Filhos do Metal – Para Além da Música
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Parti à descoberta. Ou seja, fui fiel ao lema do Filhos do Metal. Acreditem que é uma verdadeira façanha. Aquela noção da era digital em que tudo está ao alcance de um clique!… Nah! Afinal são muitos cliques, muitos sites e muita pesquisa para encontrar informação. Os artistas e as bandas têm tantas ferramentas digitais à sua mercê, que se dispersam num labirinto infindável. A informação que interessa dilui-se num amontoado de distrações. Seria mais fácil centralizar tudo num só sítio. Assim, para encontrar biografia, formação atual, autores, líricas, entre outra informação torna-se uma busca por agulhas num palheiro. Bandcamp, Facebook, Instagram e tantas outras plataformas não ajudam. Imagem, vídeos, textos curtos e voláteis, muita confusão. Depois há outras do tipo Metal Archives, mas que também nem sempre está atualizado ou não contém toda a informação. Enfim! Talvez seja eu o infoexcluído. Mas fica a dica. Um site da banda, completo e bem organizado, com tudo lá bem compilado, é uma boa fonte de informação. Em frente.
Decidi partir à aventura e descobrir algo mais do que apenas a música – o que os músicos querem transmitir em termos líricos e temáticos. De forma aleatória escolhi dois projetos, duas músicas recentes, ou relativamente recentes, incluídas em lançamentos novos. Apesar de muitas diferenças, há pontos comuns. Ambas as músicas são feitas em Portugal, por projetos portugueses. Em bom rigor, num dos casos, o letrista não é português. Curiosamente, as duas contam com a participação de um músico estrangeiro internacionalmente conhecido. Estilisticamente há um certo pendor emocional e experimental dentro do Heavy Metal. O objetivo é abordar as líricas, por isso vou deixar de lado o género, a música e tudo o resto. Isso podem descobrir ouvindo as músicas disponíveis online. As músicas escolhidas são: “Purgatory”, single de avanço (maio 2024) ao álbum “Purgatory” dos Downfall of Mankind, a sair em 14 de junho de 2024; e “Jogo de Silêncio”, single (setembro 2023) do EP “Desencanto” de Paula Teles, lançado a 5 de abril de 2024.
“Purgatory” dos Downfall of Mankind é escrito por um homem, Lucas Bishop e conta com a participação de Matt Heafy dos Trivium. É cantada em inglês. A temática é atual e ao mesmo tempo intemporal. Fala de um mundo em declínio, fruto de uma humanidade decadente e sem saída, à espera de um sinal que indique uma luz ao fundo do túnel. Como se tudo fosse um sonho, ou melhor um pesadelo, em jeito de premonição. Afinal é mesmo a realidade que está aqui à frente dos nossos olhos, basta retirar a venda que por vezes nos tolda a visão e o discernimento. Ficam perguntas no ar – será que isto é mesmo o fim ou o purgatório? Será que não vês a morte que nos rodeia? Quando vou sair desta incerteza? As declarações expostas são pesadas e contundentes. No entanto, há também uma afirmação de perseverança, porque não há volta a dar. Este é um jogo que tem de ser jogado, utilizando a voz e a música para lembrar o purgatório em que vivemos e reclamar por algo melhor. Este pode até ser um tema recorrente, tendo em conta as constantes guerras e convulsões sociais. Vivemos tempos difíceis, mas sempre os houve e a humanidade sempre os soube enfrentar. Talvez tenha destruído muito, mas tem a capacidade de construir um futuro melhor, assim o queira. Destaco este verso – “But no one is turning back, just the sound of my voice…”.
“Jogo de Silêncio” de Paula Teles é escrito por uma mulher, ela própria e conta com a participação de Björn Strid dos Soilwork. É cantada em português. Também fala sobre guerra, mas outra guerra, o nosso passado no Ultramar. Também se espelha em sonhos. É uma narrativa nostálgica, triste e de muita saudade. Relata o que as mulheres sofriam quando maridos e namorados viajavam para as colónias portuguesas e já não voltavam. Eram jovens sem futuro e sem passado de guerra, enfrentavam o mato e o desconhecido para defender um império colonial. As mulheres ficavam em suspenso, envoltas em mantos de esperança. Sonhos de amor, de sentidos não correspondidos, o toque o som da voz de alguém que apenas gostaria de poder voltar a Portugal. Uma temática muito intensa e que jamais deverá ser esquecida por qualquer português, para que não volte a acontecer. Principalmente agora, quando já se ouviu alguém dizer que Portugal poderá enviar militares para combater guerras que não são nossas. Paula Teles termina com um verso assertivo de aceitação, mas também de esperança – “Sem me afastar do trilho traçado…”
Ambas as líricas possuem uma profundidade intrínseca, que provém de demónios interiores que perturbam a mente de quem as escreve. Esta é a demonstração da interioridade e da preocupação de muitos seres humanos. As líricas das músicas são sempre algo de subjetivo, tal como a poesia. Deste modo, o que escrevo é simplesmente a minha interpretação. Para uma melhor compreensão do sentido e contexto, aconselho vivamente a audição de ambas as músicas.
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