WOM Report – Vagos Metal Fest – Dia 4 @ Quinta Do Ega, Vagos – 03.08.25
O último dia do Vagos Metal Fest começou com a prata da casa, com a presença dos Diesel-Humm!. A banda de Vagos repetia a presença no festival, com a família na primeira fila. Existiam algumas alterações na formação quando comparado com a última participação no festival. Em vez de um dueto com voz feminina e masculina, Luís Santos passou a ser o único vocalista, e a inclusão de violino, deu uma cor diferente e interessante aos temas. Entre músicas como “Nature’s Screaming”, “Diesel’s Back” e “Monster of Silence”, o hard rock dos Diesel-Humm! animou mais uma tarde de grande calor. Com “(Stop) No More War” foi feita uma referência a um mundo em tumulto, e os temas finais contaram com o convidado especial Sérgio Carrinho dos Godvlad, incluindo a homenagem a Ozzy com “Paranoid”.

Vindos da Austrália, os Jamart proporcionaram um momento diferente em relação ao resto do festival. Na abertura com “MoDown” ao iniciar com uma secção instrumental onde uma dançarina em palco ia fazendo uma dança entre o contemporâneo e o ritualístico, ficou claro que esta seria uma banda com uma abordagem diferente. A sonoridade dos Jamart situa-se no metal progressivo, com elementos alternativos e de groove. Acima de tudo existe uma abordagem que pretende dar um ambiente espiritual à música, onde flutuamos entre momentos calmos, introspectivos e melódicos, e, riffs pesados com groove e alguma agressividade. Um bom exemplo dessa dualidade é o tema “Floors”. “BanCkull” tocado já mais no fim da atuação, por outro lado, apresentou uma faceta mais agressiva, usando inclusive gutural.

Completamente diferente, mas outra presença singular no festival foram os Chontaraz, banda formada na Noruega mas com ligações gregas por via do baterista Narwhal, ex -membro dos Septicflesh.
Com uma sonoridade que junta elementos de Metal Gótico e Industrial, o colectivo apresenta também uma aposta na vertente visual com as pinturas que envergam, e com a postura teatral do vocalista Chontaraz. O riff forte de “Ra Fa El” abriu o concerto onde a banda aproveitou para apresentar o novo “Phantom of Reality”, de onde saíram alguns dos temas em destaque como “Prayer To The Masses”, o single “Scream” ou “You’re The One to Blame”. O peso maquinal do industrial, melodias negras e memoráveis foram uma constante ao longo do concerto. A presença dos Chontaraz foi uma boa apresentação da banda ao público portugues, e uma agradável surpresa no cartaz.

Originalmente estava prevista a atuação dos Stercore a esta hora, mas a caminho do festival um acidente de automóvel (felizmente sem consequências graves), impediu a banda de estar presente. Assim, numa confirmação de última hora o espaço acabaria por ser dado aos portugueses Ladon Heads. Estamos perante uma banda de heavy metal tradicional, com o som da NWOBHM bem presente, desde logo no tema de abertura “Stealers of the Light”. Com um movimento de “renascimento” deste estilo mais tradicional a crescer internacionalmente ao longo dos últimos anos, foi muito positivo ter este tipo de som representado em Vagos. Liderados pelo vocalista e guitarrista Fernando Ferreira, que atualmente é também baixista dos Toxikull, os Ladon Heads têm nos planos lançar o álbum de estreia em Outubro, tendo tocado o primeiro single “Born In Steel”. Um convite inesperado, mas que a banda aproveitou da melhor forma para se dar a conhecer.

Seguiríamos com sonoridades mais extremas com outra banda nacional, os Okkultist. Numa setlist dominada pelo trabalho mais recente “O.M.E.N.”, “Death To Your Breed” foi o tema escolhido para dar início às hostilidades. Death Metal de grande qualidade, rápido, intenso e que conseguiu criar uma atmosfera maléfica em acordo com a temática ocultista da banda. Em palco a vocalista Beatriz Mariano demonstrou uma grande presença como figura central, e um gutural impressionante. Guitarras densas, bons solos e bateria imparável, trouxeram muita agressividade, e o público reagiu com entusiasmo. Por entre destaques como “Thy Blood, Thy Flesh, Thy Sacrifice” e “Crimson Ecstasy” animaram a audiência, enquanto em palco a banda ia tendo boas interações entre si. Para o fim ficou o tributo a Alexi Laiho com uma cover de “Sixpounder” dos Children of Bodom.

