Pilha de Discos #5 – Evergrey, Riot V, Fonte, Rage, Blaze Of Perdition, Serrabulho e muito mais!
Fonte – “Medomorfose”
2024 – Edição de Autor
Segundo álbum dos Fonte que apresenta-os com uma identidade renovada mas também já esperada. Uma evolução que só os torna ainda mais únicos, na forma como abordam o crossover. Evolução que até os coloca para lá desse campo mais ou menos definido. O conceito lírico do álbum é extremamente interessante e até inteligente, na abordagem às lutas internas, vitórias e derrotas de cada um. Um conceito lírico que ainda traz mais intensidade à música em si. É um salto evolutivo que torna “Medomorfose” um dos trabalhos mais interessantes do underground nacional em 2024. (9/10)
My Diligence – “Death.Horses.black”
2024 – Listenable Records
Os belgas My Dilighence regressam com um grande quarto álbum. Para quem começou por tocar stoner, uma longa distância foi percorrida, sendo que a sua sonoridade está muito mais personalizada, atmosférica e com um peso e profundidade nunca antes alcançados. O resultado é um dos seus melhores álbuns de sempre. (9/10)
Antiflesh – “Hosanna”
2024 – Theogonia Records
O que é que o black metal tem a oferecer nos dias de hoje que já não tinha sido apresentado de forma mais impactante e duradoura? É sempre subjectivo porque transpira arrogância pensar que tudo o que é válido já foi criado. Apesar de conscientemente sabermos isso, foi esse pensamento que falou mais alto quando começámos a ouvir “Hosanna”, o segundo álbum dos polacos Antiflesh. O que só tem mais valor, com consequentes audições sermos conquistados aos poucos pelo ambiente frio e desolador, uma ambiência única, que transformam aquele que seria mais um trabalho unidimensional e previsível em algo que é muito mais que isso. Um álbum que não se preocupa em ser inovador mas tem a sua própria personalidade e identidade. Esse é o seu grande triunfo. (8.5/10)
Serrabulho – “Piss & Love”
2024 – Rotten Roll Rex
Regresso aguardado por parte da maior banda de party grind nacional. Um regresso que nos traz mais uma mão cheia de temas que sabemos que vão marcar presença nos concertos da banda. Embora saibamos que as bandas que usam o humor como principal (ou quase principal) arma na sua música podem correr o risco, tal como qualquer boa anedota, que com o tempo a efectividade diminua, os Serrabulho trazem sempre uma dose generosa de brutalidade a acompanhar. Algo que temos com abundância sem esquecer a piscadela a temas mais conhecidos como na “I’m Proud To Be A Cow”, “E Pudesse Eu Cagar De Outra Forma” (já revelada em alguns concertos), na “I Pissed A Girl And She Liked It” e na “Anal La La La Long”. Humor desconcertante que não é para todos mas que mantém a banda como a mais inspirada no género em que se insere. (8.5/10)
Setyoursails – “Bad Blood”
2024 – Napalm Records
Os alemães Setyoursails (que incluem o português André Alves nas guitarras) estão de volta para o segundo álbum depois de boas indicações deixadas com a estreia “Nightfall”. Som moderno, dentro do metalcore, com melodia e peso juntos para trazer os melhores resultados. Aquilo que se perde em termos de novidade – porque há muito pouco a trazer de novo ao género – ganha-se em músicas infecciosas. Para os fãs do lado mais melódico e acessível do metalcore, esta é uma boa aposta. (8/10)
Cranial Disorder – “Congenital Depravity”
2024 – Dismembered Records (Anubi Press)
Estreia dos indonésios Cranial Disorder que trazem brutal death metal sem contemplações que nos faz lembrar o underground asiático vinte anos atrás. A diferença está na produção e eficácia que é bastante maior. Bom som e boas dinâmicas. (8/10)
Siroll! – “Al Gra!”
