Review

WOM Reviews – Adaga / Six By Six / The Mars Volta / Pionera

Adaga – “Das Ruínas do Ser”

 2022 – Altare Productions

A cena Black Metal portuguesa está em constante evolução. Os músicos portugueses têm esta sensibilidade que ressoa profundamente com o ouvinte. Pode vir da nossa tradição musical, da nossa perspetiva humana sobre a vida, de um canto profundo e escuro das nossas mentes, mas a verdade é que criamos exemplos incríveis de sofrimento através da Música. O Black Metal emana, por vezes, ódio e dor. Essa raiva visceral que reside no interior de cada um de nós, que precisa de escapar e libertar-se do recipiente de onde se alimenta, está presente no género, deve ser a emoção central que o Artista escolhe colocar sobre aquele Altar da Criação. A música faz isso às pessoas. A música é o meio que nós, meros mortais, expulsamos o nosso Coração e Alma; nosso sangue se esgota das nossas Palavras, e dos nossos Pensamentos, e da nossa Existência. O Black Metal ensinou-me, tal como o Punk Hardcore, que a música não é apenas música; A música baseia-se na existência humana; A cultura é o que nos alimenta em tempos de necessidade, em tempos de Dor… Música é Tudo. Isto leva-nos, finalmente, à razão de todas estas palavras, estas ideias e imagens pintadas, uma recente produção portuguesa de Black Metal que se chama Adaga, e não tenho visto, nos últimos anos, um nome mais adequado do que este. A Música, o Som, corta a carne, suavemente, acariciando a pele frágil, o ser delicado. Dizer que me surpreendeu, é estar a ser parco em palavras. Não será o que se espera de Altare – a label – mas se há uma coisa que o Mastermind por trás da editora me ensinou desde os seus tempos como Bubonic, é que não há limites para uma boa música, e música dolorosa, aliás. Não é fácil assimilar o cenário Raw Black Metal, e Adaga não deixa de viver nele; Não a classificaria como depressiva embora, de facto, difunda as emoções que conheço desde o fim… mostra o género de um lado emocionalmente visceral; uma música que despeja Emoções e Sentimentos, deixando-te em Trance e Destruído. A multidão de emoções que me passam pela cabeça, neste preciso momento, é difícil de explicar, pois sinto-me sobrecarregado pela Arte colocada nestas canções. Musicalmente falando, adoro o facto de o Artista se ter despojado de artifícios, de enredos construídos para iludir o ouvinte, qual teia de aranha, simplificado e construído uma peça tão bonita. O uso da língua portuguesa só torna a música mais difícil e dolorosa. A compreensão imediata da mensagem permite a assimilação instantânea dos Sentimentos que vivem em cada uma dessas palavras… quase mágico, ainda que de uma forma terrível. Não há necessidade de exagerar, não há necessidade de mais nada além de Música e Emoções. Já não se está habituado a este tipo de abordagem, por isso pode parecer distinto, mas esta atitude honesta é muito mais rica do que a maioria dos actos que hoje saem. Tem esta raiva que às vezes deixa o corpo, mostrando o verdadeiro ser do Artista, verdadeiro eu, verdadeira essência. É muito difícil descrever um conjunto de canções que acabaram por ser, para este escriba, mais do que canções. Precisamos ir além da estrutura conhecida de uma canção, aprofundar a intenção do Artista, permitir que o seu sentimento seja absorvido por nós, pois essa é a melhor – e talvez única – forma para entender a Música e a Bela Arte. Um fã de música e uma pessoa. A sua música é mais do que música; a sua música é um testemunho da existência e da vida. É também isso que o Black Metal deve ser sempre: uma representação do sentimento do Artista, emoções, existência, crenças, etc. Em pouco mais de 30 minutos o ouvinte é levado numa Viagem, pintada em tons de cinza e preto, em que o seu único companheiro é a sua própria Existência e Morte. A perfeição pode muito bem não ser alcançada, mas o Caminho está lá para cada um de nós escolher…

9/10
Daniel Pinheiro


Six By Six – “Six By Six”

2022 – Insideout Music

Por muito que o termo super-banda já esteja gasto – e por isso raramente usado – a ideia em si de termos um projecto ou uma banda que seja a união de vários músicos conhecidos ainda é por demais apelativa, ainda para mais quando nos surge com a qualidade que “Six By Six”, o álbum, evidencia. Antes da música, vamos à apresentação. Temos então aqui Ian Crichton, guitarrista dos Saga, Robert Berry do grupo 3, onde também estão uns tais de Keith Emerson e Carl Parlmer, no baixo, teclas e voz e para completar, o baterista Nigel Glocker dos Saxon. E se estes nomes parecem demasiado díspares entre si, não é a primeira vez que trabalham juntos, pelo menos parcialmente. Musicalmente temos um rock progressivo que tem as guitarras no centro da equação e também o bom gosto. Soa refrescante e ao mesmo tempo clássico, não deixando-se prender por qualquer tipo de sensação nostálgica (que poderá aparecer num arranjo ou outro de temas como “The Last Words On Earth”. Um projecto que se espera que traga mais capítulos, porque este primeiro é digno de nota.

8.5/10
Fernando Ferreira


The Mars Volta – “The Mars Volta”

2022 – Clouds Hill

Álbum muito agardado por muitos fãs. O regresso aos discos dez anos depois por parte dos The Mars Volta. Eu tenho a teoria, ingénua, de que quando uma banda lança um álbum auto-intitulado é com a clara noção de que o material em mãos é especial ou então que se trata do início de uma nova era. O hiato já tinha deixado isso bem claro mas a verdade é que estas músicas são absolutamente viciantes. O rock progressivo continua a marcar mote da orientação mas as abrangências são cada vez mais vastas embora a classe continue a ser a mesma. Uma mistura entre a classe da década progressiva com laivos de jazz e sempre com a voz hipnótica de Cedric Bixler-Zavala. Dançante, cool e cada vez mais próximo do trip hop, este é um disco que vai hipnotizar com argumentos irrefutáveis. Um regresso desejado e que até supera as expectativas.

8/10
Fernando Ferreira


Pionera – “Bolsa De Piedras”

2022 – Spinda 

Álbum de estreia dos espanhóios Pionera que reúne alguns nomes conhecidos da cena espanhola, membros de Ugatz, Familea Miranda, Standstill entre outros. Com uma sonoridade próxima daquilo que foi o rock alternativo com tiques noise e punk, este é um álbum que tem uma eficácia inesperada. Cantado em castelhando, temos aqui aquele feeling meio visceral meio experimental que resultam muito bem em temas como “Droga Mosquito”, um bom exemplo do impacto memorável que tem. Boa estreia.

7/10
Fernando Ferreira


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