O Álbum do MêsReviewTops

O Álbum do Mês – Janeiro 2023

10 – Malleus – “The Fires Of Heaven”

2023 – Armageddon Label

Os norte-americanos Malleus estreiam-se nos álbuns com este “The Fires Of Heaven” e a estreia não poderia ter sido melhor. A sua mistura de black metal com um feeling mais thrash e até heavy metal tem como resultado um excelente álbum ao qual os que apreciam as sonoridades mais clássicas (ainda que dentro da música extrema) não vão conseguir resistir. Há por aqui uma vibe Bathory dos primeiros anos assim como também aquele espírito mais descomprometido da música. Uma espécie de como soaria Motörhead caso eles tocassem mais rápido e fossem mais acutilantes. A questão é que em relação à imortal banda de Lemmy Kilmister, a base é mesmo o metal primitivo da década de oitenta e não propriamente o rock’n’roll. Voltar atrás, olhar para a frente, é a forma de trazer o novo velho sangue para a música e garantir a sua continuidade.

8.5/10
Fernando Ferreira


9 – Ethyl Ether – “Violent Entertainment”

2023 – Mongrel

Sabendo que somos alvos fáceis da nostalgia (é que nem nos tentamos desviar), as expectativas para ficarmos agarrados a um álbum como este “Violente Entertainment” é bem alta. Quando temos uma banda que mistura com mestreia o rock psicadélico, um feeling alternativo bem próprio das propostas mais peculiares da década de noventa (ou seja, aparte dos grandes de Seattle, aquela sonoridade que se viu amiúde no final da década de noventa) assim como também um estilo de distorção que faz lembrar a estética stoner. Tudo isto em canções verdadeiramente hipnóticas que vão para além do simples facto de ter uma atmosfera fantástica e que nem esperávamos que fossem tão eficazes. Uma excelente surpresa por parte de uma cena (sul-africana) que não se cansa de o fazer.

8.5/10
Fernando Ferreira


8 – Mask Of Prospero – “Hiraeth”

2023 – ViciSolum Productions

Há mérito nas coisas bem feitas, seja de que género for. Seja em que momento da história sejam apreciadas. Isto para dizer que não é por actualmente o metalcore não oferecer nem cerca de um terço do entusiasmo que ofercia aos fãs como uma década atrás, ainda existem muitas bandas apostadas em lançar trabalhos valorosos. Os gregos Mask Of Prospero usam bem os lugares comuns, principalmente por usarem-nos de forma a salientar os momentos das canções que precisamd e ser realçados, como quando a melodia é mais empolgante e emocional ou quando o peso é trazido para acrescer a dinâmica. Apesar da saturação – que provoca sempre aversão – é fácil não se pensar nisso, quando o foco está mesmo em canções que marcam. É o triunfo da substância sobre o superficial, mesmo que isso não pareça.

8.5/10
Fernando Ferreira


7 – Thy Darkened Shade – “Liber Lvcifer II: Mahapralaya

2023 – World Terror Comittee Productions

Consta que este foi o álbum mais difícil de fazer da banda, e nos dias de hoje, no meio de todo o facilitismo tecnológico praticamente ao alcance de quase todas as carteiras, tal afirmação até se revela à primeira difícil de compreender. Efectivamente houve um intervalo de nove anos entre álbuns, interrompidos por pontuais splits. Talvez pelo conceito ou talvez pela complexidade em si ou simplesmente por ter sido uma experiência dificultada pela vida em si, não há dúvida de que este é um trabalho maior da banda e que todo o tempo que demorarama a trabalhar nele foi definitivamente bem empregue. Estamos perante uma obra de brilhantismo notório mas também de bastante exigência para com o seu ouvinte. Extremamente técnico e complexo para aquilo que é comum no black metal – nem sabemos bem se esta será mesmo a melhor definição daquilo que fazem – esta é uma longa e interessante viagem que depois de iniciada, não se consegue interromper. Mesmo que se julgue que esta acaba no final do disco.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Faithxtractor – “Contempt For A Failed Dimension”

2023 – Redifining Darkness

A dupla infernal norte-americana conhecida como Faithxtractor está de volta mais letal que nunca. Em pouco menos de meia hora (bem poderiam ter acrescentado mais algum tema para além dos sete aqui contidos) é-se desvastado sem dó nem piedade por riffs cortantes, uma voz a lembrar os clássicos do género e por leads inspiradíssimos. Na prática não apresentam nada de novo, mas é o apresentarem nada de novo com um estilo descomunal. Simplicidade sempre foi uma arma poderosa quanto a nós e neste caso temos a simplicidade pela paixão ao death metal com uma qualidade de composição e produção de topo. Que grandioso álbum. Mesmo com sete músicas apenas.

9/10
Fernando Ferreira


5 – The Mighty Mister Shame – “Through Hell”

2023 – Firecum

O underground nacional continua a ser um poço de boas surpresas e os The Mighty Mister Shame são a mais recente que nos surgiu em cima da nossa mesa de trabalho. A banda de Braga iniciou o seu percurso em 2019 mas viu o caminho dificultado por tudo o que aconteceu em 2020. Sem desanimar, preparam oito temas que conjugam a sujidade do sluge, o groove gingão do stoner e ainda lhe junta uma saudável faceta alternativa que também tem muito de punk. Isto tudo numa identidade sólida e coesa que os temas “Into The Storm” e “Queen Of Hearts” deixam a nu. Temas que vão para além do acessório e pegam na estética descrita atrás – que se coaduna de forma mais comum com temas curtos – e trazem algo bem mais profundo. Uma excelente surpresa para uma banda que acrescenta muito valor ao nosso já rico panorama nacional.