2024 – Edição de Autor (Blood Fire Death)
Os Siroll regressaram até ao passado, nomeadamente ao passado de Venty, aquando pertencia aos Hysteresis Of Anger e estavam a trabalhar precisamente neste álbum “Al Gra!” que nunca chegou a ser finalizado. Ora durante a pandemia, Vendy acordou com os restantes membros de Siroll! Para trabalharem nestes temas e o resultado é uma mistura de Metalcore com hardcore nu-metalizado que soa bastante bem, mesmo aos ouvidos de quem não é fã do género. (7/10)
Waste Disposal Machine – “Chimaera”
2024 – Ragingplanet/Chaosphere Recordings
Aqui está o terceiro álbum dos Waste Disposal Machine que surge quase dez anos depois do anterior. Curiosamente parece que o tempo não passou por ele, isto sem soar datado. Temos o industrial a ir por caminhos rock, mais melódicos, mas também a abraçar a estética do metal de bandas como Bizarra Locomotiva. Uma expansão e diversidade que é bem-vinda assim como os próprios Waste Disposal Machine. (7/10)
Mocs & Cucs – “Cremem Los Putos Bancs”
2024 – Edição de Autor (Blood Fire Death)
Os Mocs & Cucs são uma banda que mistura muito bem o espírito do crossover com bom humor e até elementos de Heavy metal tradicional principalmente no excelente bom gosto no que aos solos de guitarra diz respeito. Segundo álbum muito tempo após do primeiro, mas com qualidade suficiente para garantir atenção dos mais curiosos. (6.5/10)
Blue Öyster Cult – “Ghost Stories”
2024 – Frontiers Music
Regresso de um dos grandes nomes do rock clássico da década de oitenta. Bandas como os Blue Öyster Cult já não tem nada a provar e as expectativas para cada novo álbum – com uma carreira já com quarenta anos – não são muito grandes. Por um lado, sabemos que os clássicos são intocáveis e será praticamente impossível fazê-los esquecer. Por outro, raras são as bandas que nesta situação não queiram simplesmente fazer o que querem, sem terem a pressão desse mesmo passado. Tendo isto em mente, “Ghost Stories” é um álbum agradável e suave – suavidade culpa também pela produção e mistura – ao qual os fãs mais acérrimos vão receber de braços abertos mas que será difícil de fazer ferver o sangue. (6/10)
Riot V – “Mean Streets”
2024 – Atomic Fire Records
Regresso de uma das mais clássicas bandas do underground do heavy metal: Riot. Sabemos que as mudanças na formação foram bastantes e que a glória do passado normalmente fica no passado, no entanto aquilo que a banda conseguiu neste álbum faz-nos pensar que é possível não superar o que já foi feito mas mostrar que o presente pode ser tão bom (sem querer entrar em blasfémias). “Mean Streets” é um álbum clássico de heavy metal sem ser saudosista, a soar como heavy metal deve soar sempre: intemporal. (9/10)
Blaze Of Perdition – “Upharsin”
2024 – Metal Blade Records
Os Blaze Of Perdition regressam e mais furiosos que nunca. “Upharsin” demonstra que a banda não está com vontade de abrandar e mesmo assim trazem um álbum que é musicalmente dinâmico – tanto nos tempos que usa como até nas sensações que provoca. Cinco temas longos onde cada um deles é uma viagem, cada um com os seus pontos altos. “Upharsin” consegue algo difícil, reforça o peso e a violência mas ao mesmo tempo demonstra uma abrangência musical e a nível de arranjos que é bastante positiva. (9/10)
Ad Patres – “Unbreathable”
2024 – Non Serviam Records
Terceiro álbum dos franceses Ad Patres que trazem um death metal entusiasmante e levemente técnico. Levemente porque não se perde no foco de ter malhas fortes sem grandes devaneios. Directos ao assunto mas com dinâmicas suficientes para que se sinta que não se está a ouvir a mesma música constantemente. É death metal, equilibrado entre o moderno e o clássico, no ponto. Este disco eleva sem dúvida a fasquia para eles e para a concorrência. (8.5/10)
Ruído Roído – “Êxtase Do Silêncio”
2024 – Raging Planet
Segundo álbum para os portugueses Ruído Roído que continuam a fazer perfeito sentido com a sua designação, embora “Êxtase Do Silêncio” seja irónico na medida que este êxtase surge nos meandros do noise rock abrasivo e até experimental e conceptual que estes oito temas contêm. Apesar de sabermos que ao vivo este tipo de som é bem mais expansivo do que aquilo que surge em estúdio mas neste trabalho podemos sentir essa mesma expansão de forma, algo que presta testemunho à qualidade do trabalho em si e pela forma como os elementos electrónicos surgem como parte do todo em harmonia. (8.5/10)
Sebastian Bach – “Child Within The Man”
2024 – Reigning Phoenix
Sebastian Bach, eterno enfant terrible do hard rock, está de volta com o seu sexto álbum a solo onde a sua voz é o fio condutor para 11 canções de hard rock que têm poder e melodia alinhados e equilibrados no mesmo nível. Um disco que mostra que é possível de trazer algo novo para além do legado dos álbuns dos Skid Row onde participou. “Freedom” é um excelente exemplo disso mesmo. (8/10)
Yosemite In Black – “The Pursuit Of”
2024 – Terminus Hate City (CSquared Music)
Os norte-americanos Yosemite In Black trazem com “The Pursuit Of” uma bomba de hardcore metálico. Cru e intenso mas sobretudo, o ponto mais importante, bastante dinâmico, este é um álbum recomendado dentro do universo do hardcore. (8/10)
Beholder – “Dualisme”
2024 – Avantgarde Music (Metaversus PR)
Os canadianos Beholder regressam com um segundo álbum onde o black metal cru mas ainda assim poderoso é o prato do dia. Quem gosta da fórmula escandinava, onde o riff e a atmosfera são reis, vão encontrar aqui um prato bem fornecido de ambas. Sem surpresas mas com qualidade, é recomendado para os amantes das artes negras. (7.5/10)
