Portugal para o ano – não disseram quando, mas posso informar que é já em Janeiro, no XXXapada na Tromba.
Para quem ficou a conhecer Downfall Of Mankind naquela noite, tenho a alertar que embora a banda seja portuguesa (de Lisboa), o vocalista Lucas Bishop não o é – dirigir-se ao público em inglês não era armar-se aos cucos e sim fazer-se entender. Houve máquina de fogo, o que não é de esperar numa banda de deathcore, mas por outro lado, sendo symphonic deathcore (uns backtracks orquestrais fazem essa diferença), já se justifica o miminho visual. Em Abril saiu o primeiro longa-duração “Vile Birth”(sucedendo o EP “The Path Of Human Existence”, que já tinha chamado à atenção, mesmo a nível internacional) e conta com algumas participações especiais. No tema-título, é Julien dos Benighted, que Lucas aproveitou para chamar e expressar a honra que era tê-lo ali. O resultado foi todo um outro tipo de fogo (embora toda a prestação da banda o tenha sido).
Mas acho que não estou enganada ao dizer que, apesar do impacto que esta dose dupla de brutalidade teve no público, era por Lacuna Coil que a grande maioria dos presentes ansiava. “Black Anima” tem já quase três anos, mas com o COVID-19 pelo meio parece que saiu ontem e foi nele que os italianos se focaram mais, trazendo temas como “Layers Of Time” ou “Reckless” pela primeira vez a Portugal. O que parece que foi uma estreia a nível europeu foi a nova versão de “Tight Rope” (“mais sombria”, segundo Andrea Ferro), a ser incluída numa reedição de “Comalies”, no seu 20º aniversário em Outubro próximo, em que todos os temas apresentarão alterações semelhantes. “Heaven’s A Lie”, no entanto, foi tocada na sua versão original.
A simpatia e beleza de Cristina Scabbia, aliadas à grandeza da sua voz, são realmente o pack perfeito do chamado gothic/alternative metal e ninguém saiu desiludido no final de “Nothing Stands In Our Way”. Momentos altos? Ui, tantos! Para além de que isso é sempre algo que depende de cada. Pessoalmente, o meu foi “The House Of Shame”.
E tal como na noite anterior (virou uma espécie de tradição fazê-lo), uma banda de covers encerrou as festividades, desta vez de Rammstein, com os Duhrrast (que além das músicas, também capricharam na imagem). Se não houver mais pandemias nem guerras… até para o ano, Laurus! #nãofaltaremos
Texto por Renata Lino
Fotos por Luis Miguel Azevedo
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