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Filhos do Metal – Movimento Ou Inércia?

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Será que o Heavy Metal em Portugal teve ou tem um subgénero facilmente identificável? Esta é uma questão ardilosa, cuja resposta pode divergir do sentido estrito do conceito base. No entanto, é curioso perceber o que andam a produzir as bandas portuguesas. Num país repleto de história, tradição e lendas, seria de esperar que os músicos explorassem esse filão para construírem algo de original, em termos líricos e até musicais. Bandas como Tarantula e Drakkar, utilizaram a história dos navegadores portugueses como inspiração, criando sonoridades épicas. Noutro contexto, Omitir (a banda) introduziu algumas tradições bem nacionais no álbum “Ode”. Há também raras incursões pelo fado, como o guitarrista Ricardo Gordo que lançou o EP intitulado “Fado Metal” de 2012. Ainda os Allamedah, que em 2018 apresentaram um single intitulado “Algema” com a participação de João Luzio na guitarra Portuguesa e Valéria Carvalho na voz de Fado. Também os Glasya se aventuraram com uma versão de “Canção do Mar” (Dulce Pontes) com contornos épicos.

A identificação de um subgénero ou de um movimento musical, tem proporcionado, em alguns casos, uma enorme ferramenta de divulgação. Divulgação das bandas envolvidas, mas a um nível superior, promoção da cultura de um país. Atente-se em alguns exemplos marcantes, onde o género é identificado, ao mesmo tempo que o país assume papel preponderante. The New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM), foi talvez a mais marcante expressão para identificar um movimento de bandas inglesas, que praticavam um som pesado. Surgiu entre os anos 1970 e 1980 e veio “refrescar” as sonoridades das bandas precursoras do género, os Black Sabbath, Led Zeppelin ou Deep Purple. Retirou o Blues, que ainda tingia algumas músicas dessas bandas e adicionou peso, velocidade e as características que se tornaram típicas do Heavy Metal genuíno. A designação NWOBHM trouxe para a ribalta nomes como: Iron Maiden, Judas Priest, Angel Witch, Venom, Def Leppard, Saxon, Motörhead, Diamond Head entre outros. Esta avalanche de sonoridade pesada, não só reafirmou a Inglaterra como o país referência do Heavy Metal, como se espalhou por todo o mundo, tornando-se uma fonte de inspiração para inúmeras bandas. O movimento surgiu devido a convulsões sociais em Inglaterra durante esse período. Desemprego, frustração social e um movimento Punk em declínio.

A Suécia tem tido alguns subgéneros de referência como por exemplo o Swedish Death Metal. No início da década de 1990, surgiu a cena Death Metal nas cidades de Gotemburgo e Estocolmo. A primeira vaga do Swedish Death Metal contou com as bandas Carnage, Morbid and Nihilist, que mais tarde deram origem aos Entombed, Dismember e Unleashed. Muitas dessas bandas usavam o tom de guitarra “buzzsaw” produzido por Tomas Skogsberg dos Sunlight Studios. A Noruega promove o Black Metal quase como um ex-libris do país. Este género criou uma onda tão forte que ganhou uma dimensão impressionante. Bandas como: Mayhem, Tsjuder, Thorns, Satyricon, Immortal, Gorgoroth, 1349, Carpathian Forest, Darkthrone, Emperor entre outros, são hoje aclamadas por seguidores fiéis um pouco por todo o mundo. Os Venom em Inglaterra, os Bathory na Suécia ou os Hellhammer na Suiça podem ser precursores do Black Metal, mas foram as bandas norueguesas que elevaram a fasquia. Num ambiente muito obscuro, cultos satânicos, incêndios em igrejas e até assassinatos, marcaram a criação de um culto em redor das bandas que praticam um som arrepiante. Isso foi em parte graças ao novo estilo de tocar guitarra desenvolvido por Snorre ‘Blackthorn’ Ruch dos Thorns e por Øystein ‘Euronymous’ Aarseth dos Mayhem. A Finlândia pode ser considerado o país do Heavy Metal. Existem cerca de 53 bandas para cada 100 mil habitantes. O Power Metal e o Symphonic Metal são dos estilos mais proeminentes. Exemplos são bandas como: Stratovarius, Sonata Arctica, Kotipelto, Thunderstone, Children of Bodom, Nightwish. Há um ambiente Folk nas músicas que remete para tradições antigas e muitas vezes fantasias e histórias míticas.

E em Portugal? Tivemos o “Boom do Rock Português” no virar da década de 1970 para a década de 1980, que nos ofereceu muitas bandas de Rock e uma ou outra com sonoridades mais pesadas, próximas do Heavy Metal, como os: Xeque-Mate, Ferro e Fogo, Jarojupe ou NZZN. Depois disso, o Heavy Metal foi crescendo em número de bandas e em qualidade de execução e até em criatividade, mas não houve nenhum movimento ou afirmação de um grupo de bandas que se identificasse com um subgénero criado em Portugal. Conseguem-se reconhecer algumas bolhas criativas, que só não ficaram mais marcadas na história por falta de quem as promovesse para outro estatuto. Na segunda metade da década de 1980, houve uma concentração de bandas a atuar no desaparecido Rock Rendez Vous, que foram representativas de uma época. O fã clube “Metal Army” promoveu uma série de concertos com bandas como: Black Cross, Satan’s Saints, Procyon, Tarantula, Devil Across, Navan, Blizzard, STS Paranoid. Este poderia ter sido um movimento. O objetivo foi gravar um álbum ao vivo. Mas nem houve movimento, nem o álbum foi editado. Os estúdios Rec’n’Roll no Norte do país, com o trabalho dos irmãos Barros (Tarantula), gravou um sem número de bandas, cuja sonoridade era facilmente identificável, principalmente nos anos 90. Também aqui houve um movimento que passou ao lado da projeção mediática. Em Almada surgiram imensas bandas de diferentes géneros e subgéneros. Os que ainda tiveram alguma designação foram o movimento Gótico e o Margem Sul Hardcore, este a meio da década de 1990 onde pontificaram as bandas Last Hope, Newt, 69 Balls, FP, Act of Anger, Human Choice, Campo Minado. Ainda o Linda-a-Velha Hardcore, com bandas como Trinta & Um, Mordaça, Pé de Cabra. Até há relativamente pouco tempo, existiu um movimento muito underground e obscuro com um pequeno grupo de bandas de Black Metal, denominado Black Circle, ao qual pertenciam as bandas: Irae, Decrepitude, Mons Veneris, Rainha Cólera e Vetala. Atualmente há uma enorme diversidade de bandas a praticar géneros e subgéneros, mas há também muita dispersão e alguma inércia, sem uma verdadeira força conjunta que divulgue a música de peso feita em Portugal.


 

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