Predominance #16 – Generation Of Vipers, Norna, Love Sex Machine, Fazi, Enslaved
Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.
Generation Of Vipers – “Guilt Shrine” – Provenientes dos Estados Unidos mas precisamente do Tennessee os Generation Of Vipers “aterram” em 2024 com o seu quinto álbum de originais ‘Guilt Shrine’. Com uma sólida carreira que está perto de atingir a simpática marca dos vinte anos os Generation Of Vipers são uma banda com uma sonoridade nada fácil de catalogar, mas qual das grandes bandas do Metal moderno o é?! A dificuldade em destrinçar todos os subgéneros presentes nas sonoridades de uma banda pode ser bastante desafiante para quem faz reviews mas é simultaneamente sinónimo de criatividade e exclusão de dogmas musicais. Mais oleados, sinistros e destemidos do que nunca os Generation Of Vipers expõem em ‘Guilt Shrine’ toda a potência, rispidez e imponência do seu hibrido sonoro composto por Hardcore, Sludge Metal, Progressivo e Post-Hardcore. Os primeiros quatro temas de ‘Guilt Shrine’ (‘Joyless Grails’, ‘In The Wilderness’, ‘Elijah’ e ‘Lux Inversion’), são verdadeiras bombas relógio de violência não contida convertidas de forma genuína para emoções intensas através de riffs densos, carismáticos e latejantes com a capacidade de se tornarem imparáveis. ‘Guilt Shrine’ tem todo o potencial para se converter no melhor álbum dos Generation Of Vipers até à data e é para mim um dos mais sérios candidatos a melhor álbum de 2024 no espectro da música pesada. (9/10)
Norna – “Norna” – São uma das últimas edições da conceituada Pelagic Records, falo dos Norna, um trio composto por uma “aliança Suíço-Sueca composta por Christophe Macquat, Marc Theurillat (ambos Suíços) e Tomas Liljedahl (Suécia). O segundo álbum dos Norna com o título homónimo mostra uma clara evolução da banda em relação ao seu álbum de estreia ‘Star Is Way Way Is Eye’ de 2022, o seu Post-Metal fortificado com Sludge está mais aprimorado e mais ambicioso embora mantenha as suas características primordiais tais como o foco na dissonância, na austeridade e na rugosidade em detrimento dos elementos mais atmosféricos, ou seja, uma versão mais insensível e inumana do Post-Metal em concordância com bandas como The Ditch And The Delta ou mesmo os seus colegas de editora, os monolíticos LLNN. Temas como (‘Shine By Its Own Light’, ‘Shadow Works’ e ‘The Sleep’) exibem na perfeição não só a habilidade técnica dos Norna como o seu poder de diferenciação neste subgénero bastante específico, consequência directa do seu vasto manancial criativo. ‘Norna’ por certo vai marcar uma fase de consolidação da sonoridade da banda mas também vai ser recordado como um dos álbuns incontornáveis de 2024. (8.5/10)
Love Sex Machine – “Trve” – Com uma carreira algo intermitente os Gauleses Love Sex Machine chegam a 2024 como o seu terceiro álbum de originais com o curioso titulo ‘Trve’. Apesar de a sua formação remontar a 2009 este trio Francês tem apensas três álbuns no seu cardápio sendo que me parece óbvio que este ‘Trve’ é o mais consistente e o mais elaborado até à data. As comparações valem o que valem mas tenho estranhado a comparação da sonoridade dos Love Sex Machine à dos LLNN ou mesmo à dos Herod quando me parece mais ou menos indiscutível que a banda com quem os Love Sex Machine partilham mais similaridades sonoras são os Norte-Americanos Lord Mantis, a sua abordagem ao Sludge Metal encaixa na perfeição no Sludge sujo e pestilento dos Lord Mantis mesclado com uma ténue mas empertigada interferência de Black Metal ainda que menos vincada do que no referido quinteto oriundo de