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WOM Report – River Stone Winterfest @ Sede do Grupo de Bombos “Os Amigos de Cima”, Penafiel

No passado dia 9, a sede do Grupo de Bombos “Os Amigos de Cima” (Rio de Moinhos) acolheu, mais uma vez, a edição de Inverno do River Stone Fest. Ênfase em “Inverno”: estava um típico dia desta estação, com muita chuva e um frio tremendo, e embora não tendo sido o único motivo para ter chegado atrasada ao recinto, foi o principal. Com grande pena minha, perdi a actuação dos Cabbra. Vi-os em 2021, no Hard Rock Cafe Porto, e gostei da garra, de todo o vigor que imprimem na sua prestação (além de uma forte linha de baixo, como tanto gosto), numa sonoridade mais alternativa). Não faltarão oportunidades de ver se este espírito se mantém (ou até evoluiu), até porque estão a trabalhar no primeiro longa-duração (à data ainda só o EP “Hakona Masmata” foi editado), que esperam poder lançar ainda este ano. Chamar-se-á “Humanimal” e sei que tocaram, pela primeira vez, “Ugly”.

Em meado de 2018, depois de uma pausa de 17 anos, os Glaucoma reuniram-se para, parafraseando os próprios, dar continuidade ao seu sonho. Formados em Baltar, não sei quantos concertos deram desde que se formaram em 1993 e depois desde este seu regresso, mas a sensação transmitida foi a de que nunca estiveram parados. Um conjunto de todas as vertentes do doom metal, abriram com “Still Here” (certamente a propósito da sua perseverança após estes anos todos), e fecharam com “Separated Worlds” – músicas recentes – mas pelo meio foram até à demo “Under My Eyes”, de 1997, através de “Bleeding Shame” e “Eternal Release”. Regressos destes valem a pena.

Os Vectis, por outro lado, andam nisto há mais ou menos meia dúzia de anos mas o black thrash que trazem, carregadinho de agressividade old school, já cimentou a sua popularidade. O sucessor do EP “No Mercy For The Weak” é, na verdade, um split com o projecto norte-americano Grimsever de Adrian Malum, e as duas músicas da banda portuense nele incluídas foram interpretadas no palco do River Stone: “Blasphemy Of Old” e “Speed Metal Fire”. E sim, a cover de “666” dos Toxic Holocaust fez furor, mas os Vectis têm o seu próprio mérito. Banda promissora, esta.

“Bem-vindos ao covil da fornicação” – não foi com estas palavras que Marco “The Beast” Ferreira dos Dishonour subiu ao palco, proferindo-as mais tarde, mas convenhamos que são as mais memoráveis… A entrada até foi em silêncio por parte do vocalista, erguendo um crânio de bode com uma mão enquanto que com a outra passava o indicador ao longo do pescoço, o sinal mundial de que alguém vai ser assassinado. Constituída por membros e/ou ex-membros (desculpem a falta de precisão mas este é provavelmente o género musical que assiste à maior migração de músicos e não consigo acompanhar as mudanças todas) de nomes fortes como Sonneillon, Humanart e Skinning, e ainda o baterista de sessão Gaspar Ribeiro (Equaleft e Wrath Sins), o resultado só podia ser convincente aos ouvidos e olhos dos apreciadores de black metal. “Erasing The Rats” (tema-título do EP de estreia) ou “Mayhem’s Heritage” são algumas das músicas que se destacam.

Menos extremo mas mais intenso, seguiu-se o sludge/post-metal do trio bracarense Music In Low Frequencies. “Catharsis” saiu em Dezembro do ano passado – 9 anos depois do álbum de estreia “Sowing The Seed” – mas tendo em conta que é considerado por muitos um dos melhores álbuns nacionais de 2023, valeu a pena a espera. Mariana Faísca tem uma voz extraordinária e o modo como se entrega a toda a revolta e obscuridade das letras das suas músicas faz o público render-se. Um vídeo para “Unconsciousness” rodava no YouTube há pouco mais de uma semana e Mariana esperava que gostássemos da versão ao vivo, assim como de “Steel”, que em estúdio conta com a participação de Paulo Rui dos Redemptus mas ali era “apenas” a sua voz. Pelo feedback dos presentes, sim, gostaram muito.

Os veteranos Web vão lançar o seu quarto álbum, “Burden Of Destiny”, em Junho mas andam já a promovê-lo – e pela amostra, através dos temas “A Grave To Be Dug” e “No More”, prevê-se um grande álbum. São, no entanto, os clássicos “(In)Sanity” e “Mortal Soul” – esta aqui dedicada a José Pereira, vocalista/guitarrista dos Buried Alive, falecido recentemente – que continuam a levar os fãs ao delírio. A boa disposição de toda a banda também ajuda ao ambiente festivo – o baterista Pedro Soares a dada altura gritou por uma cerveja e o vocalista/baixista Fernando Martins sentou-se, dizendo que o concerto não continuaria enquanto não trouxessem a cerveja – mas é sem dúvida a qualidade do muito-mais-que-thrash-metal que praticam que estampou aqueles sorrisos de satisfação nas caras de quem foi ao River Stone.

E como agora há sempre mais uma banda a seguir ao cabeças de cartaz, coube aos Capela Mortuária encerrar a noite. Este sim, thrash metal puro, cantado maioritariamente em português – embora o registo vocal de João Carlos seja demasiado bruto para que se consiga perceber em que língua está a berrar… Apesar de toda essa violência sonora, todos estão constantemente sorridentes, mostrando que o palco é a sua segunda casa e tocar ao vivo está-lhes nas veias. O EP “Ossadas” viu a luz do dia em 2019 mas foi com o primeiro longa-duração “Monstro” que começaram verdadeiramente a dar cartas pelo país fora e a catalisar as rodas de mosh com “Thrash Faster”, “Pornocultura” ou “Fragas De Pena Má”. Uma noite gelada que terminou bem aquecida.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos River Stone Fest


 

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