Deep Purple, UHF @ Meo Arena, 04 de Julho de 2017
The Long Goodbye Tour ou por outras palavras, provavelmente a última hipótese de ver ao vivo os Deep Purple. Uma noite mágica para várias gerações que se reuniram para encher um Meo Arena. E sim, é possível fazê-lo sem doses maciças de publicidade na televisão. Deep Purple ainda é um nome que arrasta multidões, mesmo sendo uma banda com uma história de quase cinquenta anos. A abrir uma noite que se adivinhava memorável tivemos direito a também a uma das bandas clássicas do rock português, os UHF. A banda de António Ribeiro tratou da recepção ao público que ia chegando aos poucos – a hora indicada nos bilhetes poderá ter causado alguma confusão em relação ao início do espectáculo (os bilhetes tinham a indicação de que o início era às 21h mas os UHF iniciaram a sua actuação sensivelmente às 20h).
A banda portuguesa, que já tinha anunciado doar parte do seu chachet aos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, teve uma actuação sólida e segura, conseguindo fazer o devido aquecimento do crescente público. Obviamente que os temas que tiveram mais impacto foram aqueles tocados na recta final: “Rua do Carmo”, “Cavalos de Corrida” e a versão do clássico da música portuguesa “Menina Estás à Janela” de Vitorino que os UHF tornaram seu na década de 90.
Após cerca de vinte minutos de espera, quebrado pela accionar dos ecrãs gigantes onde se via a recriação da capa do clássico “In Rock” adaptada à imagem do mais recente trabalho “InFinite” (um simples acontecimento que levou o público ao rubro) o tão desejado regresso da banda mítica aos palcos portugueses era efectivado com a “Time For Bedlam”, retirada precisamente do último álbum de originais, que viria a ter mais três temas a representá-lo assim como dois temas do trabalho anterior, “Now What?!”, evidenciando a confiança que a banda tem nos seus mais recentes trabalhos.
Apesar disso, o interesse era sem dúvida os clássicos e junto ao já mencionado “Time For Bedlam”, a banda tocou três de rajada (ou como Ian Gillan chamou o segway de canções de marcha), “Fireball”, “Bloodsucker” e “Strange Kind Of Woman” sendo uma introdução mais que perfeita para uma noite que se queria inesquecível. Apesar de ter tocado bastantes músicas novas de seguida, o ânimo por parte do público não desmoreceu e no meio de “Johnny’s Band”, “Uncommon Man”, “The Surprising”, “Birds Of Prey” e “Hell To Pay”, pudemos ouvir temas clássicos como “Lazy” (sem esquecer o solo de harmónica da praxe por parte de Ian Gillan“), “Perfect Strangers” (com solo de teclado de Don Airey a servir de introdução e com direito à melodia do emblemático fado imortalizado por Amália Rodrigues, “Cheira Bem, Cheira A Lisboa a ser entoada em uníssono por um MEO Arena rendido), “Space Truckin’” e a inevitável “Smoke On The Water” antes do encore.
Com a sala inteira a pedir por mais, a banda britânica não demorou muito tempo a voltar ao palco para mais. Com uma introdução do clássico tema da série de televisão “Peter Gunn”, o alvo era “Hush”, original de Joe South e o primeiro sucesso dos Deep Purple, ainda com a sua primeira formação (da qual apenas Ian Paice fez parte). Um tema vintage mas que se encaixou perfeitamente no espírito de celebração vivido, com grandes solos, principalmente pelo senhor Steve Morse que encaixou pelo meio a melodia de um dos melhores temas da sua era na banda, “Sometimes I Feel Like Screaming”. Seguiu-se um solo de baixo por parte de Roger Glover que demonstrou que apesar dos seus setenta anos, continua com uma forma invejável. O solo serviu de introdução para aquele que já é o tema final oficial da banda há já alguns anos, “Black Night” que também teve a sua melodia a ser cantada pela assistência.
Foram por estes momentos que tinham todos comparecido a esta celebração do rock pesado, momentos que provavelmente não se voltarão a repetir. Para os que dizem que a banda hoje em dia não é mais que uma pálida reflexão do que foi, é importante salientar que os Deep Purple em 2017 não nos querem fazer acreditar que estamos em 1970. A banda apresenta-se ciente das suas limitações físicas e mesmo assim consegue surpreender pela sua entrega – além do já citado Roger Glover, Ian Gillan puxou pela sua voz mais do que esperávamos e Ian Paice, que sofreu um enfarto o ano passado, esteve segurusíssimo e inabalável.
Mais do que uma simples viagem ao passado, este concerto foi como se tivessemos estado a conviver com aquele amigo de longa data que nos acompanhou por diversos momentos da nossa vida, nas nossas tristezas e alegrias. Um amigo mais experiente, mais sábio, envelhecido que continuou a sua vida e não ficou parado no tempo, refém de um passado glorioso. A multidão deslocou-se ao MEO Arena para saudar um membro da sua família e foi com esse sentimento que a banda saiu de lá, um sentimento expresso por todos, não só pelas palavras de Ian Gillan. O mundo continua a rodar mas certas coisas não mudam. A música permanece imortal.
Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Ritmo e Blues
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