Chicago. Reconhece-se o “músculo” da incessante e imponente “parede sonora” de ‘Body Probe’ a fazer (este sim) lembrar uns Meshuggah já previamente filtrados pela interpretação dos Herod. Todavia temas representativos da matriz sonora dos Love Sex Machine como ‘Fucking Snakes’, ‘Autism Factor‘ ou ‘Hollywood Story’ desvendam riffs alternamente magnéticos e rasgados intensificados por uma aura poluída e indecorosa. ‘Trve’ tem (pelo menos em teoria) todo o potencial pra catapultar os Love Sex Machine para uma fase mais sólida e regular na sua carreira. (8/10)
Fazi – “Folding Story” – Fundados por volta de 2010 na ancestral cidade de Xi’an (China), na altura com o nome de The Fuzz os Fazi lançaram em 2022 o seu quinto álbum de originais ‘Folding Story’ através da editora Chinesa Circle Space contudo conseguiram a sua distribuição na Europa através da Pelagic Records. ‘Folding Story’ é um álbum conceptual baseado em ideais sobre o ciclo natural do renascimento, o regresso à natureza e o regresso à origem, para incorporar inspiração para o álbum o trio Chinês deslocou-se até à zona costeira de Dalian, uma zona conhecida pela tranquilidade e proximidade ao mar. Musicalmente ‘Folding Story’ é bastante fértil em experimentalismo, se a sua base musical pode vagamente ser encaixada numa dinâmica algures entre Post-Punk e o Post-Rock a sua grande riqueza vem precisamente da importância decisiva da parte ambiental pautada por uma serenidade e uma sensação de entorpecimento. Outro ponto forte de ‘Folding Story’ é a variedade sonora entre os temas que o compõem, se por lado temos faixas norteadas pela atmosfera aconchegante e dormente repleta de sons ambientais como água a correr (‘Beautiful Teeth’, ‘Never Say Forever’ ou ‘Invisible Water’), por outro dispomos de temas mais impactantes e intrigantes como ‘Eye In The Sky’ ou ‘Delingha’ onde sobressai de forma estranhamente natural um Post-Punk experimental e consequentemente atípico. (7.5/10)
Enslaved – “Ruun” – Têm uma carreira que faz precisamente este ano 30 anos composta por um vasto catálogo de 16 álbuns de estúdio e já foram abordados nesta coluna a propósito do seu último trabalho ‘Heimdal’, falo dos Noruegueses Enslaved desta feita para escalpelizar o seu nono álbum de originais ‘Ruun’. Tiveram uma entrada tardia na chamada ‘second wave of Black Metal’ entre bandas como Mayhem, Burzum, Immortal, Emperor, Darkthrone ou Satyricon e talvez tenha sido esse o motivo da dificuldade em personalizar a sua sonoridade para de alguma forma se diferenciarem entre os seus pares, contudo foi após a viragem do milénio a quando do lançamento de ‘Below The Lights’ (o seu sétimo álbum), que o seu som se transfigurou e conquistou uma identidade não só única como praticamente inimitável. Três anos depois de ‘Below The Lights’ ainda com ‘Isa’ (2004) pelo meio chegava ‘Ruun’, para mim a par de ‘RIITIIR’ do melhor que os Enslaved já fizeram até à data. Com ‘Ruun’ a sonoridade dos Enslaved chegou a clímax de qualidade tão perfeito quanto invejável, numa matriz de Black Metal a banda construiu uma harmoniosa e intensa mescla agregando elementos de Folk e Progressivo de forma tão natural e óbvia que quase ofusca a copiosa criatividade da banda. Riffs formidáveis simultaneamente orgânicos e dinâmicos guarnecidos por uma atmosfera balsâmica, envolvente e fluida em contraste com as vocalizações características do Black Metal tradicional fazem de temas ‘Fusion Of Sense And Earth’, ‘Heir To The Cosmic Seed’ ou o tema titulo ‘Ruun’ músicas incontornáveis deste fabuloso quinteto. (9/10)
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