Filhos do Metal – Metal Social
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Mais do que um género, o Heavy Metal alarga as suas ramificações para além do espetro musical. As óbvias e imensas derivações, refletidas numa imensidão de subgéneros, são apenas o espraiar da criatividade subjacente ao talento dos compositores. Essa característica exógena encerra uma componente Cultural de grande influência em subsequentes gerações desde a sua origem. Pode-se pensar, erradamente, que é um género musical de nicho. Os números e estatísticas colocam alguns dos nomes mais sonantes entre as listas de maiores sucessos comerciais de todo o universo do mercado musical. Já muitas vezes referidos, é sempre importante mencionar os nomes de: Black Sabbath, Led Zeppelin, AC/DC, Iron Maiden, Metallica, Guns’n’Roses, entre outros. E não interessa debater se alguns deles são Heavy Metal ou não, para o caso não é relevante. A influência Cultural é evidente. Esse efeito cria e desenvolve um sentido de Comunidade singular, entre fãs, ouvintes e consumidores. Dá um sentimento de inclusão, de pertencer a algo de especial e único. Daí a designação de nicho, que me parece redutora. A Comunidade torna-se defensora de uma causa, o que propícia uma maior tendência para fidelização. A grande dedicação à causa resulta em “peregrinações” para assistir a concertos, festivais e para o consumo da música e dos seus acessórios. O que contribui positivamente para dois setores que parecem fora de contexto, a Economia e o Turismo. Arte, Cultura, Comunidade, Economia, Turismo, parecem palavras demasiado estranhas ao universo do Heavy Metal, mas são apenas e só, adequadas.
Garantidamente que o Heavy Metal pode, deve e já foi alvo de estudos antropológicos, no campo sociocultural. São 55 anos de história que dissecados oferecerão uma perspetiva deveras interessante para os mais curiosos e um documento histórico para a humanidade. Há diversos nomes internacionais, entre estudantes, investigadores, jornalistas, cineastas, que já abordaram o assunto e publicaram análises sobre esta matéria. Por exemplo “The Headbanger Journey” é um documentário do canadiano Samuel Dunn, antropólogo, cineasta e headbanger. Trata-se de uma abordagem antropológica cultural, alternativa e pós-moderna. No Brasil alguns investigadores publicaram trabalhos com diferentes perspetivas. Jeymison Gomes fez o seu trabalho de Graduação em Licenciatura Plena em História – “O Heavy Metal Como Identidade De Um Grupo: Resistência, Experiências E Headbangers Em Campo”. Lindsay Bishop, estudante inglesa de antropologia fez uma pesquisa durante oito anos sobre estereótipos dos metaleiros. O que penso ser interessante é o facto de em Portugal, também existir quem tenha feito trabalho de investigação nesse âmbito. O nosso país não tem uma tradição alicerçada nas sonoridades de peso, mas há como que uma onda silenciosa, mas crescente que vai alcançando uma dimensão inquestionável. Assim, surgem pessoas com interesse em estudar, analisar, investigar este assunto. Em 2010, Humberto Luís Rodrigues da Silva, fez a sua dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação, Especialização em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, cujo tema foi “A Comunidade Metálica Portuguesa No Ciberespaço. Da Comunidade Física À Comunidade Online”. Uma perspetiva que versa a Comunicação e a articulação com a Comunidade metaleira. Em 2022, Noélia dos Reis Viegas fez um trabalho intitulado “Identidades e Culturas do Mundo do Metal: 40 anos e Metálico – Um Estudo Sociológico a Partir da Situação Portuguesa” para obtenção do Mestrado em Sociologia. Já este ano Beatriz Jacinto e Melo apresentou a sua dissertação de Mestrado em Gestão Estratégica de Eventos. intitulada “Motivações, comportamentos e práticas turísticas em eventos de Dark Tourism: o caso dos festivais de Heavy Metal”, à qual tive o prazer de assistir. Neste caso, a abordagem é muito num contexto socioeconómico e comportamental, onde os eventos mais Dark, Góticos e Heavy Metal são uma fonte de receitas no âmbito do Turismo em Portugal. Outros haverá e outros surgirão a realizar estes trabalhos. De realçar que o trabalho desenvolvido pelo Dico, com os livros que já escreveu sobre o Heavy Metal em Portugal e até num contexto de emigração/imigração, é já uma referência para conteúdos credíveis e fundamentados. É um orgulho enorme para alguém que há várias décadas cultiva o gosto pelo Heavy Metal, assistir a este crescente interesse pelo género. As abordagens são diferentes e apontam caminhos diversificados para o futuro, englobando setores da nossa sociedade de grande relevância. O que comprova a abrangência do Heavy Metal e como tem importância em vários setores da sociedade.
A Noruega ou a Finlândia são países onde o género musical ganhou uma dimensão cultural e social sem precedentes. Não será esse o caso em Portugal. Mas contra todas as contrariedades a Comunidade de metaleiros/metálicos/metalheads/headbangers no nosso país tem uma capacidade de perseverança incrível. Parece que cada um assume uma missão, querem fazer parte do meio de forma ativa. Não basta ouvir e consumir música, participam dinamicamente contribuindo com fanzines, webzines, programas de rádio, organizando concertos e festivais, blogs e acima de tudo existem milhares de músicos a tentar mostrar o seu talento. Do ponto de vista socioeconómico há que considerar a contribuição que o Heavy Metal e o Turismo, neste âmbito, dão ao nosso país. Certamente que essa quota não está contabilizada, de uma forma específica. Deve ser ainda diminuta, mas há um imenso potencial a explorar, até pelo crescente número na oferta diversificada. A investigação que muitos jovens estão a levar a cabo irá por certo cimentar a credibilização do género.
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