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Filhos do Metal – Mastercrow

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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O ano de 2024 começou com algumas notícias tristes. Companheiros de luta pelo Som Eterno deixaram-nos. Todos sabemos que a nossa passagem pelo mundo é efémera, mas deixamos sempre alguma marca. Por vezes esquecemo-nos, com demasiada facilidade, da importância que essa marca teve ou tem em tudo o que hoje parece acontecer naturalmente. Para que não fique esquecido, gostaria de deixar uma singela homenagem a um dos que esteve no início e que contribuiu para o desenvolvimento do Heavy Metal em Portugal, José Gomes. O deixou-nos no dia 19 de janeiro deste ano. Não o conhecia muito bem, nem tenho a certeza se alguma vez falei com ele. Mas lembro-me de o ver em concertos. Por isso, não será fácil escrever sobre o , que também era conhecido por Zé “Mastercrow”.

Mas afinal quem é o José Gomes? Sim quem é? A presença dele ficará para sempre nos registos que deixou. Acima de tudo, um defensor e amante de Heavy Metal. Como tal, ele e um grupo de amigos dedicavam-se a trocar cassetes, demos e discos de diversas bandas, o denominado tape trading. Nos primeiros anos da década de 80, ainda não havia um movimento underground de relevo em Portugal, estavam a ser dados os primeiros passos. Eram, fundamentalmente, grupos de amigos que trocavam entre si conhecimento do que conseguiam ouvir e muitas vezes mandando vir demos, discos e outros itens de clubes de fãs e através de amigos fora do país. O foi um dos pioneiros do underground, sendo membro fundador do Fã Clube Purgatório do Heavy Metal e da Fanzine Folha Metálica, que foi a primeira em Portugal. O primeiro número saiu em janeiro de 1984 e viria a ter um total de 8 edições. Estava lançado o que viria a tornar-se um movimento, sem o ser verdadeiramente. Isto porque a organização nunca foi muita, mas de forma natural o Heavy Metal começou a ganhar outra dimensão, fruto da vontade de uns quantos devotos em fazer algo mais para divulgar o som de peso.

Mas o não se ficou por aqui. Com o Purgatório do Heavy Metal e outro grupo denominado Metal Masters, organizaram o 1º Festival de Heavy Metal, que aconteceu a 15 de dezembro de 1984, em Santo António dos Cavaleiros, no município de Loures. Já numa crónica anterior mencionei este acontecimento marcante do Metal em Portugal. As bandas convidadas foram: Valium, STS Paranoid, Xeque Mate, Sepulcro, Mac Zac, Jarojupe e Low Valley. Devido a alguns problemas os cabeças de cartaz Xeque Mate não atuaram. Uma verdadeira parada de estrelas para a época. Este foi, sem dúvida, um marco no Heavy Metal feito em Portugal e em tudo o que se seguiu. O teve a coragem de fazer o que até então não tinha sido feito e com essa atitude lançou as sementes do muito que se seguiu.

A irreverência e vontade de continuar a fazer algo pelo Metal, levou o a ser membro fundador e vocalista dos Wild Shadow. Começava a aventura como músico, sem nunca ter aprendido a sê-lo, mas o entusiamo falou mais alto. Com os Wild Shadow gravou duas demos, a primeira em 1986 e a segunda em 1988. Viria a sair da banda em 1990, antes mesmo da primeira atuação ao vivo no Rock Rendez Vous. Já neste século, viria a gravar com os Ravensire o primeiro EP da banda com o título “Iron Will”, lançado em 2012, onde está incluída uma versão do tema “Sweet Desire” dos Wild Shadow. Gravou ainda algumas vozes no primeiro álbum dos Ravensire “We March Forward” de 2013.

É possível ouvir algumas declarações do no documentário Heavy Metal Portugal, de João Mendes, onde fala das gravações da demo de Wild Shadow, e dos problemas do 1º Festival de Heavy Metal. Fica o registo. Ficam as memórias e fica a marca de alguém, que contribui verdadeiramente para o Heavy Metal em Portugal. É importante que não nos esqueçamos das raízes. Este género musical, talvez mais do que a maioria, é um estilo de vida, é uma forma de devoção que não tem paralelo. Hoje já existem estudos que o demonstram. Aqueles que são os nossos “irmãos” e “irmãs” merecem a nossa consideração. Que descanses em paz, .


 

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