WOM Report – Ceve Laurus Nobilis Music Fest – Dia 1 @ Casa do Artista Amador, Louro – 18.07.25
O arranque oficial do Laurus Nobilis Music Fest de 2025 ficou a cargo da mistura de hard rock e heavy metal clássico dos ingleses Death Valley Knights. “Call Of The Warmaster (Volune 1)” é o seu único álbum à data, mas tendo em conta que apenas uma das suas faixas não foi editada como single, pode dizer-se que é uma espécie de best of… Boa interacção com o público, divertidos (“What are you doing with my girl?” perguntou Jake Thorsen a um dos festivaleiros que, já na Recepção ao Campista, andou com uma boneca insuflável às cavalitas) e malhas patrocinadoras de um headbang ritmado – a receita ideal para a inauguração do palco principal desta edição. “Be The Grizzly” (aoresentada como “if you’re gonna be a bear, be a grizzly”), “Tongues Of Fire” ou “Blood For The Blood God” foram algumas das músicas tocadas e que poderão ficar na memória de quem lá esteve.

Os Rising Curse foram uma inclusão tão de última hora que o cartaz ainda anunciava os Yaatana… Mas se o público estava a contar com estes, não ficou de todo decepcionado com a troca. Conheço o Rúben Marques há uns aninhos, e apesar de nunca ter testemunhado a passagem dele pelas cordas dos Tales For The Unspoken, este concerto não deixa qualquer dúvida que o lugar dele é atrás do micro. “Tertius” saiu há pouco mais de um mês e esperam-se mais concertos de promoção, pois tanto a composição como a postura de toda a banda a interpretá-lo ao vivo valem muito a pena. Neste concerto em particular, de louvar o baterista Xande Ribeiro, dos Lapses Of Humanity, que estava ali apenas com uma semana de ensaios. Num dos temas, Rúben saltou do palco para avivas as roda do mosh, o que conquista sempre uns pontinhos extra entre o público.

O thrash metal dos franco-luxemburgueses Praetor é sempre bem recebida em terras lusas – sim, o facto do vocalista/guitarrista Hugo Centeno ser natural de Coimbra dá um toque especial a esse carinho, mas é no vigor com que espalham a sua sonoridade old school que reside o mérito. E na entrega – Noémie está com uma lesão no pulso, mas se Hugo não apresentasse um amigo (Axel que “tem dado uma mãozinha” e revesado com a guitarrista, ninguém suspeitaria. Focaram-se no segundo álbum, “The Spiral Of Addiction”, lançado em Maio, e destacam-se temas como “Wicked Tongue” ou “The Lion”. Mais conhecidas foram “No Return” e a cover de Metallica (que Hugo apresentou, sarcasticamente, como uma música de Megadeth), “Master Of Puppets”.

Conforme o nome dá a entender, Queen Of Spades trata-se de uma banda com uma voz feminina. Já a acutilância das espadas… O hard rock que tocam não precisa de muita agressividade, é certo, mas faltou alguma firmeza na prestação e voz de Peggy Smits. Mesmo a chamar o público para mais perto, prometendo não morder, não foi muito convincente. Cativou a atenção, no entanto,com a sua maneira de dançar, mais apropriada a um concerto pop que rock, e o headbang efusivo do guitarrista Emilio Lanza também acabou por contagiar quem queria simplesmente divertir-se. “Impact”. “High Heels” ou “I’m A Devil In…” são alguns dos temas que estes holandeses trouxeram ao Laurus.

Os madrilenos Brothers Till We Die dão um novo sentido ao hardcore, com os guturais de Felipe Alemán dignos de uma banda deathcore, e uns arranjos eléctrónicos a-la metalcore aqui e ali – tudo toques do universo ‘core mas que, efectivamente, dão um resultado… diferente. É bom? Isso depende do gosto pessoal de cada um: enquanto uma grande parte estava confusa, outros tantos rendiam-se à violência dos breakdowns e saltos em espiral de Mario Vian. Além disso, parece que há meses que não tocavam ao vivo, tendo a última vez sido precisamente em Portugal (Reign Of Fury Fest, Corroios, em Novembro passado), pelo que talvez alguns dos presentes estivessem já familiarizados com aquela descarga de adrenalina e temas como “Path Of Fire”, “Hell On Earth” ou “Hand To Hand”. Nesse outro concerto tinham a formação completa, de cinco elementos, enquanto que aqui apresentaram-se reduzidos a três – não sei se é uma alteração pontual, temporária ou definitiva, mas pareceu servir o seu propósito.

