O Álbum do MêsReviewTops

O Álbum do Mês – Março 2023

10 – Deviser – “Evil Summons Evil”

2023 – Hammerheart

Apesar de ser uma entidade já com décadas de carreira, os Deviser nunca se salientaram como uma das grandes propostas de black metal vindas da Grécia. E devo confessar que já nem me lembrava deles, não fosse o seu regresso (sem contar com o EP de 2017 “Howling Flames”) já não lançavam nada desde 2011) com este “Evil Summons Evil” onde demonstram estar em topo de forma e principalmente, totalmente inspirados. Black metal melódico sem vergonha de o ser, mas também sem chegara ser azeiteiro. A apelar às emoções e à beleza, os arranjos orquestrais não roubam as atenções por completo mas funcionam como uma parte muito importante do todo, de igual importância como os leads de guitarra. É uma excelente surpresa e um grande regresso.

9/10
Fernando Ferreira


9 – Sermon – “Till Birth Do Us Part”

2023 – Bitume

Regresso com um álbum de estreia. Depois de algumas demos lançadas no final da década de noventa e no início da seguinte, os turcos Sermon não deram mais sinais de vida até ao single homónimo lançado no ano passado. Um sinal de que algo maior viria a caminho, o que neste caso representa o seu álbum de estreia que trás aquela mistura irresistível (pelo menos aos nossos ouvidos) entre as melodias e o peso do doom metal, muito próximo de quando o gótico começou a infiltrar-se nas sonoridades mais pesadas, muito por causa de bandas como Paradise Lost e My Dying Bride. Esse ideal de sonoridade que raramente foi atingido a não ser nas nossas memórias que nem sempre correspondem à verdade, está aqui em todo o seu esplendor. Poderá soar desfasado do que é feito actualmente – excepto talvez pela produção, bem poderosa – mas soa como um bom disco de doom metal deverá soar, emocionante, pesado e cheio de poder.

9/10
Fernando Ferreira


8 – Høstsol – “L​ä​nge Leve Dö​den”

2023 – Avantgarde Music

O que se tem quando se junta membros e ex-membros de bandas como Ajattara, Barathrum, Woland, Shining, Manes, Suffocation, Skitliv e Funeral Dirge – entre muitas outras? Black metal invulgar, mas altamente atractivo. Uma super-banda repartida entre a Finlândia, Noruega e Suécia que já se tinha estreado com um split no ano passado, mas agora estreia-se em todo o seu grande esplendor. Black metal com temas épicos que convida à contemplação, sem se importarem por terem acesso a alguns momentos mais introspectivos, com passagens ambiente. Não podemos dizer que seja absolutamente revolucionário mas é a efectividade da sua abordagem e do efeito hipnótico que os seus temas causa que faz com que se tenha aqui verdadeiramente uma excelente surpresa no campo do black metal.

9/10
Fernando Ferreira


7 – Twin Seeds – “Grumpy Euphoria”

2023 – Amazing

Não é preciso muito para sermos felizes. Na realidade, basta vermos algo como “rock/metal progressivo instrumental”, é logo o suficiente para aumentar a nossa esperança média de vida. Temos aqui “Grumpy Euphoria”, álbum de estreia dos Twin Seeds, projecto de Diogo Ferreira que se transformou em banda e nos brinda com nove temas (contando com o curto interlúdio “Bath Bubbles”) e onde apenas a regra do instrumental é quebrado na “Belugas” onde se tem a participação especial de Eduarda Soeiro dos Glasya, embora use a sua voz com um instrumento do que propriamente a cantar um poema. Participação especial também de Leander Sandmeier dos Okkultist a shreddar na “Hysteria ‘O’ Types”. Este é um álbum de fácil audição para quem gosto do arrojo do progressivo na medida em que nos consegue transportar para diversos pontos diferentes de forma inesperada. O peso das guitarras – e da produção moderna – é omnipresente, pelo que também é essencial o amor ao lado mais pesado do rock e do metal. Depressa se fica ao espírito de jam em que o quarteto embarca, parecendo na maior parte das vezes que estamos a assistir a um ensaio deles. Boa estreia e boa aposta da Amazing Records.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Megaton Sword – “Might & Power”

2023 – Dying Victims Productions

Da Suíça para o mundo, e pelas mãos de confiança da Dying Victims Productions, temos o segundo álbum dos Megaton Sword. Se a estreia de 2020 causou um bom impacto, temos a certeza de que “Might & Power” é o álbum que fará com que a banda seja apontada como um dos grandes novos valores da cena heavy metal. Podemos até apontar o dedo ao saudosismo, com uma produção que sem ser retro soa bastante orgânica, mas com músicas como “Iron Plains” e com esta conjugação de peso clássico e melodia – sobretudo ao nível das vocalizações e dos coros – é impossível não se ficar refém por várias horas com este álbum a rodar. Fazendo uma comparação potencialmente estapafúrdia do poder vocal, lembram-se do impacto que o primeiro álbum de Ghost teve (apesar de nos queixarmos da sua falta de peso) e de como as melodias vocais eram catchy? Aqui temos isso mesmo, mas (ainda mais) aplicado ao heavy metal tradicional. Recomendado!