Motivik – “Renouncement”
2024 – Roxx Records (Imperative PR)
O formato duo normalmente é associado à música extrema, principalmente no black metal. Logo quando temos conhecimento dos Motivik, uma banda de thrash metal composta por dois músicos, Ryan Roebuck a cargo de todos os instrumentos e também voz e Courtney Simmons na voz, fica-se automaticamente curioso. “Renouncement” é o segundo álbum de originais deste projecto e demonstra estar no bom caminho. A capacidade técnica de Roebuck e também os seus talentos de composição são assinaláveis, conseguindo boas dinâmicas. Como exemplo temos a “Break The Walls” que tem um refrão que relembra algo mais melódico. Bem conseguido mas talvez algo longo demais para o seu próprio bem, menos alguns temas e teríamos um álbum mais sólido. (7/10)
Zombie Hunger – “Zombie Hunger”
2024 – Edição de Autor
Com um nome destes, provavelmente esperaria-se algo mais na linha do gore grind e não um stoner/doom metal. Riffs arrastados e uma voz que poderá custar a habituar. Os fãs do estilo terão mais facilidade para quem chega a ele pela primeira vez. (6.5/10)
A Day in Venice – “A Man Without A Name”
2024 – Edição de Autor
Andrej Kralj, o homem por trás de A Day In Venice traz-nos uma mistura de post-punk, shoegaze e alternativo que tem um cheirinho forte à década de oitenta. E esse é o único factor memorável deste álbum. (5/10)
Rage – “Afterlifelines”
2024 – Steamhammer
Rage, um nome incontornável do metal teutónico, com um histórico invejável e que ultrapassou diversas fases e mudanças na sua carreira. E por esta altura, quando a banda já tinha ultrapassado há algum tempo a fase mais exuberante da anterior era, eis que regressam com um ambicioso álbum duplo que se divide no primeiro disco intitulado “Afterlife” e o segundo “Lifelines”, sendo que o primeiro foi gravado pelo power trio e o segundo inclui arranjos orquestrais. Já que a divisão foi feita dessa forma, podemos também fazer o mesmo. “Afterlife” é dinâmico, com aquela mistura de heavy/power/thrash metal que os Rage já nos habituaram, inspirado e memorável, um conjunto de temas que nos agarram logo à primeira. Já o segundo, mostra um lado diferente da banda mas que não significa prescindir do peso em detrimento dos elementos orquestrais. Um feeling diferente que mostra uma divisão que até poderia sustentar-se como um álbum à parte, um pouco à semelhança do que os Moonspell fizeram com o “Alpha Noir” e “Omega White” – embora a divisão entre os dois neste caso não seja tão flagrante. Duas faces distinta da mesma moeda no melhor álbum dos Rage desde há muito tempo (9/10)
Inherits The Void – “Scars Of Yesteryear”
2024 – Avantgarde Music (Metaversus PR)
Terceiro álbum da one-man band francesa que está a tornar-se um caso sério no que ao black metal mais melódico e atmosférico diz respeito. Sem grandes gimmicks, apenas com um sentido de melodia marcante, que dota as músicas de um efeito épico que as torna memoráveis, este é um disco ao qual voltaremos muitas vezes mais no futuro e sem dúvida um projecto a acompanhar de perto. (9/10)
Machukha – “Mochari”
2024 – Consouling Sounds
Tenho de confessar que de caras prefiro post metal a post black metal. Apesar das muitas semelhanças entre os dois, o post metal vai para além das modas que aproximaram o black metal do shoegaze e assim em pouco tempo se tornou algo bastante previsível. De vez em quando, lá surge uma banda que apesar de não querer (ou pelo menos aparentar) fugir a fórmulas pré estabelecidas, consegue surpreender pela positiva. É o caso dos ucranianos Machukha que com esta estreia dão um novo sentido à palavra “dinâmica”, pelas atmosferas sinistras que evocam que são simultaneamente perfeitas para ilustrar um apocalipse pessoal. (8.5/10)
Black Lava – “The Savage Winds Of Wisdom”
2024 – Season Of Mist
Segundo álbum dos australianos Black Lava que mostra uma evolução considerável em relação à estreia. Os níveis de brutalidade estão bem altos, riffs retorcidos e a apontar levemente à dissonância, assim como bons solos. Não são muitos, mas quando surgem, são memoráveis. E isso neste estilo concreto, de death metal enegrecido, ainda mais interessante se torna, reter uma personalidade própria que consegue ir para além daquilo que é óbvio. Recomendado. (8.5/10)
Mr. Big – “Ten”
2024 – Frontiers Music
Este álbum é sentido como o capítulo final da carreira dos Mr. Big. A banda já tinha iniciado a sua digressão de despedida (que está a meio) depois do seu baterista de sempre Pat Torpey ter falecido devido a Parkinson. Contanto com Nick D’Virgilio nas peles, (tanto na digressão como neste álbum) temos onze novas músicas que trazem talvez o álbum mais relaxado da banda. Como se houvesse o sentimento de missão cumprida. Hard rock com muito feeling blues e sem querer ou sequer ter nada a provar a quem quer que seja. (8/10)
Lilla Veneda – “Primordial Movements”
2024 – Edição de Autor (Metal Devastation PR / Solid Rock PR)
Uma designação bastante estranha à qual não sabia bem o que esperar em termos sónicos. O que se tornou mais surpreendente quando “Primordial Movements” traz death metal moderno e com alguns tiques industriais (algo mais próximo de uns Misery Loves Co. do que propriamente Ministry). Apesar do que esta descrição possa parecer, o resultado é até bastante refrescante. (8/10)
ACxDC – “G.O.A.T.”
