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Predominance #14 – My Dying Bride, Pain, Dvne, Demande À La Poussière, Dearly Beheaded

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

My Dying Bride – “A Mortal Binding” – Apreciar My Dying Bride nem sempre é sinónimo de se apreciar Doom Metal de uma forma generalizada, não só porque tal como outros subgéneros o Doom Metal foi-se agregando a outras sonoridades mas também porque mesmo dentro da vertente mais “clássica” do Doom Metal os My Dying Bride são uma espécie de banda à parte. Com uma carreira que já ultrapassa os 30 anos os My Dying Bride chegam a 2024 com o décimo quinto trabalho de originais na calha ‘A Mortal Binding’, um álbum que mostra indubitavelmente que a banda está de volta à boa forma. Sempre fiéis ao seu estilo carregado de melancolia e profunda tristeza com uma toada que tem tanto de peso como de carga emocional os My Dying Bride de alguma forma conseguiram canalizar todas as “maldiçoes” que nos últimos anos os tem assombrado para conjurar um álbum verdadeiramente sólido, robusto e fascinante. A arrepiante voz de Aaron Stainthorpe juntamente com a inclusão do indispensável violino são muito mais do que meros “adornos” nos riffs arrastados carregados de um romantismo mórbido e penitente. Destaco de forma particular a trilogia inicial de ‘A Mortal Binding’ composta pelas formidáveis ‘Her Dominion’, ‘Thornwyck Hymn’ e ‘The 2nd Of Three Bells’. (8/10)

Pain – “I Am” -O homem que “nunca dorme”. Se existe pessoa no espectro da música mais pesada com uma vida tão preenchida que é difícil imagina-la a dormir mais do que 3/4 horas por noite essa pessoa chama-se Peter Tägtgren. Por entre projectos, produções e tours o tempo escasseia para o icónico líder dos Hypocrisy, tanto é que o seu projecto mais individualista (Pain) tem estado “na gaveta” desde 2016. Com um início de carreira bastante cativante e prometedor o projecto Pain foi progressivamente perdendo “gás” e, porque não dize-lo, alguma qualidade. ‘I Am’ é o nono álbum de originais da banda e tem o mérito de recuperar alguns dos atributos que fizeram as delícias dos apreciadores do género noutros tempos. ‘I Am’ continua a não negociável fidelização a um Electrónico acessível e dançável com refrões orelhudos e fáceis de decorar sempre envoltos num sarcasmo polido do qual Tägtgren insiste em não abdicar. Temas como ‘Not For Sale’, ‘Push The Pusher’ ‘My Angel’ mostram incontestavelmente que a qualidade média subiu comparativamente com ‘Coming Home’ contudo também mostra que as sonoridades dos Pain apenas variam em termos qualitativos pois no que consiste a evolução musical são praticamente herméticas. (7.5/10)

 

Dvne – “Voidkind” – Com uma curta carreira que só recentemente ultrapassou os dez anos o quinteto Escocês Dvne lançou no passado mês de Abril o seu terceiro álbum de originais ‘Voidkind’. Quem conhecer a banda através de ‘Voidkind’ estará longe de imaginar que os Dvne só têm dois álbuns prévios pois a qualidade técnica e de composição que salta imediatamente à vista é de tal forma impressionante que talvez se coadune mais com uma banda com uma carreira muito mais extensa. Os Dvne não serão por certo uma espécie de “novos” Mastodon todavia não será exagero cataloga-los como a banda mais empolgante a surgir desde os magistrais The Ocean até tendo em conta as sonoridades onde se sentem mais confortáveis. ‘Voidkind’ trás à tona a formidável e notável evolução musical da banda, se ‘Etemen Ænka’ é fenomenal ‘Voidkind’ não lhe fica atrás. Uma apaixonante e ininterrupta vaga de Sludge Metal com Progressivo concebida com uma alma, uma emotividade e uma intensidade que não só impressiona como vicia. ‘Voidkind’ tem de facto o potencial para rivalizar com os últimos três álbuns dos The Ocean e isto não dizer pouco tendo em conta a excelsa qualidade da banda Germânica. É extremamente difícil e até injusto destacar temas de ‘Voidkind’, é um álbum para ouvir na íntegra enquanto se assimila toda a sua ambiência, dinâmica e autenticidade. (9/10)

 

Demande À La Poussière – “Kintsugi” -Directamente de Paris para o mundo os Demande À La Poussière vieram para deixar marca no universo da musica mais pesada. Depois de um álbum de estreia com o título homónimo e de um aclamado sucessor (‘Quiétude Hostile’), o quarteto Gaulês chega a 2024 com o seu terceiro álbum na bagagem, ‘Kintsugi’. A primeira impressão que fica de ‘Kintsugi’ é o colossal salto evolutivo em relação ao seu sucessor, a banda não só estabilizou as suas sonoridades numa monstruosa e heterogénea mescla de Sludge Metal, Black Metal, Post-Metal e Doom como se entregou a um ambiente simultaneamente aflitivo, ascético e febril com constantes e descoordenadas variações rítmicas onde o peso carregado de angústia e magnetismo se entrelaça com a fúria e a intransigência da velocidade. Se em temas como ‘Vulnerant Omnes, Ultima Necat’ ou ‘Miserere’ sobressai a melancolia e imensidão do Post-Metal/Doom alicerçado numa passada lenta, emocional e dolorosa já noutros como ‘Ichinawa’ ou o tema titulo a predominância de um crescendo de Black Metal carregado de cólera e impetuosidade torna-se evidente. ‘Kintsugi’ é muito mais que um simples álbum, é a derradeira manifestação de composições de qualidade consolidadas pelo talento e criatividade de uma banda que comporta uma carga dramática de invejável autenticidade. (10/10)

Dearly Beheaded – “Chamber Of One” – Se é inegável o legado deixando pelos incontornáveis Pantera, já bem antes da sua separação era inequívoca a sua influência em bandas geradas nos anos 90 em solo Norte-Americano. Talvez o exponente máximo de uma banda que absorveu de forma evidente essa revigorante mistura entre Thrash Metal e Hardcore sejam os Machine Head, todavia também do outro lado do Atlântico essa crua e intratável mescla de sonoridades não passou despercebida e quase em simultâneo com o aparecimento dos Machine Head surgiram os Britânicos Dearly Beheaded. Depois de um álbum de estreia pouco impactante os Dearly Beheaded activaram todo o seu potencial para conceber ‘Chamber Of One’ decorria o ano de 1997 (curiosamente o mesmo ano em que os Machine Head lançaram o imperdível ‘The More Things Change…’). ‘Chamber Of One’ é uma verdadeira bomba de Thrash Metal carregado de um Groove vigoroso e rude aliado de forma orgânica e natural a um Hardcore de rua impetuoso e impregnado de uma violência ao rubro. Faixas como ‘A Thankless Task’, ‘A Moment Of Clarity’, ‘The Escape’ ou ‘Generations’ são verdadeiras pérolas escondidas no que ao Thrash/Hardcore diz respeito. Todavia e forma algo inexplicável comercialmente ‘Chamber Of One’ não foi o sucesso que se esperaria e esse insucesso comercial precipitou mesmo o término da banda ainda no ano de 1997. Talvez os Dearly Beheaded tenham apenas surgido no lado “errado” do Atlântico, o que posso dizer com convicção é que ‘Chamber Of One’ é dos álbuns mais subvalorizados da década de 90.  (8.5/10)


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