9/10
Fernando Ferreira


5 – Fredlös – “Fredlös”

2023 – Threeman Recordings

Este será, prevemos nós, a revelação sueca do metal extremo. Extremo que até nem tem assim muito, sendo uma abordagem folk com o peso das guitarras por trás, mas sem dispensar a melodia que ganha uma nova dimensão com as vocalizações Liv Hope. Que timbre hipnótico que nos transporta para uma outra época. A capa consegue capturar bem o espírito da coisa e as guitarras não deturpam em nada o mesmo. Por falar em guitarras, temos aqui o senhor Alex Hellid (dos Entombed) o que faz com que esta não seja propriamente uma banda novata ou desprovida de experiência. Um álbum que consegue trazer o folk mas ainda soar novo e passar ao lado dos lugares comuns do folk metal. Isso, em si, é logo refrescante.

9/10
Fernando Ferreira


4 – Häxanu – “Totenpass” 

2023 – Amor Fati Productions

Segundo álbum do duo norte-americano Häxanu – onde Alex Poole fica encarregue de toda a parte instrumental, ele que tem umas cento e quinhentas bandas mas onde podemos destacar os Krieg e os Ringarë – que nos traz um black metal impiedoso mas que não tem receio de usar os teclados para criar ambiências que dão profundidade aos seus temas. Podemos dividir o álbum em dois, ou até três, vá. Primeiro temos os interlúdios e intros (duas) depois temos os temas mais curtos, imediatos e violentos (dois) e por último temos os temas épicos onde se sente mesmo uma maior ambição que é recompensada e acaba por resultar nas três peças centrais do álbum. Sem dúvida um álbum que fará os fãs de black metal voltarem as suas atenções para ele.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Heidevolk – “Wederkeer” 

2023 – Napalm

Parece  que não mas os neerlandesses Heidevolk já têm mais de vinte anos de carreira, uma carreira bem sólida a trazer-nos o melhor folk/pagan metal. Assistiram ao nascimento e passagem de diversas modas na música pesada e nunca deixaram de ter o seu cunho muito pessoal. Depois de cinco longos anos, estão de volta com mais um ambicioso e dinâmico álbum. “Wederkeer” apresenta vários estados de espírito, mas a melodia anda sempre presente, seja nos momentos mais acústicos ou nos mais metal. Passando ao lado daquilo até que seria expectável no folk metal e não desiludindo para quem vem à procura da sua proposta individualizada. É um álbum especialmente dinâmico pela riqueza e abrangência dos temas aqui contidos. Sim, a banda continua a cantar na sua língua nativa e sim, por vezes poderá soar um pouco complicado aos nossos ouvidos habituados a algo anglo-saxónico mas é só mais uma característica que lhe atribui qualidade. Este é o álbum mais adulto que a banda lançou e mostra que estão em pico de forma.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Insomnium – “Anno 1696” 

2023 – Century Media

Sempre grandes expectativas para recebermos uma banda como Insomnium, ainda para mais quando passaram quatro anos (já?!) desde o anterior “Hear Like a Grave”. Os finlandeses surgem com a mesma apetência de sempre para o lado mais melódico do death meta, com uma sensibilidade única, sensibilidade à qual se junta a um peso que continua a manifestar-se mais de duas décadas após o início da sua carreira. É essa evolução na identidade estabelecida muito tempo atrás que nos conquista e com a qual encontramos este “Anno 1696” de braços abertos, sendo que ainda encontramos espaço para sermos agradavelmente surpreendidos. Para já o álbum é baseado num pequeno conto de Niilo Sevänen (o qual está disponível na edição especial) com o mesmo título. Que retrata a terrível época em que a Finlândia atravessava a histeria da perseguição “às bruxas” e que vitimou entre 1696 e 1697 30% da sua população, o que chega a ser inacreditável ao mesmo tempo que não surpreende. Não só o conceito é rico como musicalmente vemos a banda a pisar novos terrenos, nomeadamente na “God Forsaken”, onde contam com a participação fantástica de Johanna Kurkela, num dos nossos temas favoritos. “Anno 1696” é um álbum que oferece desafios, mas a cada novo desafio transmite-nos tranquilidade em relação ao mesmo, tranquilidade de que estamos perante mais um grande álbum.

9/10
Fernando Ferreira


1 – WuW – “L’Orchaostre”

2023 – Pelagic

A música instrumental tem sempre uma forma rápida de falar ao coração. A música instrumental excelente fala com a alma. É o que se sente com este terceiro álbum dos franceses WuW. E curiosamente, apenas agora que estas palavras são escritas que reparo como a designação é tão simples e enigmática como a própria música. Onde podemos ser convidados a deslindar se há algo mais que não estejamos a ver bem, se há um sentido oculto e quando percebemos que não, não há espaço para a desilusão. Apenas a constação de que faz perfeito sentido. Emocionalmente falando, esta é uma viagem hipnótica que dificilmente conseguimos largar mesmo depois de ter acabado. Um álbum que obriga a nossa atenção não tanto à música em si mas principalmente ao impacto que a mesma tem no ouvinte. Daquelas obras que nos faz sentir felizes por estarmos vivos para poder experienciá-la mesmo que a mesma seja até mais melancólica que festiva.

9.5/10
Fernando Ferreira


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