Review

Pilha de Discos #4 – Caligula’s Horse, The Voynich Code, Six Feet Under e muito mais!

Caligula’s Horse – “Charcoal Grace”
2024 – InsideOut Music

Quando já se é fã de uma banda, as expectativas, mesmo que não se queira conscientemente, acabam por estar lá em cima. E depois há o risco de não sermos totalmente cativados pela nova música. Posso dizer que não é isso que acontece com o épico de dez minutos “The World Breathes With Me” que abre o disco e também o mapa para o que teremos no resto do disco. Melodia, peso moderno, mas também um sentido clássico de como fazer um bom tema de rock/metal progressivo. Um disco do qual até podemos retirar uma ou outra música para fazer parte de uma playlist mas que deve ser ouvido na sua totalidade – exemplo máximo no tema título que se divide em quatro partes distintas que devem ser ouvidas seguidas. Expectativas elevadas mas completamente superadas. (9/10)

The Dollyrots – “Night Owls”
2024 – Wicked Cool Records (Earshot Media Pr)

Delicioso. Do início ao fim. Punk rock melódico que se absorve instantaneamente e contagia. É mesmo isso que nós queremos. (9/10)

 

Metalite – “Expedition One”
2024 – AFM Records

Não é muito raro sermos bastante cépticos em relação ao power metal mais melódico e happy. Não que não gostemos da alegria e espírito positivo que espalha mas sobretudo por sentirmos que há a tentação de explorar uma fórmula apenas pelo impacto que a mesma tem perante o potencial público alvo. E os Metalite, especialmente neste “Expedition One” têm tudo para encaixar perfeitamente no requisito das críticas atrás mencionadas. A questão é que apesar dessas críticas estarem a pairar enquanto ouvimos este álbum, temos um álbum verdadeiramente empolgante e interessante. Melodias memoráveis, arranjos modernos, virtuosismo e uma voz fantástica que apesar da conotação mais pop, não deixar de ser um dos grandes destaques deste conjunto de temas. Como álbum, peca pelo excesso de duração e muitos temas, dezasseis no total. Por outro lado, não há propriamente um tema mau, por isso… tanto melhor. (8.5/10)


Freedom – “Stay Free!”
2024 – Wild Kingdom

Segundo álbum dos sueco Freedom, depois de uma estreia que deixou todos entusiasmados. Todos os que gostam bom rock. Intemporal, extremo bom gosto nas melodias e músicas que ficam gravadas. O rock imortal é assim. (8.5/10)

Last Hope – “Quando A Verdade Fala”
2024 – Hell Xis Records

Regresso aos discos por parte dos Last Hope, nome mítico do hardcore da Margem Sul. Um regresso que começa logo com dois sentimentos contraditórios que se alternam num círculo vicioso. Primeiro rapidamente se entranha – também com uma “Veteranos” logo a começar, difícil seria de outra forma – depois fica-se por ser frustrado, frustração que se transforma em vontade de ouvir seis temas cantados em português novamente. Poderoso e mobilizador, porque ao vivo este poder é aumentado exponencialmente! (8/10)

Bruto & The Rock’N’Roll Apostles – “Damnation Box”
2024 – Ragingplanet, Half Beast Records, Firecum Records

Regresso de um nome mítico do rockabilly nacional, Jorge Bruto. Depois dos Capitão Fantasma e de Bruto e os Canibais, temos aqui esta nova entidade que mais do que beber naquilo que é o rockabilly, vai directamente à fonte do rock’n’roll para nos trazer algo refrescante. Um álbum que mostra aquilo que já sabíamos, o rock nunca vai morrer desde que tenha fieis como estes, com talento para espalhar a palavra da melhor forma (8/10)


Thot – “Delta”
2024 – Pelagic Records

Quarto álbum dos belgas Thot que vão conseguir cativar mesmo aqueles que não apreciam à partida a sua premissa mais experimental e electrónica – até porque esta última não é usada para cumprir pressupostos de fórmulas e tem realmente um impacto diferenciador na música. Sujo, melódico, tocante e sensível, mas sem ter medo de carregar no peso. Essa liberdade e inconformidade faz com que “Delta” seja um disco ao qual não nos importamos de nos ir perdendo. (7.5/10)