9/10
Fernando Ferreira


4 – Nothingness – “Supraliminal”

2022 – Everlasting Spew

Início de ano bem brutal com os Nothingness a chegarem e a surpreenderem com este pedaço dinâmico de death metal. Primeiro porque inicialmente “Supraliminal” até parece bastante tradicional. Isto de uma maneira superficial porque até mesmo no início é possível notar algo extra para o que é esperado. Quanto mais o disco avança mais nós vamos apontando essas diferenças que talvez atinjam o seu ponto alto num tema como “Beacon Of Loss” que até consegue cruzar novas e inesperadas fronteiras. Confesso que foi o tema que me fez olhar e ouvir a banda de uma outra forma. Muitas vezes o que precisamos é atentar em detalhes (alguns enormes como a música em questão) para vermos tudo de uma perspectiva diferente. Death metal? Sim, sem dúvida. Tradicional? Com muitos elementos mas não limitado por isso. Excelente? Definitivamente.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Katatonia – “Sky Void Of Stars”

2023 – Napalm

Temos muitas bandas que mudaram o seu som em prol de algo para além da estética metálica mas creio que poucas serão tão respeitadas como os Katatonia. E isso deve-se sobretudo a um nível qualitativo enorme de cada um dos seus trabalhos, mesmo naqueles que sejam sentidos como menos inspirados. E se a inspiração também tem muito a ver com o estado de espírito e abertura de quem os ouve, os fãs esperam sempre com ansiedade um novo trabalho. Para esses, “Sky Void Of Stars” será recebido de braços completamente abertos. A banda continua explorar aquela toada melancólicodepressiva que já lhe é característica, mas deixa de ser um trabalho de serve apenas para desaguar as tristezas. A beleza anda sempre por perto assim como a melancolia, mas isso é acessório quando estamos perante grandes temas onde o peso tem um papel a dizer. Curiosamente este trabalho foi totalmente composto por Jonas Renske, o que até se poderia notar na forma como o mesmo poderia apontar demasiado numa direcção ou ter dificuldades em soar equilibrado. No entanto, não é o que impede para que se tenha peso e, sobretudo, muito feeling como poderá atestar o solo da “Impermanence”. Vemos este álbum a tornar-se muito em breve um dos clássicos da banda e uma referência nos seus trabalhos mais inspirados, onde não se sente que se tenha um tema que seja que não seja bem conseguido.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Atrocity – “Okkult III” 

2023 – Massacre

Se as sequelas no mundo do cinema são quase sempre caricatas, no mundo da música tendem a ser desastrosas. Principalmente porque há sempre uma tentativa (mais ou menos desesperada) de tentar capturar um feeling, um momento no tempo que nunca volta. Neste caso concreto, até que não podemos falar disso, porque o primeiro “Okkult” foi lançado em 2013 e a sequela veio em 2018, sendo esses os dois álbuns anteriores da mítica banda alemã. Na realidade esta terceira parte não constitui uma verdadeira surpresa já que era o plano dos Atrocity lançar três álbuns desta temática – liricamente foca lendas, mitos e teorias da conspiração. Musicalmente também não temos uma (completa) surpresa. Isto porque na segunda parte já havia um maior foco na vertente death metal com os componentes sinfónicos a serem reduzidos, algo que acontece aqui também apesar de quando aparecerem, aparecem em grande. A questão é que os alemães surgem com uma vitalidade e inspiração death metal que já não esperávamos da sua parte. Não sendo tão técnico como no início da carreira, trata-se de uma abordagem mais brutal ainda que mantenha alguma da melodia mas esta não, é de todo, o centro das atenções. Uma surpresa inesperada pela forma como nos prende sem nós esperaramos. É, apesar do que isto possa parecer, um álbum equilibrado nas facetas mais interessantes que a banda possui – e são muitas como quem segue a carreira deles poderá facilmente atestar. Tivemos acesso também à edição especial com dois discos onde o segundo traz a mistura instrumental que é igualmente fantástica. Os Atrocity a demonstrarem que continuam com a garra toda apesar das suas mais de três décadas de carreira.

9/10
Fernando Ferreira


1 – Tribunal – “The Weight Of Remembrance”

2023 – 20 Buck Spin

A estreia é sempre um momento importante. E nos tempos que vivemos, acaba por ainda mais do que era anos atrás. Quantos álbuns de estreia fracos foram lançados por excelente bandas que precisaram de algum tempo para maturar? Esse tempo já não se dá num mundo a corer cada vez mais depressa e depois “obriga” as bandas a causarem um enorme impacto logo à primeira. Essa obrigação nem sempre dá resultado mas aqui podemos dizer que esta dupla canadiana traz um excelente álbum de doom metal que não tem medo de enveredar por outras paragens com vocalizações que não estariam desfazadas de um álbum de death ou black metal ou com elementos de gothic metal a dar um toque de classe. O facto de termos um violoncelo a abrilhantar estas músicas e a casar na perfeição com guitarras pesadas de extremo bom gosto é apenas um bonus porque não é a forma que nos impressiona (por completo), é o conteúdo que é fantástico e que nos mostra que o Canadá tem aqui uma das grandes esperanças para o death/doom metal de contornos góticos.

9.5/10
Fernando Ferreira


Agora na Google Play Store

Support World Of Metal
Become a Patron!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.