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Filhos do Metal – Obscuridade Ou Exclusividade Editorial

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Na crónica de agosto de 2021, abordei a temática das editoras numa perspetiva negocial entre editora e banda. Ou seja, qual a forma como as edições eram acordadas entre as partes, no contexto atual, onde as vendas de fonogramas são reduzidas. Há, no entanto, um outro lado que me desperta curiosidade no mercado editorial do Heavy Metal, em especial em Portugal. Refiro-me a um nicho obscuro dentro do já por si só nicho que é a música de peso. Há um considerável número de etiquetas nacionais que se dedicam à edição, distribuição e promoção de bandas. Algumas dessas editoras atingiram um razoável sucesso, sendo um negócio perfeitamente legítimo e capaz de sustentar financeiramente uma estrutura empresarial, ainda que de pequena dimensão. Exemplos disso são: a Rastilho Records (edição), com a Rastilho Distribution na distribuição; a Larvae Records que tem vindo a crescer em número de edições e distribuição fora de portas. Há outras que são apenas fruto da dedicação dos seus mentores à causa do Metal. Mas apesar de pequenas editoras caseiras, lançam algumas bandas para o mercado e procuram colocar as edições físicas nas lojas, dando como exemplo a Firecum Records ou a Gruesome Records. Depois há muitas editoras que lançam projetos dentro do Black e Doom Metal que são mais discretas em termos de mercado. As edições são muito underground e são dificilmente encontradas na maioria das lojas. Inclusive, algumas dessas edições podem ser de uma exclusividade extrema, como por exemplo 20 exemplares em cassete. Alguns exemplos são: Belzegore Productions ou War Arts Productions.

A estratégia editorial e as opções de gestão de cada editora, apenas a ela própria diz respeito. Embora, estas estruturas possam ser apenas expressões de dedicação ao lado mais obscuro e extremo do underground, não deixam de estar inseridas num mercado. Quando há venda de um produto, por muito limitado ou restrito ele seja, não deixa de ser uma venda, logo um negócio. Neste contexto é estranho que haja uma clara preferência pela exclusividade em detrimento de alargar o espetro de potenciais compradores. Para além disso, é pena que estas edições não sejam divulgadas e distribuídas de forma mais abrangente. Alguns dos projetos são bastantes interessantes e merecem maior expressão no mercado, mesmo que reduzido, do Heavy Metal em Portugal. As sonoridades das bandas propiciam uma certa obscuridade, quer na imagética, atitudes, quer no posicionamento no meio. Esse conceito definido à partida merece respeito e até admiração. Mas são os fãs que ficam a perder por nem sempre terem acesso às edições, a não ser que seja um seguidor atento e conhecedor dos meandros mais recônditos do underground. Mas penso que seja esse o objetivo!

A maior cadeia de lojas que vendem discos em Portugal é a Fnac. Estas lojas não vendem edições de editoras underground com pouco reconhecimento nos meios tradicionais. Isto porque a política de vendas em grande escala, não se coaduna com edições de pequeno impacto. Por isso, não é de estranhar que se encontre o álbum “Maledictus” dos Seventh Storm à venda nessas lojas. Isto porque foi editado pela internacional Atomic Fire Records com distribuição nacional via multinacional Warner. Para além disso, trata-se de uma banda formada por Mike Gaspar que trazia consigo na bagagem o facto de ter sido o baterista de Moonspell. O que confere, logo à partida, uma boa projeção para despertar o interesse do público. Mas, também é bastante interessante encontrar nas prateleiras daquelas lojas, o último álbum dos Corpus Christii, lançado pela Immortal Frost Productions da Bélgica. Já com uma carreira firmada e diversos álbuns editados, os Corpus Christii são uma banda mais extrema e com menos repercussão nos meios comerciais. Por isso mesmo, torna-se interessante que uma banda de Black Metal nacional veja os seus discos expostos em grande escala para um público mais vasto. Aceitando a intenção de manter a integridade e exclusividade de um género e dos seus produtos, gostaria de ver algumas dessas bandas irem mais longe, porque possuem o potencial criativo para agradar a um público mais vasto, sem que isso signifique vender a alma a outras entidades divinas!


 

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