Devil Moon Risen – “Fissures Of Men”
2024 – Edição de Autor (Clawhammer PR)

Trabalho de estreia dos norte-americanos Devil Moon Risen, power trio oriundo de Phoenix que traz stoner/doom metal raçudo, distorcido e viciante. Groove hipnótico que se instala facilmente na nossa mente e nosso corpo que não tem outra alternativa se não reagir ao mesmo. Esse factor hipnótico é uma constante ao longo dos excelentes riffs que por aqui vivem e é sem dúvida o trunfo deste álbum, mas não é o único. Canções com substância psicadélica que sem complicar o que é simples, também não o banalizam. Esse equilíbrio faz com que esta seja uma boa surpresa. (7/10)

As Docinhas – “Que Pesadelo”
2024 – Edição de Autor (Ride The Snake)

Quando a Eliane da Ride The Snake me passou este disco, apelidando-o como algo fora da caixa, não estava preparado para aquilo que iria ouvir. “Que Pesadelo” é totalmente apropriado, embora não tanto da maneira como possam estar a pensar. É um pesadelo para tentar encontrar um fio condutor para lá da loucura e da crítica mordaz que se encontra ao longo destes nove temas. Temo música electrónica chunga (daquela dos anos 90 que aparecia um pouco por todo o lado), blues inspirado e até Americana/country cheio de alma. E se vos parecer pela descrição de que isto tudo junto não encaixa, têm razão. Não encaixa definitivamente, mas ainda assim deixa-nos desconfortavelmente ansiosos para ouvir uma nova vez. Música com esse poder não pode ser ignorada. (6.5/10)

Disconnected Souls – “Fragments Of Consciousness”
2024 – Self Released (Dewar PR – Csquared)

Interessante junção de vários elementos e géneros que não soa original, mas consegue prender o ouvinte por tempo suficiente para deixar uma boa impressão. Junção entre gótico, elementos electrónicos e metal extremo e um álbum com sabor moderno com forte apelo. (6/10)

 

Edwood – “Trust The Process”
2024 – Edição de Autor

Como já disse algumas vezes, adoramos quando as bandas nos contactam, nós temos oportunidade para ouvir a sua música (nem sempre acontece) e somos surpreendidos da melhor forma. Os Edwood não são novatos mas pela informação disponível, este parece ser o seu álbum de estreia, após alguns EPs lançados entre 2014 e 2008. “Trust The Process” mostra a banda francesa com um hardcore a lembrar os grandes da cena de Nova Iorque, cheio de garra e energia. Elementos que ao vivo deverão ser multiplicados – o que só faz com que nos deixe com expectativas para os ver em cima dos palcos. Excelente surpresa! (9/10)

Persefone – “Lingua Ignota: Part I”
2024 – Napalm Records

Os Persefone têm conseguido uma evolução fantástica, conciliando da melhor forma uma crescente faceta progressiva com o seu Death metal melódico a metamorfosear-se aos poucos. Este novo EP evidencia isso mesmo, um EP ao qual é impossível não ouvir em repeat. (9/10)

Crust – “Dissolution”
2023 – Avantgarde Music

Quinto album dos russos Crust que são a forma perfeita de misturar Sludge com Death e black metal – e quando falo em black metal não é tanto na sua ideologia ou conceito lírico mas sobretudo nos ambientes criados e em algumas soluções que usam. Um vício inesperado mas muito bom. (9/10)

Konad – “The Last Day”
2024 – Selvajaria Records

Os Konad são um dos nomes emblemáticos da cena ribatejana. Hardcore/punk/crust metálico, intenso e cheio de garra que leva tudo à frente ao vivo. A questão é se este terceiro álbum conseguia traduzir em estúdio toda essa devastação deixada em cima dos palcos. Não é preciso muito para se chegar a essa conclusão, com o tema-título a deixar logo bem claro que a devastação sonora e unidimensional dos Konad continua bem acutilante. Mesmo com nove anos de intervalo entre registos, “The Last Day” é um passo em frente no que diz à eficácia da sua brutalidade. (8.5/10)

