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Filhos do Metal – De Olhos Bem Abertos

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Surpreendente! Nos dias que correm já nada surpreende. Muito menos quando quase tudo está ao alcance de um smartphone. Pouco faltará para sermos absorvidos pelo imaginário de alguns iluminados. Virtualmente já não conseguimos discernir entre realidade e fantasia. Atenção que não estou a criticar, apenas a constatar. Atente-se ao recente caso de um “fenómeno” inusitado e quase absurdo. Uma banda com décadas de carreira, com raízes no Doom Metal há mais de 50 anos, foi agora “descoberta” por milhares de aficionados do mundo digital e das redes sociais. Os Pentagram são uma banda Americana que deu os primeiros passos no início dos anos 70 e que faz parte do grupo restrito de nomes associadas às raízes do Doom Metal, ou pelo menos que embarcaram nas sonoridades mais arrastadas e sombrias, tal como (por ordem de antiguidade) Black Sabbath, Saint Vitus, Pagan Altar, Witchfinder General, The Obsessed, Trouble ou Candlemass. Embora os Pentagram não sejam um coletivo estável, nem profícuo, construíram uma longa carreira que merece respeito. Mas foi necessário um “meme” com a imagem do vocalista dos Pentagram, Bobby Liebling, no seu característico estilo de olhos esbugalhados e cabelo a esvoaçar, para chamar a atenção de muitos, mas mesmo muitos curiosos. O músico aparece do alto dos seus 71 anos, com os seus longos cabelos brancos a esvoaçar, com os seus olhos a saltar das órbitas, num video e fotografia que “viralizou” na internet. Este acontecimento mediático inesperado, se assim posso dizer, resultou num crescimento exponencial na busca pela banda. Os ouvintes mensais da banda no Spotify dispararam. As buscas pelo nome da banda aumentaram. Os pedidos para concertos aumentaram, segundo noticiaram alguns meios de comunicação. O mundo virtual desceu à terra e eliminou a clivagem entre o digital e o jurássico. Ainda bem para os Pentagram, que vão a tempo de usufruírem de um sucesso momentâneo!

Dá que pensar sobre o quão descartável é o mundo atual em que vivemos. Parece que a velha máxima – “uma imagem vale mais que mil palavras” – pode ser adaptada para – “uma imagem vale mais que centenas de músicas”. Dá que pensar o quão fácil é elevar ou derrubar o estatuto de uma banda, artista ou pessoa anónima com um simples clique. Afinal qual o valor do talento? Qual o valor da criatividade? Como já muitas vezes foi referido, a evolução extremamente rápida a que estamos a assistir tem sempre um lado bom e um lado mau. Sem querer fazer grandes elaborações antropológicas ou de fundo social, deixo apenas a ideia de que temos de estar constantemente atentos e aproveitar o que de bom existe e saber lidar com as adversidades.

Voltando aos Pentagram, toda a imagética e conteúdo lírico da banda granjearam algum culto. Mas foram as polémicas em torno dos problemas pessoais do vocalista que mais se fizeram notar. O Início nos anos 70 foi tudo menos consistente com muitas mudanças de nome, direção e formação. O primeiro e autointitulado longa duração só viu a luz do dia em 1985, apesar de vários singles e demos utilizando outros nomes para a banda, antes de estabilizarem o nome Pentagram. Desde então são referidos como influência por muitos músicos conceituados. Nos próximos tempos têm concertos marcados na Europa e nos Estados Unidos e apesar da idade de Bobby Liebling estão aí para durar. Este é um verdadeiro exemplo de que as imagens de marca de uma banda acabam sempre por ser notadas. É importante criar uma identidade seja ela qual for, desde que seja genuína e identificável. Marcar pela diferença será notado, quer seja em palco, nas plataformas de streaming ou num meme por brincadeira. Cito um exemplo nosso que tem dado resultado, os Gaerea. Mantenham os olhos bem abertos!


 

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