O Álbum do MêsReviewTops

O Álbum do Mês – Fevereiro 2023

10 – Freeroad – “Do What You Feel”

2023 – Dying Victims Productions

A capa deste álbum é hilariante, mas também representa na perfeição quer a mensagem da música em questão (que é a primeira do álbum) como também o espírito do hard rock da banda. E não tenho nenhuma vergonha em admitir de que este é um som desavergonhadamente retro. E que ainda bem que assim é, porque é paixão à primeira audição para quem não deixa de gostar daquilo que já se fez lá atrás. Um sentido de melodia impressionante que remonta aos momentos áureos de bandas como Scorpions, UFO e Thin Lizzy. Facilmente um disco que nos agarra logo e ao qual não conseguimos parar de ouvir. Um disco que nos permite dizer… sim, ainda se faz música como antigamente. Tão boa ou ainda melhor.

9/10
Fernando Ferreira


9 – Defy The Curse – “Horrors Of Human Sacrifice”

2023 – Hammerheart

Trabalho de estreia dos deathsters Defy The Curse. A banda neerlandesa traz aquele gostinho a gravilha que só o death metal quando misturado com punk e crust tem. Pouco mais de meia hora de uma proposta unidimensional que tem tudo aquilo que procuramos no death metal deste estilo: simplicidade, brutalidade e altos níveis de eficácia. A edição em CD vem com dois CDs onde é incluído o EP homónimo de estreia lançado originalmente em 2018, mas nem é preciso o brinde para que sintamos a necessidade absoluta de adquirirmos este trabalho. Death metal podre que sabe a ontem mas que só agora poderia ter sido lançado. Iniciar o caminho nos álbuns desta forma é um autêntico luxo.

9/10
Fernando Ferreira


8 – Arditi – “Emblem Of Victory”

2023 – Blooddawn / Regain

Oitavo álbum para os mestres de industrial marcial que regressam com a música que esperávamos: com aquela abordagem fria e desoladora que nos faz recuar no nosso optismo que também é praticamente inexistente nos dias de hoje. Não é difícil de perceber a forma como esta banda se aliou ao black metal no passado, os ambientes são muito semelhantes e como tal também não é difícil de encontrar por aqui muitos motivos de interesse para os fãs das sonoridades mais obscuras. Há, contudo, uma beleza em toda esta frieza e desesperança, quase como a beleza no abismo que se apaixona irremediavelmente por nós, quando nós não conseguimos desviar o olhar. “Emblem Of Victory” está longe de ser música ambient e apesar do seu minimalismo (pelo menos para quem está habituado ao metal) consegue ser brutalmente eficaz.

9/10
Fernando Ferreira


7 – Trastorned – “Into The Void” 

2023 – Dying Victims Productions

Não sabemos o que se passa no Chile, só sabemos que estamos a gostar muito. Trastorned é um nome estranho que se enrola na língua mas o que vale é que a música não tem essa dificuldade. Thrash metal old school, sem tretas e pé na tábua sem preocupações de ser unidimensional. Isto porque também eles percebem que a partir do momento em que se tem um álbum com vinte e nove minutos, o facto de ser unidimensional só joga a seu favor e é bom ver como as novas bandas não se sente pressionadas para tentarem preencher as convenções daquilo que deveriam fazer. Simplesmente são, gravam o momento para a imortalidade e o resultado é este thrash metal impiedoso que vai beber às raízes mais extremas do estilo (naquele período quando andava tudo ainda muito confuso sobre o que era death e black metal). Um álbum de estreia que nos mostra não só os Trastorne como mais uns representantes de uma cena em ebulição como também a indicação de que o thrash tradicional (mais black menos death ou vice versa) continua a entusiasmar como décadas atrás.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Imperium Dekadenz – “Into Sorrow Evermore”

2023 – Napalm

Os Imperium Dekadenz até podem não ter aquela fórmula de black metal mais melódico e épico que tem mais impacto em nós mas sem dúvida que esta é a excepção que comprova a regra. “Into Sorrow Evermore” evoca, na maior parte do seu conteúdo aquilo que o seu título constata: a melancolia está presente mas sem que isso se torne algo que deturpa a sua identidade musical. Continuamos a ter os momentos de explosão black metal épico – logo com o tema-título a iniciar – mas depois temos “Elysian Fields” e “November Monument” em igual medida. Não é nada que nos surpreenda, como já foi dito atrás, esta é a sua identidade musical. A parte postiva é que a mesma surge reforçada por oito grandes temas de black metal melódico.

