Predominance # 1 – Pia Isa / Møtivatiøn / Ashbreather / Death Engine / Susperia
Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.
Pia Isa – “Distorted Chants” – Ela encabeça a promissora banda Norueguesa de Doom Superlynx e faz agora a sua estreia a solo no projecto Pia Isa com o álbum ‘Distorted Chants’. Carregado de uma aura sombria e dissonante ‘Distorted Chants’ vai-nos guiando por um caminho tortuoso de escuridão bem acompanhados pela voz hipnótica e sóbria de Pia Isaksen ajudada eficazmente pelos riffs arrastados e teimosos tendencialmente impulsionados pela característica parceira entre o Doom e o Stoner. Fazendo por vezes lembrar os Norte-Americanos Om as sonoridades praticadas em ‘Distorted Chants’ não chegam a entrar propriamente no domínio do Drone Doom embora resvalem por vezes nessa fronteira. ‘Distorted Chants’ acaba por não ser um álbum particularmente criativo ou original muito graças à ausência de uma vincada distinção entre as várias faixas todavia possa funcionar como uma perfeita banda sonora para quem se interessar por meditação ou momentos de introspecção. (7/10)
Møtivatiøn – “The Infinite 8 Steps tø Pøwer / Møney / Møre” – Descrever os Møtivatiøn pode-se facilmente transformar numa tarefa exaustiva, pois este projecto nem se pode compartimentalizar no domínio dos supergrupos dada a infindável quantidade de participantes que deram o seu contributo, para dar alguns exemplos temos elementos de bandas tão distintas como os Faith No More, Obituary, EyeHateGod e Agnostic Front. O álbum em questão tem o sugestivo nome de ‘The Infinite 8 Steps tø Pøwer / Møney / Møre’ e acaba mesmo por ser uma espécie de sátira às palestras motivacionais e outras “missas” do mesmo género, os doze temas do álbum podiam perfeitamente pertencer a doze álbuns diferentes tal não é a diversificação musical entre cada tema resultado natural dos intervenientes nos mesmos também mudarem. A única coisa remotamente parecida com um fio condutor em ‘The Infinite 8 Steps tø Pøwer / Møney / Møre’ é a constante e irritante repetição de mensagens “motivacionais” não só na introdução das faixas mas também durante as mesmas dando a sensação que existe um sinal de rádio a provocar interferência na musica. Numa opinião muito pessoal eu não acho que um álbum tenha necessariamente de composto em torno de um conceito, existem excelentes exemplos de álbuns que não encaixam nessa caracterização, todavia ‘The Infinite 8 Steps tø Pøwer / Møney / Møre’ não tem a meu ver o mínimo aceitável de “cola”, algo que de alguma maneira justifique a razão pela qual estas músicas partilham algo em comum. (5/10)
Ashbreather – “Hivemind” – Provenientes do Canadá os Ashbreather lançaram no passado mês de Novembro o seu segundo álbum de originais intitulado ‘Hivemind’. A ainda curta carreira deste trio que começou por ser uma banda de tributo a Opeth chega a esta fase com uma contundente aposta em vincar em definitivo as suas sonoridades e interesses. Já os fantásticos Escoceses Dvne o tinham feito em ‘Asheran’ e desta feita foram os Ashbreather a conceber um álbum conceptual inspirado pela ficção científica (viagens interestelares, novos mundos e raças extraterrestres). Musicalmente ‘Hivemind’ transporta-nos para uma intensa e criativa viagem de 37 minutos composta por apenas uma faixa pautada por uma imaginativa e dinâmica parceria entre Sludge Metal e Progressivo onde se destacam não só a surpreendente capacidade técnica da banda como uma invejável originalidade. Os Ashbreather têm em ‘Hivemind’ uma decisiva e marcante manifestação das suas sonoridades de eleição, um álbum que profetiza um brilhante futuro para a banda já no curto prazo. (8.5/10)
Death Engine – “Ocean” – Logo a abrir o ano temos o terceiro álbum dos Franceses Death Engine ‘Ocean’, e não podia existir banda sonora mais apropriada para esta vaga polar que 2023 nos tem brindado até agora. ‘Ocean’ tem o condão de fazer sobressair todas as qualidades que o quarteto Francês já de algum modo já vinha prometendo nos seus dois primeiros trabalhos. O Post-Metal nem é um subgénero particularmente atractivo ou “fácil” todavia os Death Engine conseguiram com ‘Ocean’ derivar a sua tendência embrionária de Post-Hardcore para um sombrio, angustiante, raivoso e criativo Post-Metal com o conveniente e essencial auxílio do Atmospheric Sludge Metal. ‘Ocean’ vai-nos torturando ao mesmo tempo que nos vicia, como uma tragédia para a qual não conseguimos deixar de olhar, talvez devido à sua forte componente emocional e introspectiva ou simplesmente porque o seu ambiente encaixa na perfeição com a envolvência gélida, amargurante e impiedosa do inverno. Um último destaque para o contraste entre a rispidez, peso e violência de temas como ‘Hyperion’, ‘Leaden Silence’ e ‘Lack’ e a melancolia lancinante aliada um dramatismo quase insuportável da parte final do álbum (‘Dying Alone’ e ‘Empire’). (8/10)
Susperia – “Predominance” – Era mandatório começar as reviews retrospectivas com esta, e sim o nome deste espaço acaba mesmo por ser uma homenagem a este álbum. Decorria o ano de 1999 quando das cinzas do tradicional Black Metal Norueguês nasciam os Susperia, uma banda que apesar dos seus evidentes altos e baixos continua a ser uma verdadeira pérola escondida e desconhecida para muita gente até aos dias de hoje apesar da sua formação inicial contar com ex-membros de bandas como Satyricon, Old Man’s Child e Dimmu Borgir onde se destaca o icónico baterista Tjodalv (Ex-Dimmu Borgir). Enquanto várias bandas de Black Metal Norueguesas enveredavam por novas tendências em detrimento do moribundo Black Metal tradicional os Susperia começaram a sua carreira com uma firme aposta numa simultaneamente melódica e demolidora mistura entre Black Metal e Thrash Metal. ‘Predominance’ é até hoje o seu álbum imaculado, dez temas pautados por uma formidável e invejável fluidez técnica de extrema exigência onde sobressaem as variações nas vocalizações, a incessante alternância de riffs e de ritmos, uma bateria verdadeiramente demoníaca e insana e uns pontuais e ténues borrifos Electrónicos em jeito de acabamento. Um destaque especial para as faixas ‘Specimen’, ‘Of Hate We Breed’ e ‘Blood On My Hands’, qualquer uma delas altamente viciante e sublime. (9.5/10)
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