Almost Dead – “Destruction Is All We Know”
2024 – Innerstrength Records

Os americanos Almost Dead regressam com uma energia renovada. A mistura desconcertante de thrash e Death metal não é nada de novo, mas aqui neste conjunto de canções, conseguem torna-lo excitante. Ainda que para isso, um certo factor moderno no seu som acaba por ser fundamental para que seja esse o resultado. Este é um álbum que poderá unir fãs de ambas as verttentes, com argumentos para cativar qualquer fã de peso, virtuosismo e groove. (8.5/10)

Psychework – “Spark Of Hope”
2023 – Ranka Kustannus (Against PR)

Boa surpresa. Os finlandeses Psychework é a prova do talento que este país brota no que ao metal melódico (e não só) diz respeito. Power metal melódico a fazer lembrar de certa forma Kamelot e um conjunto de temas que nos faz querer voltar atrás na sua discografia para conhecer mais. (8.5/10)

Arms And Sleepers – “What Tomorrow Brings”
2024 – Pelagic Records

Trip Hop para mim sempre foi a definição de cool. A capacidade de abstracção, mais ou menos focada, da realidade favorecendo um espírito de relaxamento que se torna em pouco tempo. Precisamente aquilo que Arms And Sleepers ou melhor do produtor Mirza Ramic apresenta neste “What Tomorrow Brings” que apesar do título, é uma tocante viagem pelo seu passado, dividindo-se em quatro capítulos – Inocência, Melancolia, Ruptura e Reflexão, sendo esta última aquela que encaixa no presente e no espírito inspirador para a criatividade aqui refletida. Tocante e apaixonante. (8/10)

Verminthrone – “The Cull”
2024 – Self Released

Peso não falta aos britânicos Verminthrone que trazem no seu álbum de estreia uma interessante mistura entre o Sludge clássico que nos faz pensar em Crowbar assim como uma costela mais hardcore de uns Pro-Pain – mistura que faz todo o sentido. “The Cull” é um álbum de Sludge a conhecer. (8/10)

Alpha Warhead – “Code Red”
2024 – Firecum Records

Álbum de estreia dos Alpha Warhead, bastante aguardado para quem tem já seguido o percurso da jovem banda nacional em cima dos palcos, onde aliás já podemos ouvir e conhecer bem os temas aqui presentes. Energia, alguma ingenuidade e inocência e um grande amor ao thrash metal, são elementos que fazem com que este seja um álbum recomendado para quem gosta da versão mais old school do estilo. (7.5/10)

Ou – “II – Frailty”
2024 – InsideOut Music

Não é todos os dias que temos uma banda da China a ser lançada por uma das maiores editoras independentes do ocidente capitalista e decadente. Os Ou trazem uma mistura de atmosferas inocentes com elementos electrónicos, numa mistura caótica que faz lembrar muitas vezes aquilo que Devin Townsend tem feito ao longo da sua carreira. A sua invulgaridade é mesmo o atractivo da sua música mas essa novidade também se esgota depressa assim como os motivos para voltar a pegar neste álbum. (4/10)

The Voynich Code – “Insomnia”
023 – Unique Leader Records

O impacto dos portugueses The Voynich Code na cena do metal moderno (concretamente no Deathcore mais aventureiro) tem sido notável, pelo que a expectativa para o segundo álbum era enorme. “Insomnia” rasga todas as expectativas e apresenta algo ainda melhor. Ambientes progressivos, peso impressionante, arranjos orquestrais, solos de guitarra cheios de bom gosto e um álbum do qual não nos cansamos. Perfeito. E ainda mais perfeito quando apesar de esperarmos algo superior, não esperávamos algo assim. (9.5/10)

Hour Of Penance – “Devotion”
2024 – Agonia Records

Brutalidade a rodos, já é o esperado por parte dos italianos Hour Of Penance. O que os separa de muita da sua concorrência é a forma como a sua brutalidade é dinâmica e introduz elementos, arranjos (e porque não dizer, ganchos) melódicos que tornam tudo mais viciante. E prazeroso. Produção também ajuda a que este seja um álbum ao qual se consegue dar muitas audições sucessivas, sendo já um dos vícios de 2024 no que ao brutal death metal e death metal técnico diz respeito (9/10)

Tvinna – “Two – Wings Of Ember”
2024 – By Norse Music

Impossível não se ficar fascinado com o som dos Tvinna. Não é a primeira vez que temos o folk a fundir-se a algo mais pesado, no entanto, quando o foco principal continua a ser os elementos folk, o impacto é ainda maior. É o que temos aqui, apesar da bateria, baixo e alguma distorção (pouca) e com uma aproximação ao rock progressivo. O resultado é impressionante e viciante. (9/10)