Mudávamos para o palco Vagos Metal Fest para ouvir o Hardcore dos brasileiros Worst. Uma forma simples de resumir este concerto seria dizer que foi uma das maiores descargas de adrenalina dos quatro dias de festival. A banda vinha determinada a partir tudo, visível pela grande energia que colocou desde o início do concerto. À frente do palco, muita gente visivelmente entusiasmada e eletrizada pela banda, com o vocalista Thiago Monstrinho a protagonizar um dos melhores momentos do concerto ao saltar para as grades junto ao público e a cantar de forma intensa, partilhando por vezes o microfone. Cantando maioritariamente em português, passaram por temas como “Te Desejo Todo Mal do Mundo” ou “Desenterrado”, e também por alguns em inglês como “Left For Shit” e “To the Brink of Death”, este último do novo álbum lançado este ano.
A energia em palco tinha reflexo no público com um grande circle pit ao longo do concerto e muito crowdsurf. No último dia do festival, ainda existiam bastante forças para fazer a festa.

Originalmente seria a vez dos Thrown, mas com a banda sueca a cancelar alguns concertos, foi adicionada a confirmação dos britânicos Desolated. Assim depois dos Worst, o hardcore continuava dono e senhor do Vagos, e o público que se juntou em frente do palco Illegal não mostrava sinais de cansaço logo no início com “Numb”. A apresentar o novo álbum “Finding Peace” e com um novo vocalista Tony Evans a juntar-se à banda o ano passado, os Desolated entregaram-se ao concerto com grande energia. Evans mostrou-se muito comunicativo com o público, e acabaria por lembrar que quer a banda, quer o público estavam ali para passar um bom bocado. Foi precisamente isso que aconteceu com o necessário circle pit, e muito crowdsurf, que a banda fez questão de ir pedindo. Pelo caminho temas como “Victim”, “Therapy” ou “Death By My Side”, agitaram as águas.

Por esta altura a luz do dia ia esmorecendo em Vagos, e íamos chegando à noite. No palco, no entanto, seria tempo para a escuridão descer de vez com a chegada dos Gorgoroth. Depois de o dia anterior ser encabeçado pelos Mayhem, voltávamos a uma banda da vaga de Black Metal Noruegues. Mergulhados o concerto todo em luz vermelha, figuras em palco com corpse paint e espigões, os Gorgoroth foram capazes de gerar um ambiente intenso e ritualístico de negrume, pautado por um silêncio e distanciamento frio que era apenas quebrado pelo ocasional anúncio da música seguinte feito pelo vocalista Hoest. Esse distanciamento e silêncio é no entanto parte do ambiente e não impede a banda de criar uma ligação com público, que esteve perante o palco Vagos Metal Fest em bom número, existindo mesmo circle pit e crowdsurf. Passando um pouco por toda a discografia não faltaram temas como “Blood Stains the Circle”, “Cleansing Fire” ou a furiosa “Revelation of Doom”. Num concerto onde a intensidade nunca amainou, os Gorgoroth trouxeram a fúria do black metal dos anos 90 a Vagos. A encerrar ficariam “Kala Brahman” e “Unchain My Heart!!!”.

Num festival onde problemas foram quase inexistentes, o início do concerto dos Decapitated foi marcado por um problema técnico que obrigou a banda a sair momentaneamente do palco. O público do Vagos com o bom humor que o caracteriza chegou a gritar em coro “Só mais uma”. No entanto, quando regressaram ao palco passado pouco tempo a banda polaca voltou para cerca de uma hora de violência sonora sem misericórdia. Com o foco naturalmente mais concentrado em material mais recente, e em particular no último álbum “Cancer Culture”, a banda tem vindo a colocar mais groove no seu technical death metal, e isso é bem visível em temas como “Earth Scar” onde à brutalidade se junta um riff em é impossível não fazer headbang. Com o novo vocalista Eemeli Bodde a dar muito bem conta do recado na entrega vocal e no “domínio” das hostes, ao longo do concerto não faltou um grande circle pit constante. Por entre temas mais clássicos como “Names” ou “Spheres of Madness” ou os mais recentes “Suicidal Space Programme” e “Iconoclast” a brutalidade nunca parou. Aliás a boa qualidade de som permitiu apreciar a densidade da música dos Decapitated, algo que se sente quase fisicamente.