Quem também sofreu alterações na formação e acabou com um vocalista português foram os Voodoo (“Somos de Londres, mas eu sou daqui. Eles não percebem nada de português, por isso podem insultá-los que eles não vão perceber”, disse Bruno logo no início do concerto). Mas a maneira como trouxeram o seu heavy rock, cheio de groove, não deu moyibos para insultos. E além da boa disposição, Bruno demonstrou ser detentor de uma voz extratordinária e uma presença em palco a condizer, dando uma vivacidade que me parece faltar às versões de estúdio de “The Purge”, álbum de estreia que estão a promover e de que destaco “Your Friend”, “Waltz Of Evil” e ”$ GOD $”.

Os Éden abriram a primeira edição do Laurus Nobilis, mas não me recordo de nenhuma celebração dos seus 20 anos… Desta vez fizeram questão de anunciar a festa dos 30. O público podia até nem conhecer a banda, mas o seu carismático vocalista, o “Capitão” Aguiar – organizador do festival – todos conheciam e não arredaram pé, nem que fosse por curiosidade. O que é certo é que, com tanta banda de metal no cartaz, e foi o rock falado (estilo Mão Morta) dos Éden que originou as primeiras ondas de crowdsurf! Acho que não tocaram “S. Sinfróneo” mas foi vestido de santo que Aguiar entrou em palco; já “Piolho”, “Absinto”, “Voa” e “Animais Como Prextexto” – principalmente esta última – fizeram as delícias dos presentes. E as histórias que Aguiar contou, sobre aquelas três décadas, que fez os concertos seguintes atrasar; mas era um aniversário, tal atraso não pôde ser levado a mal. O que não foi muito agradável foram as garrafas de água que Aguiar atirou para o público mais para o final, em típica atitude de rock star, e que acertou num festivaleiro. “Felizmente”, foi no próprio filho, pelo que não deve correr risco de enfrentar um processo.

Acompanho os Blame Zeus há quase dez anos e fico contente por ver como cresceram. A voz da Sandra sempre teve um timbre forte, mas à medida que o tempo foi passando e o à-vontade em palco tornou-se mais natural, a voz soa ainda mais firme. Toda a banda, aliás – o guitarrista Bruno Rodrigues, que substituiu Paulo Silva, estava especialmente energético. A base de fãs também pareceu reconher esse progresso e a Casa do Artista Amador estava à pinha para ver, ouvir e cantar o rock/metal progressivo da banda do Porto – “Speechless”, “The Apprentice” ou “Burning Fields”, ninguém falhou um verso.

Depois de cancelarem a sua presença na edição do ano anterior, por doença de Seregor, os Carach Angren foram chamados novamente às terras de Famalicão, agora como cabeças de cartaz do primeiro dia. O trabalho mais recente continua a ser “Franckensteina Strataemontanus”, já com cinco anos, mas a excelência das suas actuações ao vivo supera a vontade de ouvir material novo. E quando Seregor, logo na segunda música (“The Carriage Wheel Murder”), disse que gostava muito de nós, mas não da maneira que nos mexíamos, pedindo uma wall of death, os moshers não hesitaram em mostrar ao frontman a sua própria performance exemplar. “The Necromancer”, o tema-título do referido último trabalho, “Monster”, “Bloodstains On The Captain’s Log” (a fechar, já no encore) – todo um rol de êxitos ao qual, mesmo quem não aprecia muito black metal melódico, não ficou indiferente.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Laurus Nobilis Music Fest
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