Insanity Alert – “Moshemian Thrashody”
2024 – Season Of Mist

O trocadilho do título quase que diz tudo. Temos uma rapsódia em forma de EP com quatro covers muito livres de Guns’N’Roses, Queen, George Michael, Iron Maiden, tudo movido a Thrash, claro. Apesar da piada, pode ser levada a sério sem efeitos secundários. (9/10)

Brodequin – “Harbinger Of Woe”
2024 – Season Of Mist Underground Activists

Primeiro álbum dos norte-americanos Brodequin depois de regressarem à actividade em 2015 e tendo já passado vinte anos desde o anterior. Não é preciso dizer que as expectativas estavam lá bem em cima e as mesmas não são desiludidas. Brutal Death Metal no seu melhor, onde a brutalidade também se amplia para a componente técnica sem cair em exageros e sem também cair nas tendências slam que acabam por retirar dinâmica à música. Não que este não seja um trabalho unidimensional, apenas tem uma unidimensionalidade que nos prende. (8.5/10)

Planet Mastergod – “When Dark Is Deepest”
2024 – Thud Records

Quinto álbum dos noruegueses Planet Mastergod, que trazem a sua fórmula personalizada de post-metal que vai beber de forma generosa a alguns ambientes do post-punk que ainda acrescenta mais tensão à atmosfera palpável presente ao longo destes sete temas. “Suffer The Dead” é o exemplo perfeito de como essa costela post-punk está presente aqui. No que nos diz respeito, são os momentos post metal que fazem a diferença positiva na apreciação final. Um disco que não desilude as expectativas que se tinha em relação a ele. (8.5/10)

Negative Prayer – “Self//Wound”
2024 – Chaos Records

Trabalho de estreia do duo de Death/Sludge metal vindos dos E.U.A. que começa a carreira sem concessões. Álbum curto onde a sujidade do Sludge não se mete no caminho da abordagem mais primitiva e cavernosa do Death metal. E à partida até seria um álbum que nos passaria ao lado, não fosse o facto de ser tão conciso e intenso – e acima de tudo, bem conseguido naquilo que se propõe fazer – que fica na memória. O gostinho a punk/hardcore também tem uma palavra a dizer sobre o assunto. Boa surpresa. (8/10)

Wheel – “Charismatic Leaders”
2024 – InsideOut Music

 

Os Wheel estão de volta com a sua abordagem moderna ao metal progressivo, juntando-lhe um conceito lírico bastante interessante. Em termos estilísticos, “Charismatic Leaders” é um seguimento natural de “Resident Human”, com os seus altos e baixos. A qualidade musical é um óbvio alto, no entanto o facto de ser um trabalho que não se consegue destacar convenientemente daquilo que se faz por aí (ou que já foi feito, até pela própria banda) poderá fazer com que sem alguma persistência na audição se passe a outra coisa. Essa persistência será todavia recompensada. (7.5/10)

Before The Dawn – “Archaic Flame”
2024 – Napalm Records

Somos fãs dos Before The Dawn, como uma das grandes propostas de Death metal melódico actualmente, conseguindo ir buscar a nostalgia do estilo mas também olhando para o futuro. Este EP traz-nos quatro canções, duas originais, uma cover para a “Run To You” de Brian Adams e um tema ao vivo. Curiosamente é a versão que nos marcou mais mas no geral, é um EP bastante agradável. (7.5/10)

Shameless Band – “Nkabi Rock”
2024 – Edição de Autor

Da África do Sul, uma proposta refrescante. Os Shameless apelidam aquilo que fazem de Nkabi Rock, precisamente o título do álbum, que é na prática, segundo eles, uma fusão de metal, blues, kwaito, mbaqanga, isigxaxa, e até uma pitada de jazz. De forma a simplificar, é uma espécie de rock/metal alternativo sem medo de experimentar com raízes culturais muito próprias e onde vocalmente faz lembrar a forma como bandas como Hed PE e outras semelhantes abordam a música. Destaque para a música “Mission Impossible” que conta com a colaboração dos Scúru Fitchádu, eles próprios uma proposta singular. (7/10)

