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Predominance # 3 – In Flames / Enslaved / Gribberiket / Lo! / Grip Inc.

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

In Flames – “Foregone” – Praticamente a assinalarem os seus 30 anos de carreira os incontornáveis Suecos In Flames estão de regresso e trazem na bagagem o seu décimo quatro álbum de originais ‘Foregone’. É tudo menos consensual a longa carreira do prestigiado quinteto Sueco, se na sua fase inicial (‘The Jester Race’) houve um estado de graça perfeito marcado de forma orgulhosa por uma tendência previamente instigada pelos seus conterrâneos At the Gates, a continuidade do chamado Ghotenburg Metal não só estava assegurada como mostrava mostras de exuberância. Todavia nada se mantém eterno e com o aparecimento de novas tendências dentro da música mais pesada o subgénero em questão foi ficando cada vez mais estagnado. Em abono da verdade é preciso dizer que ao contrário dos Dark Tranquility e apesar dos resultados pouco satisfatórios, os In Flames mostraram arrojo em procurar novas abordagens ao estilo. ‘Foregone’ situa-nos numa fase em que os In Flames largaram em definitivo as “experiencias”, mais decididos e mais maduros interiorizaram que pouco há a fazer quanto ao beco criativo que o Ghotenburg Metal se acantonou e assim sendo o melhor é potenciar ao máximo o que de melhor a banda tem para oferecer. E se duvidas havia, ‘I, The Mask’, ‘Meet Your Maker’, ‘In The Dark’, ‘Cynosure’ e ‘End The Transmission’ são provas claras da vivacidade que ainda pulsa nas veias dos In Flames. (8/10)

Enslaved – “Heimdal” – Tem uma carreira quase paralela aos In Flames e também eles são Escandinavos, falo dos Noruegueses Enslaved a propósito do seu novo álbum ‘Heimdal’. Nascidos na fornalha do Black Metal Norueguês os Enslaved rapidamente fizeram por se distinguir entre os demais alcançando mesmo um lugar de grande destaque no panorama do Metal desde a viragem do milénio. Com um equilíbrio perfeito entre consistência e criatividade os Enslaved foram produzindo álbuns de excelência sequencialmente com uma facilidade que tem tanto de magistral como de única. ‘Heimdal’ potencia mais uma vez tudo o que esta fantástica banda tem para nos oferecer, criatividade quase inesgotável dissertada numa viciante, marcante e complexa mistura onde a agressividade se funde com um ambiente simultaneamente melódico e agregador. Da sua raiz de Black Metal os Enslaved vão de forma orgânica e despreocupada extraindo vertentes de Progressivo e Folk que aparentemente são óbvias apesar de nenhuma outra banda o conseguir fazer, pelo menos com esta qualidade. Temas como ‘Congelia’, ‘Kingdom’ e ‘The Eternal Sea’ catapultam ‘Heimdal’ para um dos mais fortes candidatos a álbum do ano. (9.5/10)

Gribberiket – “Dråpen”– Apesar de terem começado a sua carreira em 2008 os Noruegueses Gribberiket chegam a 2023 apenas com dois álbuns de originais sendo que o segundo ‘Dråpen’ foi lançado no passado mês de Fevereiro. É praticamente impossível para uma banda nativa ficar completamente imune ao fenómeno do Black Metal num país como a Noruega, contudo os Gribberiket apenas usam essa influência para intensificar ainda mais a insanidade e agonia do seu demente e torturante Funeral Doom. ‘Dråpen’ certamente não será o álbum mais aconselhado para ouvidos sensíveis ou pouco acostumados a sonoridades martirizantes ou desarmónicas, pautado por vocalizações angustiadas, longínquas e sôfregas acompanhadas de riffs que tentem a prolongar um ambiente desolador e inóspito. ‘Dråpen’ consegue potenciar uma carga dramática quase exclusiva do Doom ao mesmo tempo que se posiciona como uma espécie de banda sonora de uma execrável, perpétua e aguda descida ao inferno. (7/10)

Lo! – “The Gleaners” – Provenientes da Austrália com quatro álbuns na bagagem os Lo! São mais uma das apostas da majestosa Pelagic Records, sendo que ‘The Gleaners’ (o seu quarto de originais) vai já de seguida receber a devida atenção. É por de mais evidente a sensatez e ambição dos Lo! neste ‘The Gleaners’, à comum tendência que o Post-Metal tem para se diluir no Sludge e vice-versa os Lo! respondem com um rotundo não e impõem uma violência e raiva embutida numa orgânica, vil e austera mistura pautada por riffs enérgicos e dilacerantes carregados por um monstruoso ódio que teima em não se extinguir. ‘The Gleaners’ traz-nos memórias de um longínquo ‘Remission’ dos bem-sucedidos Mastodon ou mesmo de ‘Precambrian’ dos virtuosos The Ocean (seus companheiros de editora). ‘The Gleaners’ distingue-se também pela significativa amplitude de sensações que nos consegue proporcionar, elas podem ir desde a amargura incomodativa do tema título dando palco a um Post-Metal tendencialmente tímido, à vertigem de agressividade do Sludge sujo e severo de ‘Kleptoparasite’ passando pelo sensacional e viciante Groove de ‘Cannibal Culture’. ‘The Gleaners’ não é apenas um manifesto de qualidade dos Lo! mas uma verdadeira declaração de maturidade e perseverança e foco. (8.5/10)

Grip Inc – “Incorporated” – Vamos mudar um pouco a temática das reviews de retrospectiva para falar de uma banda que é para mim um caso cliché de subvalorização, falo dos Grip Inc. Dizer que os Grip Inc. são uma banda invulgar é um eufemismo, formados pelo vocalista Gus Chambers, o conceituado produtor Waldemar Sorychta e pelo lendário Dave Lombardo na bateria, os Grip Inc. contam com quatro álbuns na sua carreira e na verdade esta review podia ser sobre qualquer um deles tal não é a consistência de qualidade apresentado pela banda nos mesmos. ‘Incorporated’ o seu último registo de originais remonta a 2004 e representa na perfeição todas as características dos Grip Inc., pautado um Thrash Metal moderno, poderoso e com uma generosa e incomum dose de criatividade, apostado em mostrar ritmos velozes e dilacerantes não esquecendo e importância da melodia. Se a presença de Dave Lombardo é só por si sinal de técnica e vigor o que dizer dos riffs viciantes e inebriantes de Sorychta adocicados por inteligentes e esporádicos acabamentos subjugados ao Electrónico. Uma menção especial para a fabulosa voz de Chambers, um timbre simultaneamente ressonante e límpido que encaixa na perfeição na parafernália instrumental da banda, infelizmente a sua inesperada morte em 2008 acabou por precipitar o final dos Grip Inc.   (9.5/10)


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