2024 – Prosthetic Records
Os ACxDC – também conhecidos como Antichrist Demoncore – já são um nome incontornável no grind/powerviolence e este segundo álbum é um enxugo de porrada do início ao fim, com uma produção crua, volume no máximo e fé em Satã. Pouco menos de vinte cinco minutos, ideal para quem gosta de furacões em forma musical. (7.5/10)
Desaster – “Bringing The Storm To Rotterdam”
2024 – Nomad Snakepit Productions
Regresso ao passado por parte da mítica banda de black/thrash metal teutónico. Registado em 1997, depois do álbum de estreia e do EP que se seguiu, “Stormbringer”, temos um retrato temporal interessante, numa fase embrionária dos Desaster. A qualidade é crua mas também a música o era (ainda mais do que é hoje em dia, sendo um registo em vinil que vai interessar aos coleccionistas. (7/10)
Disbelief – “Killing Karma”
2024 – Listenable Records
Os Disbelief sempre foram uma banda peculiar e inconstante, dotando o seu death metal de características pouco tradicionais. A inconstância que refiro reflecte-se sobretudo nos resultados que conseguiu obter, talvez nunca perto daquilo que mereciam. “Killing Karma” nesse aspecto é bem mais tradicional do que o esperado. Death metal com muito groove que apesar de ter qualidade, que tem, não sobressai de nada que se tenha ouvido antes dentro do mesmo género. (6.5/10)
Eigenstate Zero – “Machinery Of Night”
2024 – Edição de Autor (Cutting Edge Metal PR)
Projecto de death metal progressivo por parte de Christian Ludvigsson (da também one-man band Unchristian Christian). Temos uma abordagem experimental e que tenta encaixar muitas coisas diferentes no mesmo tacho. O facto dessas coisas diferentes por si só, não quer dizer que juntas resultam de forma satisfatória. O cariz jazz das composições também ajuda a que seja difícil de interiorizar. No entanto, os mais aventureiros vão apreciar definitivamente. (5/10)
Amiensus – “Reclamation: Part 1”
2024 – M-Theory Audio
Quatro anos de espera pelo novo trabalho dos Amiensus e nada melhor que ver o sacrifício da espera ser recompensado desta forma: com um excelente álbum e com a promessa da sua sequela chegar poucos meses depois. Não podemos falar pela parte dois, mas esta primeira é um absoluto mimo no que ao black metal atmosférico, melódico e progressivo diz respeito. A capacidade de envolver o ouvinte é impressionante, principalmente quando o fazem com músicas memoráveis. Sabem aquela sensação de se estar perante uma obra de arte? É o que se sente depois de ouvir este álbum, cada uma das vezes que isso acontecer (e garantimos que não será apenas uma). (9.5/10)
Evergrey – “Theories Of Emptiness”
2024 – Napalm Records
Os Evergrey têm conquistado num público um reconhecimento crescente assim como a aprovação pela crítica, pelo que a indicação de um novo álbum da banda liderada por Tom S. Englund são excelentes notícias. Mais excelentes se tornam depois de pouco tempo a conviver com “Theories Of Emptiness” que mostra como o metal progressivo pode ser interessante mesmo para aqueles que não apreciam metal progressivo. Riffs e linhas vocais memoráveis, solos marcantes e peso que não dispensam da melodia para tornar as músicas ainda mais atractivas. Um regresso que justifica a aclamação definitiva dos Evergrey como um dos nomes obrigatórios no género em que se inserem. (9/10)
Garland’s – “Turn The Sky”
2024 – Edição de Autor (Sozius PR)
Como poderá um lançamento que mistura shoegaze, kraut e psych rock, com dream pop, deixar-nos a nós, metalheads, tão impressionados? Bem, não há propriamente uma resposta linear a esta questão mas podemos dizer que as teclas que são pressionadas são praticamente as mesmas que o post rock/metal pressiona, ou seja, com um sentido atmosférico quase palpável que é o fio condutor ao longo destes quase cinquenta minutos de música que é composto pelos dois EPs “Turn The Sky” e “Condor”, sendo que o primeiro foi gravado durante a pandemia e o segundo anteriormente. (8.5/10)
Unleash The Archers – “Phantoma”
2024 – Napalm Records
Os Unleash The Archers são uma daquelas bandas que mostram como um estilo pode evoluir e manter-se fiel a si próprio. Como uma banda consegue ter uma identidade, evoluir e supreender. “Phantoma” é mais do que simples álbum de Power Metal. É um álbum que apresenta várias facetas e de certa forma até é bastante mais acessível para fora do seu espectro musical do que o esperado. E isso não tem de ser necessariamente negativo. Um álbum a consumir sem moderação. (8.5/10)
Moonspell – “Under The Moonspell (The Early Years Collection)
2024 – Alma Mater Records
Depois de regravar o seu passado na compilação “Under Satanae”, é chegado o momento de reeditar as versões originais (e as regravações também) num pacote especial e de luxo, e em separado, em diversos formatos embora seja o vinil o mais procurado e atractivo para os coleccionadores. Enquanto a demo e o EP original foram remasterizados por Jaime Gomez Arellano , “Under Satanae” foi remasterizado por Tue Madsen. Para quem quer completar a sua colecção dos primórdios dos Moonspell, não haverá oportunidade melhor. (8/10)
Age Of Steel – “Age Of Steel”
2024 – Edição de Autor
Heavy/speed metal catalão com uma voz lusitana a instigar as horas. Os Age Of Steel trazem entusiasmo inocente que lembram a febre do estilo na década de oitenta. Um primeiro passo que garante a nossa atenção para o futuro próximo, ficando a promessa implícita de mais e melhor. (8/10)