Suldusk – “Anthesis”
2024 – Napalm Records

Dark folk/black gaze da Austrália. Algo que à partida até parece que não soa bem. Pelo simples facto pela moda que se instalou na década passada e na forma como muita da música resultante dessa moda foi um pouco esquecível. Os Suldusk contrariam isso com música hipnótica e fascinante. Não que não estejam presentes os lugares comuns do pós-black metal ou do chamado black gaze, que estão, mas é a forma como há toda uma ambiência que fala mais alto e que nos suga e nos submete a uma prisão que não nos importamos nada de ficar submetidos. (9/10)

Blowfuse – “The 4th Wall”
2024 – Infected Records / Sbäm / HFMN CREW / Epidemic Records

Os Blowfuse são actualmente a maior banda punk de Espanha. Ou pelo menos a que tem mais qualidade – já que grandeza nunca obriga à pertença de qualidade. Ao quarto álbum, eles entregam precisamente aquilo que é esperado, punk rock melódico, com um acento maior na expressividade do rock melódico do que propriamente do punk. E se isso poderá ser mau para alguns mais puristas, para nós, desde que tenhamos malhas infecciosas e das quais não nos conseguimos livrar, é mesmo o que mais interessa. E temos disso com fartura. Mesmo que saibamos à partida que não será o trabalho de maior destaque da sua curta mas excelente discografia. (8.5/10)

RYUJIN – “RYUJIN”
2024 – Napalm Records

Sentimentos contraditórios em relação a este álbum de estreia dos RYUJIN, anteriormente conhecidos por Gyze. Se por um lado trazem aquele entusiasmo juvenil do Death metal melódico com alguns toques de black – a fazer lembrar os Children of Bodom do início de carreira. Mais no entusiasmo do que musicalmente. Por outro lado temos essa inocência a tornar-se por vezes constrangedora em alguns momentos. Felizmente, o saldo é positivo que faz com que esta seja uma estreia bastante interessante. (8/10)

Izzy And The Black Trees – “Go On, Test The System”
2024 – Antena Krzyku (IDVI Agency)

Psych rock com irreverência punk que soa sempre a algo da época em que este estava a ser substituído pelo post punk. Um EP com cinco temas que agradam a quem gosta sair da conformidade. (8/10)

Patriarch – “Demonic Heart”
2023 – WormHoleDeath

Quinto álbum para os belgas Patriarch, que apresentam uma vitalidade tal aqui em “Demonic Heart” que nem parece que já andam pelo underground desde 1988. Ao longo destes quase cinquenta minutos temos um testemunho de vitalidade e perseverança que surge num conjunto de canções que trazem um cariz moderno embora a produção seja algo crua. Nada que impeça que faixas como “Barely Alive, Far From Dead” nos soem poderosas. Após uma longa ausência é um bom regresso. (7/10)

 

Saturnalia Temple – “Paradigm Call”
2024 – Listebable Records

Sendo grande fã do doom, até poderá parecer estranho não ficar imediatamente rendido ao poder dos Saturnalia Temple. Vontade há para isso, afinal temos peso arrastado, temos groove que nos esmaga e um feeling hipnótico que até é efectivo. A questão é que passada a apreciação de todos estes elementos, ficamos sempre à espera de mais, algo mais que não surje. Os fãs de doom, todavia, deverão apreciar. (6/10)

Transatlantic – “Live At Morsefest 2022 – The Absolute Whirlwind”
2024 – InsideOut Music

Festim prog. Não há outra forma de o nomear a não ser assim mesmo, como um festim. Afinal temos aqui mais de quatro horas e meia de música que reúnem duas noites com dois alinhamentos completamente diferentes registados no Morsefest. São cinco cds de puro deleite musical na forma de rock progressivo que são absolutamente obrigatórios para os fãs desta super banda. (9.5/10)

Els Focs Negres – “Martiris Carnívors: Himnes Per A Un Nou Apocalipsi”
2023 – Firecum Records / Metal On Metal Records

