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Filhos do Metal – Não Há Fome Que Não Dê Em Fartura

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Em janeiro deste ano, na primeira crónica de 2024, mencionei os diversos festivais já anunciados, terminado o parágrafo com a seguinte frase – “…e outros que provavelmente surgirão ou que me esqueci de mencionar. Isto é sinal de vitalidade do Metal em Portugal”. Estava certo no meu vaticínio, mas quanto à vitalidade, apesar de ser verdade, há que enquadrá-la. Uma coisa é existir entusiasmo em fazer mais, outra coisa é fazer com sensatez. Quando algo tem sucesso, muitos querem apanhar esse comboio, repetindo a mesma fórmula até à exaustão, com o objetivo de rentabilizar esse sucesso em proveito próprio. O que aqui está em causa é perceber de forma clara e inteligente, até onde se pode ir na vontade de querer fazer ou contribuir para o todo. É necessário entender os limites. Até se pode utilizar o senso comum dizendo – “Não há fome que não dê em fartura”. Já perceberam onde quero chegar? Isso mesmo. Portugal passou de um copo vazio, para um copo a transbordar, num espaço de 25 anos, mais coisa, menos coisa. E sim, o alvo é o Belavista Open Air. Mas embora, tenha tido um grande impacto no nosso meio metálico, não é caso único. No passado aconteceu, em outras ocasiões, algo semelhante. Não é meu objetivo julgar os responsáveis pelo cancelamento/adiamento do evento, longe disso. Quero passar uma mensagem positiva, num contexto de desalento causado pelo sucedido. No passado, eu próprio senti de muito perto a ingerência de algumas pessoas, que preconizaram episódios muito pouco éticos neste mesmo âmbito. Refiro-me a iniciativas para organização de Festivais de Heavy Metal.

Nos anos 70 e 80 existiam muito poucos promotores profissionais a organizar concertos em Portugal, nomeadamente a contratar bandas internacionais. O Carlos Gomes (já falecido) foi dos primeiros a trazer bandas de Rock internacionais a Portugal nos anos 70 – Supertramp, Barclay James Harvest. Depois a On Road Music de Ricardo Casimiro e Figueira, trouxe Tubes, Dr. Feelgood, Stranglers ou Ramones. O Ricardo Casimiro, já com a Tourné, fez as delícias da crescente legião de fãs de Heavy Metal com diversos concertos de bandas pesadas no, já desaparecido, Pavilhão do Dramático de Cascais e no Pavilhão Infante de Sagres, no Porto. Mas eram poucos, um ou dois por ano. Iron Maiden, Motörhead, Judas Priest, Gary Moore, Nirvana, Anthrax, Whitesnake, Sepultura, Slayer, Manowar, Pantera e tantos outros. Foram surgindo alguns concertos e raros festivais promovidos por amadores, nem sempre com as melhores condições e resultados, fruto da inexperiência. No final dos anos 80, principio dos 90 houve um crescimento e surgiram mais alguns pequenos promotores a profissionalizarem-se, conseguindo trazer bandas estrangeiras de segunda e terceira linha no Heavy Metal, que mesmo assim atraíam centenas e até mesmo milhares de fãs. Thanatos, Agressor, Minotaur, Ratos de Porão, Kreator, Tiamat, Carcass, Paradise Lost, Death e muitos outros. Paralelamente, alguns entusiastas também queriam contribuir para a “cena” do Metal e organizaram eventos com bandas nacionais e internacionais. Ao longo do tempo a quantidade foi aumentando, ao ponto de hoje serem dezenas os festivais e centenas os concertos que acontecem todos os anos em Portugal, só dentro do Heavy Metal.

O resultado é evidente. Há mais e melhores concertos, fruto da experiência adquirida. Há mais promotores. Há mais recintos e com melhores condições técnicas e logísticas. Também há mais amadores a organizar concertos e festivais, quer seja com bandas nacionais ou internacionais. Todo este desenvolvimento é positivo, até ao momento em que a oferta se torna demais relativamente à procura. É a lógica do mercado a funcionar. O Belavista Open Air é o mais recente dos festivais portugueses de média dimensão e parece ter sofrido com uma entrada em grande e extemporânea. Caiu em cima de um espaço já com alicerces e resvalou. O cartaz era de bastante peso e elevado nível. Promete voltar em 2025! Esperemos que sim e com a mesma força, mas com mais certezas de sucesso. O bom senso tem de imperar. Portugal já está na rota de muitas digressões de bandas internacionais. Aprendemos com os erros, para termos a capacidade de organizar eventos de qualidade, não podemos deitar tudo a perder. Estamos a cometer o erro da soberba. O Heavy Metal sempre proclamou união, então façam jus a essa máxima e juntem-se para criar algo mais forte. O mesmo se aplica aos recintos. Constato o surgimento de mais salas e clubes para concertos nas cidades de Lisboa e do Porto. Assim de repente – Music Station e a reformada República da Música, em Lisboa; Bourbon Room no Porto. Não me entendam mal! É sempre positivo e merecem aplausos todas as iniciativas que contribuam para o desenvolvimento da Música e do Heavy Metal em particular. No entanto, não devemos produzir mais do que consumimos, senão teremos desperdício. Queremos mais e melhor, mas temos de quantificar, qualificar e otimizar.


 

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