Ronker – “Fear Is A Funny Thing, Now Smile Like a Big Boy”
2024 – Labelman (Tou Par Tout)
Paradoxos. Aqui temos alguns, neste álbum de estreia. A voz e as melodias vocais, tirando a aspereza, remetem-nos para o post punk. O instrumental tem um pouco de alternativo próprio da década de noventa com um espírito post metal de fundo. Uma misturada que é mais eficaz do que possa parecer. Bom início de carreira discográfica. (7.5/10)
Hatefulmurder – “I Am That Power”
2024 – Edição de Autor (Reverbera Music Media)
Quarto álbum dos brasileiros Hatefulmurder que regressam após alguns anos de silêncio. A abordagem é moderna, um misto de death metal, com alguma melodia, com alguns tiques grooves e melódicos. Sem ser revolucionário, mas com muita garra, graças também à prestação de Angélica Bastos, este é trabalho que mostra que o potencial total da banda ainda está por surgir. (7/10)
Combat Noise – “To The Heart Of The Battle”
2024 – Satanath Records
Onze anos depois, aqui está o quarto álbum dos death/grinders Combat Noise. “To The Heart Of The Battle” é padeirada forte que poderá constituir uma surpresa para quem não conhece (ou já se tinha esquecido) da banda cubana. As dinâmicas podem escassear mas os aficionados não se vão queixar. (6.5/10)
Siculicidium – “Az Elidegenedés Melankóliája”
2024 – Sun & Moon Records
Segundo álbum dos romenos Siculicidium em 2024. Se depois do primeiro, o nosso entusiasmo esmoreceu, a expectativa não era elevada. Talvez por isso, esta tenha sido uma boa surpresa, ainda que não seja um álbum que queiramos ouvir muitas vezes. Praticamente sem distorção e sem grande percussão (quando esta existe continua a ser minimalista e básica), mas com uma vertente ambiental mais acentuada. Esse factor acaba por ser o que mais relevo tem e mais interesse traz. Claro que quem procurar apenas por black metal vai ficar profundamente desiludido. Mas a vida é assim, feita de desilusões. (6/10)
Albaluna – “Ennead”
2024 – Edição de Autor (Westwave Productions)
Expectativas altas para este regresso dos Albaluna. Tendo já passado a pente (muito) fino, toda a sua discografia, “Ennead” logo à partida carregava em si uma enorme antecipação que se fosse noutra banda qualquer até poderia ser perigosa para que houvesse espaço para alguma potencial desilusão. Não é o que acontece, com a fórmula única da banda fundir world music (e nessa world music, muita da nossa sonoridade cultural) com uma sensibilidade progressiva. E não bastasse a música, também os conceitos líricos, como sempre, são bastante ricos. No geral esta é uma viagem pela história, pela cultura, pelo que fomos mas sobretudo pelo que somos, com tudo o de bom e mau que é inerente. Absolutamente obrigatório. (9.5/10)
Maragda – “Tyrants”
2024 – Spinda Records
No seu segundo álbum de estúdio, os catalães Maragda regressam com todo o esplendor psicadélico. Uma viagem que faz elevar o espírito e promove o despertar espiritual. Bem, talvez não seja assim tão certo que seja este o seu efeito em todos os ouvintes que se cruzarem com ele mas definitivamente tem esse potencial embebido. Uma mistura vencedora entre o rock psych e o progressivo sem se colar muito a referências já estabelecidas nestes dois géneros – ou na fusão entre os dois. Vá para fora cá dentro. (9/10)
About Us – “Take A Piece”
2024 – Frontiers Music
A Índia até poderia ser um nome suspeito no que diz respeito ao hard rock, mas os About Us comprovam que o estilo germina em qualquer sítio onde haja talento. Ao segundo álbum, é isso que fica bem claro sobre esta banda, num álbum que não deixa de apresentar uma produção forte ao nível de guitarras, onde estas notam bem um cheirinho a metal progressivo, quer nos ritmos, nos leads e nos solos. Para quem não os conhece, será uma excelente surpresa. (8.5/10)
Child – “Shitgeist”
2024 – Suicide Records (Viral Propaganda PR)
Castanhada da boa. Os Child estão-se a tornar um caso sério no assunto e este “Shitgeist” apenas é mais uma padeirada nesse sentido. No entanto, nem tudo é castanhada bruta e imparável. Também temos dinâmica acrescida pela inclusão do tema “I Will Refuse” que conta com a participação de David Sandström. Sabe a pouco mas para esse problema há sempre solução. (8.5/10)
Resurge – “Resurge From Underneath”
2024 – Miasma Records
Trabalho de estreia dos Resurge, banda de death metal old school que tem deixado boas impressões nos palcos nacionais um pouco por todo o país. Não haveria grandes surpresas a esperar conhecendo minimamente o percurso da banda. O que se tem é mesmo death metal como manda as leis mais primitivas e agressivas do género, ou seja aquilo mesmo que o médico recomenda para a cura da tosse. Unidimensional, violento mas longe de ser tosco, este é um nome a reter na música extrema portuguesa em geral e no death metal em particular. (8/10)
Highly Suspect – “As Above So Below”
2024 – In De Goot Entertainment (Tell All Your Friends PR)
Rock boa onda. Acessível, melódico e sobretudo, este é o ponto fulcral, tradicional. “As Above So Below” soa clássico como se fizesse parte da banda sonora do primeiro Regresso Ao Futuro. Boa surpresa. (8/10)
Anahata – “Syncretic Sovereignty”
2024 – Edição de Autor (Metal Devastation PR)
