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A Day At The Movies – Metallica – S&M 2

Esta foi uma surpresa inesperada. Confesso que a experiência de ver concertos numa sala de cinema requer alguma adaptação. Neste ponto, a minha única experiência foi precisamente com os Metallica e infame “Through The Never” que teve os resultados mistos que todos conhecemos, em termos de experiência cinematográfica. Surgindo a oportunidade para ver a banda novamente num cinema, a comemorar os vinte anos do concerto e lançamento do álbum ao vivo original, obviamente que o interesse obrigou a que estivéssemos presentes, sabendo que, tal como o original, seria uma experiência que nos traria sentimentos contraditórios. O principal está precisamente no alinhamento. Lembro-me que em 1999 de sentir que se tinha perdido uma oportunidade em relação a algumas das escolhas. E nesse aspecto, esta celebração acaba por cometer alguns dos mesmos erros.

Sendo uma celebração do original, essa acaba por ser outra limitação, sendo que seria muito mais interessante não termos temas repetidos, embora existam sempre alguns que teriam de estar presentes – já lá vamos a esse ponto também. O início com a “Ecstasy Of Gold” e “The Call Of Ktulu” foi um regresso ao passado mas mesmo assim, a experiência de ver e ouvir no cinema consegue torná-la uma experiência obrigatória, pelo impacto do sistema de som que dificilmente consegue ser igualado em casa e arrisco a dizer até num concerto. “For Whom The Bell Tolls” também surge de forma familiar mas a primeira surpresa (agradável) surge com a “The Day That Never Comes” onde os dois mundos se fundem muito bem. A luta entre o previsível e as surpresas foi de certa forma desigual. Se por um lado “The Memory Remains” surge quase de forma apenas a puxar pela reacção do público – mais do que pelas qualidades sinfónicas da música, a “Confusion” foi um tiro ao lado, ao contrário da “Moth Into Flame” do mesmo álbum. “The Outlaw Thorn” é uma clara homenagem à primeira edição. Se na altura não fazia sentido (nem pelo potencial sinfónico, nem por ser uma faixa que a banda tocava habitualmente ao vivo), agora muito menos, além da já citada nostalgia. Seria mais interessante ver uma “Harvester Of Sorrow” (como é que ninguém tem vontade de orquestrar um monstro daqueles?!), uma “Fade To Black” ou até mesmo uma “All Nightmare Long”.

“No Leaf Clover” fez sentido, obviamente e a “Halo On Fire” resultou bem. E a partir daqui é que a coisa se intensifica e a banda arrisca mais, outra vez com resultados mistos. A orquestra tocou sozinha uma peça de Prokofiev, interessante, e a banda juntou-se à orquestra para tocar outra de Mosolov. Neste aspecto, fez-nos lembrar um pouco a experiência dos Deep Purple, em que a banda está algo fora do seu ambiente, mas não completamente. Interessante como experiência mas nada a revisitar ferverosamente. Outra experiência que foi algo estranha foi de ver James a cantar a The Unforgiven III apenas com a orquestra. Se o tema em si é menos conseguido da trilogia onde se insere, sem a visceralidade das guitarras, acaba por ser algo aborrecido. Interessante, mas aborrecido. Outro momento que os fãs da banda dificilmente quererão revisitar mutias vezes. Já a “All Within My Hands” foi um apontamento engraçado, com a banda a usar os arranjos acústicos que já tinham sido postos em prática antes. Confesso que foi uma surpresa agradável (a expectativa para ver músicas do “St. Anger” tocadas ao vivo é a rasar o nulo) e até fica a ideia de recuperar/redimir o álbum tornando-o acústico e cortando muitas das suas gorduras. Deveriam ser uns quarenta minutos interessantes. Divago.

Outro momento especial foi o do solo do violoncelista (não sei se será a designação correcta, se era um violoncelo ou contrabaixo) da Orquestra Sinfónica de São Francisco, que interpretou de forma bastante livre e com alguns pontos de identificação com a “Anesthesia) Pulling Teeth” em homenagem a Cliff Burton sozinho e depois com Lars Ulrich na bateria. Foi mais um miminho aos fãs do que propriamente um momento de excelência de musical, principalmente quando entra a bateria onde os dois não se enquadram/encaixam de forma convincente. E a partir deste ponto até ao final temos aquelas faixas emblemáticas do primeiro que são aqui repetidas, sendo algo previsível para quem desejava ver/ouvir outras coisas. “Wherever I May Roam”, “One” (com uma introdução alternativa e até bem conseguida) e “Master Of Puppets” são incontornáveis e em conjunto com a “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”, também funcionam como homenagem a Michael Kamen (principalmente a “Nothing Else Matters” que foi o primeiro tema orquestrado – que a banda chamou como “versão de música de elevador” quando a lançou como lado B do single).

A avaliar pela forma como a sala reagiu efusivamente a estes dois temas coloca em perspectiva muita coisa. E por falar em reacção, não deixou de ser curioso ser quase impossível distinguir entre as palmas e exaltações do público do concerto com as dos assistentes na sala de cinema. No final fica a vontade de querer pegar no Guitar Pro e começar orquestrar os temas que teriam mais impacto sinfónico do que os escolhidos e a certeza de que perante um catálogo rico que a banda tem, seria impossível agradar a todos. Mediante as limitações entre o querer homenagear o passado (S&M original, Cliff Burton e Michael Kamen) apesar de serem notórias algumas mudanças em relação às orquestrações originais, querer apresentar faixas novas, tocar as inevitáveis e mesmo assim sair fora da zona de conforto, este é um resultado aceitável. Se bem que sair da zona de conforto a sério seria não tocar a “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”. Para eles e para os fãs. Sobretudo para os fãs. Vale pela experiência que dificilmente terá o mesmo impacto, noutro contexto que não este.

Nota 7/10
Review por Fernando Ferreira


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