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WOM Report – Ceve Laurus Nobilis Music Fest – Dia 2 @ Casa do Artista Amador, Louro – 19.07.25

A abertura do segundo dia ficou nas mãos dos galegos Cabodano, vencedores do Laurus Nobilis Metal Battle. Não estive presente nestas sessões, mas pela prestação dada, parece-me ter sido uma vitória mais do que merecida. Metalcore melódico bem estruturado, cantado na sua língua natal, e trazido num uniforme negro, sóbrio, com o logo da banda na lapela e um colarinho de padre a completar a endumentária. Mero pormenor que em nada afecta a música, claro, mas quando vamos ver um concerto, queremos mais do que aquilo que podemos experenciar em casa. Com aquele aparato, mais as caretas e correrias de Buitre, que acabou mesmo por saltar para o meio do mosh e ser retornado ao palco através de crowdsurf, o impacto de “A Ira Da Mente”, “Carniceiros” ou “No Lombo Dun Corvo” – que muitos já pareciam conhecer – foi mais requintado.

Também da Galiza, mas de Vigo (os Cabodano vieram de Santiago de Compostela) chegou o heavy metal com cheirinho a southern rock dos No One Alive. Valentin Fernandez tem um timbre agudo potente, com o calibre certo, e em conjunto com os restantes companheiros de banda, contradiz o nome desta, mostrando um espírito e uma sonoridade muito vivos. Depois do EP “The Grim Reaper”, lanlado em 2019, o álbum de estreia “Don’t Leave Your Child Alone” viu a luz do dia em 2023, e é o trabalho que ainda estão a promover, o seu último single “A Trip To Your Life” colocado no YouTube há um mês. “A Reason Why?” e “Come To My Side” são outros dos temas que conquistaram o Laurus.

O metal sinfónico dos Enemy Of Reality torna-se interessante na medida em que grande parte da orquestração é baseada em demotiko (o folk grego) – e como tal, as melodias são boas tanto para abanar a cabeça como dançar. Em “De Se Thelo Pia”, aliás, Iliana Tsakiraki convidou o público a fazê-lo com ela, e mais do que querer agradar à rapariga, foi responder a um instinto natural causado por aquela sonoridade. Também em “The Vineyard Song” e “Baptised In Fire” a reacção foi tal que não consegui perceber se já conheciam a banda e o mais recente álbum “Where Truth May Lie” ou estavam a ouvi-lo pela primeira vez, dada a festa em frente ao palco.

Se no dia anterior a opinião dividiu-se sobre o hardcore dos Brothers Till We Die, sobre o dos seus conterrâneos Dreadcult foi unânime -aquela é a receita certa. Sendo mais perto da fronteira (Vigo), os vários concertos que deram em Portugal para promover o trabalho de estreia “Rot”, e o apoio dado pelos media underground – a quem o vocalista brasileiro Guilherme agradeceu, salientando que o nosso trabalho é muito importante -, tenham pavimentado um certo reconhecimento entre os presentes, mas o mérito do sucesso daquele concerto foi o vigor em palco de toda a banda e a potência de temas como “XI” ou “Lonely Misery”.

Os Sacred Sin são a personificação da expressão “dispensam apresentações” entre a comunidade do metal nacional. São já 34 anos de carreira – mais dos que de vida de muitos entre o público – mas a única marca deixada pela idade é o à-vontade em palco e a destreza de quem pode dedilhar aquelas cordas e atacar aquelas peles e pratos de olhos fechados. “Darkside” e “Eye M God” já atingiram o estatuto de hino,  mas “Born Suffer Die” ou “Storms Over The Dying World” já começam a ser vistos como tal.

“Are you ready for some Swedish old school death metal?” induz em erro quanto à nacionaliade dos Kaivs, uma vez que são italianos; mas consideram tocar aquele tipo de death metal específico daquele país, e foi assim que Max Foam se dirigiu ao público. Formados apenas há três anos, o álbum “After The Flesh” parece ter sido muito bem recebido pelos críticos – e pelo público do Laurus foi de certeza. “For Satan Your Flesh, For God Your Soul”, “Blooduniverses” e “Horrend” são as suas músicas mais fortes, e ainda costumam apimentar o seu set com “The Shreds Of Sanity” dos Bolt Thrower e “Cryptic Realms” dos Massacre.

Os Dust Bolt já carimbararam passagem por quase tudo o que é festival nacional, pelo o seu thrash metal germânico já é bem conhecido em terras lusas. “Sound & Fury” saiu o ano passado, destacando-se “I Witness” e “Leave Nothing Behind”, mas foram as mais rodadas “Killing Time”, “Trapped In Chaos”, “Soul Erazor” e “Agent Thrash” que mantiveram o rebuliço aceso – mesmo quando começou a chover.

É certo que foi essa chuva que fez encher a Casa do Artista Amador, mas em boa hora o fez – os albaneses Morgu revelaram-se a maior surpresa do festival. A maneira como combinam doom, death e prog consegue juntar os adjectivos “brutal” e “requintado” na mesma frase, e a sua performance de uma entrega e profissionalismo de se lhe tirar o chapéu. A promover o álbum de estreia “Oceangrave”, a instrumental “A Song With No Beginning” fechou o concerto, com o vocalista Vald a atirar algumas t-shirts da banda para o público.

Ainda chovia bem quando “Sincere” abanou o palco principal, mas poucos foram os que preferiram ver Soen através das janelas da Casa do Artista Amador: a soberania destes suecos não é novidade, mas fascina sempre quem os vê. E ao fim de 20 anos, o maneirismo e voz de Joel Ekelöf continuam a dinstingui-lo como “um senhor” do metal progressivo. As músicas que os fãs querem ouvir são tantas que certamente alguma ficou por tocar, mas dificilmente não vibraram com as que foram tocadas. “Savia”, “Memorial”, “Monarch”, “Lotus”… e “Antagonist” e “Violence” no encore? Não, não há lugar a reclamações.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Ceve Laurus Nobilis Music Fest


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