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Predominance #15 – Vredehammer, Urzah, Dusk, Earth Ship, GZR

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

Vredehammer – “God Slayer” – Com uma sólida carreira de dez anos os Noruegueses Vredehammer chegam a 2024 com o seu quarto álbum de originais intitulado ‘God Slayer’. Tal como os seus conterrâneos The Wretched End (fundados pelo icónico guitarrista Samoth) e Susperia também os Vredehammer encontraram o seu trilho sonoro num musculado hibrido entre Thrash Metal e Death Metal com esporádicas contribuições de Black Metal (quase inevitáveis considerando a origem da banda). Completamente distinto do old school Bay Area Thrash Metal ou do contemporâneo Groove Thrash tão popular do outro lado do Atlântico o Thrash dos Vredehammer tem uma vincada e propositada cunha Escandinava. Riffs vertiginosos e gélidos por vezes a resvalarem para o domínio do Black Metal e do Death Metal aliados a uma bateria supersónica, incessante e inumana são perfeitamente audíveis em temas desconcertantes como ‘The Joker’, ‘The Dragons Burn’, ‘Blood Of Wolves’ ou ‘Obliterator’. Técnica apurada conjugada com uma produção irrepreensível e uma dinâmica capacidade de composição fazem de ‘God Slayer’ um dos álbuns marcantes de 2024 e mais um firme passo na carreira dos Vredehammer. (8/10)

Urzah – “The Schorching Gaze” – É sem dúvida um dos mais fortes candidatos à melhor estreia de 2024, falo de ‘The Scorching Gaze’, o primeiro álbum de originais dos Britânicos Urzah. Longe de ser um subgénero saturado o Post-Metal é dos estilos que mais tem prosperado nas últimas duas décadas o que não é necessariamente negativo se a qualidade existir, todavia vai sendo cada vez mais difícil uma banda deixar a sua marca nesta especifica vertente musical. Apesar desta dificuldade os Urzah têm sem dúvida algo a dizer sobre o assunto, temas como ‘I, Empyriam’ ou ‘Thera II: Embers Of Descent’ mostram que o quarteto Britânico tem atributos mais que suficientes para conquistar o seu espaço no espectro do Post-Metal. Os Urzah mostram que têm a criatividade e a competência técnica necessárias para aglutinar o Post-Metal não só ao seu aliado natural (Sludge Metal) mas também ao Progressivo (ainda que de forma menos vincada), fazendo um saudável equilíbrio entre os riffs envolventes e destemidos e uma atmosfera lúgubre, inóspita e dissonante bem característica do Post-Metal. Se ‘The Scorching Gaze’ é “apenas” a primeira amostra o futuro parece-me bastante auspicioso para o quarteto oriundo de Bristol. (8/10)

Dusk – “Industrie” – Apesar de não ter sido nesta coluna já aqui tinham sido abordados na WOM por mim numa review sobre o álbum ‘The Hermit’ e posteriormente, aí sim já aqui em ‘Predominance’ a propósito de ‘Rethrenody’, falo dos Costa-Riquenhos Dusk que lançaram no passado mês de Maio ‘Industrie’. Se ainda houvesse duvidas o título ‘Industrie’ é bastante auto-explicativo, os Dusk continuam a sua interminável peregrinação pela maquinaria e pelo Industrial de forma obsessiva. É fantástica e assinalável a evolução da banda desde a sua fase inicial até este ‘Industrie’. A sua bizarra e doentia mescla entre Black Metal e Industrial está cada vez mais complexa e interessante. As influências que vão desde Godflesh até Red Harvest ou Iperyt vão-se filtrando e purificando dando origem a uma ambiência de Industrial quase literal trespassado aleatoriamente por intermitentes ondas de Black Metal bélico, insensível e completamente despromovido de humanidade. Temas como ‘Industrie III’ ou ‘Industrie V’ representam na perfeição a peculiar abordagem dos Dusk ao Industrial, uma pulsante atmosfera quase cinematográfica repleta de interferências e alternâncias de intensidade e agressividade onde o Noise também tem a quota-parte de influência. Um último destaque para a cover de ‘Freezing Moon’ dos míticos Mayhem, simplesmente sensacional, uma das mais cativantes covers que ouvi nos últimos tempos e mais um contributo para ‘Industrie’ provavelmente vir a ser considerado o melhor álbum dos Dusk até à data. (8/10)

Earth Ship – “Soar” – Depois de uma efémera passagem pelos incríveis The Ocean em 2007 como baterista, Jan Oberg viria a fundar os Earth Ship algures em 2010. Treze anos e cinco álbuns depois os Earth Ship “aterram” em 2014 como seu sexto álbum de originais intitulado ‘Soar’ lançado no passado mês de agosto. Longe do ímpeto de ‘Iron Chest’ (2012) ou ‘Withered’ (2014) ‘Soar’ tem os seus incontornáveis pontos de interesse. Com uma duplicidade sonora entre o Sludge Metal e o Stoner Metal que já vem desde a génese da banda os Earth Ship mostram em ‘Soar’ uma certa tendência para recuperarem a agressividade e rugosidade do seu álbum de estreia (‘Exit Eden’) privilegiando o Sludge em detrimento do Stoner. A excepção é o tema ‘Radiant’ onde a vertente psicadélica que a banda nunca desprezou se sobressai de forma peculiar. Ainda que o principal destaque de ‘Soar’ tenha que ir para os temas ‘Shallow’, ‘Ethereal Limbo’ e ‘Acrid Haze’ conduzidos pêlos riffs arrebatadores e pujantes marcados por uma sujidade cativante e intensa. ‘Soar’ expõe uns Earth Ship de “cara lavada” agora liderados por Jan Oberg e a sua esposa Sabine Oberg tentando recuperar pelo menos alguma da exuberância de outros tempos depois da desilusão que foi ‘Resonant Sun’ em 2018. (7.5/10)

GZR – “Plastic Planet” – O individuo em questão dispensa apresentações, falo do lendário baixista dos Black Sabbath Geezer Butler que tem passado praticamente toda a sua carreira ligado ao seu amigo de longa data Ozzy Osbourne o não fosse ele o eleito como o seu baixista de eleição, Butler deu também o seu contributo na banda Heaven and Hell composta pelos icónicos Ronnie James Dio e Tony Iommi. O que talvez tenha passado despercebido a algumas pessoas foi o seu projecto paralelo intitulado GZR que existiu entre 1995 e 2005 do qual vamos analisar o primeiro álbum ‘Plastic Planet’. Geezer tem nos GZR o seu escape musical, a aposta foi num Heavy Metal carregado de Groove mesclado com Industrial e ‘Plastic Planet’ é provavelmente o ponto mais alto deste projecto. Para além do formidável trabalho de Geezer no baixo (como não poderia deixar de ser) outro dos grandes focos de interesse de ‘Plastic Planet’ é participação integral do incrível Burton C. Bell (Ex-Fear Factory) nas vocalizações, mais do que simplesmente acertada a escolha catapultou o álbum para um outro nível qualitativo. Aos riffs em modo Groove Thrash adiciona-se uma duplicidade vocal que roça a perfeição e um baixo com toque de mestre e o resultado são temas estupendos como ‘Catatonic Eclipse’, ‘Drive Boy, Shooting’, ‘Giving Up The Ghost’, ‘Detective 27’ ou ‘Sci-Clone’. O que se pode lamentar acerca do projecto GZR é que os dois álbuns seguintes ‘Black Science’ (1997) e ‘Ohmwork’ (2005) estão longe de chegar perto do nível apresentado em ‘Plastic Planet’. (8/10)


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