Os portugueses Els Focs Negres estão de volta e continuam a cantar em catalão e apresentar a mistura perfeita entre o Heavy metal e o espírito necro do black metal. Old school como poucos conseguem ser até mesmo aqueles que vieram dos primórdios da mistura blasfema do hard’n’heavy com o oculto. Destaque para o épico de quase vinte minutos “Carnivors” que encerra o disco de forma memorável. Um segundo disco que mostra que este é um dos projectos mais excitantes do Heavy metal português. (9/10)

Six By Six – “Beyond Shadowland”
2024 – Inside Out Music

Regresso dos Six By Six para o seu segundo trabalho. O power trio tinha deixado boas indicações para os fãs de rock progressivo/art rock e as expectativas para este segundo álbum eram as mesmas. Senão maiores. Mais entrosados, os três músicos compostos por Ian Crichton (dos Saga), Nigel Glockler (dos Saxon) e vocalista / multi-instrumentalista Robert Berry (dos 3.2, GTR) trazem um álbum ainda mais sólido, onde a guitarra de Crichton é quem brilha mais. Um prazer auditivo para ouvidos progressivos. (8.5/10)

All This Filth – “Tomorrow Will Be Better”
2024 – Brutal Records

Groove metal. Tenho de confessar, não é o termo que mais entusiasmo me traz, no entanto, já andamos nisto há bastante tempo para ir para além dos rótulos. Os australianos All This Filth trazem peso e, sim, groove, mas longe de usar os elementos básicos para facilmente nos conquistarem a atenção. Brutalidade imparável, à qual nos subtemos facilmente. (8/10)

Kerasfóra – “Six Nights Beyond The Serpents Threshold”
2024 – Iron Bonehead Productions

Trabalho de estreia da one-man band Kerasfóra. E por esta altura poderá pensar-se “ainda há mesmo espaço para mais uma one-man band de black metal?” A resposta é simples, há espaço para toda a boa música, independentemente do seu estilo. Apesar das limitações que geralmente o formato one-man band oferece, este projecto chileno até consegue resultados satisfatórios, com uma abordagem mais atmosférica que relembra o underground do estilo em meados da década de noventa. Os resultados apelam mais à nostalgia desses tempos do que a algo contemporâneo. Para uns, isso será um problema, para outros nem por isso. Para nós, é simplesmente satisfatório. (7/10)

Hammer King – “König und Kaiser”
2024 – Napalm Records

O Rei Martelo está de volta com mais um álbum sólido de power metal. Sem ser demasiado doce nas melodias, e com o coração no sítio certo no que diz respeito à forma como os elementos Heavy metal são inseridos de uma forma que nos parece clássica. Em muitos momentos, os momentos áureos dos Metalium sugem-nos em mente mas os Hammer King soa iguais a si próprios e este é um álbum sólido ao qual os fãs do género se vão render sem qualquer tipo de esforço. (9/10)

Xavier Boscher – “Starseeds II”
2023 – Edição de Autor

Segunda parte da tetraologia do guitarrista francês Xavier Boscher que continua a viajar pelo espaço sideral e com isso a trazer-nos excelente música. Neste segundo capítulo temos uma vertente mais shredder, sem esquecer a vertente também ambient e fusão que tem marcado a sua carreira a solo. O resultado é mais um bom álbum de um dos mais inventivos músicos franceses. (8.5/10)

Extinct – “Incitement Of Violence”
2024 MDD Records (Against PR/The Metallist PR)

Primeira coisa a salientar deste segundo álbum dos alemães Extinct: não soam bem a alemães. Na realidade soam a norte-americanos teimosos a lançar um álbum de thrash/crossover ali por volta da primeira metade da década de noventa, estando ainda imunes a influências de bandas como Pantera e Machine Head. Portanto, algo na linha de uns Sacred Reich a tocar “Divine Intervention” dos Slayer. Uma unidimensionalidade que até é apreciada e até é traída por alguns apontamentos melódicos (nomeadamente nos solos) de forma satisfatória. No final, não sendo um álbum revolucionário, cumpre o seu propósito. (8/10)