Projecto que junta músicos canadianos, britânicos e australianos e que atrai a nossa atenção – apesar de começar com uma intro que não dá a mínima pista em relação ao que se vai ouvir. Aquilo que temos é heavy metal tradicional com laivos de power metal, progressivo e outros elementos mais pesados. A produção não o favorece totalmente mas também não é por aí que se deixa de apreciar este álbum ambicioso, o segundo da sua carreira. (7.5/10)
Nestor – “Teenage Rebel”
2024 – Napalm Records
Segundo álbum dos Nestor, uma banda que apesar de ter iniciado a sua carreira mais de três décadas antes, só em 2021 lançou o seu álbum de estreia. “Teenage Rebel” traz aquilo que se esperava, hard rock melódico típico da década de oitenta que, apesar deste facto, não soa muito datado. Ou pelo menos é bom suficiente para que esse factor tenha peso negativo. (7.5/10)
Scheitan – “Songs For Gothic People”
2024 – The Circle Music (3 Nation / Against PR / Metal Devastation PR)
Este foi um regresso inesperado. Depois do black metal, depois do death’n’roll e sobretudo, depois de vinte cinco anos de ausência, o regresso materializa-se no rock gótico. Um percurso estranho mas que ainda assim não belisca a efectividade deste conjunto de músicas. Sim, vão buscar grande parte (senão todos) dos lugares comuns do estilo, mas quem for fã do mesmo, não vai encontrar razões para se queixar. (6/10)
Pestilence – “Levels Of Perception”
2024 – Agonia Records
Regravar o passado sempre foi um pau de dois bicos. Nem sempre corre bem e nem sempre se percebe o motivo – embora regravar álbuns se perceba pelo simples intuito de recuperar canções para as quais não se tenha os direitos dos lançamentos originais, uma ocorrência comum para as bandas no início de carreira. Neste caso temos um best of que tem a particularidade de ter todos os temas regravados. Porquê, ninguém explica. Assim como também não se percebe a selecção dos temas nem porquê estas regravações soam versões demo dos temas originais. E sem falar de toda a polémica em volta da capa. Ou seja, resumindo, era escusado. (2/10)
Sylvaine – “Eg Er Framand”
2024 – Season Of Mist
Sylvaine é sem dúvida um dos nomes a reter da cena underground, ainda que a sua música pareça melódica demais para pertencer ao underground. Abraçando o tão malfadado post black metal e estando presente numa editora como a Season Of Mist, ganhou uma projecção entre os fãs de música extrema, apesar de todos os contornos melódicos. Este EP assenta sobretudo nesses mesmos contornos melódicos, com uma abordagem folk/ambiente simplesmente cativante e hipnótica. Obrigatório! (9.5/10)
Ellis Mano Band – “Live: Access All Areas”
2024 – SPV Recordings
Classe. Um banho imersivo dela. Ellis Mano Band já nos tinha impressionado com os seus trabalhos de estúdio mas ao vivo, esse impacto é ainda maior. Quando o rock moderno soa a plástico e torna-se estéril, o rock clássico, principalmente quando embebido de muito blues, ganha um gostinho bem mais saboroso do que o esperado. Quinze músicas registadas em 2023 na Alemanha e na Suiça em mais de noventa minutos de excelência. (9/10)
Darkness – “Blood On Canvas”
2024 – Massacre Records
Diz o comunicado de imprensa que este é o álbum mais feroz dos Darkness. A banda alemã não sobressaiu muito na sua primeira encarnação na década de oitenta – a concorrência também era mais que muita, dentro e fora do seu país – mas este álbum é sem dúvida não só um dos mais ferozes mas também um dos mais inspirados. Thrash metal a provar que a idade não é limite para criatividade memorável. (8.5/10)
Decline And Fall – “Gloom”
2024 – Bleak Recordings (Viral Propaganda PR)
Surpreendente projecto que junta Armando Teixeira dos Bizarra Locomotiva, Ricardo S. Amorim (autor dos livros Culto Eléctrico e Lobos Que Foram Homens – A História de Moonspell) e Hugo Santos dos Process Of Guilt. O resultado são quatro faixas que juntam ao imaginário industrial um feeling post punk/dark wave bastante interessante. Mais do que música para dançar, o que se tem é quatro faixas que nos remetem para uma profundidade reflectiva num ambiente que se torna opressivo, não sendo estranho aos conceitos e sonoridades, de certa forma, dos Bizarra Locomotiva e Process Of Guilt mas com um potencial melódico e melancólico superior. Estamos interessados em ver (e ouvir) o que daqui vai sair de seguida. (8.5/10)
Grim Colossus – “Descent Into Madness”
2024 – Edição de Autor (the metallist pr)
Álbum de estreia deste projecto de Magnus Berglind que nos traz doom metal clássico – por clássico referimo-nos à fórmula da década de oitenta que nos remete sobretudo para bandas como Candlemass. Bons riffs, melodias inteligentes que nos são apresentadas e tornam-se facilmente memoráveis.Um álbum que poderá passar despercebido – pelo facto de ser um lançamento de autor e por não apostar numa sonoridade moderna – mas que com o tempo poderá tornar-se objecto de culto para os fãs de doom metal tradicional. (8/10)
Remedy – “Pleasure Beats The Pain”
2024 – Escape The Music
Felizmente, apesar da mudança de modas e das voltas que o mundo (da música) dá, ainda temos estilos que são muito bem tratados apesar de não moverem tantas multidões como outrora. No caso dos Remedy, falamos de um hard’n’heavy rock melódico e de extremo bom gosto, com ganchos que nos agarram sem qualquer hipótese de nos conseguirmos libertar. Mais pesado do que as propostas típicas de hard rock melódico mas sem ter medo de agarrar aqueles refrões peganhentos que tantas alergias poderão causar aos fãs de coisas mais extremas. Os Remedy são o remédio perfeito para isso – pun intended! (8/10)
