Filhos do Metal – Ao Vivo Sem Espaço
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Desde sempre que os músicos e as bandas pretendem dar a conhecer as suas músicas. Há algumas exceções! Há músicos que guardam na gaveta o que escrevem e o que compõem, talvez por insegurança ou apenas porque não querem divulgar o trabalho que produzem. Na grande maioria, quando uma banda é formada, o principal objetivo é dar-se a conhecer ao público. Na atualidade, essa tarefa está algo facilitada. Não só porque a gravação está mais simplificada, como também há recursos digitais para expor as músicas na internet. A rádio tradicional parece já não ser uma prioridade, mas sim um meio quase inatingível. Espaço em televisão é inexistente. Sendo as redes sociais e a internet o meio mais acessível e imediato. Refiro-me, claro está, a bandas novas e emergentes no espetro mais pesado da música em Portugal. Embora a situação em questão me pareça ser global.
Para além da exposição nos Media físicos, tradicionais e digitais, há a inerente vertente ao vivo. Esta talvez seja a mais desejada e mais genuína. No fundo, é aquela que permite o contato mais direto com o público, e onde se pode constatar o real valor de uma banda. Acontece que parece estar a ficar cada vez mais comprometida. O século XXI trouxe um acréscimo de recintos onde as bandas podiam tocar ao vivo. Mas nos últimos anos parece estar a acontecer um retrocesso no sentido evolutivo dos espaços para atuações ao vivo. Desde logo o encerramento de alguns locais já com tradição de bandas de Heavy Metal ao vivo, como foi o caso do Metal Point no Porto, depois de 15 anos de atividade. Parece pouco mencionar só um, mas o impacto é enorme. É verdade que a pandemia de Covid 19 não ajudou, mas parece haver outros motivos. As dificuldades financeiras de uma população à procura de enfrentar uma inflação desmedida. O que resulta em salas pouco preenchidas. Alguma saturação por parte de quem gere os recintos e que não vê o seu esforço compensado, quando aposta em programar bandas emergentes. Por outro lado, os bares apostam em bandas de covers ou nas tão em voga bandas de tributo. Isto porque dão mais garantias de atrair público. Aqui inverte-se a função dos recintos, a programação é feita para atrair e não para dar a conhecer bandas ao público. Constata-se que os recintos, bares e afins, são espaços de entretenimento puro e duro, abdicando de contribuir para uma divulgação cultural, apostando em dar a conhecer novos talentos. Acontece que o público comparece em maior número num recinto com uma banda tributo, do que para assistir a um concerto de uma banda que quer dar a conhecer a sua música original. Assim, quem contrata prefere encher a casa. Vale a pena referir que os empresários buscam o lucro, é assim que tem de ser. Afinal o sector privado tem como objetivo primeiro o proveito. Então, compete ao Estado investir na divulgação cultural. No entanto, para além dos escassos recursos financeiros que o Orçamento de Estado comtempla para a Cultura, nem a Pop, nem o Rock e muito menos o Heavy Metal são considerados Cultura do país. Mas este seria outro assunto para análise.
Há uma lacuna grave no âmbito dos recintos para música ao vivo. As novas bandas de originais quase não têm soluções para se mostrar e tentar ganhar alguns trocos para pagar as salas de ensaios, ou comprar cordas e baquetas! Há poucos locais onde ainda é possível marcar concertos, mas desses alguns tem uma capacidade elevada para bandas emergentes e eventualmente as condições oferecidas para a atuação não são de todo vantajosas. Salas como o RCA ou o LAV, em Lisboa e o Hard Club no Porto, são ótimos espaços, mas talvez estejam mais direcionados para bandas já com algum reconhecimento, para além da programação internacional. Daí músicos com quem falo se queixarem das dificuldades em atuar com regularidade. Em resumo, faltam bares com uma programação aberta e regular para bandas novas, sem disco, ou a tentar subir a difícil escada da carreira na música. Espaços que já tenham público frequente e que as bandas sejam uma descoberta. É claro que também tem de haver uma certa predisposição do público em procurar a originalidade em vez de ir ouvir uma cópia de sucessos internacionais. Muitas e muitas bandas que hoje são os pesos pesados do Heavy Metal mundial começaram em bares. Uma solução pode ser misturar o entretenimento das bandas tributo, comercialmente mais atrativas, com as bandas novas como suporte. Nada que não tenha já sido feito. Há “oásis” que resistem, para além dos já mencionados em cima, como os casos de: Rrusstyk Bar e Bafo de Baco no Algarve, Barracuda no Porto, TreBARuna em Lamego, A.D.A.O. no Barreiro, Stereogun em Leiria, Hollywood Spot em Almada, Musicbox em Lisboa, entre outros (mas poucos)! Estamos em 2023, por isso apesar de parecer que há um número interessante de recintos para música original ao vivo, é francamente escasso.
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