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Filhos do Metal – Concertos e mais concertos – Carlos Marreiros

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Sessenta crónicas do Filhos de Metal para a World of Metal Magazine. Completam-se cinco anos a escrever sobre Heavy Metal maioritariamente português. Ditou a sorte que escreveria sobre uma personalidade que tem pautado a sua vida profissional a realizar concertos e festivais de Heavy Metal, praticamente de forma exclusiva. O Carlos Marreiros é atualmente um dos mais importantes promotores nacionais de concertos de sons pesados. Lisboeta, com 51 anos, diz que – “Não pensava muito no assunto. Mas garantidamente promotor de espetáculos seria o mais improvável” – quanto à carreira profissional a seguir. A verdade é que o faz e já lá vão muitos anos. De certa forma fui acompanhando o percurso do Carlos e sei como ele é persistente nas suas intenções. Daí não me ter espantado ele ter conseguido os seus intentos e de forma surpreendente mantendo-se fiel ao Rock e Heavy Metal, deixando os outros géneros, mais generalistas, para outros. Mas como aconteceu? – “Foi um percurso que surgiu de forma natural, sem grandes planos ou expectativas – fui criando oportunidades, outras foram aparecendo e fui abraçando cada uma delas. Estava envolvido no underground e sentia vontade de contribuir mais ativamente. Comecei por criar uma fanzine e, mais tarde, juntamente com amigos, surgiu a ideia de organizar um concerto com bandas de amigos que dificilmente teriam oportunidade de se apresentar ao vivo. Ainda assim, nessa altura, não senti imediatamente o apelo para a promoção de concertos. Houve também uma fase em que me dediquei à gestão de artistas que estavam a surgir na altura” – diz o Carlos. Ao longo do tempo, outras pessoas houve que realizaram concertos de forma mais ou menos esporádica, numa tentativa de criar um circuito interno e incluir Portugal no trajeto internacional de concertos para bandas de Metal. Foram poucos e alguns não continuaram. Felizmente outros apareceram e poucos, muito poucos continuaram, o Carlos Marreiros é um deles. Conseguiu manter uma regularidade impressionante de concertos com bandas internacionais. Fundou a Prime Artists e cresceu exponencialmente até ao ponto de fazer concertos de estádio com nomes de primeiríssima linha como Metallica, Rammstein e Iron Maiden. Mas qual foi o primeiro concerto? – “Em 1993, lancei um EP de uma banda grindcore alemã e pediram-me para organizar um concerto em Portugal. Como não conhecia promotores, aceitei o desafio e percebi que era algo que queria fazer. O evento aconteceu num espaço perto da Avenida da Liberdade, que mais tarde se tornou a Jukebox”. – Tudo tem um começo.

Por trás da carreira está a paixão e a dedicação como explica o Carlos – “…. Durante vários anos trabalhei exclusivamente no circuito underground, motivado sobretudo pela paixão e dedicação. Em 1998, consegui contratar os Rammstein, e esse momento foi determinante – percebi que havia espaço no mercado para uma promotora dedicada ao Heavy Rock. Naturalmente, não é um setor fácil ou especialmente lucrativo, mas é onde encontro realização pessoal”. – O mercado dos concertos em Portugal já contava com players firmados com outra experiência e capacidades. Como tem sido a relação com eles? Houve algo sentimento de intimidação? – “Na verdade, nunca me senti intimidado. Sempre me considerei como alguém fora do círculo dos grandes promotores. Embora conheça muitos desses profissionais e mantenha conversas regulares com alguns, sinto que operamos em universos distintos, cada um com a sua própria abordagem ao setor”. – É esse setor de mercado que continua a mover multidões e segundo um recente relatório da Live Nation (uma das maiores promotoras mundiais) os concertos de Heavy Metal aumentaram 14% relativamente ao ano anterior. É, por isso, fácil afirmar que o Carlos Marreiros apostou no setor certo. Atualmente com tantos problemas, guerras, segurança, economia, convulsões de vária ordem, há repercussão direta ou indireta no booking das tours internacionais? O Carlos expõe a sua experiência sobre este assunto – “Desde a reabertura pós-covid, os desafios têm vindo a aumentar, sobretudo a nível financeiro. Os custos com artistas subiram consideravelmente, acompanhando o aumento das despesas de produção, equipamentos, equipas técnicas e transportes. Tudo está mais caro. Torna-se difícil competir com outros países europeus que possuem economias mais fortes. A nossa localização geográfica agrava ainda mais esta situação. O cenário atual na Europa, marcado pelo conflito na Ucrânia, instabilidade e incertezas, tem levado muitos artistas a privilegiarem o circuito de festivais em detrimento de tours”. – Por falar em Festivais, a Prime Artists foi a responsável pelo Vagos Open Air, mais tarde VOA e atualmente Evil Live. Um Festival que junta grandes nomes da cena pesada. Atualmente acontece em Lisboa. Apetece perguntar se a programação do Festival, assim como os outros concertos, é influenciada pelos gostos musicais do Carlos? – “Sem dúvida! Embora nem sempre promova apenas artistas que fazem parte das minhas preferências; por vezes surgem projetos que aceito por serem parte do trabalho. Na maioria dos casos, sigo o meu gosto pessoal ou aposto em projetos nos quais realmente acredito”. – Para bem das atuais gerações e das que virão, alguém conseguiu que Portugal não fosse mais o país com pouco mais que um concerto dos Iron Maiden no Pavilhão do Dramático de Cascais nas suas tours (salvo o exagero). Os horizontes alargaram e graças aos que abriram salas e aos que promovem concertos, tudo é diferente hoje. O Carlos Marreiros é um dos grandes responsáveis – “Não foi um percurso fácil. Iniciei-me no meio underground, sem qualquer tipo de experiência ou contactos. Tudo era feito por tentativa e erro, sempre movido pela vontade de evoluir e superar desafios. As condições eram significativamente mais exigentes do que hoje: não existia internet, email, telemóveis ou redes sociais. A promoção dos eventos baseava-se em flyers e cartazes em fotocópia. Existia apenas um jornal de música, onde era difícil conseguir espaço para divulgar concertos underground, e restavam alguns programas de rádio, onde por vezes lá conseguíamos alguma promoção …”.


 

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