Necrophagia – “Moribundis Grim”
2024 – Time To Kill Records
“Moribundis Grim” é o álbum final dos Necrophagia, trabalho que estava a ser desenvolvido pela banda antes de Killjoy, seu mentor, ter falecido. Com a ajuda de convidados especiais (nomes como John McEntee dos Incantation, Titta Tani ex-Goblin e Mirai Kawashima dos Sigh) e ex-membros da banda, o álbum pôde ser concluído, encerrando da melhor forma o capítulo da mítica banda norte-americana. Não sendo especial fã do trabalho da banda, não é difícil perceber que o espírito dos Necrophagia está presente da melhor forma e que este é um fechar de capítulo apropriado para todos os fãs. (7.5/10)
Decreate – “The Leaden Realm”
2024 – Edição de Autor
EP de estreia dos alemães Decreate que tocam death metal melódico bem moderno. Sendo uma banda nova, ainda surgem com algumas passagens algo genéricas no entanto esses lugares comuns até nem impedem que este seja um EP que vale a pena conhecer (7/10)
Black Totem – “III: Sacrifice Tonite”
2024 – Svart Records
Assim que se começa a ouvir “Hex Hood”, é impossível não pensar “O quê, os Misfits, estão de volta?!” Não que sejam uma cópia ou toquem aquele punk meio psychobilly. No entanto, a abordagem vocal de Spit Poison faz lembrar bastante Glenn Danzig, mas por outro lado temos um peso mais metal, com direito até a alguns solos de guitarra inspirados. Não será revolucionário ou impactante como os Misfits foram, mas não deixa de ser um bom som para quem nutre uma certa simpatia por eles. (6.5/10)
Lipz – “Changing The Melody”
2024 – Frontiers Music
Algures entre o rock e o hard rock, é onde podemos situar os Lipz, com uma sensibilidade pop bastante acentuada que poderá deixar confusos os que são mais alérgicos. Não que isso lhe retire qualidade, apenas torna a sua música bastante descartável. (6/10)
Artch – “Another Return”
1988/2023 – Hammerheart Records
Mais uma oportunidade de apanhar um clássico do Heavy metal com a cortesia da Hammerheart. Falamos do primeiro álbum dos noruegueses “Another Return” que envelheceu muito bem. Tão bem, que não conseguimos parar de o ouvir. Uma ingenuidade e um talento para a coisa que chega a ser impressionante como é que este trabalho não é referido como um dos grandes trabalhos da música escandinava. O que impressiona também, para além da qualidade, é a diversividade. Temos temas mais directos, pesados, temos midtempo, temos balada e soa tudo bem. Consta que a banda não conseguiu mais atingir este nível de qualidade – e desde que regressaram em 2000 a sua produtividade não mostrou sinais de vida para além do vídeo ao vivo e de uma demo. Mesmo que não tenham conseguido evidenciar brilhantismo para além deste álbum, só faz com que ainda seja mais intrigante e apetecível. Numa altura onde a música andava por aí a pontapé mesmo que só fosse valorizada muitos anos mais tarde. Oportunidade para apanhar em vinil, uma oportunidade que deve ser agarrada com unhas e dentes. (9/10)
Thomas Zwijsen – “Nylon Metal”
2017 – Edição de Autor
Luxuosa colecção de covers! Temos 28 clássicos que andam pelo mundo do rock e do metal e que vão desde Enio Morricone (com o tema principal do “O Bom, O Mau E O Vilão”) até aos inevitáveis Maiden, Metallica e Helloween (escolhas já habituais) com algumas surpresas pelo meio (Avantasia, David Bowie, Hammerfall entre muitos outros e até originais. É fácil nos perdermos nesta colecção enorme de clássicos da música pesada e sempre com uma abordagem que é refrescante e que potencia os aspectos mais melódicos. Temos participações especiais com Blaze Bailey a fazer mais uma vez a perninha num tema de Maiden (Lightning Strikes Twice) e Bruce Kullick a tocar a “Forever” dos Kiss. Só a pequena nota que no bandcamp a “Soldier Of Fortune” dos Deep Purple está trocada pela “The Unforgiven II” dos Metallica (e vice-versa obviamente). (9/10)
Askesis – “Beyond The Fate Of Death”
2023 – Time To Kill Records (Anubi Press)
Apesasr dos italianos Askesis já terem mais de uma década de carreira, apenas em 2023 chegaram ao seu álbum de estreia, este “Beyond The Fate Of Death”. Com uma mistura entre o black e o Death metal, o apelo é imediato, mesmo que não apresentem grandes novidades em relação ao género. Mas temos que ser sinceros, que novidades poderiam haver no black/Death metal hoje em dia? O essencial, na nossa opinião, é evidenciar uma identidade própria e uma capacidade para fazer bons temas. Isso sem dúvida é o que temos aqui sem grandes dificuldades. Peso, uma boa produção que consegue conservar alguns elementos old school e um álbum fácil de agradar os fãs da música extrema. (8.5/10)
Redimoni – “Downfall And Penance”
2022 – Edição de Autor
Thrash metal espanhol e impiedoso que se apresenta ao serviço com este “Downfall And Penance”, lançado no ano passado. Directo ao assunto, e completamente unidimensional mas sem para isso dispensar daqueles elementos metálicos e de componentes técnicos que fazem com que entre logo à primeira. Temas curtos e ideais para quem gosta de Nuclear Assault ou de Municipal Waste. Boa onda, poder destruidor de crossover thrash metal e diversão garantida. Aprovados para se aventurarem num álbum. (8.5/10)
Power & Glory – “Road Werewolves”
2022 – Street Metal Records / Burning Sun Records / Steel Shark Records / Shocker Records
