Review

Máquina do Tempo – Frozen Crown / Hellhammer / Shiver / Ancient / Introspection / Bornbroken / Annihilator / Black Mark Tribute

Frozen Land – “Frozen Land”

2018 – Massacre Records

Há sempre uma certa expectativa quando temos uma estreia. E cepticismo também. Consoante a resistência que se tem a certos géneros musicais. Dando o exemplo dos Frozen Land, para quem tem aversão natural a power metal, esta estreia dos finlandeses não vai aquecer nem arrefecer. Afinal temos aquela sonoridade típica do final da década de noventa que tantas delícias fez, com uma certo grau de temas uptempo assim como outros mais compassados mas mais apelativos. Ou seja, a descrição que não ficaria desajustada de uma banda como Stratovarius. Não quer isto dizer que os Frozen Land soem descaradamente aos seus compatriotas – ou a qualquer outra banda. A banda carrega na voz de Tony Meloni (qual é a cena dos cantores finlandeses se chamarem todos de Tony?) capacidade o suficiente para soarem genéricos de forma a que se identifique o género mas não ao ponto de soarem a todos os outros. Já musicalmente as afinidades são mais flagrantes (principalmente quando descamba para o neo-clássico) mas quem gosta de power metal, esse não será certamente um problema. Boa estreia, bons temas mas é preciso mais que isto para conquistar o mundo. Nota positiva para a “Angels Crying”, cover dos E-Tyoe, cujo o orignal me irritou solenemente no final da década de noventa e agora ficou redemida, finalmente.

Nota 7.5/10
Review por Fernando Ferreira


Hellhammer – “Apocalyptic Raids 1990 A.D.”

1984 / 1999 – Noise Records

Um dos mini-álbuns essenciais para o que é hoje o Black/Death metal. Além de ter sido apontado como referência e influência, junto com bandas como Bathory, Venom, Sodom, Possessed, entre outros, para as bandas da segunda vaga de Black Metal. Sem falar que Hellhammer foi o berço para esse berço de genialidade que foram os Celtic Frost. E isso até suplanta por vezes, e para alguns, o facto de os três membros mal saberem tocar e de que as músicas aqui serem para láde rudimentares. Resumindo, isto é mau. Tem tudo para ser mau. Bateria descoordenada, péssima voz, músicas pobres. Segundo o próprio Tom G. Warrior, frontman da banda, Hellhammer atingiu os seus limites assim que lançaram “Apocalyptic Raids”. Sentiram que não tinham mais margem para progressão, margem essa dada pelo o seu próximo projecto, os já mencionados Celtic Frost, e então 3 semanas após as gravações tanto Martin E. Ain como Tom G. Warrior abandonaram a banda. Então este disco deixa um paradoxo porque é um disco essencial para todos os apreciadores de música pesada, um pedaço de história, mas ao mesmo tempo é mau demais para ser verdade. Fazemos a média: 9 pela importância história e 2 pela qualidade musical. Esta reedição do clássico de 1984 (intitulada apenas “Apocalyptic Raids”) traz acopladas como faixas bónus as duas faixas da participação da banda para a compilação da Noise do mesmo ano.

Nota 5.5/10
Review por Fernando Ferreira


The Shiver – “The Darkest Hour”

2016 / 2019 – Wormholedeath Records

Reedição do segundo álbum dos italianos The Shiver que agora surgem ligados à Wormholedeath Records. Sensibilidades alternativas e uma boa capacidade para destilar melodias marcantes. Este é um trabalho forte que transporta o ouvinte para o início do milénio onde se começou a notar cada vez mais sonoridades alternativas a infiltrar-se no rock. Este foi o álbum que abriu muitas portas para a banda. Não é difícil perceber porquê ao ouvir temas como “Forgotten Soul” ou “The Secret”, com o seu groove misterioso.

Nota 7.5/10
Review por Fernando Ferreira


Ancient – “Mad Grandiose Bloodfiends”

1997 – Metal Blade Records

Vou começar por ser directo. Este cd foi uma desilusão. Quando o comprei só conhecia algumas músicas do The Cainian Chronicles portanto estava à espera de algo na mesma onda. A produção é pior e as músicas… também. Com mudanças na formação (saídas de Kimberly Goss e Kjetil sendo substituídos por Jesus Christ! e Erichte – cuja participação é miníma também) a composição parece ter-se ressentido. Pelas letras e pelo visual, os Ancient tentavam sem dúvida atingir o público de uns Cradle of Filth, com canções criadas com base nos teclados, as variações de voz à Dani Filth com direito aos famigerados discursos com voz grave à Leonard Cohen. Não é um vazio por completo porque contém algumas ideias interessantes e até músicas (como a “Hecate”, “My Love And Lust”) mas no geral… a forte componente gótica não ajuda em nada. Ancient é banda para muito mais tanto musical como liricamente. Nota para a cover de Mercyful Fate que está muito bem conseguida.

Nota 5/10
Review por Fernando Ferreira


Introspection – “Nihilist Hatred”

2018 – Edição de Autor

No Metal Archives, Introspection está descrito como sendo um projecto de death metal, no entanto ao ouvir este segundo álbum lançado no ano passado, o máximo que podemos concordar com é black death metal, sendo que o ideal seria mesmo black metal. Simples, sem grandes floreados – bons pormenores na bateria todavia – e algo eficaz. Um pouco de mais variedade e dinâmicas não lhe fariam mal, mas para quem gosta de black metal sem tretas, está perfeito.