Six Feet Under – “Killing For Revenge”
2024 – Metal Blade Records

Tenho que admitir que a expectativa era bastante baixa para este álbum. Afinal os últimos trabalhos da banda de Chris Barnes têm sido sofríveis, de tal forma que a mediocridade é confundida como algo minimamente decente. E o principal problema até era a voz. Por muito que musicalmente fosse desinspirado por vezes, nos momentos em que não era, a voz estragava tudo. Ora pois bem, aqui a voz surge sólida e musicalmente, os Six Feet Under estão devastadores. Certo, temos muitos dejá vús, havendo principalmente uma aproximação ao death metal mais clássico, deixando de parte o death’n’roll que durante muito tempo foi a sua imagem de marca. Mesmo sendo um trabalho previsível na vertente daquilo que já ouvimos do death metal, daquilo que já ouvimos da banda, é positivamente refrescante. (7.5/10)

Siculicidium – “A Halál Tengely”
2024 – Sun & Moon Records

 

Desconfiar sempre quando uma banda lança dois álbuns de rompante, principalmente se essa banda tocar black metal. Eu sei, eu sei, são preconceitos. Preconceito que neste caso até tem alguma razão de ser. De uma maneira frustrante. Porque apesar de algumas limitações a nível de produção e execução – sobretudo ao nível das vocalizações que são irritantemente monocórdicas e da bateria que está sempre a debitar o mesmo ritmo – temos algumas ideias bem conseguidas como o saxofone (ou algo parecido) que surge na “Nagyanyó Kenyér” ou alguns leads de guitarra que vão surgindo. Infelizmente na balança final, a voz (e o seu poder sobre nós) acaba por falar mais alto. (4/10)

Máquina do tempo

Shylmagoghnar – “Convergence”
2023 – Napalm Records (All Noir)

Bastaria a primeira música de “Convergence” para ficarmos completamente rendidos a Shulmagoghnar, a one-man band levada a cabo por Kevin Bertrand (também conhecido por Nimblkorg), não fosse já termos ficado rendidos com os anteriores trabalhos. Este terceiro álbum confirma o que já sabíamos, o talento aqui materializa-se de forma fantástica. Uma capacidade única para criar tapeçarias sonoras que apesar do contexto Death/black metal, não deixa de encantar com longas viagens onde a melodia aproveita da melhor forma algum arrojo progressivo. A beleza é contagiante e eterna, por mais que se ouça. E acreditem, vão querer ouvir muitas vezes mesmo. (9.5/10)

Strange New Dawn – “New Nights Of Euphoria”
2023 – Svart Records

Quem quer que seja chamado para definir aquilo que se pode ouvir neste álbum, de certeza que vai falhar. E incluo-me orgulhosamente nessa categoria. De tal forma que até aceito aquilo que está no Metal Archives, Progressive Doom Metal/Rock. Porque não? Faz todo o sentido, embora falte alguma coisa que sugira a ambiência, ainda que esteja implícita no rótulo atrás mencionado. Uma sensibilidade que se junta a uma sensação de peso e ao mesmo tempo uma atmosfera que não diminui em nada o peso, assim como a melodia também não o faz. A roçar a perfeição, um disco imortal. (9.5/10 )

Comaniac – “None For All”
2023 – Metalworld (Against PR)

Sem dúvida que os Comaniac são uma das grandes bandas de thrash metal da cena suiça e que a nível europeu são uma das mais interessantes. Pelo que um novo álbum causa sempre expectativas altas. Não foram defraudadas, é o que temos a dizer mesmo após um contacto mínimo com estas canções. Contacto mínimo que depois implora para ser ampliado. Mais acutilantes que nunca, a irem buscar o feeling tradicional mas sem esquecer o momento presente e já com uma identidade musical bem definida, o seu thrash metal é facilmente viciante e não perde poder mesmo na espécie de power ballad “Long Life Doll”, um exemplo da sua dinâmica e alcance. (9/10)

Amalekim – “Avodah Zarah”
2023 – Avantgarde Music

Segundo álbum deste projecto italo-polaco que nos traz black metal melódico com um forte factor épico e com melodias que nos conquistam logo desde o primeiro momento. Aquele riffa da primeira música “Psalm I: Avodah Zarah”, deixa-nos sem qualquer tipo de argumentos. Mesmo que tenhamos na manga “ah isto já foi feito muitoas vezes antes”. Claro que já foi feito muitoas vezes antes mas deveremos ignorer a qualidade apenas porque já vimos algo semelhante anteriormente? Ridículo. Assim como é ridícula a qualidade deslumbrante deste álbum. (9/10)