A capa é bem mais estranha do que aquilo que a podemos ouvir neste segundo álbum dos argentinos Power And Glory. Temos um Heavy Metal bem raçudo a relembrar o entusiasmo do underground na década de noventa, altura em que o estilo foi praticamente dizimado pelas preferências por coisas mais alternativas e/ou extremas. O entusiasmo é contagiante já que todos estes temas conseguem cativar à primeira e têm aquela garra necessária para convencer. Claro que os lugares comuns são mais que muitos mas isso não impede que tenha o verdadeiro gosto pelo estilo não deixe de fazer headbang ao som de temas como “Sharp As Steel” ou o tema-título. Grandes riffs, com o gosto clássico e um trabalho unidimensional que é mesmo que qualquer fã de Heavy Metal pretende. (8/10)
Ben Woods & Thomas Zwijsen – “Master Guitar Tour”
2017 – Edição de Autor
O amigo Thomas Zwijsen junta-se ao mestre de flamengo Bem Woods e o resultado foi este álbum onde temos mais uma série de covers (onde obviamente não falta Maiden) que vão desde Metallica a Megadeth. Também temos originais que estão com um nível bem alto de qualidade e interesse. O facto de termos duas guitarras acústicas a interpretar os temas traz uma maior liberdade e riqueza nas reinterpretações, embora Thomas também tenha tocado muitas vezes com muitos músicos. São dois mestres da guitarra clássica a reinterpretar clássicos da música pesada que soam refrescantes e com originais que poderão não gerar o primeiro impacto para quem vem à procura das melodias já imortais, mas não deixam de estar bem conseguidas. (8/10)
Hamvak – “Maelstrom Of Abhorrent Incantations”
2023 – Morbid Chapel Records (Banda)
One-man band teutónica que apresenta um Death/black metal que presta tributo a bandas clássicas como Incantation, sendo que a grande particularidade deste projecto é mesmo a afinação das guitarras. Longe de ser um entendido na matéria, a sonoridade aponta para o uso de afinações graves e/ou o uso de guitarras de sete ou oito cordas, que tem uma sonoridade bem característica, normalmente associada a coisas mais djent e modernas. Não sendo propriamente algo que afecte a musicalidade do que podemos ouvir, dá-lhe realmente uma outra atmosfera, atmosfera que até soa como uma lufada de ar fresco, não havendo, claro está, aversão a ela. Seis temas e um projecto promissor para os amantes da negritude abíssica. (7.5/10)
Darewolf – “Darewolf”
2022 – Edição de Autor (Against PR)
Trabalho de estreia dos bracarenses Darewolf, uma boa banda de Heavy Metal tradicional – o Metal Archives acrescenta Power Metal ao barulho embora caso se faça isso, será uma abordagem mais norte-americana do que propriamente europeia, no entanto é mesmo no Heavy tradicional que eles se focam mais. Bons temas e boas ideias ainda que a produção relembre os trabalhos embrionários de bandas como Edguy (produção apenas, atenção). Para além da produção, outro limite é o da voz Gonçalo Baia que apesar de ser apropriada para o género, nem sempre é usada da melhor forma. Os arranjos de teclados também não trazem uma grande mais valia quando são apresentados. Sente-se como um projecto a dar um grande passo na sua carreira e com vontade de levar a sua paixão mais além, o que representa um bom ponto de partida na evolução. Mais trabalho, mais evolução e este poderá ser um dos grandes nomes da cena nacional, num estilo que infelizmente não tem grande representação. (7/10)
Power And Glory – “The Last Rebel”
2019 – Edição de Autor
Curioso trabalho de estreia do projecto argentino Power And Glory, que na sua fase embrionária surgiu como uma one-man band levada a cabo pelo multi-instrumentista Hernan Chaves, tendo depois a colaboração de vários músicos de sessão. Apesar de estar indicado no Metal Archives de que este álbum contou também com alguns vocalistas – incluindo o próprio Hernan – a cópia promo que tivemos acesso apresenta um álbum instrumental ao bom estilo shredd a relembrar os anos dourados da Shrapnel. Bons temas, boas guitarradas, mas algo esquecível e longe do bom impacto do causado pelo segundo álbum de originais, onde a definição de sonoridade é mais sólida. Não deixa de ser uma boa forma de demonstrar o talento de Chaves como executante e compositor. (6.5/10)
Thod – “Asklepios”
2022/2023 – WormHoleDeath
O trio francês Thod lançou em 2022 (sendo agora repescado pela WormHoleDeath) o seu álbum de estreia que, curiosamente, é cantado em alemão sem percebermos muito bem porquê. “Asklepios” é um trabalho conceptual sobre doenças – consta que o tema já tinha sido escolhido antes da pandemia, portanto podemos entender que houve aqui mais cuidado do que se possa supor – e onde musicalmente, cada tema, tem como ponto de partida um único riff que depois se vai desenvolvendo conforme as necessidades da canção – segundo os seus autores, obviamente. Com um groove próprio do Doom metal, as atmosferas criadas são mesmo o ponto principal, já que a voz acaba por distrair, de forma negativa a nossa atenção, com uma abordagem meio crooner, no caso do narrador se tratar de um demónio que nos quer torturar. É quando a banda vai para além deste molde e para paisagens mais experimentais que sentimos que as coisas compensam realmente, nunca chegando, infelizmente, a convencer por completo. Consta que estão a trabalhar em nova música, fica a expectativa para ver a sua evolução. (5/10)
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