Predominance #6 – A Horrible Death To A Horrible Man / Dusk / Entheos / Omega Infinity / Iced Earth
Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.
A Horrible Death To A Horrible Man – “Days Gone By” – Se o nome é no mínimo insólito o que dizer do conteúdo? A banda em questão é o quarteto Dinamarquês A Horrible Death To A Horrible Man que fez no passado mês de Maio a sua estreia em relação a LP’s com ‘Days Gone By’. Shoegaze não é de todo um subgénero que eu aprecie particularmente contudo os A Horrible Death To A Horrible Man vergam de forma enfática a mais assertiva compartimentalização da sua teia sonora, é um facto que o Shoegaze está presente mas igualmente presentes estão ramificações como o Post-Metal e Post-Black Metal tornando as sonoridades de ‘Days Gone By’ numa genuína mescla funcional de riffs carregados de desespero e aceitação. Uma das características mais vincadas dos A Horrible Death To A Horrible Man acaba por ser a singularidade do seu vocalista com uma voz que nos transporta para o Post-Punk mas um Post-Punk mergulhado numa depressão quase incurável, uma voz que se enquadra de forma perfeita na pulsante parede sonora potenciada por resquícios de um Black Metal esbatido, seduzido de forma constante por um ambiente melancólico, romântico, soturno e amargurado. Destaque também para as várias camadas sonoras sobrepostas de forma dinâmica e altamente sagaz que fazem de temas como ‘Days Gone By’ e ‘Other’ uma espécie de sofrimento aprazível e aditivo. (7/10)
Dusk – “Rethrenody” Quem está familiarizado com o perturbador filme ‘Hostel’ certamente irá reconhecer este ‘Rethrenody’ como uma possível e acertada banda sonora para o filme. Os Dusk são uma banda improvável com sonoridades ainda mais improváveis, estes Costa-Riquenhos são verdadeiramente insólitos pois juntam de forma quase inumana um Atmosferic Black Metal cheio de cortes e deturpações ao Noise e ao Electrónico/Industrial. Composto apenas por cinco temas ‘Rethrenody’ é na prática uma nova roupagem Industrial do seu álbum de estreia de 2019 (‘Threnody’). Os cinco temas são mais do que suficiente para os Dusk comprovarem toda a sua obsessão por tudo é são interferências Industriais e Electrónicas (incluindo subgéneros tão indigestos como o Dubstep), numa esbatida base de Black Metal sujo, repetitivo e robotizado. As vocalizações são lançadas como “perturbações” nas ondas hertzianas de um rádio obsoleto. O sucesso de ‘Threnody’ valeu na altura aos Dusk uma vaga como banda suporte na tour Sul-Americana dos icónicos Suíços Samael e dificilmente haveria uma banda mais adequada para “apadrinhar” estes “caloiros” Costa-riquenhos. Um último destaque para a simultaneamente incrível e surpreendente cover de Blackened dos incontornáveis Metallica, a faixa apropriadamente intitulada ‘Reblackened’ tem tanto de ambiciosa como de refrescante. (7/10)
Entheos – “Time Will Take Us All” Nascidos em 2015 das cinzas de bandas como Animosity, Faceless e Animals as Leaders os Californianos Entheos chegam a 2023 com o seu terceiro álbum de originais na calha ‘Time Will Take Us All’. Os Entheos que estão actualmente reduzidos a uma dupla, desde muito cedo assumiram a direcção musical, uma explícita e dinâmica aliança entre o Technical Death Metal e o Progressivo sendo que essa mistura tem evoluído e crescido projectando a banda para um interessante nível de reconhecimento. ‘Time Will Take Us All’ carrega uma atmosfera algo deprimente e triste aliada a uma performance técnica digna de registo, a raiva e o gore quais aliados naturais do Death Metal são substituídos por uma leveza técnica e melodia alicerçada por uma produção praticamente perfeita fazendo sobressair todos os pormenores do álbum. Os trechos impulsionados pelo Progressivo renegam o potencial tédio para onde Technical Death Metal mais tarde ou mais cedo acaba por derrapar. Destaco a inumana volatilidade das vocalizações de Chaney Crabbs, aliando de forma impressionante uma forte e inesgotável energia a um timbre quase robótico. Tenho também de destacar os três temas mais apelativos de ‘Time Will Take Us All’, ‘Absolute Zero’, ‘In Purgatory’ e ‘The Sinking Sun’. (7.5/10)
Omega Infinity – “The Anticurrent” Depois de um ambicioso e afirmativo álbum de estreia ‘Solar Spectre’ a dupla Germânica reconhecida como Omega Infinity está de volta com ‘The Anticurrent’, o seu segundo de originais. Eu diria que ‘The Anticurrent’ está longe de ser uma “anti corrente”, a corrente existe e está a pulsar de uma pérfida, venenosa e turva energia cósmica. Os Omega Infinity apostam todas as fichas em ‘The Anticurrent’, um álbum que revela e de que maneira a paixão da banda não só por um Black Metal impuro traçado aqui e ali por trechos de Death Metal bem ao estilo dos idolatrados Behemoth, mas também por uma ficção cientifica focada no espaço sideral e todas as valências abrangentes. Outra banda com quem os Omega Infinity partilham a sua identidade sonora são os Noruegueses Limbonic Art estes talvez mais melódicos e mais virados para temas como a magia negra. ‘The Anticurrent’ limita-se a ser o veículo de uma viagem astral onde o desconhecido é a única certeza Por entre riffs intratáveis e incessantes e uma atmosfera simultaneamente demoníaca e alienígena. Destaco os temas ‘Banish Us From Eden’ e ‘Death Rays’ com os mais sedutores e cativantes de ‘The Anticurrent’. (7.5/10)
Iced Earth – “Something Wicked This Way Comes” – 1998 – Retrocedemos então a 1998 para falar de ‘Something Wicked This Way Comes’, muito provavelmente o ponto mais alto da conturbada e longa carreira dos Norte-Americanos Iced Earth. Mais apreciados na Europa do que propriamente no seu próprio país os Iced Earth são de facto uma banda sui generis, sempre fiéis ao seu Heavy Metal de autor onde a melodia se equilibra de forma completamente natural com uma agressividade quase poética. Se com ‘The Dark Saga’ os Iced Earth ganharam o merecido reconhecimento em ‘Something Wicked This Way Comes’ a banda conseguiu superar-se e superar as enormes espectativas criadas. A fantástica dupla Jon Schaffer e Matt Barlow atingiu uma incrível dinâmica espelhada em riffs simultaneamente rasgados e frenéticos conduzidos pelo formidável timbre de Barlow intensificando todo potencial dramático dos temas que compõem o álbum. Sem nunca cederem a pressões nem a tendências fugazes os Iced Earth conseguiram nesta altura da sua carreira atingir um estatuto de relevo no seio da música mais pesada através de temas intemporais como ‘Watching Over Me’, ‘My Own Savior’ ou o arrepiante épico ‘The Coming Curse’. Uma última nota para a magnífica capa do álbum desenhada pelo prestigiado cartoonista e argumentista Todd McFarlane conhecido entre muitas outras actividades por ser um dos fundadores da Image Comics e o criador do anti-herói Spawn. (9/10)
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