WOM Report – Vagos Metal Fest – Dia 2 @ Quinta Do Ega, Vagos – 01.08.25
O dia começou mais uma vez com bastante calor durante a atuação dos Haunted Gods. A banda espanhola de power metal com voz feminina, apresentou o trabalho homônimo de estreia, começando com “The Ritual” tema que também abre o álbum. A sonoridade da banda é bastante melódica, em busca de um ambiente épico, com alguns momentos de velocidade e bons solos de guitarra. A vocalista Txell foi procurando puxar pelo público que a esta hora ainda não era muito, mas que se mostrou bastante acolhedor. A encerrar ficaria um dos melhores temas do concerto “Revelations”.

Methedras no universo de J.R.R. Tolkien, é o nome do pico das Montanhas Nebulosas (Misty Mountains) localizado mais a sul. Acaba então a fazer sentido que a banda italiana tenha entrado em palco ao som de um tema da banda sonora do Senhor dos Anéis, que se passa precisamente nessas montanhas. A ligação ao universo Tolkieniano ficaria por aqui no entanto, com uma mudança de tom no momento em que começaram a tocar “Another Fall”, um tema onde se destaca um bom riff carregado de groove. Com o concerto praticamente todo focado no álbum mais recente “Human Deception”, os Methedras foram mostrando o seu thrash metal com elementos de death e groove, sempre muito energéticos e a puxar pelo público, que para o segundo concerto do dia, começava a ser numeroso. “Injected Thoughts” e “The Abyss” foram alguns dos destaques, enquanto “Psychotic” foi dedicado a Ozzy Osbourne.

Jacob Cámara que já tinha estado presente duas vezes em Vagos ao comando dos Vendetta FM, desta vez trazia um projecto mais recente, House of Dawn. Sendo uma banda espanhola, os House of Dawn apresentam um hard rock completamente baseado no som americano, juntando elementos country e de rock sulista. Um dos melhores exemplos tocados em Vagos foi o mais recente single, “Freedom” (cuja capa tem uma águia). Ao longo do concerto passaram temas onde se destacaram a melodia de “Be Immortal”, o belo riff de “Chase Your Goals” e a rocker “Kick Hard”. Como tem sido hábito Jacob Cámara esteve muito ativo a interagir com o público que mesmo no calor que se sentia, e não sendo este um concerto dado a moches, mostrou bastante apoio.

Seguiram-se os italianos Lunarsea com o seu Death Metal Melódico. A começar com material do mais recente “Earthling/Terrestre”, a banda abriu com “Light-Hearted In An Ergonomic Resin”, tema que inicia com uma introdução instrumental até o vocalista Alessandro Iacobellis entrar em palco. Apesar de existirem vários momentos em que a voz faz esse trabalho, a grande parte da melodia do death metal dos italianos vem das guitarras, com Fabiano Romagnoli a ter vários solos e detalhes de grande qualidade ao longo das músicas. Um bom exemplo disso é o tema “The Earthling”. Em “In Expectance” entram alguns elementos progressivos tendo quase momentos Dream Theater, com “Magniture 9.6” e “Five Sided Platform Shape” a trazer bastante agressividade. Uma boa demonstração da banda em Vagos.

Depois da vertente melódica do Death Metal os portugueses Karbonsoul apresentaram o seu Blackened Death Metal em Vagos. Começando com o single mais recente “The Prophecy” e passando por temas do EP “3Logy”, os Karbonsoul trouxeram muito peso e brutalidade ao recinto, lançando o maior caos entre o público até então neste segundo dia. O sol e o calor não demoveu os presentes em Vagos que mantiveram o circle pit em movimento o tempo todo. A vocalista Mafalda Hortas (Muffy), como sempre, mostrou-se imparável à frente do colectivo, na interacção com o público e postura em palco, mas especialmente no poderoso gutural que dá ainda mais agressividade e alma ao som dos Karbonsoul.

