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Filhos do Metal – A Música E O Som

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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A música é o conteúdo que nos faz gostar, ou não, de um artista ou de uma banda, para além de outros pormenores estéticos, claro. Depois há o formato que suporta a música para que a possamos ouvir. Não vou aqui dissecar formatos, até porque já escrevi sobre esse assunto anteriormente, mas sim sobre o que está antes do formato. Refiro-me à gravação. Desde sempre que a música feita pelos compositores é apresentada ao público de duas formas: gravada em estúdio e posteriormente difundida pelos mais diversos meios analógicos e digitais, ou ao vivo em palco. Também sempre foi evidente que a grande maioria dos músicos se preocupou (e preocupa) com a qualidade das gravações. Estúdios, equipamentos, técnicas de gravação, produtores, engenheiros de som, mistura, masterização e todo um processo que requer tempo, dinheiro e muita dedicação. Tudo em busca da perfeição. Também há quem procure o oposto, ou seja, o som mais cru e direto. Mas esse é um nicho muito específico e que também merece respeito pela opção concetual. Mencionando exemplos de qualidade superlativa, recordo gravações de Pink Floyd e concertos com som em quadrifonia. Metallica e a procura de produtores que conseguissem elevar o nível de produção e consequente sonoridade “mais comercial” como é relatado em livros sobre a carreira da banda. Todo um mundo onde a música e o som se conjugam para deleite dos seguidores e ouvintes.

Ao longo do tempo a quantidade de gravações e consequentes edições aumentaram substancialmente, fruto também, mas não só, das tecnologias digitais que permitem gravações de forma mais simples. A pergunta impõe-se! Será que a qualidade também aumentou? Há quem faça uma análise menos positiva do que se passa atualmente. Nomeadamente Max Norman, prestigiado produtor e engenheiro de som, de nacionalidade inglesa, conhecido pelo seu trabalho com nomes como: Ozzy Osbourne, Megadeth, Y&T, Grim Reaper, Savatage, Annihilator, Loudness, Lizzy Borden, entre muitos outros. Numa recente entrevista ao Talk Louder Podcast, Max Norman disse – “já não faz sentido gravar discos de classe mundial”, tendo em conta o atual estado da música. Acrescenta – “o futuro está na música ao vivo”. A opinião prende-se com o facto, segundo ele – “existirem hoje em dia 10 000 edições por dia ou qualquer coisa assim”. Deste modo – “ninguém faz discos de classe mundial porque ninguém quer saber disso”. Continua – “Não interessa a qualidade de um disco, porque apenas duas pessoas o vão ouvir e essas são tuas amigas”. Mas Max Norman vê o futuro da música na componente ao vivo – “Estou a tentar pensar qual o caminho que a indústria segue e o que está a acontecer. Para mim, há muito mais atividade de coisas ao vivo. E para mim, isso mostra que há muita longevidade na performance ao vivo. Seja uma banda de covers, seja uma banda de tributo ou uma banda original”, (transcrito da Ultimate Guitar). Também de uma forma mais informal, via Facebook, o guitarrista português Tó Pica (Sacred Sin) manifestou a sua preocupação sobre esta matéria escrevendo – “É um bocado ingrato e frustrante ir para estúdio e perder tempo a gravar e produzir um álbum o melhor possível e com o melhor som possível, para depois a maioria das pessoas cagarem à grande e ouvirem num speaker portátil ou no speaker do telemóvel…”.

Todas estas questões e opiniões não são novas. E eu acrescento ainda uma evidência, muitas gravações novas feitas no mesmo estúdio, com o mesmo produtor, com as mesmas técnicas e softwares soam todas iguais, embora sejam diferentes bandas a gravar. Outro detalhe patente nas edições dos últimos anos é o volume. Tudo é gravado muito alto, talvez em detrimento da subtileza. Analisando todas estas constatações, parece-me legítimo dizer que algo mudou fruto dos tempos e das circunstâncias. Para um jovem que agora começa a consumir música, não estranhará como os discos soam. Assim como não se importará com o suporte em que ouve a música. Para quem cresceu a ouvir música há 40, 50 ou mais anos notará diferenças abissais. Apesar de tudo isso, tenho uma visão diferente da realidade. Não querendo diminuir as opiniões de Max Norman, nem do Tó Pica, vejo com agrado o interesse de alguns jovens pelas gravações mais antigas, por bandas com sonoridades mais subtis. Surpreendo-me com bandas novas que preferem uma abordagem mais old school, quer na gravação em estúdio quer na abordagem estilística. Mantendo a modernidade inerente a toda a parafernália existente atualmente, não deixam para trás a sensibilidade artística. Resumindo, parece-me que faz sentido continuar a ter música gravada com qualidade que possa ser descoberta pelas novas gerações. É de grande importância que os músicos continuem a querer que os seus instrumentos soem de forma genuína. Se há uma massificação de suportes para audição de má qualidade. Se há uma imensidão de gravações por dia. Se muitos querem soar mais alto e mais forte. Não deixa de haver quem prefira um bom disco de vinil, CD ou até streaming de qualidade. Podem ser uma minoria, mas há espaço e interesse para aqueles que assim pensam. Esses vão sempre dar valor à qualidade em detrimento da quantidade. A música merece ser composta, interpretada e ouvida com propriedade.


 

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