Filhos do Metal – Blame Zeus + Allgema
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Blame Zeus e Allgema lançaram em outubro os seus mais recentes álbuns, respetivamente “Laudanum” e “Find The Way Out”. Duas bandas e dois álbuns com pontos em comum e com algumas diferenças. O que distingue estes dois projetos é essencialmente uma questão estilística. Mas também a localização, já que os Blame Zeus são da zona do Porto e os Allgema da área de Lisboa. Acresce ainda o facto de “Landanum” ser já o quarto álbum de uma carreira de 13 anos, enquanto “Find The Way Out” é o primeiro longa duração de um carreira ainda curta, com apenas 4 anos. O interessante é o porquê fazer referência as duas bandas em simultâneo e analisar o que as une.
Numa iniciativa, que não sendo inédita, é pouco comum, realizaram dois concertos de lançamento em conjunto. No dia 4 de novembro apresentaram-se ao vivo no Hard Club, no Porto e uma semana depois no RCA, em Lisboa. Foi com capacidade de união que deram a conhecer os álbuns acabados de sair. Só por si, esta é uma ação inteligente, com a mais-valia de atrair públicos diferentes e otimizar recursos, num esforço conjunto. Para além de terem convidado outras bandas, uma em cada recinto, para partilhar o palco, concretamente os Ionized no Hard Club e os Reverent Tales no RCA. Um exemplo que pode muito bem ser seguido por outras bandas. A participação de Sandra Oliveira, a voz dos Blame Zeus, na música “Home” dos Allgema, foi o ponto de partida para esta aventura. Ora aqui estão pontos de contato entre bandas. Mas há mais. Ambos os álbuns têm uma maturidade acima da média, quer a nível de composição, quer a nível da produção. São propostas artísticas adultas a transbordar talento. A base sonora encaixa no género abrangente que é o Heavy Metal, mas cada álbum explora subgéneros. Nem os Blame Zeus nem os Allgema assumem um estilo linear, sendo possível encontrar diferentes sonoridades, sempre enquadrados numa modernidade latente, sem esquecer a sonoridade pesada.
Bastaria ficar por aqui para justificar este artigo sobre duas bandas de inegável interesse para o Metal Nacional. Ou poderia dissertar sobre a composição, as líricas, a interpretação, o poder das músicas e toda a qualidade já referida. Aquilo que me desperta a atenção verdadeiramente é constatar um facto, Blame Zeus e Allgema lançaram estes álbuns sem editora, sem suporte editorial e aparentemente sem distribuição. É certo que há algum trabalho de promoção e uma preparação cuidada em alguns aspetos, como por exemplo o design e imagem. É aquele “pequeno” detalhe que não só é análogo as estas bandas, como se alarga a muitas outras. As editoras podem estar a perder a relevância de outros tempos, mas ainda são um suporte que pode levar mais longe a música das bandas. Pelo menos aquelas que têm mais força no mercado, não as que pouco ou nada ajudam as bandas a crescer. Aliás, os Blame Zeus já têm experiência com editoras, inclusive com uma editora fora de Portugal. As redes sociais, as plataformas de música online e uns quantos concertos locais serão suficientes para alimentar e fazer crescer uma carreira que se quer longa e de sucesso? Tenho dúvidas! Qual será o futuro a médio prazo de duas bandas como os Allgema e os Blame Zeus? Quão longe irá uma voz como a da Sandra Oliveira, que rivaliza com algumas das vozes mais conceituadas a nível internacional? Que sucesso terão os riffs da guitarra do Hernâni Carapinha, que poderiam estar num qualquer álbum dos grandes nomes da cena mundial? São estas questões que necessitam de resposta. São as editoras que devem dar os passos necessários para levar mais longe estas bandas. São os media que devem estar mais atentos a músicas como “Home” e dar espaço para o talento florescer. E agências, managers entre outros players no mercado, não há prospeção, nem curiosidade?
Pois é! Como cantava Rui Veloso – “…muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa”. Esta demonstração de união entre duas bandas, tão diferentes e tão iguais é um exemplo de boas práticas que deve ser replicado. Acima de tudo deve servir para despertar mentes. As bandas acreditam no trabalho que desenvolvem, na sua arte. Mas sozinhas não possuem os meios para ir mais longe. Existir como banda e dar a conhecer a música que fazem, só por si, já acarreta muito trabalho. Construir uma carreira é uma prova de esforço de uma vida. E agora? Qual é o medicamento ou o caminho para o sucesso?
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