O último cabeça de cartaz em Vagos seriam os americanos Hatebreed que prometiam uma atuação verdadeiramente explosiva com a sua junção entre Hardcore e Metal. Aliás a pirotecnia que trouxeram surgiu logo no primeiro tema “I Will Be Heard”, onde chamas quase da altura do palco Vagos Metal Fest foram disparando, enquanto o concerto ia aquecendo. Com o guitarrista Wayne Lozinak a recuperar de problemas de saúde, a banda de Jamey Jasta pode contar com Matt Bachand guitarrista dos Shadows Fall na guitarra. Os Hatebreed entraram com muita atitude e energia, algo que foram capazes de manter o tempo todo, perante um público que mostrava um entusiasmo palpável. Numa noite onde a banda passou por toda a carreira com um foco especial nos primeiros álbuns, temas como “Before Dishonor”, “A Call for Blood”, “As Diehard as They Come” e “To the Threshold” foram mostrando toda a potência dos Hatebreed e incendiaram o recinto com muito circle pit e crowd surf. Ao mesmo tempo, temas como “In Ashes They Shall Reap” e “Serve Your Masters” apresentaram groove e riffs que pedem headbang.

Antes de “Destroy Everything” , Jamey Jasta recordaria como os Sick of It All foram os impulsionadores da wall of death, e que no caso dos Hatebreed, tinham a ball of death. Lançariam depois uma bola insuflável com “Ball of Death” inscrito juntamente com o logotipo da banda, e que iria saltitando pelo meio do público todo o resto do concerto, aproximando-se algumas vezes das chamas que iam surgindo ao longo das músicas.
Jasta não só mostrou uma enorme energia em palco, como se manteve comunicativo, parando para falar com o público de uma forma muito eficaz, que facilmente criou uma ligação entre banda e audiência. Para grande parte dos presentes esta era a quarta noite de festival. O cansaço aperta, o corpo dói, mas a atitude dos Hatebreed funcionou como um autêntico tónico, e esse cansaço nunca se manifestou. Pelo contrário, estivemos com uma banda a todo o vapor, e um público que criou um grande ambiente.

Tem-se criado uma tradição no Vagos Metal Fest no que toca ao último concerto do festival. Com a honra a cair sobre os Serrabulho por duas vezes, e o Quinteto Explosivo o ano passado, manda a tradição que o festival termine com festa rija e sentido de humor. Este ano ficou a cargo dos checos Gutalax, uma banda de goregrind com uma temática menos gore, mas mais escatológica. O nome soa a laxante? Não é confusão, é mesmo por concepção. A banda ainda não tinha entrado em palco era visível já alguns elementos do público iam fazendo circle pit ao som ambiente vestidos com fatos de biohazard, semelhantes aos que a banda usa.
Os Gutolax entraram em palco ao som do tema de “Caça Fantasmas”, e depois das duas primeiras músicas, o vocalista Maty aproveitou para agradecer o público por ter comparecido ao último concerto do festival, e especialmente não se ter ido embora depois de ouvir a “shitty music” do colectivo. O tom seria este o resto do concerto, em palco uma banda bem humorada ia tocando temas como “Poopcorn”, “Robocock”, “Diarrhero” ou “Fart And Furious”, aproveitando para falar um pouco sobre cada música. O público por seu lado ia fazendo a festa, alguns munidos de piaçabas, outros lançando rolos de papel higiénico, e com um grande circle pit onde alguns caixotes do lixo iam fazendo crowd surf, ocasionalmente com alguém lá dentro. Mais um ano em que a tradição se cumpre, e depois dos vários dias de festival, e foi com humor e uma dose enorme de caos que o Vagos Metal Fest chegou ao fim.

Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
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