Continuaríamos no panorama do metal português, com os Hills Have Eyes. A banda de Setúbal foi uma das muitas que acabaram a sentir o impacto da pandemia, com o concerto em Vagos a marcar um regresso aos palcos depois de quase sete anos de pausa. “The Bringer of Rain” mostrou que uma das grandes forças do metalcore nacional regressava com mais força que nunca, e entre temas como “Agnes” ou “Hold Your Breath” a energia da banda teve um efeito contagiante no público. Um circle pit activo, muito crowdsurf e uma wall of death no início de “Goodbyes”, organizada pelo próprio público com ajuda dos festivaleiros vestidos de equipa de arbitragem que foram “regulando” o moche ao longo do festival (no fundo, Vagos a ser Vagos). Muito peso, intensidade, breakdowns poderosos e melodia ajudaram a criar um grande ambiente. O vocalista Fábio “Eddie” Batista foi muito comunicativo com o público entre músicas, e de forma aberta e sincera partilhou como era especial o regresso aos concertos, e a presença em Vagos. O público respondeu com uma recepção calorosa e muito apoio.

Com a chegada dos Angelus Apatrida ao palco Illegal estava garantida uma sessão de thrash metal com qualidade ao estilo dos anos 80. “One of Us” abriu o concerto e entre destaques como “Indoctrinate”, “Cold” ou a velocidade ao estilo Overkill de “We Stand Alone” foi-se criando um ambiente fantástico com muito crowd surf e um grande circle pit entre os muitos que vieram assistir à banda espanhola. Mais uma vez a boa qualidade de som ajudou á festa, e deixou sentir toda a intensidade e velocidade da música dos Angelus Apatrida sem o som parecer enrolado e confuso. No palco estava uma banda cheia de atitude, e interactiva, com o vocalista Guillermo Izquierdo a escolher falar com o público em “portunhol” (expressão usada pelo próprio) em vez de em inglês. Não só foi bem compreendido, como muito bem acolhido em Vagos. Para a intensidade de “Give ‘Em War” Guillermo acabaria por pedir ajuda aos “árbitros do moche” para preparar o circle pit. “You are Next” terminou mais um excelente concerto nesta edição do festival.

Com os Rhapsody of Fire era altura para o Power Metal Sinfónico ter o seu momento em Vagos. A história da banda italiana entrou numa nova era quando depois de algumas saídas em 2019, o teclista Alex Staropoli ficar como o único membro original da banda. Neste concerto as músicas acabariam por oscilar entre a fase mais clássica, do primeiro álbum até “Symphony of Enchanted Lands II” e em temas dessa nova era. A possante voz de Christopher Lee anunciou a entrada da banda, a abrir com “Unholy Warcry”, cuja melodia começou a ser entoada de imediato pelas primeiras filas do público. “Rain of Fury”, um dos melhores temas recentes, e “The March of the Swordmaster” continuaram a manter o público animado. O novo trabalho chegaria pelo tema homónimo “Challenge the Wind” e “Kreel’s Magic Staff”. Por entre a animação, com o público a saltar com a banda, ou a cantar os clássicos, houve um momento mais calmo em “The Magic of the Wizard’s Dream” em homenagem a Christopher Lee que participou na versão original. É difícil não ter alguma nostalgia por uma formação em que esteja presente o núcleo duro de Staropoli, Turilli e Lione, mas o facto é que a composição atual mostrou-se bem sólida ao vivo com destaque para Giacomo Voli que não só teve uma boa prestação vocal como mostrou boa presença em palco. Seria com dois temas obrigatórios que os Rhapsody of Fire terminariam a presença em Vagos, o épico “Dawn of Victory” cantado em coro pela audiência, e “Emerald Sword” onde inesperadamente houve uma wall of death.