Nota 6.5/10
Review por Fernando Ferreira


BornBroken – “The Years Of Harsh Truths And Little Lies”


2018 – Edição de Autor

Este pessoal está zangado. O que é bom para destilar também o nosso ódio e frustrações. O título é brilhante e spot on em relação ao teor da coisa. É um desfilar de porrada que ora é hardcore, ora é death/thrash metal. Não interessa verdadeiramente a não ser a violência que por aqui vai e que se assume desde muito cedo como terapêutica. Lançado o ano passado, está aqui o serviço público para ir (re)descobri-lo.

Nota 8/10
Review por Fernando Ferreira


Annihilator – “Alice In Hell”

1989 / 1998 – Roadrunner Records

Mais um álbum clássico de Thrash Metal de uma banda que teve um percurso inverso à maioria das grandes bandas Thrash. Quase todas elas (Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax, apenas para citar os big 4), não tiveram um sucesso imediato em termos comerciais. Esse sucesso, principalmente comercial, foi acompanhado por um crescimento a nível de composição e algum aligeiramento de peso na sonoridade. Com este grupo foi exactamente o oposto: primeiro álbum – este “Alice In Hell” – sucesso estrondoso de 300 mil cópias vendidas apenas na primeira semana, que durante muitos anos nenhuma outra banda estreante da Roadrunner conseguiu fazer; e depois no segundo álbum as constantes mudanças na formação e uma certa aproximação comercial do som fizeram com que aos poucos o grupo entrasse na obscuridade, tendo apenas recuperado o fulgor que muitos julgavam perdido no final do século passado.
Pormenores à parte, falemos da música. O que temos aqui é um Thrash Metal técnico, com muito groove e até com tiques de progressivo, uma mistura explosiva que resulta numa enorme lufada de ar fresco e revela ao mundo o seu mais recente guitar-hero na forma de Jeff Waters que basicamente é a banda toda. As duas demos (que continham muitas das músicas deste primeiro e também do segundo álbum) foram lançadas apenas por ele e Paul Malek (bateria). Foi ele que compôs todas as músicas, gravou todos os instrumentos, produziu e misturou o disco. A produção podia estar melhor, soa um pouco datada, mas não é nada de comprometedor. Talvez o ponto mais fraco seja mesmo a voz de Randy Rampage (ex-baixista da banda canadiana D.O.A) que embora se enquadre no estilo, demonstra algumas limitações. Mas estes são apenas detalhes, num grande disco. A clássica abertura acústica “Crystal Ann”, “Alison Hell” (cujas letras são baseados numa história verídica), “Welcome To Your Death”, “Wicked Mystic”, enfim, uma sucessão petardos de difícil categorização porque isto é algo mais que Thrash metal. É sem dúvida metal.
Esta é a reedicção gold disc com direito a 3 faixas bónus das demos ainda cantadas por Jeff Waters com voz típica Death Metal – não deixa de ser engraçado.

Nota 9.5/10
Review por Fernando Ferreira


V/A – A Black Mark Tribute Vol. II


1998 – Black Mark

Eu adoro compilações. Ou pelo menos adorava, nos meus tempos de descoberta do metal, as compilações eram um modo de descobrir novas bandas. E adorava mais ainda compilações de covers. Nesta temos versões de bandas da editora underground Black Mark – que ficou famosa por ser a editora de sempre de Bathory/Quorthon – a diversos artistas consagrados e quase nenhuns de metal. Esta é uma das duas razões de para mim esta compilação ser um sucesso. Temos Purity a tocar “It’s Allright For You”dos The Police, com uma energia contagiante, nem parece o original. A seguir temos os Necrophobic a arrasar com um som para lá de podre mas que até cai com uma luva no clássico dos Maiden: “Moonchild” – e as vozes Death Metal ficam aqui a matar. A terceira traz uma das melhores covers. Hexenhaus a prestar homenagem aos Cream através do seu clássico “Sunshine For Your Love” com um solo de guitarra cheio de feeling, tendo um final para lá de estranho, arraçado de doom mas com uns urros interessantes. Não há volta a dar, o rock clássico parte-me a tola toda. World Of Silence tocam a “Black Celebration” dos Depeche Mode que peca por estar muito colada ao original, mas que mesma assim é interessante – a música é boa. Mais uma colada ao original mas que neste caso soa-me sempre bem: Quorthon a solo a tocar a “I’m Only Sleeping” dos Beatles, aqui apenas entitulada “Sleeping”. A produção moderna, apesar de ser uma faixa acústica, melhorou em muito o original. Nightingale recriam a música “C’est La Vie” de Greg Lake do clássico álbum dos Lake, Emerson and Palmer de 1977, Works Volume I. Memento Mori, a banda que o ex-vocalista dos Candlemass, Messiah Marcolin fundou com Mike Head dos Hexenhaus depois do primeiro ter abandonado os Candlemass em 1992, arrasa com o clássico dos Saxon, “To Heaven Back Again” – aquele riff inicial parte-me todo. “Divine Sin”, também dá nova vida ao clássico dos Twisted Sister, “You Can’t Stop Rock’N Roll”, aumentando a já muita energia do original. Um clássico de Danzig na forma de “Mother” é recriado pelos Edge Of Sanity. A versão é boa, o original é excelente, mas aquela voz de Glenn Danzig é insubstituível nesta música. E agora a versão vício do cd: Mental Crypt a transformar o clássico pop dos Abba, “Money Money Money” numa faixa estranha e viciante de Death Metal. Os grunhidos, os solos alucinantes, o peso descomunal… Brutal! A finalizar, temos Bathory a fazer uma homenagem aos mestres Black Sabbath através do clássico “War Pigs”. Nada de novo nada de surpreendente mas mesmo assim uma boa rendição.
Saldo final muitíssimo positivo, tornando uma compra às cegas para uma grande compra.

Nota 8/10
Review por Fernando Ferreira


 

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