Black Reuss – “Arrival”
2023 – Self Released

Foi uma boa revelação este “Arrival”. Apesar de ter começado a sua carreira apenas em 2018, esta one-man band do Liechtenstein chega agora em 2023 ao seu quarto álbum. Poderia pensar-se que, tal como muitos projectos solitários, de que a qualidade seria inferior à quantidade, mas não é de todo o caso. Uma mistura muito bem conseguida entre o doom e o gothic metal, e com músicas que revelam-se interessantes não só pela qualidade em si mas sobretudo pela forma como conseguem perdurar no tempo e resistir a muitas audições. Uma das boas surpresas no estilo em 2023. (8.5/10)

Hinayana – “Shatter And Fall”
2023 – Napalm Records

Apesar de terem lançado o seu álbum de estreia em 2017, acreditamos aqui na World Of Metal que será com este segundo trabalho que a banda americana vai conseguir dar nas vistas. Com um forte apego às melhores tradições do doom/Death metal melódico, os temas aqui contidos poderão não impressionar pela novidade mas sem dúvida que trazem um sabor acrescido para quem gosta deste tipo de sonoridade que foi ficando em desuso nos últimos anos. Recomendado. (8.5/10)

Organ Dealer – “The Weight Of Being”
2023 – Everlasting Spew Records

Porrada incansável ao longo de pouco mais de vinte minutos que é mesmo aquilo que quem procura por um bom grindcore tem. Sem grandes pausas para respirar, e sempre carregar no caos controlado, “The Weight Of Being” é um dos grandes destaques do estilo em 2023” (8.5/10)

Dismal Aura – “Imperium Mortalia”
2023 – Avantgarde Music (Aural Music)

Segundo álbum dos canadianos Dismal Aura que apresenta uma refrescante abordagem no black metal. Com toques de punk, com melodia e no geral, com uma dinâmica que não faz antever de que este é um trabalho com menos de meia hora mas que oferece muito mais em audições antes de se esgotar. É também um disco que cresce facilmente no interior do ouvinte. (8/10)

Tortuga – “Iterations”
2023 – Napalm Records

Debut of the Poles Tortuga by Napalm Records. A somewhat surprising debut as Napalm Records does not even usually expand much into the stoner/doom metal fields, especially when it has a well pronounced psychedelic rib. Still, even though it is not a record for the regular customers of the Austrian publisher, it does not lack quality. A work that becomes interesting by the simplicity of its approach which makes it easy to surrender to its groove. (7.5/10)

Mactätus – “Provenance Of Cruelty”
1998/2023 – Northern Silence Productions

 

Reedição do segundo álbum dos já defuntos noruegueses Mactätus, que originalmente foi editado pela Napalm Records – o que em si é interessante para verificar as mudanças que o tempo traz. Black metal como manda a tradição da segunda vaga norueguesa que era aquilo que era procurado na altura – embora por esta altura, as tendências góticas fizessem mais sucesso do que propriamente o black metal puro e duro. Melódico mas sem cair em exageros, podemos queixar-nos da falta de dinâmicas, mas depois temos malhas como “Sleepless Souls” que acabam por compensar. Sólido e a merecer honras de reedição. (7.5/10)

Pogavranjen – “CIAO!”
2023 – No Profit Recordings

Podemos já começar por dizer que a música aqui contida é estranha. Algo que poderiam já se ter apercebido simplesmente por ter olhado para a capa. Psicadelismo, uma sensação progressiva e até proximidade a uma sensibilidade jazz. Resumindo, o que se tem é música desafiante para não dizer simplesmente esquisita. Algo que desafia a capacidade do ouvinte, mal habituado por um mundo povoado de playlists onde só se ouve aquilo que é agradável e não oferece muita resistência. Se querem saber o que é música fora da caixa, esta é uma paragem obrigatória. (7/10)

Kontrust – “Madworld”
2023 – Napalm Records

The Kontrust are crossover legends, at least that’s what’s mentioned in the press release. The return comes nine years after the last album of originals and what they present, the crossover part of their sound description, is the blend of elements of pop, reggae and dance music with strong and powerful guitars. Far from being revolutionary, it manages to be interesting before becoming annoying due to repeating the same ideas constantly. Less demanding fans of electronic pop music may be interested. (4/10)


 

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