Depois de Rhapsody of Fire é caso para dizer “e para algo completamente diferente…” quando a banda seguinte são os Dying Fetus. Entre o Technical/Brutal Death Metal e o Grindcore, antecipava-se uma tareia sonora em Vagos e o trio não desapontou. Blast beats, uma dose dupla de guturais verdadeiramente cavernosos do mentor e guitarrista John Gallagher e do baixista Sean Beasley, e o som brutal e grave que se sentia fisicamente, levou à sessão mais intensa do dia no que toca ao circle pit. Pelo caminho foram passando um pouco por mais de 30 anos de violência sonora, com temas como “From Womb to Waste”, “Grotesque Impalement”, “Epidemic of Hate” ou “Wrong One to Fuck With”. Entre o material mais recente destaque para “Unbridled Fury” e a nova música “Into the Cesspool” que a banda vem tocando ao vivo mas ainda não foi editada. Muita gente aguardava este concerto como um dos momentos mais intensos de todo o festival, e seguramente não saiu desapontado.

Como cabeça de cartaz neste segundo dia estariam os Moonspell. A maior instituição do metal nacional dispensa apresentações, sendo de destacar o facto de uma banda portuguesa encabeçar um dos dias em Vagos. A própria banda fez questão de o sinalizar e como referiu Fernando Ribeiro em “sinal de respeito”, trouxe uma setlist com alguns dos chamados “deep cuts”. Foi claro desde o início que os presentes estavam a embarcar numa noite especial com a abertura do concerto a ser composta por uma sequência saída do álbum “The Antidote”, com “In and Above Men”, “From Lowering Skies” e “The Southern Deathstyle”.
Nos 30 anos que passaram desde o lançamento de “Wolfheart”, os Moonspell foram construindo um corpo de trabalho que tem um volume e qualidade assinaláveis, onde não faltam temas pouco tocados que mereciam mais rodagem. Em Vagos, a banda foi ao baú e trouxe algumas pérolas que não tocava há alguns anos (ou tocava pouco), como “Soulsick”, “Butterfly FX”, “Blood Tells” ou “Em nome do medo”. No entanto, não faltaram momentos obrigatórios como “Opium”, “Vampiria” e a inevitável “Alma Mater” com uma explosão de confettis verdes e brancos, e que deixou o público a cantar a melodia em coro já depois da música terminar. Adicionando na componente visual do concerto pirotecnia que lançou chamas em alguns temas, no palco sabemos sempre o que contar com os Moonspell. Uma máquina muito bem oleada e consistente que vai dar um excelente concerto, com Fernando Ribeiro como sempre a comunicar com o público. A alcateia compareceu em número e com entusiasmo, criando um ambiente fantástico. Entre os restantes temas a destacar ficariam “Finisterra”, “Extinct” e “Todos os Santos”, que são também uma prova de como os trabalhos mais “recentes” da banda continuam a produzir clássicos. O fim foi feito com os uivos de “Full Moon Madness”, e não poderia ter sido de outra forma. No segundo dia do Vagos Metal Fest a noite pertenceu aos lobos.

Esta edição do festival foi muito forte no que toca ao Thrash Metal, e depois dos cabeças de cartaz a tarefa de encerrar a noite coube aos thrashers americanos Warbringer. Uma intro épica trouxe a banda até palco para arrancar com a “riffalhada” de “Firepower Kills” onde se começaram a gastar as energias que restavam. A banda da Califórnia já conta com 20 anos de carreira e não visitava Portugal há mais de 10. Em boa altura regressaram, entregando uma excelente sessão de thrash á antiga, com a velocidade de “Hunter-Seeker”, “Severed Reality” ou “Living In a Whirlwind” ou o peso mais mid tempo e cruel de “Crushed Beneath the Tracks”. Em palco muita intensidade, liderada pelo vocalista John Kevill, sempre energético e constantemente a puxar pelo público que se manteve em grande número mesmo no último concerto da noite.
De “Wrath and Ruin”, editado este ano, ficaria “The Sword and the Cross”, lançada após um solo de guitarra, e convidativa a muito headbang, e “Neuromancer”.

Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
Agradecimentos Illegal Productions
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