9/10
Fernando Ferreira


5 – Natt – “Natt”

2023 – Edged Circle

Só o conceito de se ter um álbum com apenas três músicas e quase quarenta e cinco minutos de duração é vencedor. Eu sei, eu sei, já não estamos na década de setenta e cada vez mais o tempo é precioso. Enquanto estamos a ouvir este trabalho auto-intitulado poderíamos ter ouvido mais de cinquenta singles descartáveis no spotify e ainda ouvir uns quantos anúncios (porque o tempo é dinheiro, mas mesmo assim não se vai gastar no Spotify Premium). Este é o primeiro álbum dos noruegueses Natt que junta René Misje dos Krakow e Trust Us a Roy Ole Førland de Lindy-Fay Hella, Kari Rueslåtten e Malignant Eternal. O primeiro trata das guitarras, baixo, piano, percussão, sintetizadores e clavinet enquanto o segundo concentra-se exclusivamente nos sintetizadores. Em estúdio tiveram a ajuda de Lord Bard no baixo e do baterista de Enslaved Iver Sandjoy e o que apresentam na estreia é hipnótico. Três longos temas onde toda uma paisagem, todo um mundo é construído apenas para nos perdermos nele. E é fácil disso acontecer, muito fácil. O feeling é um pouco vintage, mas mais a representação do vintage aos sentidos de hoje. Não há pressa em acabar as músicas, apenas em deixá-las soar enquanto fizer sentido. Esse sentimento é tão contrário ao que temos hoje em dia, que não deixa de ser irresistível. Uma viagem ao rock progressivo, com uma proposta instrumental à qual não há defesas contra.

9/10
Fernando Ferreira


4 – Sonic Poison – “Eruption”

2023 – Me Saco Un Ojo / Pulverised

Apesar dos finlandeses já terem começado a sua carreira em 2012, só agora chegam ao álbum de estreia. E que álbum. Uma pedrada de grindcore/crust que vai beber tanto ao death metal como ao thrash e o resultado é um álbum curto – pouco mais de quinze minutos e está despachada a coisa – que é uma autêntica pedrada que não queremos e mesmo que quisessemos não conseguimos evitar. Som podre a lembrar os primeiros trabalhos de Kreator, Sodom, Napalm Death, Slayer e depois uma atitude de “que se lixe, vai tudo a eito” que é completamente irresistível. Ao vivo esta banda deve ser uma devastação e mesmo podendo dar o concerto mais curto do mundo, ninguém teria energia suficiente para se queixar.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Zeup – “Mammals”

2023 – Ozium

Os dinamarqueses Zeup lançam-se à grande nos escaparates com este “Mammals”. Álbuns de estreia são sempre retratos no tempo que não perduram. Quer a forma como a banda evolui, quer até pela forma como o público que os vê. Todavia existem sempre alguns que marcam, as carreiras das bandas e até os fãs que os absorverm. Encontramos em “Mammals” esse potencial. Para já temos um stoner incomum mas que essa sua peculiaridade não interfere com a forma como nos chega. Groove gingão e uma voz que até deve um pouco ao alternativo mas cai aqui como uma luva. Sem grandes invenções, apenas grandes riffs e o riff é a principal arma, o bem precioso essencial para um bom disco de stoner. O riff e a forma de melhor o utilizar, claro está. Grande estreia, ficámos fãs.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Ahab – “The Coral Tombs”

2023 – Napalm

Será possível? Termos aguentado tanto tempo sem os mestres do Funeral Doom Metal aquático? Já lá vão quase oito anos e o tempo que passou não mudou em nada na excelência que a banda já nos habituou. Devo dizer que “The Coral Tombs” começou com uma surpresa que foi uma espécie de blastbeat (não será blastbeat propriamente mas perante ao que estamos habituados por parte dos Ahab, o impacto foi o mesmo) no início de “Prof. Arronax’ Descent Into The Vast Oceans”, que me fez olhar para a promo novamente só para confirmar que não me tinha enganado. Não era engano não e embora esse níveis de intensidade uptempo não se tenham voltado a verificar. A intensidade vinha de outra forma, com o peso intenso mas também com uma ambiência que nos remeteu por diversas vezes para um certo feeling que antes encontrávamos em bandas como Opeth ou até Pink Floyd, de uma forma mais distante. “The Coral Tombs” é um álbum que não é fácil de ouvir para quem é estranho à banda e ao tipo de som, mas que ainda assim é melhor absorvido quando ouvido por inteiro e essa vigem torna-se inesquecível.

9/10
Fernando Ferreira


1 – Riverside – “ID.Entity” 

2023 – InsideOut Music

Novo álbum de Riverside, o primeiro em que podemos encarar como uma nova era, onde Maciej Meller participa pela primeira vez nas gravações, depois do falecimento inesperado de Piotr Grudziński em 2016. O período em que teve a tocar com a banda ao vivo terá servido para a integração final na banda, processo que agora nos parece completo. Com um título curioso e inteligente, “ID.Entity” ironicamente demonstra que a identidade da banda continua bem intacta ainda que o momento mais surpreendente surja logo na abertura, com a “Friend Or Foe”, que traz sabores pop que se absorvem muito bem. Sabores que não colocam em causa a sua, lá está, identidade, mas que servem para expandir ainda mais os seus horizontes de uma forma natural. Mas é na sensibilidade hipnótica e na forma como vão buscar melodias que nos apaixonam que os Riverside mais uma vez triunfam. Longe de ser um álbum arrojado, é um álbum onde a banda volta refeita aquilo que sempre souberam fazer melhor: criar músicas que vivem para nos falar ao coração.

9/10
Fernando Ferreira


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