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Filhos do Metal – Vendedores de sonhos

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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A propósito das declarações de Jack Gibson, atual baixista da banda Exodus, durante uma entrevista no “The Danielle Bloom Podcast”, penso ser importante refletir sobre o assunto. Gibson disse – “Sou um vendedor de t-shirts. Não sou um músico”. Mas foi mais longe dizendo – “A verdade é que não há indústria“. Este não é um tema novo. Como em tudo na vida podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio. O próprio Gibson reconhece que vivemos tempos diferentes, isso é uma verdade inabalável. O tempo passa e as transformações acontecem, não conseguimos parar as mudanças, a evolução, a constante busca pela inovação. Todo esse turbilhão de acontecimentos tem um lado positivo e outro menos favorável. Temos que nos adaptar, mas também podemos manter alguns prazeres nos hábitos tradicionais.

Voltando à afirmação do músico Americano, é verdade que está a acontecer um fenómeno algo singular na indústria musical. Principalmente entre os mais jovens. Estes estão a consumir a música sem a ouvir, ou pelo menos sem lhe prestar a atenção devida. Há um maior consumo de objetos, quer seja merchandising, quer sejam os próprios discos em vinil, não pela música em si, mas sim pelo aspeto estético ou um outro qualquer motivo que carece de estudo. É comum ouvir um jovem dizer que conhece uma determinada banda, porque tem uma t-shirt ou até um disco de vinil, mas sem ter ouvido a música. O item que possui é apenas um objeto de contemplação ou decoração ou, na melhor das hipóteses, de coleção. Em muitos casos nem sequer tem um gira-discos para ouvir os álbuns em vinil, mas a posse de um objeto torna-se importante, pelo simples facto de ser um modelo a seguir na atualidade. Sei do que falo porque no contato com adolescentes já ouvi afirmações que comprovam este facto. Agora, isto significa que há ou não indústria musical? Claro que há, só está diferente. Compreendo que para alguns músicos seja frustrante o facto de o público dar mais atenção ao merchandising do que à música, à composição e ao trabalho feito pelos que criam e tocam as músicas.

O formato físico para a reprodução musical tornou-se quase obsoleto ou apenas uma questão estética. Isto no que concerne ao consumo de massas, porque não podemos esquecer os colecionadores, audiófilos e gerações que ainda consomem avidamente discos em vinil, CD e até cassete. Mas estes são uma minoria, a maioria consome música em formato digital através das centenas de plataformas, utilizando o smartphone, tornando a música mais descartável. A quantidade impera fazendo sombra à qualidade. No entanto, haverá sempre alguém que no meio dessa massa de público tem interesse pela música e irá consumi-la procurando a qualidade à medida que amadurece. São esses que, embora em menor número, vão manter a música viva e espalhar a palavra para as gerações vindouras. Por outro lado, o merchandising também serve como meio de promoção de artistas e da sua música. Se assim não fosse, a indústria não estaria a produzir uma maior diversidade de merchandising e de discos em vinil, com cores e aspetos diversificados. Podemos sempre ver esse lado mais brilhante e acreditar que uma coisa leva à outra. Ou seja, a exposição de uma t-shirt de Metallica para venda numa grande cadeia de lojas de roupa é um meio de promoção da música. De uma forma ou de outra a indústria existe e está viva, os concertos e festivais são muitos e têm público. Há mais lojas a vender discos atualmente do que há uns anos atrás. Se o merchandising e o aspeto estético são o maior apelo ao consumo, deixando a música para segundo plano, na verdade só havendo bandas e músicos pode haver merchandising. A maioria das bandas sempre deu importância à estética e ao grafismo, o complemento artístico à arte de fazer música, ou seja, a “embalagem”. Agora a “embalagem” parece tornar-se o conteúdo. Sinais dos tempos. Que se continue a fazer boa música, tudo o resto virá por acréscimo.

Uma última nota para referir o aspeto financeiro. Não possuo dados concretos, mas é óbvio que os músicos e bandas atualmente fazem menos dinheiro com as vendas de discos e que as plataformas digitais de reprodução de música pagam mal. A receita tem de vir de outros lados. Por isso mesmo as bandas têm de atuar ao vivo com mais frequência e produzir mais merchandising. Se os royalties ou a receita direta da venda de discos físicos já não compensa, então há que procurar outras fontes de receita. Cachets de concertos ao vivo, direitos de autor pelas atuações, venda de merchandising, patrocínios, entre outras. Os músicos podem contestar, podem afirmar que a essência da criação fica desvirtuada. Pode até ser, mas há que fazer uma adaptação sem comprometer a criatividade artística. Vamos ver o copo meio cheio e prosseguir o sonho.


 

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